Um jovem aprendiz foi procurar o seu mestre com um grande temor:
ele temia a morte. Chegando ao templo, o aprendiz ajoelhou-se e abriu seu
coração:
Mestre sinto-me envergonhado de dizer, mas temo muito a morte. O
que devo fazer? Como posso superar esse medo?
O mestre, pacientemente, ajoelhou-se ao lado do discípulo e
disse:
Nós estamos acostumados a ligar a palavra morte apenas à
ausência de vida, e isso é um erro. Existem outros tipos de morte, e nós
precisamos morrer todo dia.
Todo dia, mestre? Eu já tenho medo de morrer uma vez, quem dirá
todos os dias – interrompeu o aprendiz.
O mestre:
A morte nada mais é do que uma passagem, uma transformação. Não
existe planta sem a morte da semente, não existe embrião sem a morte do óvulo e
do esperma, não existe borboleta sem a morte da lagarta, não existe um maçom
sem a morte de um profano, Isso é óbvio! A morte nada mais é do que o ponto de
partida para o início de algo novo. É a fronteira entre o passado e o futuro.
Vendo que o semblante do aprendiz tinha dado os primeiros sinais
de alegria, o mestre continuou sua explicação:
Se você quer ser um bom universitário, mate dentro de você o
secundarista aéreo que acha que ainda tem muito tempo pela frente.
Quer ser um bom profissional? Então mate dentro de você o
universitário descomprometido que acha que a vida se resume a estudar só o
suficiente para fazer as provas.
Quer ter um bom relacionamento? Então mate dentro de você o
jovem inseguro ou ciumento ou solteiro solto que pensa poder fazer planos
sozinho, sem ter de dividir espaços, projetos e tempo com mais ninguém.
Enfim, todo processo de evolução exige que matemos o nosso “eu”
passado, inferior.
E qual o risco de não agirmos assim? – perguntou o jovem.
O mestre:
O risco é tentarmos ser duas pessoas ao mesmo tempo, perdendo o
nosso foco, comprometendo nossa produtividade e, por fim, prejudicando nosso
sucesso.
Muitas pessoas não evoluem porque ficam se agarrando ao que eram
não se projetam para o que serão ou desejam ser. Elas querem a nova etapa, sem
abrir mão da forma como pensavam ou agiam. Acabam se transformando em projetos
inacabados, híbridos, adultos infantilizados.
Podemos até agir, às vezes, como meninos, de tal forma que não
matemos virtudes de criança que também são necessárias a nós, adultos, como:
brincadeira, sorriso fácil, vitalidade, criatividade etc. Mas, se quisermos ser
adultos, devemos necessariamente matar pensamentos infantis, para passarmos a
pensar como adultos.
Quer ser alguém (líder, profissional, pai ou mãe, cidadão ou
cidadã, amigo ou amiga) melhor e mais evoluído? Então, o que você precisa matar
em si, ainda hoje, para que nasça o ser que você tanto deseja ser?
Pense nisso e morra! Mas não se esqueça de nascer melhor ainda!
Do livro: “As mais belas parábolas de todos os tempos vol. II” –
Alexandre Rangel (Adaptado Luciano José Antunes Urpia)