Existe uma história que é atribuída a Gandhi que passo a relatar
e servirá de base para este trabalho.
“Certa vez, uma mãe muito preocupada com o seu filho, veio de
uma aldeia muito distante para pedir a Gandhi que falasse para o filho dela
parar de comer tantos doces, pois ele comia demasiado. Gandhi então olhou para
ela e respondeu: “Volte daqui a duas semanas“. Passado este tempo, a mãe trouxe
o seu filho novamente e então, dessa vez, Gandhi olhou para ele e disse: “Você
deve parar de comer doces, isso fará muito mal à sua saúde“. Então a mãe do
menino perguntou: “Porque é que o senhor nos pediu para esperar este tempo todo
para aconselhar o meu filho? Nós moramos numa aldeia muito longe daqui e a
viagem é muito cansativa, porque o senhor não disse isto ao meu filho há duas
semanas quando estivemos aqui pela primeira vez?”Mahatma Gandhi então respondeu:
“Porque há duas semanas eu também ainda comia muitos doces”.”
Na Maçonaria alguns princípios regem a nossa conduta: Liberdade,
Igualdade e Fraternidade, combatem a ignorância, ao preconceito e aos erros;
segundo o ritual do Aprendiz Maçom a Maçonaria nasceu para forjar líderes.
Líder (segundo Carl Rogers – psicólogo comportamental,
especializado em psicologia organizacional), é aquele que inspira e conduz pelo
exemplo, aqui abro aspas para questionar:
O que estamos a fazer para liderar?
Onde estamos a aplicar o que aprendemos em Loja?
Que exemplo estamos a passar para a sociedade moderna, tão
carente de ídolos e heróis?
Não que seja minha pretensão elevarmo-nos ao patamar de heróis,
mas a degradação chegou a tal ponto que a falta de figuras que sirvam de vetores
para a sociedade facilita a aparição de pessoas que vêem preencher esta lacuna
com um discurso fantasioso, que usam de uma máxima de Sun Tsu, dividir para
conquistar, e, para se manter no poder, instilam o ódio entre classes,
promovendo a fragmentação da mais antiga e solida instituição social que é a
família.
No velho mundo, como uma forma de transmitir o conhecimento,
foram criados mitos e os personagens destes mitos eram Deuses, Deuses Nórdicos,
Deuses Egípcios, Celtas, Gregos, Romanos. Todos estes seres, devidos às suas
capacidades extraordinárias, eram referências para o povo, a mitologia sempre
teve um papel educacional importante na formação do caráter, assim como as
alegorias e o simbolismo esta para a maçonaria, seja dando exemplos para o
crescimento de uma sociedade, seja punindo quem não respeitasse os valores
ditados por estes Deuses, heróis e ídolos também tiveram um papel
importantíssimo na formação do caráter de um povo.
Por exemplo, na mitologia grega, a alma dos mortos, vai para um
mundo subterrâneo, governado por Hades, nos seus domínios, todos são julgados
por três juízes –, os que tiveram uma vida correta são premiados e seguem para
uma região Campos Elíseos, um paraíso, já os que aprontaram na vida terrena,
vão para o Tártaro, um poço profundo, escuro, sem fundo e úmido.
Todos reclamam, mas destes, poucos, procuram meios e modos para
mudar o ambiente em que inseridos, para fazer frente a essa horda, nós Mestres
Maçons, homens livres e de bons costumes, mais do que nunca temos que levantar
templos à virtude, e isso, só será possível se passarmos de maçons da teoria,
para maçons na prática – peço, por favor, que não interpretem isto como uma
crítica e sim como um pedido em nome de quem não tem voz, nem conhecimento,
tampouco discernimento para bradar por justiça numa sociedade fragmentada de
valores morais.
Chegou a hora de nós obreiros da Arte Real, inspirados nos
nossos ancestrais, honrar as suas memórias; assim como Gandhi, devemos levar
para a sociedade o que praticamos em Loja, que é o combate ao despotismo, à
ignorância, aos preconceitos e aos privilégios e regalias. A nossa filosofia é
linda, a nossa aplicabilidade, face às dificuldades criadas pelo sistema
dominante e impedimentos legais, é ainda pequena perto da capacidade que temos
de liderança e mobilização.
A educação de uma sociedade só será completa se esta for
politizada, e ser politizada significa ter ciência e consciência do seu papel
no meio em que vive. Em Loja é-nos proibido discutir política, porém, nada
impede que nós Irmãos possamos alinhar as nossas visões e participarmos da vida
pública apoiando candidatos, comprometidos com o bem estar social, sabatinar
pretensos candidatos para conhecer as suas ambições políticas, lançarmos
candidatos que tenham visão congruentes com a nossa filosofia, apoiarmos ações
concretas que derrubem estigmas de que somos uma sociedade secreta com ideais
satânicos de autoproteção, bem como outros mitos gerados pelo obscurantismo e
pela ignorância.
Abraham Lincoln, disse: “O campo da derrota, não está
povoado de fracassos, mas de heróis que tombaram antes de vencer”.
Já Albert Einstein disse: “O mundo é um lugar perigoso de
se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles
que observam e deixam o mal acontecer”.
Diante destas duas verdades, fica uma reflexão, onde estamos?
Como é que nos estamos a preparar para enfrentar o momento político e social
que vivemos? Nós, pela capilaridade que temos na sociedade, temos o poder de
influenciar muitas pessoas, temos a capacidade de formar homens melhores junto
aos que conosco trabalham, junto à nossa família, junto ao nosso círculo de amigos.
Devemos liderar pelo exemplo e não pela batuta. Para parametrizarmos as nossas
atitudes e antes de as tomarmos, devemos colocar uma questão: isto é justo? Eu
vou ter orgulho e coragem de contar aos meus filhos o que estou prestes a
fazer?
Ficou bem visível ao longo deste trabalho que tenho muitas
aspirações para a nossa irmandade e duvidas maiores ainda, não a respeito da
Maçonaria e sim da minha capacidade de honrar e corresponder à grandeza desta
instituição, porém tenho fé no GADU, que ao longo da minha caminhada terei
muitas respostas e inúmeras dúvidas irão advir destas respostas. Enfim, esta é
a essência do conhecimento, saber que quanto mais sei, mais sei que nada sei.
Este inclusive foi um dos motivadores para a minha admissão.
Como se trata de um tema em que, no meu entender, deve
prevalecer a visão do Maçom, e, como cada visão é peculiar, de como nós devemos
agir e comportar para fazer face ao momento busquei na minha experiência de
vida e na minha visão de mundo ideal, sempre usando os meus valores, para
produzir esta prancha de arquitetura.
Segundo Henry Ford “se você acha que pode ou não pode fazer
alguma coisa, você tem sempre razão”. Finalizando, questiono: Daqui a cinco
anos, se você olhar para traz, qual será o seu sentimento? Terá a certeza de
que fez todo o possível? Ou terá um peso nos ombros por não ter feito o que
poderia, para mudar a nossa realidade, o nosso mundo?
Adaptado de texto escrito por Francisco Esoron