Quando me preparo para
elaborar uma prancha sobre o silêncio, o grau de Aprendiz e Maçonaria, não
consigo calar esta sigla na minha cabeça.
Já a tinha ouvido ou
lido, antes de ser iniciado e a sua sonoridade impressionou-me. A sua vibração
e potência, mesmo sem ser pronunciada, falada, é magnética.
Quando confrontado com
ela na Câmara de Reflexão fiquei ainda mais obcecado em compreender o seu
significado. Visitae Interiora Terrae Rectificando que Invenies Ocultum
Lapidem é o que diz por extenso o latim VITRIOL.
Então, visita o interior
da terra, retificando-te irás encontrar a pedra oculta, ou olha para dentro de
ti e encontrarás a tua verdadeira essência, o santo gral, a verdade divina ou a
sabedoria. Agora, depois de alguns meses de Maçonaria e várias leituras, já
consegui atribuir palavras à sigla, ou símbolo.
Na verdade, este signo,
é mais um no seio de tanta simbólica Maçônica que agora se revela aos poucos.
Mas este é profundo e silencioso, profundo como a alma, pois a viagem sendo
para dentro, para o nosso interior, leva antevejo eu, para uma imensidão
infinita onde tudo é tudo e tudo é nada simultaneamente. Mas essa é uma voz
muda, uma das mais difíceis de alcançar: o nosso próprio silêncio, que
ecoa in Interiora Terrae.
É, por isso, um silêncio
visceral, alcançável só no mais puro domínio do barulho. Não do barulho
audível, mas do ruído civilizacional, do ego, da competição, do desejo, do dia
e da noite separados e de nós mesmos, separados do nosso eu.
Por isso, o Aprendiz
deve manter o silêncio. Mas um silêncio ativo, peregrino pela sua consciência e
interioridade, ao mesmo tempo em que vai assistindo e criando sentido no rito.
Por isso também, os Irmãos Mestres desempenham um ritual, no interior de um
templo a coberto de profanos, como deve ser o nosso próprio templo, para ajudar
no processo que o irá retificar de encontro à luz da Pedra Oculta.
Este interior, o templo,
tem hierarquia, ciclos e movimentos, força e beleza e move-se para o bem e
harmonia. Aí, o dia e noite são um só; do meio dia à meia noite, como o xadrez
do chão forma um ciclo unificador onde o preto e branco são faces diferentes de
uma unidade trinitária.
Como Aprendiz que é,
deve usufruir do seu dever de silêncio como meio de viajar pelo caminho, numa
segurança observadora, como viajou na sua iniciação, amparado pelos Irmãos
Experto e Guarda interno. O caminho para a luz é um processo, um caminho árduo
que exige força e vigor e exercitar a contenção, soltar o silêncio quando não
há nada para nomear é um exercício de disciplina.
Mais uma vez; não é um
silêncio de renúncia. É um silêncio de aprendizagem, até porque um Maçom
desafia-se a si mesmo evitando juízos de valor antes de consultar a sabedoria
dos Irmãos. E ainda jurou guardar segredo do que lhe é revelado.
Assim, este domínio da
linguagem é também um polir do pensamento, do ego e da ambição: para além do
acesso a um caminho interior, esta disciplina permite ouvir mais do que se
fala, consequentemente, a aprender.
O desafio pessoal para
encontrar explicações e alternativas antes de pedir ajuda, é um impulso ao
crescimento intelectual e não só; devemos ouvir o nosso coração e só nos pronunciar
quando necessário, e aí sim, com firmeza e convicção.
Estar calado em templo,
quando ocupa a coluna do Norte e enverga um avental branco, situa o aprendiz
num plano hierárquico dentro da Augusta Ordem. Fundamento para qualquer ordem,
como o próprio conceito sugere.
É um dos primeiros
passos para uma forma de estar humilde e harmoniosa com o todo: a humanidade
representada pelos Irmãos, a Terra, representada pelo Templo e o universo,
oculto na simbologia.
Recordo novamente a
sigla VITRIOL e a sua força melódica a impulsionar numa descida silenciosa ao
interior. Com o risco de passar pelo inferno, mas com a possibilidade de
utilizar a escada de Jacó, também presente na prancha de Aprendiz, para subindo
nela até ao céu, completar a viagem iniciática, retificando a pedra bruta até
que ela, polida, possa emanar verdadeiramente a Luz.
Rui Carrilho – R∴ L∴ D. Fernando II, nº 118
(GLLP / GLRP)