Místico, espiritual, histórico, ortodoxo e tradicional. Muitos são
os adjetivos empregados para definir o Rito Adonhiramita.
Definir as suas origens e história é algo tão difícil quanto
apaixonante e desafiador. Pelas mais diversas razões a literatura dedicada é
bastante escassa, e documentos referentes aos primórdios da sua prática são
bastante raros.
O Rito Adonhiramita é definido por muitos autores como preservador
da sua essência original, mantenedoras tradições ritualísticas e práticas
iniciáticas das escolas de mistério da antiguidade, e das ordenações do período
operativo da Maçonaria. É metafísico, teísta, esotérico e místico.
O Rito Adonhiramita é fruto da evolução e do aperfeiçoamento
dos Ritos de Kilwinning, York e Clermont, praticados pelas
Lojas britânicas, e, sobretudo, do desdobramento do Rito de Heredon (Monte
Místico), também chamado de Rito de Perfeição, originário da Escócia e
amplamente praticado na França no século XVIII [1].
Porém, o Rito Adonhiramita não absorveu os conceitos jacobitas
inseridos pelos exilados na França da linhagem escocesa dos Stuarts, adoptando
os conceitos da Maçonaria inglesa, particularmente da corrente denominada de
Modernos, após a fundação da Grande Loja de Londres e Westminster em 1717.
Apesar disto, Oscar Argollo [2], autor maçónico das primeiras
décadas do século XX, classifica o Rito Adonhiramita como um dos mais antigos,
associando a sua origem a um ritual de 1248, utilizado pelos construtores da
Catedral de Colónia, Alemanha, que chamou de Rito Primitivo do Egito, do qual
os rituais Adonhiramitas ter-se-iam originado. Afirma ainda que há indícios da
prática do Rito Adonhiramita em 1616. Na verdade, mesmo que estas afirmações
até certo ponto surpreendentes sejam verídicas, esse Rito com certeza não
possuía o nome de Adonhiramita. A denominação Adonhiramita é posterior a 1725.
No anterior a 1750, quando ocorreu a explosão de Ritos na França, a
Maçonaria continental tinha a mesma prática das ilhas britânicas, ou seja,
havia rituais com diferenças entre si, mas não Ritos como os conhecemos atualmente.
Em 1781, o ritualista Louis Guillemain de Saint-Victor publica em
Filadélfia, EUA, o primeiro volume da obra intitulada Recueil Précieux de
la Maçonnerie Adonhiramite, Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita no
nosso idioma, que abordava os três Graus do Simbolismo e o Grau de Mestre
Perfeito. Posteriormente publica o segundo volume contendo do Grau Cinco ao
Doze, correspondendo este último ao Grau de Cavaleiro Rosa-Cruz que classificou
como nec plus ultra, expressão latina que significa nada há além. Esta é
considerada a obra de referência do Rito Adonhiramita.
A primeira edição dos dois volumes da Compilação Preciosa da
Maçonaria Adonhiramita postulava a seguinte hierarquia de Graus, divididos do 1
ao 4 no primeiro volume e do 5 ao 13 no segundo:
Grau 1 – Aprendiz Maçom
Grau 2 – Companheiro Maçom
Grau 3 – Mestre Maçom
Grau 4 – Mestre Perfeito
Grau 5 – Primeiro Eleito ou Eleito dos Nove
Grau 6 – Segundo Eleito ou Eleito de Perignan
Grau 7 – Terceiro Eleito ou Eleito dos Quinze
Grau 8 – Pequeno Arquiteto
Grau 9 – Grande Arquiteto ou Companheiro Escocês
Grau 10 – Mestre Escocês
Grau 11 – Cavaleiro da Espada, do Oriente ou da Águia
Grau 12 – Cavaleiro Rosa-Cruz
Ocorre, no entanto, que neste segundo volume da Compilação Preciosa
foi publicada a tradução de um ritual alemão, que anteriormente já tinha sido
feita no Jornal de Trevoux, que se referia à antiga Ordem dos
Cavaleiros Noaquitas ou Prussianos, traduzido para o idioma francês por De
Bérage, que sugeria a existência de um décimo terceiro Grau e causando uma
enorme controvérsia em relação ao número de Graus originalmente praticados pelo
Rito Adonhiramita.
O exame dos textos de Saint-Victor revela a possibilidade de se
tratar de uma espécie de Grau honorífico, pois era condição sine qua
non para ser decorado com ele que o Mestre Maçom possuísse o Grau de
Cavaleiro Rosa-Cruz, ou seja, o Grau realmente existia.
O facto é que durante muito tempo o Rito Adonhiramita foi conhecido
como Rito dos Treze Graus e os seus praticantes chamados de Cavaleiros
Noaquitas. O primeiro Ritual Adonhiramita publicado em solo brasileiro, pelo
Grande Oriente do Brasil, em 1836, tinha esta configuração.
Desde a sua formalização o Rito Adonhiramita ganhou muitos adeptos
na França, porém, a convulsão social pela qual o país atravessava naquela
década o levou progressivamente ao declínio.
A religiosidade do Rito Adonhiramita, teísta e com forte influência
cristã, chamou a atenção dos maçons portugueses, maior nação católica da Europa
à época, fazendo com que ele migrasse para as terras lusitanas e as suas
colónias, onde teve mais aceitação, dentre elas o Brasil.
A sua chegada ao Brasil ocorreu presumivelmente entre o final do
século XVIII e início do século XIX. Há menções à fundação da Loja Reunião em
1801, no Rio de Janeiro sob obediência do Grande Oriente da Ilha de França, atuais
Ilhas Maurício; da fundação da Loja Distintiva em São Gonçalo, Rio de Janeiro
em 1812 e da fundação da Loja Comércio e Artes no Rio de Janeiro em 1815, todas
sob a égide do Rito Adonhiramita, sendo as duas últimas obedientes ao Grande
Oriente Lusitano [3].
Estas hipóteses na atualidade têm sido exaustivamente investigadas,
e as descobertas têm trazido enorme enriquecimento sobre os primórdios da
Maçonaria no Brasil e do próprio início do Grande Oriente do Brasil.
Porém, há registros da prática do Rito Adonhiramita em período
anterior, entre 1813 e 1815, no que foi o primeiro embrião de uma Potência
Maçónica brasileira fundada em Salvador, Bahia. Neste sentido, o Museu da
Grande Loja Unida da Inglaterra – GLUI, possui no seu acervo um ritual
Adonhiramita traduzido por Hipólito José da Costa, talvez o Maçom brasileiro
mais proeminente na Europa do século XIX, que comprova de forma documental a
prática do Rito Adonhiramita no Brasil antes mesmo de nos tornarmos uma nação
independente [4].
Após a fundação do Grande Oriente do Brasil, no dia 17 de junho de
1822, o Rito Adonhiramita permanece sendo praticado aqui de forma regular e
goza de período de amplo crescimento, notadamente após a fundação do Grande
Oriente do Vale dos Beneditinos, ou Grande Oriente do Passeio, cujas Lojas
seriam mais tarde integradas ao Grande Oriente do Brasil.
Em 2010 o Rito Adonhiramita faz o caminho de volta à Europa, de
onde surgiu, e passa a ser praticado novamente em Portugal.
As três Potências Simbólicas Regulares do Brasil possuem Lojas
Adonhiramitas.
Atualmente o SCAB – Supremo Conselho Adonhiramita do Brasil é
uma Potência Filosófica que administra os Altos Graus do Rito Adonhiramita em
território brasileiro, com a prática dos 33 (trinta e três) graus, sendo da sua
competência e organização os graus do 4 (quatro) ao 33 (trinta e três).
Os maçons Adonhiramitas usam terno preto liso, os mestres usam
chapéus também pretos, faixas azul celeste e espadas. Todos os maçons
Adonhiramitas usam luvas e gravatas brancas.
Tratam-se por “Amados Irmãos”, pois isso induz subliminarmente o
princípio da ampla e irrestrita fraternidade que deve nortear a relação entre
os maçons. Por esta razão também é chamado de “Rito do Amor”.
É um Rito dos mais atraentes, que faz da requintada liturgia, da
musicalidade presente nas sessões, e da espiritualidade as suas principais
características.
Sérgio Emilião, M∴ I∴ – F. R+C
Notas
[1] O Rito de Heredon além de ser a base do Rito Adonhiramita,
também o é do Rito Moderno e do Rito Escocês Antigo e Aceito.
[2] ARGOLLO, Óscar, O Segredo da Maçonaria, 1ª edição, Rio de
Janeiro, 1942
[3] PINTO, Teixeira, A Maçonaria na Independência do Brasil
1812-1823, Editora Salogan, Rio de Janeiro, 1961, p. 14
[4] https://catalogue.museumfreemasonry.org.uk, página
visitada em 25.05.2021