A Comissão de Educação Maçônica da Grande Loja de Missouri (EUA)
recentemente publicou um brilhante artigo a este respeito, de autoria do Irmão
Earl K. Dille Jr., e usando de alguns trechos das conclusões a que ele chegou,
irei tecer um breve comentário sobre o que acontece no nosso ambiente maçônico.
A simples existência deste estudo prova que o mal não é somente
nosso, mas sim Universal, embora entre nós muito agravado. Costumam afirmar que
a Arte Real não precisa de divulgação escrita, por ser ela uma agremiação
tradicional onde tudo é comunicado “oralmente”.
E todos aqueles que já se dedicaram jornalisticamente à feitura
de um jornal maçônico, ou que, como escritores ou historiadores, já tentaram
editar ou mesmo conseguiram fazê-lo, um livro maçônico, podem sumariamente
provar o fato: “O MAÇOM NÃO GOSTA DE LER” seja por falta de interesse,
entusiasmo, motivação íntima, ou seja, por simples preguiça.
Se receber um jornal ou boletim, geralmente distribuído
graciosamente por Lojas ou Potências, para início de conversa esquece a sua
obrigação mais elementar de profano, “a de acusar o recebimento”. Muito
contrário, ainda reclama quando lhe mandam.
Mas, quando o recebe, mal passa os olhos pelo cabeçalho, se é
que algo lhe merece atenção NÃO O GUARDA e nem dá a algum irmão eventualmente
mais interessado. E quando alguém lhe fala de um determinado artigo, muitas
vezes até sem tê-lo lido, “mete a lenha” ou faz uma alusão desairosa sobre o
autor, especialmente quando não é do seu “partido fofoqueiro maçônico”.
Normalmente arquiva o boletim na “CESTA-secção…”
E o famoso artigo “POR FAVOR, NO LIXO, NÃO…!”, publicado pelo
esforçado “ADAUTO” no “O CINZEL” n° 104/106, em Março de 1976 (protesto
veemente do redator do O CINZEL – Órgão da Loja REALIDADE n.º 21, de Recife) é
um documento mais do que convincente deste estado de coisas.
Calcula o autor americano que menos de 10% dos maçons americanos
“passam os olhos em tais publicações”, dizendo os editores de livros maçônicos
que menos de 5% COMPRAM UM LIVRO. Mas se isto acontece num país altamente alfabetizado,
o que diremos nós do BRASIL?
Ao ser iniciado, elevado ou exaltado no simbolismo e a seguir no
filosofismo, cada Maçom recebe UM EXEMPLAR do rito de cada grau, e um
Regulamento Geral.
Pois bem, sendo eu possuidor da maior Biblioteca Maçônica do Brasil,
tenho me perguntado a milhares de Irmãos de tudo quanto é rito e potência, e
RARO é aquele que, mesmo sendo Grau 33 me pode mostrar (ou emprestar para tirar
uma Xerox) dos rituais da sua época, ou das Constituições que recebeu.
Praticamente nenhum Irmão, de Lojas que durante anos imprimiram
Boletim ou Jornais, me pôde mostrar algum e muito menos ALGUNS números dos
mesmos, e a maioria das Lojas que os imprimiram não possuem uma coleção
completa, única que seja. Não quero aqui citar os nomes de pelos menos 10 Lojas
às quais escrevi perguntando, para não envergonhar ninguém.
Basta só citar o BOLETIM DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL, editado
continuamente de 1871 até 1976, com poucas interrupções, perfazendo um total de
digamos 800 números. Creio que só existe UM ÚNICO CONJUNTO COMPLETO, que é o da
minha biblioteca, e nem o GOB possui uma coleção completa, faltando-lhe, creio,
quase 8 anos.
Se eu afirmasse categoricamente que nem 5% dos nossos Irmãos
Iniciados e que hoje possuem altos graus, jamais passaram os olhos nesses
rituais e constituições, provavelmente seria taxado de exagerado. Entretanto,
na verdade eu estaria assim mesmo “mentindo descaradamente”, pois raros são os
que jamais abriram estes livrinhos… e raríssimos são os que os guardaram
carinhosamente.
Faça-se em qualquer Loja de mais de 15 anos de existência a
experiência, mandem trazer os rituais de todos os graus que possuem, pelos
Irmãos antigos, e terão confirmado o que acabo de afirmar. Portanto, não é a
firmação jocosa quando observo que VOCÊ, que está lendo estas linhas, é na
verdade um dos poucos componentes deste grupo minoritário de leitores maçônicos.
Existem no mundo muitas Lojas de Estudos; ARS QUATOR CORONATI da
Inglaterra e da Alemanha, a Sociedade “PHILALETES” dos Estados Unidos, o Centro
de Estudos Maçônicos de Jandaia do Sul, etc., que editam livros e boletins, mas
os seus membros e assinantes, evidentemente “contribuintes”, são em número tão
reduzidos que seria ridículo aqui citar números, para a Maçonaria não morrer de
vergonha.
O iniciando, olhando respeitosamente os membros antigos das
Lojas, especialmente os que fazer questão de “enfeitar o Oriente”, ou os
componentes da nossa honorável Fraternidade, de um modo geral os imagina bem
ilustrados e informados, mas na realidade, em 99% dos casos, está redondamente
enganado.
Mostra-se o desejo de estudar e aprender alguma coisa,
especialmente quando possui um grau de cultura mais elevado, é sumariamente
freado e até ridicularizado com o velho chavão: Ainda é muito cedo para você
ficar sabendo isto, porque isto irá aprendendo com o tempo, quando for mestre…”
Na hora, o novato ainda reverencia “tamanha cultura
demonstrada”, e quando o tempo passa e ninguém lhe ensina coisa alguma, então
se desencanta, e quando exaltado a mestre, começa a se afastar e vai faltando
ao convívio daqueles que tão vilmente o enganaram.
Com vaidade quase pessoal, os mais vivos citam bombasticamente,
e em tudo quanto é ocasião, os nomes de grandes maçons do passado: Cônego
Barbosa, Lêdo, Nabuco, Rui, Macedo Soares, Saldanha Marinho, George Washington,
Franklin, Goethe, Monroe, etc., mas esquecem que estes maçons se tornaram
GRANDES, de fato, por que estudaram e leram tudo quanto aparecia de impresso,
escreveram e publicaram livros, e assim foram ensinando os seus irmãos
contemporâneos e atuais, o que a maioria de nós NÃO FAZ e não está disposta a
fazer.
Para que se tornaram maçons, então? Se não estão dispostos a
“desbastar a pedra bruta”, nem a sua própria e nem a dos aprendizes, ainda se
dispõem a aprenderem alguma coisa? Será que nos tornamos maçons pelo simples
desejo de pertencer ao “sindicato”?
A verdade é que a grande maioria só quer mesmo é bater no peito
e “apregoar”, ou então “sussurrar” ao ouvido dos outros SOU MAÇOM!…
Existem bibliotecas maçônicas em algumas Lojas ou Potências, e
eu já fui e ainda sou bibliotecário de algumas, e posso comprovar que ENTRA ANO
E SAI ANO sem sair UM ÚNICO LIVRO para ser lido em casa, já não se falando para
ser “estudado”, e quando alguém aparece furtivamente é quase sempre para OBTER
UMA RESPOSTA a alguma pergunta eventual e, nesta hora, nem procura saber, nem
está disposto a fazê-lo, “pois está com pressa”, mas quer que alguém lhe dê a
resposta certa e imediata.
E quando não lhe agrada, pois pretendia que a coisa fosse outra,
ainda fica duvidando da resposta que recebe. Mas muito pior é quando um livro
sai emprestado por 15 dias, que deve ser o prazo máximo; o bibliotecário
precisa exigir “recibo assinado”, para no fim ficar atrás do livro A SER
DEVOLVIDO, DURANTE 180 DIAS (seis meses). Deve dar-se por feliz quando consegue
reaver a obra, geralmente em mau estado de conservação, e no fim fica mal visto
pela sua insistência. Ou então, no fim de um ano, recebe a resposta lacônica:
“Acho que perdi o livro, pois não o encontro”
E quando lhe é exigida a compra de um livro igual ou de outro
equivalente, recusa-se, então, peremptoriamente, preferindo nem mais aparecer
na oficina. Isto, não falando dos “amigos do alheio”, que fazem a sua
biblioteca à custa dos irmãos, pedindo livros emprestados e esquecendo-se de devolvê-los.
E poderia até citar o nome de um Grão-Mestre, cujos familiares venderam a sua
biblioteca, depois que este faleceu, inclusive “várias centenas de livros com
carimbo da Biblioteca Oficial da Casa” e nem tiveram a dignidade de restituir,
pelo menos nesta hora, tais preciosidades, assim perdidas para sempre, pois o
comprador paulista não as irá devolver.
Habituaram-se os nossos Irmãos a NÃO ESTUDAR E A NÃO LER COISA
ALGUMA, preferindo discutir com veemência sobre o “disse me disse” dos outros.
Ou, então, preferem ficar em casa vendo e ouvindo novela na televisão. Mas
chegando à Loja, isto bem entendido, quando vão, gostam de arrotar sapiência,
fazendo discursinhos estéreis, sempre repetindo as mesmas baboseiras, e ficam
muito zangadinhos e mesmo ofendidos quando um “explicadinho”, destes poucos
renitentes que tem frequência, lhe fazem um pergunta incomoda que não sabe
responder, ou, então, lhe prova na hora a incongruência de alguns desses seus
discursos tipo “comício”, sem qualquer profundidade cultural e mesmo de valor maçônico
(…)
Agora, POR QUE NÃO LÊEM…? Bem, isto é outra página da história,
e faço votos que cada um consiga responder esta pergunta indiscreta, pelo menos
a si mesmo, e, depois disto, pode até ficar com “raiva” de mim, por ter dito a
verdade…
Kurt Prober, Revista “A Trolha”, Londrina, 19.01.1979