Em comentário ao texto Os meus Irmãos reconhecem-me como tal,
alguém se insurgiu contra o mesmo, entendendo que nele era revelada matéria
integrando o que se convencionou chamar de segredo maçônico e que eu, como
todos os maçons, jurei não revelar a profanos.
Em resposta a esse comentário, o
Ruah já esclareceu que nada do que nos comprometemos a não revelar foi exposto
no dito texto. Assim é: que os modos de reconhecimento dos maçons são sinais,
palavras e toques é, de há muito, do domínio público e é, até intuitivo.
Para alguém reconhecer outrem
como integrando determinado grupo ou qualidade, terá de se aperceber através do
que vê (sinais), do que ouve (palavras) ou do que sente (toques). Referi-lo,
pois, não atenta contra o chamado segredo maçônico. Atentatório, sim, contra
ele e contra os compromissos por todos os maçons assumidos, seria revelar que
sinais são esses, que palavras estão em causa, que toques relevam.
O chamado segredo maçônico é um
dos pontos que mais suscita a curiosidade de quem não é maçon. Mas,
relativamente a ele, não posso e não devo satisfazer a curiosidade profana: se
o fizesse, o segredo deixaria de existir e o motivo para a curiosidade também…
O chamado segredo maçônico é
também um dos pontos utilizados por aqueles que são hostis à Maçonaria e aos
maçons para procurar atacar e vilipendiar uma e outros, ao abrigo do genérico
pretexto de que se não tivessem um propósito criticável, não precisavam de
segredo para nada.
Como se não fosse intuitivo que
todas as pessoas têm e guardam segredos, uns só para si, outros apenas
acessíveis aos que lhe são mais chegados – chama-se a isso reserva da vida
privada e tem dignidade de direito fundamental, constitucionalmente protegido
em todas as sociedades civilizadas…
Como se todas as sociedades e
associações não tivessem matérias e planos e decisões e estratégias cujo
conhecimento reservam apenas para os seus membros…
Como se os empresários, os
membros da alta finança e os políticos não proclamassem todos, com alegre
satisfação, que o segredo é a alma do negócio…
A todos é naturalmente
reconhecido o direito ao segredo, à reserva do que não se destina a ser do
conhecimento público. Só os maçons são verberados por respeitarem o seu
compromisso de guardar o segredo maçónico!
Muita da curiosidade, muito do
combustível para os ataques aos maçons resulta, afinal, de se mitificar a
essência, a natureza e a amplitude do segredo maçónico. Mitificação para que a
Maçonaria e os maçons contribuíram, reconheço… Mitificação que, sendo um
exagero, é um distorcer da verdade. E do torcer da verdade não resulta,
normalmente, nada de bom…
A Maçonaria é uma instituição
ancestral e que preza a Tradição. Mas, como todas as instituições ancestrais
bem sucedidas, sabe preservar a Tradição, adaptando os seus usos e costumes ao
evoluir dos tempos e das sociedades. Só assim evita ser anacrônica e mantém
interesse e importância e valor, ao longo da passagem dos anos, décadas e
séculos.
O século XXI lançou-nos a todos
na voragem da Sociedade da Informação. As chamadas Novas Tecnologias permitem
aceder a mananciais de informação que, ainda há poucas décadas – há poucos
anos… – eram impensáveis.
A Maçonaria não pode, não deve,
obviamente, ser indiferente às consequências desta evolução. Não que tenha
deixado de fazer sentido a subsistência do segredo maçônico. Mas a mitificação
do mesmo, essa sim, não me parece que seja vantajosa, nem para os maçons, nem
para os profanos.
A Maçonaria prossegue objetivos
honrosos e louváveis. É frequentemente denegrida por quem, sendo-lhe hostil, a
acusa de prosseguir propósitos menos recomendáveis e, sistematicamente, esgrime
com o segredo maçónico como alegada prova dos tenebrosos propósitos da
Maçonaria.
Em época de acelerada circulação
da informação, não basta à Maçonaria seguir o seu caminho, não ligando aos cães
que ladram à passagem da caravana. Porque tanto ladrido de tanta canzoada acaba
por impressionar quem o ouve.
A Maçonaria deve continuar a
prosseguir o seu caminho, apesar dos rafeiros e seus latidos. Mas, para bem de
si própria e elucidação de todos, nestes tempos de abertura de informação, deve
mostrar e informar para onde vai, porque vai e como vai. Assim todos verão qual
o caminho e não se impressionarão com a barulheira dos canídeos, que todos
poderão ver ser vãs e sem motivo que a sustente.
O segredo maçônico é um dos
objetos dos latidos. Pois bem, é tempo de mostrar, a quem estiver de boa-fé,
que esse vozear não tem razão de ser. Não – repito – abandonando o segredo
maçónico ou traindo os compromissos assumidos. Mas explicando os limites, a
natureza e as razões do dito segredo. Quem estiver de boa-fé perceberá. Os
outros… continuarão a ladrar, mas já impressionarão menos…
Nos próximos dias tenciono, pois,
publicar alguns textos sobre o segredo maçônico, explicando o que abrange,
porque existe, porque se justifica. Sem trair os meus juramentos.
Por hoje, e para terminar, deixo
apenas este aperitivo: na minha opinião, não há um segredo maçônico. Há dois.
Um exotérico e outro esotérico. Aquele é o que normalmente é referido. Mas, na
minha opinião, é o que menos importa…
In Blog “A Partir Pedra” – Texto de Rui Bandeira (06.01.2009)