“Conceda-nos o
auxílio de Tuas Luzes e dirige os nossos trabalhos a perfeição. Concede que a
Paz, a Harmonia e a Concórdia sejam a tríplice argamassa com que se ligam
nossas obras”.
Por que começo o trabalho pelo final da ritualística meus Irmãos?
Por que se pretende fechar a Oficina? Não, de maneira alguma faria tal violação
aos nossos mandamentos. É necessário começar pelo fim, pelo encerramento dos
trabalhos da Loja por conta da importância das palavras e do sentido “tríplice
argamassa”.
A própria ritualística nos traz que a “tríplice argamassa” é
composta por 3 (três) elementos que são: a “paz, a harmonia e a concórdia”. Mas
por que escolher um tema desses para apresentar em Loja? Para responder tal
questionamento necessário trabalhar um pouco a simbologia e o significado
desses elementos tão importantes.
No Livro escrito por Raymundo D’Elia Júnior, intitulado “Maçonaria:
100 instruções de aprendiz” há o ensinamento de que uma Loja deve ser edificada
a um “templo Interior” diferente do que ocorre com os profanos, ou seja, um
Templo onde prevaleça sempre a piedade, a amizade e, sobretudo, extremamente
Justo.” Para o exercício da justiça Irmãos é necessário que tenhamos
“paz, harmonia e concórdia”.
Ao longo dos trabalhos que são realizados em grupo, onde cada irmão
Mestre tem seu papel fundamental na composição da Oficina, fazendo com que
assim, mesmo com o trabalho individual seja composto o “todo”, sendo neste
“todo” que as energias começam a fluir e por meio desta energia conseguimos
enriquecer o nosso “templo interno”.
O fato de os trabalhos serem em grupo se respeita assim um dos
mandamentos da Maçonaria chamado de Landmark. Ainda, não haveria a troca de
energias se não existisse o trabalho em grupo, não enriqueceríamos com as
experiências dos Irmãos se não estivéssemos em grupo.
Como ensina D’Elia Júnior, os trabalhos em Loja, em grupo, vertem
do Landmark de número 9, com redação da seguinte forma, conforme o referido
doutrinador: “Os Maçons se ‘congregam’ em Lojas Simbólicas.” Logo, toda a
Loja, devem os Irmãos congregarem e esta congregação, deve se dar por conta da
argamassa composta pelos 3 (três) elementos, sendo eles: “Paz, Harmonia e
Concórdia” que unidos e misturados torna-se a “tríplice argamassa” que une os
nossos trabalhos, que une nossas energias, e que une os nossos conhecimentos
tirando-nos das trevas.
Se tivéssemos como sociedade o mesmo proceder que temos em Loja
teríamos menos problema, menos desigualdades sociais, menos violência, menos
conflito, as relações entre as pessoas seriam mais tranquilas, com base na
“Paz, Harmonia e Concórdia”. Essa ‘tríplice argamassa” nos faz crescer, nos faz
termos tolerância e senso de justiça.
Para que os trabalhos ocorram de forma “Justa e Perfeita” é
necessário que os Irmãos estejam entrelaçados, unidos por meio da “tríplice
argamassa”, pois sem ela não há Loja, se não houver a comunhão em Loja, por
meio da União, não há “egrégora”, e não fluindo a energia não passamos de
simples (re)produtores de um ritual como tantos presentes na vida profana. Sem
esta União e a mistura não há a troca de energias e por conta disso não ocorre
o aprimoramento individual, não ocorre o “desbastar a pedra bruta” inclusive.
Vejam Irmãos que o V.’.M.’. evoca ao G.’.A.’.D.’.U.’. que una as
nossas obras com a “tríplice argamassa”, sendo ingredientes dessa “argamassa” a
“Paz, Harmonia e a Concórdia”, elementos faltantes em nossa sociedade.
Vivemos um tempo de preocupação, um tempo de discórdia e de
(des)harmonia, um tempo de desencontros e de individualismo intenso. Estamos na
era do consumismo, ou seja, da valorização das pessoas pelo o que elas têm
sempre vinculado a um patrimônio ou até mesmo a estética de um poder
aquisitivo, isso sempre em detrimento ao que a pessoa é como ser humano, como
ser no mundo.
No contexto social atual por conta da sensação de insegurança, por
conta da globalização das informações por meio da tecnologia, vivemos uma
relativização do tempo estático e com isso surge também a sensação de que tudo
está perdido e que estamos em desordem total.
Não podemos esquecer que Illa Priggogine, físico contemporâneo, em
seus estudos aponta para ordem inclusive no caos o que é desconhecido por
muitos e por conta deste desconhecimento cada vez mais as sensações em
sociedade são mais intensas de que vivemos um tempo perdido.
Na contra mão da atualidade percebemos o significado magnífico que
tem a evocação antes relatada que é parte do Ritual, ou seja, o pedido
para que o Grande Arquiteto, que é Deus, nos una por meio das nossas obras, bem
em um momento que os profanos parecem estar desencontrados e desorientados.
É nesse momento que lembro a aclamação feita por meio de Carta da
Poderosa Assembleia Legislativa Maçônica do Estado do Rio Grande do Sul, que
clamada para que nós tomemos as nossas posições neste mesmo Estado. No entanto,
os irmãos podem estar se perguntando e a dúvida pairando sobre os seus
pensamentos, pois a aclamação foi para aqueles que possuem um lugar ou tem a
possibilidade de tomar seus lugares em uma posição social de relevância no
poder estatal.
Entendo que a aclamação da Poderosa Assembleia foi ao sentido mais
lato sensu do que stricto sensu, pois todos nós possuímos uma posição de
destaque no seio social no qual estamos inseridos, desde a simples (que não é
tão simples assim) posição de pai, chefe de família, empresário, educador,
político e etc.; não importa a posição que temos ou podemos exercer, podendo
inclusive ser várias ao mesmo tempo.
É por meio destas posições e dos atos que delas decorrem que
podemos plantar nas pessoas, com nossos exemplos de vida, princípios diferentes
do que estes do consumo, do tirar proveito das pessoas, da (in)volução presente
na sociedade.
É evidente que falta na sociedade “paz”, bem como também falta a
“harmonia”, sem contar a falta de “concórdia”, pois aparentemente tenho a
sensação de que estamos na era da discórdia, ou seja, é moda discordar mesmo
que não se tenha fundamentos plausíveis e razoáveis para fundamentar tal
discordância. Quando não vemos pessoas discordar uma das outras e chegar no
calor da problematização partirem para a violência física e verbal.
Fraternos Irmãos são necessários e importantes para a evolução de
nossa sociedade que passemos exemplos de “paz”, de “harmonia” e de “concórdia”,
buscando o consenso e o auxílio do nosso próximo profano. É necessário que
venhamos a nos importar com o que acontece em sociedade sob pena de sucumbirmos
os mesmos males que vem sofrendo a nossa sociedade, sucumbirmos por valores
perdidos.
Bertold Brecht, em um dos seus poemas, retrata da seguinte forma a
necessária posição de tomar parte do problema e não ficarmos de braços cruzados
para eles, quando necessário for tomemos a dos direitos estabelecidos sob pena
de perdermos eles por falta de seu regular exercício, o poema diz o seguinte:
Primeiro levaram os negros, mas não me importei com isso eu não era
negro.
Em seguida levaram alguns operários, mas não me importei com isso eu também não
era operário.
Depois prenderam os miseráveis, mas não me importei com isso porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados, mas como tenho meu emprego também não me importei.
Agora estão me levando, mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo.
Fraternos Irmãos cada vez mais estou certo de que temos que
(re)passar a “paz”, a “harmonia” e a “concórdia” que temos entre nós em Loja
para a sociedade que vivemos.
Esta (re)passagem se dará por conta dos nossos atos, na nossa
probidade, dos nossos ensinamentos aos nossos filhos, aos nossos companheiros
de labuta, aos nossos vizinhos, este será o nosso legado e por ele seremos
lembrados.
Tiago Oliveira de Castilhos
A.’. M.’. – A.’.R.’.L.’.S.’. Sir Alexander Fleming 1773, OR.’. de
Porto Alegre/RS (Brasil)