segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

ESTOU EM FAMÍLIA, MAS NÃO ESTOU NA MINHA CASA

Meus irmãos, trago para vossa apreciação uma dúvida que cultivei durante muito tempo, melhor dizendo, desde a minha primeira visita a uma loja que não era do meu rito. Logo no início dos trabalhos notei que eu efetuei a bateria do grau de maneira diferente dos demais, bem como a aclamação. Também lembro que outro visitante fizera o sinal de ordem de maneira um tanto diferente.

Fiquei perturbado com aquilo, pois era à época, um inexperiente aprendiz. O mestre de cerimônias veio em meu socorro e disse que eu ficasse a vontade e procedesse conforme meu rito. Ao final da sessão pedi ao irmão que me ensinasse acerca daqueles procedimentos para que eu me comportasse de acordo com aquele rito em uma futura visita, o que lhe causou admiração. acredito que ali compreendi ou comecei a compreender o que significa fazer progresso na maçonaria. 

É ponto pacífico em maçonaria que, quando em loja que não é do seu rito, o maçom proceda de acordo com o seu, mantendo os  sinais, bateria, aclamação, toques, movimentação, etc. sem prejuízo ao andamento da sessão. porém, é inegável que tal proceder em certos momentos do desenvolvimento do ritual, pode causar algumas confusões (este é meu ponto de vista) e algum prejuízo para a egrégora.

Senão vejamos: imaginemos uma sessão em uma loja do REEA, depois de todo o empenho do mestre de cerimônias de distribuir os cargos, ordenar o cortejo, etc.  em que estejam presentes irmãos do rito Adoniramita, moderno, brasileiro, Schoeder e de York e tomemos como exemplo a abertura dos trabalhos na hora da bateria e da aclamação como já citei. ouviríamos um "bater de palmas" tão diverso e uma coisa parecida com um pregão na feira livre, em vez do uníssono levantar das vozes dos irmãos. qual seja, pela bateria: o-o-o, oo-o, o-oo... pela aclamação: H.'.H.'.H.'., l.'.I.'.F.'., G.'.G.'.G.'., V.'.V.'.V.'....( aqui deixo minha homenagem ao rito brasileiro, que instrui, na sala dos passos perdidos, aos irmãos que estão tendo seu primeiro contato com o rito). esta ligeira confusão ainda seria precedida por um "bater de cabeças" entre os aprendizes e companheiros, dado o fato de que as colunas são invertidas em alguns ritos, em particular o de schroeder em que os aprendizes sentam-se nas fileiras mais ao centro da loja.

Comparando com a vida profana, a convivência em sociedade e vida profissional nota-se que o comportamento muda ou se convenciona de acordo com o local que adentramos ou pretendemos frequentar. por exemplo: em visita a um parente ou amigo, manda a boa educação que nos comportemos de acordo com os hábitos daquela casa, deve-se se trajar adequadamente de acordo com o local de trabalho, não se deve falar alto em um templo religioso, ainda que seja uma filial da empresa que trabalhamos não é como se estivéssemos em nossa filial, um profissional do esporte ( que trabalha labuta de short e camiseta) não compareceria em um tribunal trajado desta maneira, mas de acordo com o que rege as normas para tal situação. 

Não é razoável impor nossos usos e costumes e como sinal de respeito nos adequamos aos locais e situações. seguindo este raciocínio, exponho a vossa apreciação a seguinte reflexão: não seria mais sadio, educado e instrutivo que o maçom, mormente os mestres, adotassem o costume de se instruir sobre o procedimento ritualístico quando em seu primeiro contato com  rito adverso ao que pratica?

A maçonaria, que tanto prima pela uniformidade, posto que se influencia nas ordens de cavalaria e militares, talvez deixe este ponto aos cuidados da liberdade, mas imaginemos agora uma sessão aonde os irmãos fossem previamente instruídos ou tomassem o cuidado de se instruir sobre os pontos aludidos neste trabalho, que, diga-se de passagem, não tem o intuito de se instituir como verdade, mas de instigar a pesquisa e enriquecer o conhecimento maçônico.

Certamente o maçom deve, primeiro saber e tomar a maior intimidade possível com o rito que pratica para não se tornar um especialista em generalidades, mas conscientizar-se que está deixando de lado uma excelente oportunidade de aprimorar seus conhecimentos a partir desta simples iniciativa.

A harmonia, junto com a paz e a concórdia formam a argamassa mística que nos une e foi pensando nisso me inspirei em trazer à baila este meu pensamento, que torno a dizer, não pretende se instituir como verdade absoluta, mas um ponto a mais a ser observado e estudado. por fim, faço minhas as palavras de João Guilherme Ribeiro quando afirma que “ maçom que  não conhece outros ritos não sabe o que está perdendo”. 

Deixo convosco a reflexão e espero de todo o coração que este acanhado trabalho venha a nos instigar a estudar mais e assim fazer novos progressos na maçonaria. 

Luiz Fernando Corrêa M.’.I.’. CIM 301.513

ARGBLS Philantropia e Ordem II – GOB-RJ

 

 

 

domingo, 8 de dezembro de 2024

O CARÁTER DO HOMEM MAÇOM - UMA ANÁLISE À LUZ DA PRÁXIS MAÇÔNICA.


 

Muitas vezes vemos irmãos se manifestarem intra e extra templo sobre que o irmão “X “ não tem um bom caráter, o Irmão “Y” é mau caráter e o irmão “Z” é de caráter duvidoso, dúbio.

Tais ponderações me levaram a estudar esse assunto, dentro de nossas Oficinas dentro de uma visão Médica, Psicológica, Sociológica e de relações humanas, à luz da Doutrina Maçônica.

Muito difícil formar opinião a uma simples visão.

O Universo do relacionamento humano é vastíssimo, complicado, com Nuances diversificadas dentro das normas sociológicas da boa ou má “vizinhança”.

Assim, definiríamos genericamente o Caráter como:” Conjunto de traços morais, psicológicos etc., que distinguem um indivíduo, grupo ou povo; índole; temperamento; qualidade; firmeza de atitudes.”

Mau caráter: “Quem demonstra maldade ou qualidades negativas de caráter; pessoa sem escrúpulo; que engana as pessoas sem o menor constrangimento; desvio de caráter (para o mal); diz-se daquele ou daquela que age sem decência, sem pudor, sem sensibilidade humana.”

Nesse sentido podemos compreender o caráter como algo que se forma para manter uma estrutura necessária ao desenvolvimento do indivíduo.

Porém, quanto mais rígida e inflexível for a estrutura do caráter, mais esse caráter se transformará em uma resistência que tenta manter o material inconsciente fora de alcance, fazendo com que o indivíduo passe a reagir de modo automático como um mecanismo de defesa.

Ou seja, o caráter não é uma escolha deliberada, ele se forma devido a necessidade do indivíduo se proteger do meio externo.

O caráter é uma reação àquilo que foi experimentado na infância.
Cada caráter é único porque cada experiência é única.

Caráter é a maneira a qual a pessoa se apresenta e se comporta em suas relações.

É a atitude psíquica particular em direção ao mundo externo, específica a um dado indivíduo.

É determinado pela disposição e pela experiência de vida, assim, podemos considerar tipos de caráteres onde se apresentam comportamentos mais ou menos ajustados à realidade e ao contexto social.

Na Maçonaria, deveríamos ser todos, pessoas de BOM CARÁTER.
Mas, infelizmente, temos muitos membros, que não poderiam ser definidos dentro dessa premissa.

Cada dia que passa fica mais escasso encontrarmos alguém de caráter totalmente ilibado, mesmo na Seara Maçônica.

As virtudes, que são evidências do caráter, hoje, ao invés de serem regras, têm sido raríssimas exceções!

Parece que é mais fácil nivelar todos por baixo, pelo que se deixa de ser ou fazer, e abandonar de vez qualquer sentimento de “excelência”, “hombridade” e “obrigação”.

Estamos sendo varridos violentamente por uma ideia de niilismo moral, onde tudo se reduz a um nada comportamental!

A sensação que se tem é que não tem valido mais a pena prezar pelo nobre e pelo ético.

Este contexto de relativização e banalização de valores tem contribuído para uma fragmentação conceitual e, consequentemente, prática do que significa caráter.

Assim, meus amados irmãos, temos que ter em mente que a formação do caráter leva em consideração não apenas o meio em que o ser humano vive, mas também a sua história.

Falar de caráter é lidar com a história do indivíduo: o que ele foi no passado, o que ele é no presente e o que ele será no futuro.

Certamente, o seu caráter no presente agora é determinado pelas experiências acumuladas no passado anterior e por suas expectativas projetadas para o futuro posterior.

É simplesmente impossível dissociar nossa história de nossa estrutura; divorciar nossa identidade de nossos sonhos!

Dentro de nossa vida privativa, coletiva, familiar e, também dentro de nossa Sublime Instituição.

Noutras palavras, tudo o que priorizamos como essencial, ou não damos tanta importância; as escolhas que fazemos, as decisões que tomamos e os rumos que seguimos estão intimamente ligados e giram em torno do caráter que temos e construímos.

Acredito que devemos nos preocupar mais com o que somos de verdade e não vivermos tanto em função do que aparentamos ser.

Devemos retomar o caminho do caráter.

O caminho do coração.

Vai parecer meio retrógrado e anacrônico ser honesto, onde se cultua a hipocrisia; ser diligente, onde se louva a indolência; ser humilde, onde se prega a arrogância.

CONCLUINDO:
“Precisamos voltar ao tempo em que nossas palavras eram a assinatura de nosso coração e as marcas de nossas mãos calejadas eram a prova de um “caráter aprovado".
Quando semeamos um pensamento, colhemos um ato;
Quando semeamos um ato, colhemos um hábito;
Quando semeamos um hábito, colhemos caráter;
Quando semeamos caráter, colhemos um destino.

Que o GADU, nos ilumine e guarde hoje e sempre e nos moldes na fornalha onde o Caráter seja elemento da argamassa que nos une juntamente com a Paz, a Harmonia e a Concórdia, que são Basilares na Essência doutrinária de nossa Sublime Ordem.

Dario Baggieri

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

AS ARTES LIBERAIS


 

INTRODUÇÃO

Irmãos, escrever sobre as Artes Liberais e a Maçonaria, tornou este trabalho desafiador, não pela necessidade de estudos e leituras, mas porque, como Companheiro, devo me ater aos ensinamentos do meu grau.

Sair do material, tátil e visual, para o espiritual e abstrato, sem cair na espiral das frases que não significam nada ou dizem o que significam de uma forma não clara, não é fácil, mas graças ao GADU, me foram colocados nesta caminhada, Irmãos que me orientaram nesse desbaste.

DESENVOLVIMENTO

As sete artes liberais são um conjunto de disciplinas que, na Antiguidade e na Idade Média, eram consideradas essenciais para a formação de um indivíduo culto e preparado para a vida pública.

Temos Platão, que trabalhava as artes livres, onde o aluno tinha o direito de pensar. Aristóteles e Isócrates (Pai da Oratória), tinham como meta a gramática, a retórica, a dialética, a geometria, a aritmética, a astronomia, a música e a arquitetura.

A maçonaria, por sua vez, valoriza o conhecimento, a moralidade e a busca pela verdade e utiliza essas artes no ensino aos seus membros.

Dentro desse contexto maçônico, as sete artes liberais são frequentemente referenciadas, como um símbolo do conhecimento e da educação que os maçons buscam cultivar, promovendo a ideia de que o desenvolvimento intelectual e moral, é fundamental para a formação de um bom cidadão e para a construção de uma sociedade justa.

Assim, as sete artes liberais e a maçonaria compartilham uma conexão profunda, pois ambas enfatizam a importância do aprendizado e do aprimoramento pessoal. Somos incentivados a estudar como essas disciplinas, não apenas servem para enriquecer nosso conhecimento, mas principalmente para aplicar esses conhecimentos em nossas vidas e nas interações com outros Irmãos. Essa busca pelo saber, é vista como um caminho para a iluminação e a evolução espiritual, valores centrais na filosofia maçônica. 

As Sete Artes Liberais estão divididas em duas categorias: o Trivium e o Quadrivium.

  1. Trivium:
    • Gramática: O estudo da língua e da estrutura das palavras.
    • Lógica: O raciocínio e a argumentação.
    • Retórica: A arte de falar e escrever de forma persuasiva.
  2. Quadrivium:
    • Aritmética: O estudo dos números e suas propriedades.
    • Geometria: os limites para o conteúdo relacionado às formas e aos espaços.
    • Música: O estudo das proporções e harmonias sonoras.
    • Astronomia: O estudo dos astros e dos movimentos celestes. 

A Gramática envolve a aprendizagem de verbos, adjetivos, substantivos e as demais características ortográficas, incluindo o significado das palavras, suas nuances, e como elas podem ser usadas de maneira correta.

A Retórica, é uma tarefa cotidiana em nossa sublime ordem. Aprender a falar em público com fluência e oratória, é uma das bases da instrução desde o grau de AM. Falar em público é aterrorizante para alguns, mas para os maçons é tarefa cotidiana, pois aprendem tanto de falar como ouvir o discurso dos outros.

A Lógica é a terceira etapa do Trivium, ela consiste em uma sequência regular de argumentos, ela treina nossa mente a pensar com clareza, usando as nossas faculdades de conceber, julgar e raciocinar, evitando que tiremos ou façamos conclusões baseadas em achismos.

A Aritmética que deve lembrar-nos de agir sobre o material, porém, com a beleza da aritmética e da matemática, é que descobrimos a simetria e a proporção. Ela nos mostra que retas e curvas podem ter seus significados expandidos a níveis esotéricos superiores, nos levando à conceitos e ideias abstratas.

A Maçonaria coloca especial ênfase na geometria como sinônimo de autoconhecimento, como compreensão da substância básica do nosso ser.

A Música é parte de nós, ela faz com que nossa audição seja melhorada pela música, em seus tons e amplitudes. As vibrações dos sons de determinada frequência, nos ensina que é preciso disciplina para alcançar a harmonia e escutar os sons do universo.

A Astronomia, nos faz pequenos, contemplar as estrelas nos faz perceber a glória do GADU, nos ensina a admirar e estudar o universo.

Os globos terrestre e celeste sobre os capitéis das colunas das Lojas nos ensinam a compreender a rotação da Terra em torno do Sol. Temos a visão interior da eterna renovação do universo, onde os recomeços, são uma jornada sem fim, como nos mostram os diversos ciclos que a astronomia nos ensina e faz com que sejamos cada vez melhores observadores.

Essas artes, são fundamentais para a formação do ser humano, promovendo o autoconhecimento e a busca pela verdade. O domínio do conhecimento e das habilidades ensinadas pelas artes liberais contribui para a construção de um caráter sólido e ético, elementos essenciais para a prática da maçonaria, além disso, muitos símbolos e rituais maçônicos fazem referência a essas artes, reforçando sua importância no caminho do aprendizado e da iluminação pessoal.

Considerações finais:

As ferramentas do Aprendiz e do Companheiro, nos remetem ao trabalho comportamental, descobre áreas não trabalhadas dentro do nosso ser, nos direcionando à retidão de caráter e veracidade com que tratamos os assuntos maçônicos.

Nos estudos do C, a essência das artes liberais repousa na sequência e ordenamento delas. Somos constantemente confrontados com o começo e o fim do saber conceitual e o significado simbólico, onde a presença das artes liberais, tão adaptada pela maçonaria especulativa, tem em seu cerne dois níveis, que são o material e o espiritual.

Vemos essa condição, no Livro da Lei, em Provérbios 9:1, que diz: “A sabedoria já edificou a sua casa, já lavrou as suas sete colunas”.

Considerando apenas a sua importância na maçonaria, veremos uma sequência onde os graus especulativos seguem com a sua sequência descritiva, dentro do Trivium e do Quadrivium, que nos levam a um crescimento, onde o entendimento espiritual e abstrato é a base para se tornar um MM.

Transcrevo abaixo pequeno trecho de Paulo Edgar Melo, para nossa reflexão:

“Se compreendermos melhor o uso da música e da arte nas nossas vidas, se usarmos a matemática e a geometria, se observarmos a perfeição do Universo, se expandirmos a nossa redação e vocabulário, tudo isso ao longo da nossa vida, vamos nos tornar melhores seres humanos e merecedores das graças e da bondade do Altíssimo.”

Que o GADU nos mantenha com o propósito de sermos uma escola de virtudes e sabedoria, onde o sistema moral baseado em alegorias e ilustrada por símbolos, seja nosso objetivo espiritual na maçonaria.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Artigo: A Origem das Artes liberais na Idade média, 2017. Revista de História Antiga e Medieval, MYTOS

Artigo: As artes liberais na Idade Média, 1975. Revista de História Ano XXVI, Editora Sociedade Filosófica.

MARTINS, Orlando, NOGUEIRA-SIMÕES, Pedro, O papel da maçonaria na contemporaneidade: Princípios e valores universais na criação de uma sociedade inclusiva, solidária e ética social, 2022. EUROPEAN Review of Artistic Studies.

CAMINO, Rizardo da. Simbolismo do segundo grau, 2021. Editora Madras.

JOSEPH, Irmã Miriam. O Trivium: As Artes Liberais da Lógica, da Gramática e da Retórica, 2002. Ed Realizações.

MARTINEAU, John, Quadrivium: As quatro artes liberais clássicas da Aritmética, da Geometria, da Música e da Cosmologia. 2010, Ed Realizações.

C.'. M.'.  JOSE LUIZ GARCIA VILLAR

ARGBLS Philantropia e Ordem II Nº 1664 - GOB-RJ

 

 

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

AS CORES DA MAÇONARIA


 

Na Maçonaria há uma forte influência do simbolismo das cores. Existe uma Maçonaria azul, uma Maçonaria branca e uma Maçonaria vermelha, cada uma destas cores denotando uma fase da aprendizagem iniciática da Arte Real.

Não há uma razão histórica para a adoção deste simbolismo de cores, a não ser que se possa invocar motivos relativos à Revolução Francesa, relacionados com as cores da bandeira daquele país. Mas aí seriámos obrigados a diminuir consideravelmente o alcance da Arte Real, que na nossa opinião, foi muito mais razão que consequência daquele formidável momento histórico.

A alusão à cor azul, muito provavelmente provém da influência da tradição alquímica, pois de acordo com os adeptos da Arte de Hermes, a pedra filosofal, no decurso do seu processo de elaboração, assume, seguidamente, três cores: um negro azulado, conhecido como asa de corvo, um branco leitoso e um vermelho ígneo. O negro simboliza o reino de Saturno, a partir do qual são obtidas a pedra branca, que é o símbolo da lua, e a vermelha, símbolo do sol.

Portanto, são estas as cores da grande obra alquímica. Primeiro, um negro azulado profundo, evocando as trevas, a morte, o subterrâneo; depois o branco, que é o renascimento, a cor da regeneração; e por fim o vermelho, o fogo celeste, o raio de luz, o sol, como corolário desse processo.

Por analogia adotou-se este simbolismo às diferentes etapas do simbolismo iniciático maçônico. A chamada Maçonaria negra foi acrescentada depois, para simbolizar a posse de segredos duvidosos. Mas em princípio eram essas as cores, e na essência, repetia o caleidoscópio hermético.

Os alquimistas justificavam este simbolismo dizendo que toda semente seria inútil se permanecesse intacta na terra, sem apodrecer e ficar negra.

Era preciso primeiro a corrupção e a morte para, em seguida, ocorrer a regeneração. Era no azul-negro que se encontravam, dissimuladas, todas as demais cores, como dizia Nicolas Flamel no seu Rosário dos Filósofos.

Este negro era, na verdade, um azul profundo, perfeito, que integrava em si a “rosa branca” e a “rosa vermelha”, imagem da regeneração e da ascensão espiritual, respectivamente. Estas duas cores do azul representavam os dois graus de perfeição da pedra filosofal, “o pequeno e o grande magistério, “o emblema da sabedoria, a coroa do filósofo, o selo da ciência e da fé, unidas à dupla potência, espiritual e temporal” no dizer de Fulcanelli. Na vida do operador alquímico eram representativas das duas mudanças no seu estado da consciência (etapas lunar e solar), que se operavam pela prática do magistério hermético.

Na terminologia alquímica, “branquear latona”(deabbat ergo latonen) significava branquear o latão, isto é, liberar o metal das suas impurezas para que pudesse mudar de estado. Na mitologia grega, Latona era a mãe de Diana (a Lua), e Apollo (o Sol), deuses representativos da natureza e da luz, respectivamente.

Na prática alquímica, é quando a “pedra” assume essa cor púrpura (fogo dos fogos), assemelhando-se a uma romã madura, que ela adquire a capacidade de transformar metais ordinários em ouro. Em contato com ela, os metais impuros “morrem” e “renascem” num outro estado, da mesma forma que o iniciado Maçom ao toque da espada Flamígera.    

Na simbologia maçônica podemos encontrar um paralelo nas diversas fases graduais que o iniciado tem passar para atingir o ápice da Escada de Jacó. No Rito Escocês essas fases são representadas pela Maçonaria azul, correspondentes às Lojas Simbólicas, à Maçonaria branca, correspondente às Lojas de Perfeição e Capitulares, e à Maçonaria vermelha, que corresponde aos graus filosóficos. Este último comporta ainda uma divisão em Maçonaria negra, que integra os três últimos graus da escalada de trinta e três graus previstos.

“A cor negra”, escreve Fulcanelli, “foi atribuída a Saturno, que se tornou em Espagiria, o hieróglifo do chumbo; em Astrologia, um planeta maléfico, em Hermetismo o dragão negro ou chumbo dos filósofos; em Magia, a galinha negra etc. Nos templos do Egito, quando o recipiendário estava pronto para as provas iniciáticas, um sacerdote aproximava-se dele e segredava-lhe no ouvido esta frase misteriosa: “Lembra-te que Osíris é um deus negro!”

Osíris, como se sabe, era o deus da ressurreição, aquele que guiava a alma do defunto pelas trevas da Tuat até o seu encontro com a luz. “Tal como o dia, no Gênesis, sucede, à noite,” continua Fulcanelli,” a luz sucede à escuridão. Tem por símbolo a cor branca.

Atingindo este grau, os sábios asseguram que a sua matéria está livre de toda impureza, perfeitamente lavada e purificada. (….) A cor branca é a dos Iniciados porque o homem que abandona as trevas para seguir a luz passa do estado profano ao de Iniciado, de puro. É espiritualmente renovado.”

Não se pode deixar de comparar a simbologia do magistério alquímico com as diferentes fases da iniciação maçônica. O que busca o irmão quando se inicia na Maçonaria, senão uma mágica transformação no seu ser? A passagem do estado de profano para o de iniciado equivale, na iniciação maçónica, a essa renovação espiritual, essa transformação de substância, que no magistério alquímico é obtida pela manipulação da matéria.

Só que, diferentemente da Arte de Hermes, a matéria prima do Maçom é o seu próprio psiquismo. Sobre ele o iniciado trabalha, utilizando-se dos influxos da Loja e dos ensinamentos que recebe, para transformá-lo, de metal impuro em ouro. Troca o vício pela virtude, a preguiça pelo trabalho, a indiferença pela participação, o desconsolo pela esperança. Dessa transmutação emerge como espírito renovado, purificado, pronto para exercer um novo papel na sociedade.

Este é o significado do simbolismo contido na iniciação maçônica, na qual o recipiendário passa sucessivamente, pelas três fases da transmutação alquímica: a negra, simbolizada pela sua descida às sombras da morte, o branco da regeneração, simbolizado pela sua iniciação e o vermelho da exaltação, que simboliza o predomínio do espírito sobre a matéria, condição que ele, como iniciado, finalmente adquiriu.

Evidentemente, na Maçonaria moderna todo este simbolismo, que resume uma verdade iniciática, assumiu contornos de filosofia moral. O Maçom é um homem do mundo e para ele vive. As verdades do espírito devem ser transformadas em atitudes práticas para a melhoria da sociedade na qual ele atua.

A luta do Maçom é contra ele mesmo, para submeter as suas paixões e aprimorar o seu espírito contra os males que infelicitam a espécie humana. Afinal, como diz o ritual, o mal é o oposto da virtude. O Maçom deve trabalhar para eliminar este mal, aperfeiçoando as suas qualidades morais, e em consequência, as da humanidade como um todo. Por outras palavras, o que ele busca é a realização de um estado de perfeito equilíbrio dentro de si mesmo primeiro para, em seguida, transmiti-lo à comunidade na qual vive, pois ninguém pode dar senão o que tem.

Esta é a ciência maçônica, a verdadeira ciência da vida. Através do trabalho prático, (do Maçom operativo) e teórico, (especulativo, que é busca do conhecimento, da Gnose), o Obreiro da Arte Real pode realizar a Alquimia maçônica., unindo-se, afinal, pelo trabalho de construção do universo moral que deve existir em todo irmão, com o Sublime Arquiteto do Universo, fonte fecunda de luz da qual todos saímos no início como matéria cósmica e à qual um dia voltaremos como espíritos radiantes de energia luminosa.

Por isso é que aqueles temerários que batem profanamente à porta do templo, a fim de se iniciarem nos Augustos Mistérios dos Obreiros da Arte Real, ali estão em busca de luz. É que na desordem que reina no mundo dos homens, esses corações sensíveis sentem a necessidade de buscar o exato equilíbrio entre as suas necessidades no mundo profano e as exigências do mundo sagrado, que são de cunho espiritual.

Sem ordem e harmonia nas suas próprias vidas, não as pode transmitir à comunidade em que vive, pois ele mesmo não as possui. Então precisa ser devidamente iniciado, para que possa adquirir tais qualidades. Mas para isso precisa ser puro e de bons costumes.

Ontem como hoje, as esperanças da humanidade são as mesmas: ela quer viver num estado de harmonia, equilíbrio social e ordem. Se as formas de se buscar esse estado ideal mudam, se as visões assumem diferentes configurações, o conteúdo significante dessas visões, no entanto, são os mesmos.

Em todos os tempos os homens repetem as mesmas fórmulas e sentem os mesmos anseios. Assim, o neófito que busca a realização maçônica carrega na sua alma o mesmo anseio do adepto que se iniciava na Arte de Hermes. E tanto nos laboratórios dos artistas, como nos templos maçónicos de hoje, quando um irmão é iniciado ouve-se dizer que

A luz foi feita,
A luz seja dada ao neófito.

Por fim, é relevante lembrar que na referida prancha do Mutus Líber, um homem e uma mulher, representando os dois princípios, feminino e masculino, que se unem para a criação, torcem um pano branco para fins de extrair dele o chamado “orvalho dos filósofos”. Este “orvalho” é exatamente a energia proveniente da natureza, a “flos coeli” capaz de animar a matéria inerte e provocar nela a transmutação. No templo maçônico, essa função é representada pelo equilíbrio de forças entre as duas colunas, sobre as quais Aprendizes e Companheiros realizam as suas fases de aprendizagem, recebendo cada um, conforme o ritual, o seu salário.

É desta maneira que os Obreiros da Arte Real, congregados no templo, formam uma Egrégora que capta, a exemplo da ação energética da síntese química, a “energia dos princípios”, que para o alquimista é o mercúrio filosófico, e para o Maçom é a tríplice argamassa com que se ligam as obras maçônicas.

João Anatalino Rodrigues

Do livro “Conhecendo a Arte Real” – Ed. Madras, 2007

 

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

UMA NOVA ANTIMAÇONARIA NO BRASIL


 

Tenho alertado que o cenário atual, de um crescimento do fundamentalismo religioso e de extremismos ideológicos, é desfavorável para a Maçonaria, pois torna-se um terreno fértil para ideias e propagandas antimaçônicas. Foi o que ocorreu, por exemplo, nos EUA, na década de 20 do século XIX; e na Europa continental e no Brasil, na década de 30 do século XX. Agora, a história começa a querer se repetir, tanto lá como aqui.

Um exemplo é o de Danúzio Neto, que mantém um canal onde propõe compartilhar informação “sem narrativa”. Contudo, faz exatamente o contrário, oferecendo uma doutrinação reacionária por meio de seus vídeos. Um deles tem um título um tanto quanto sugestivo: “Como a maçonaria destruiu o Brasil?”.

Nesse vídeo, ele já começa sugerindo a Maçonaria como um “antro de perversidade e de depravação moral”. Depois, diz que a Maçonaria teria ingressado nos EUA “tal como um vírus ou um parasita no seio da sociedade americana”.

Sua doutrinação chega a tanto, que chama o movimento iluminista de “maníaco” e se posta durante o vídeo também contrário à Revolução Francesa e a Independência dos EUA. Sobre esta última, Neto escancara seu antimaçônismo ao dizer que Washington “chegou ao cúmulo de receber ritos maçônicos em seu funeral”. Como se isso fosse um grande absurdo.

Então, sua narrativa chega ao Brasil, onde ele diz que a Maçonaria veio para “contaminar elites”, a qualificando como “pútrida”, e declara que ela atuou “infestando a máquina pública”. Sua análise histórica conspiratória e tendenciosa chega ao nível de afirmar que, na chamada Questão Religiosa (anos 1870), Dom Pedro II “em um mergulho dantesco e criminoso em ideias falidas, começou a perseguir membros honrosos da Igreja Católica”.

Neto omite as principais informações e fatos históricos a respeito. A Questão Religiosa deveu-se pela Maçonaria ter defendido e militado a favor do movimento abolicionista, patrocinando jornais sobre o tema, financiando a alforria de escravos e fazendo lobby a favor de leis como a Lei do Ventre Livre, de 1871, do maçom Visconde de Rio Branco. Isso a colocou em rota de colisão com algumas lideranças regionais da Igreja Católica que, naquela época, era a favor da escravidão. Cientes do trabalho maçônico pró-abolição, dois bispos começaram, eles sim, a perseguir a Maçonaria e os maçons, promovendo sermões antimaçônicos e intervindo em paróquias em que maçons eram participativos, proibindo-os de as frequentarem.

Contudo, o Brasil, por Bula Papal, era um Padroado Régio, em que o Rei administrava a Igreja Católica em seu território. Nesse sistema, o Estado recebia os dízimos, enquanto construía e mantinha as Igrejas, nomeava os padres e bispos e pagava seus salários. Então, houve uma decisão legal contrária a esses interditos, que os dois bispos optaram por desobedecer e, por isso, foram presos.

Dom Pedro II, que enfrentou o Papa nessa chamada Questão Religiosa e aplicou a lei da Constituição do Império do Brasil, respaldado pelo Padroado Régio, não era maçom. Não foi a Maçonaria contra a Igreja, mas o Estado brasileiro contra dois Bispos que eram servidores públicos. Mas úisso não impediu Danúzio Neto de declarar que houve “perseguição contra os católicos brasileiros”. Dom Pedro II era católico, assim como Visconde do Rio Branco e 99% dos brasileiros naquela época, incluindo os maçons!

E quem mudou esse cenário de hegemonia católica no Brasil foi a Maçonaria. Mas isso, Danúzio Neto também não menciona. Ele não fala que, devido à Questão Religiosa, a Maçonaria abraçou mais fortemente bandeiras como da liberdade religiosa e do Estado Laico, inexistentes no Brasil, colaborando e apoiando a vinda de missionários de diferentes igrejas para o país. Se hoje há forte presença de igrejas protestantes no Brasil, além de igrejas evangélicas descendentes do movimento protestante, foi graças à Maçonaria. Isso é ser anticlerical? Somente se você acredita que o Estado deve ser religioso, tendo uma única religião oficial e que seja a sua.

E é nesse sentido que Danúzio Neto segue, ao afirmar que “cartunistas maçons empreenderam uma dura campanha anticlerical”. Em seguida, qualifica esses “cartunistas maçons” de “turbas de lunáticos”. Então, começa a dissertar sobre o fortalecimento das ideias republicanas, taxando seus defensores de “tecnocratas baratos”. Ato contínuo, chama Deodoro da Fonseca de “um dos maiores traidores da história brasileira” e chefe de um governo “pútrido” que acabava de nascer.

Então, ele continua seus ataques a importantes personalidades brasileiras que eram maçons, como Rui Barbosa e Lauro Sodré. E, sendo Washington Luís o último Mestre Maçom ativo a se eleger Presidente da República, tendo deixado o cargo em 1930, Danúzio Neto simplesmente não explica o que a Maçonaria supostamente teria feito para “destruir o Brasil” nos últimos quase 100 anos.

Um breve olhar ao referido vídeo antimaçônico e ao título de outros vídeos em seu canal comprova que a promessa de um conteúdo neutro, imparcial, livre de falsas narrativas, não corresponde com a verdade. Trata-se de pura doutrinação. No vídeo, Danúzio Neto apresentou tendências anti-abolicionistas, antirrepublicana, antiprotestantíssimo, antilaicismos e antimaçônicas. Se você se identifica com esses ideais radicais, junte-se a ele. Caso contrário, sugiro evitá-lo.

O que ele realmente oferece é o velho discurso de “uma vida melhor, com mais dinheiro, mais segurança e liberdade” e que “só 1% das pessoas vão conseguir tudo o que você pode conseguir”, como ele mesmo escreveu em seu próprio site.

Cai só quem quer.

A/D

 

 

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

AS ORIGENS DAS SOCIEDADES SECRETAS: MAÇONARIA E INFLUÊNCIAS ANTIGAS

O documento “As Origens das Ordens Secretas” explora o surgimento e a evolução das sociedades secretas, com foco especial na Maçonaria e na Ordem Rosa-Cruz. Essas sociedades surgiram com base em crenças esotéricas e místicas de antigas civilizações, como o Egito, Grécia e Roma, influenciadas pela tradição ocultista.

Durante a Idade Média, a perseguição às crenças alternativas levou esses grupos a se ocultarem, preservando suas práticas e ensinamentos. A Maçonaria, em particular, é descrita como uma herdeira de tradições pagãs, incluindo o simbolismo dos Mistérios Antigos, mantido pelas guildas de pedreiros.

O documento também discute o impacto das sociedades secretas na política e religião, a controvérsia com o cristianismo e a lenda de Hiram Abiff, figura central nos rituais maçônicos.

Para que possamos compreender as origens das sociedades secretas, convém examinarmos as suas raízes antigas, que podem ser localizadas no antigo Egito e nas civilizações clássicas de Roma e Grécia, devido à possibilidade deixada por alguns iniciados em documentos.

Durante a Idade Média, surgiram diversas sociedades secretas baseadas nas doutrinas ocultistas que afirmavam possuir antecedentes remontando quase ao início da história. As ideias místicas que elas possuíam tinham a sua origem nas crenças religiosas mais antigas conhecidas pela humanidade.

Essas crenças pagãs sobrevivem à formação das grandes religiões mundiais, como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, adotando a sua forma externa ou operando no seu interior como uma tradição herética, secreta e esotérica.

Com a perseguição às crenças espirituais alternativas na Europa cristã medieval, os guardiões dessa sabedoria antiga tiveram de se esconder, formando sociedades secretas para preservarem os seus ideais pagãos.

As duas grandes sociedades secretas formadas nesse período, que só se revelariam publicamente nos séculos XVI e XVII, foram a Maçonaria e a Ordem Rosa-Cruz. Enquanto a Ordem Rosa-Cruz continua a ser uma sociedade secreta, objeto de pouquíssima publicidade nos tempos modernos, uma considerável atenção pública tem se voltado para a franco-maçonaria recentemente.

Essa sociedade tem sido apontada como uma influência potencialmente corrompedora, pois seus membros abrangem homens de negócios, juízes estaduais e federais, e delegados, cujos juramentos e atividades maçônicas são encarados como a camuflagem ideal para o nepotismo.

Aos olhos do mundo externo, a Maçonaria aparece como um clube de profissionais superiores, que querem progredir em suas carreiras pela adesão a um grupo social de elite. Supõe-se que os maçons se favoreçam mutuamente nos negócios e na concessão de empregos, enquanto a proeminência das autoridades judiciárias nas lojas maçônicas levanta suspeitas de que o curso da justiça pode ser pervertido por homens ricos reunidos em suas sombrias salas.

Os maçons têm respondido a essas acusações negando que os membros de suas lojas gozem de qualquer vantagem especial nos mundos profissionais e dos negócios. Eles vêm tentando apresentar, para o mundo externo, uma imagem respeitável, argumentando que a sua confraria não é uma sociedade secreta, mas uma sociedade com segredos. Contudo, não obstante esse exercício de relações públicas, a imagem popular da franco-maçonaria é de um grupo de homens de negócios de meia-idade que se reúnem uma vez ao mês, vestem trajes extravagantes e realizam rituais escolares misteriosos.

Em muitos casos, as atividades da loja maçônica moderna talvez sejam exatamente essa pantomima excêntrica; porém, se a maçonaria é tão ridícula, por que, no correr dos séculos, tem ela atraído algumas das mentes mais brilhantes: destacados cientistas, proeminentes políticos, escritores, intelectuais, artistas, financistas e até a realeza?

A resposta deve estar nos ensinamentos secretos da franco-maçonaria, raramente discutidos em público. Em um recente sínodo da Igreja Anglicana, um relato sobre a franco-maçonaria foi apresentado para debate aos clérigos e leigos reunidos. Diversos oradores denunciaram a maçonaria como contrária aos ensinamentos do cristianismo, condenando os cristãos, especialmente os clérigos, que porventura fossem membros.

Um orador chegou ao ponto de atacar a maçonaria como “blasfema”, pois, segundo ele, o principal ritual de iniciação, que envolve uma representação simbólica da morte e do renascimento, seria uma paródia da crença cristã na crucificação e ressurreição de Jesus de Nazaré.

Desde os seus primórdios, a franco-maçonaria tem sido alvo da ira cristã, embora seja revelado que a Igreja Católica está infiltrada por agentes das sociedades secretas.

Por que deveriam os cristãos ser tão críticos da Maçonaria, além da razão óbvia de que a Igreja se opõe a qualquer sistema de crença alternativo capaz de ameaçar o seu monopólio espiritual? Novamente, a resposta a essa pergunta está nos “segredos” da Maçonaria. Se esses segredos estivessem prontamente disponíveis ao público em geral, é pouco provável que o seu significado fosse compreendido por aqueles não versados nas doutrinas do ocultismo e da antiga religião. Na verdade, é pouco provável que muitos dos membros comuns das lojas compreendam o que os seus segredos representam.

No círculo interno da Maçonaria, entre quem alcançou graus de iniciação superiores, existem maçons que compreendem ser os herdeiros de uma tradição antiga e pré-cristã transmitida desde os tempos pagãos. Os maçons medievais herdaram essa tradição secreta na forma de ensinamentos simbólicos que expressam verdades espirituais. Esses ensinamentos tiveram origem nos Mistérios Pagãos, amplamente seguidos no mundo antigo.

Para compreendermos esses ensinamentos secretos e, ao fazê-lo, situarmos em um contexto espiritual o envolvimento das sociedades secretas medievais na política internacional, temos de examinar as presumíveis origens da Maçonaria no período pré-cristão.

As informações sobre essas origens estão preservadas nos escritos de historiadores maçons, nas teorias formuladas por ocultistas que têm investigado o simbolismo da Maçonaria e nos relatos acadêmicos das religiões pagãs influenciadoras da tradição ocultista medieval.

Historicamente, sabe-se que a Maçonaria especulativa se originou das antigas guildas medievais de pedreiros construtores das catedrais góticas europeias. Eles se organizavam em guildas, que funcionavam como grupos de ajuda recíproca semelhantes aos sindicatos modernos.

Essas guildas usavam símbolos secretos, as chamadas marcas dos pedreiros, encontradas nas velhas igrejas, bem como senhas e um aperto de mão especial, para que seus membros pudessem se reconhecer mutuamente. Acredita-se, nos círculos ocultistas, que esses pedreiros medievais herdaram o conhecimento esotérico de seus antecedentes pagãos, conhecimento esse incorporado à arquitetura sagrada das catedrais.

Ao serem fundadas as lojas da Maçonaria especulativa, que se opõe à operante, nos séculos XVII e XVIII, esse conhecimento foi transformado no simbolismo que constitui, atualmente, a base do ritual maçônico.

As associações medievais de pedreiros podiam envolver até 700 membros, que firmavam contratos com a Igreja para construir catedrais e mosteiros. Acredita-se que uma associação maçônica de pedreiros específica tenha se originado em Colônia, no século XII, a qual valia-se de cerimônias de iniciação ao admitir novos membros, denominados “pedreiros livres”.

Eventualmente, essas lojas maçônicas operantes aceitavam forasteiros, contanto que provassem ser homens de erudição, ou pessoas que ocupassem uma elevada posição social. No final do século XVI, as lojas de maçons operários havia, em grande parte, desaparecido, sendo substituídas pela Maçonaria especulativa, com a sua ênfase no simbolismo esotérico do Ofício como metáfora do progresso espiritual e da iluminação.

Ainda que os maçons medievais pudessem ser vistos como artesãos práticos, também possuíam um arcabouço mítico para explicar as origens de sua atividade. Os maçons operantes também dividiam todos os conhecimentos existentes em sete artes liberais e ciências. Elas eram classificadas em gramática, ou a arte de falar e escrever corretamente; retórica, a aplicação da gramática; dialética, a distinção entre falso e verdadeiro; aritmética, ou cálculo exato; geometria, o estudo das dimensões da Terra, música e astronomia. De todas essas artes e ciências, os maçons consideravam a geometria a mais importante.

De acordo com suas crenças, a geometria fora ensinada por um patriarca antediluviano chamado Lamec, que tinha três filhos. Um inventou a geometria, o outro foi o primeiro pedreiro, e o terceiro, um ferreiro, e o primeiro ser humano a trabalhar com metais preciosos.

Assim como Noé, Lamec foi advertido por Jeová do dilúvio, causado pela perversidade da humanidade e pela interferência dos Anjos Caídos nos assuntos mundanos. Lamec e seus filhos decidiram guardar o seu conhecimento em dois pilares de pedra, de modo que as gerações futuras pudessem descobri-lo.

Um desses pilares foi descoberto por Hermes Trismegisto, ou Três Vezes Maior, conhecido pelos gregos como o deus Hermes e pelos antigos egípcios como o escriba dos deuses, Toth, com cabeça de íbis. Diz-se que a assim chamada Tábua de Esmeralda de Hermes contém a essência da sabedoria perdida de antes dos dias do Dilúvio bíblico.

De acordo com fontes ocultistas, essa tábua foi descoberta em uma caverna pelo mítico Mestre Apolônio de Tiana, considerado pela Igreja primitiva um rival de Jesus. A primeira versão publicada da Tábua de Esmeralda data de uma fonte árabe do século VIII a.C., só tendo sido traduzida para o latim na Europa no século XIII.

Contudo, o mito da sabedoria hermética exerceu um profundo efeito sobre os gnósticos, que eram cristãos hereges em conflito direto com a Igreja Cristã primitiva, por tentarem fundir o paganismo com a nova fé.

Eles também afirmavam possuir os ensinamentos secretos de Jesus, que este divulgou apenas para o seu círculo interno de discípulos. Esses ensinamentos haviam sido excluídos da versão oficial do Novo Testamento, aprovada pelos concílios da Igreja reunidos para decidir a estrutura e o dogma do cristianismo primitivo.

A filosofia gnóstica emergiu sob uma forma diferente na Europa medieval, com o surgimento do movimento cristão herético dos cátaros e da Ordem dos Cavaleiros Templários. A tradição hermética serviu de inspiração espiritual para muitas sociedades secretas na Idade Média, e a sua influência faz-se notar tanto na Maçonaria especulativa como na sociedade Rosa-Cruz.

Segundo a tradição maçônica, os pedreiros [maçons] se organizaram pela primeira vez numa corporação durante a construção da Torre de Babel. De acordo com Gênesis 11:4-6, essa torre fora concebida para se atingir o céu e contactar Deus. O desmoronamento da Torre de Babel destruiu a língua comum falada pela humanidade e encerrou a Idade de Ouro que se seguiu ao Dilúvio.

O arquiteto da torre foi o rei Nimrod, da Babilônia, que era pedreiro. Ele pôs à disposição de seu primo, o rei de Nínive, sessenta pedreiros para ajudar na construção de suas cidades. Ao partirem, os pedreiros foram instruídos a se manter sempre leais entre si, a evitar dissensões a qualquer custo, a viver em harmonia e a servir o seu senhor como o seu mestre na Terra.

Segundo a crença popular, os hebreus receberam os seus conhecimentos de alvenaria dos babilônios, introduzindo-os no Egito ao serem escravizados. No Egito, esse conhecimento foi influenciado pelos Mistérios e pelas tradições ocultistas dos construtores de pirâmides, versados nas técnicas da geometria sagrada.

A chave para as origens pagãs da franco-maçonaria está na história simbólica narrada aos candidatos à iniciação nos três graus da maçonaria: Aprendiz Principiante, Companheiro Artesão e Mestre Pedreiro. Segundo o saber maçônico, a base dessa lenda é a história semimítica da construção do templo do rei Salomão, em Jerusalém. A edificação foi vista como repositório da sabedoria e do simbolismo ocultista antigo, tanto pelos maçons como pelos Cavaleiros Templários.

O rei Davi iniciou a construção do templo em Jerusalém e, depois de sua morte, seu filho Salomão completou a obra. Para construir o edifício, Salomão recrutou pedreiros, artistas e artesãos de países vizinhos.

Especialmente, enviou uma mensagem ao rei de Tiro, perguntando se podia contratar os serviços de seu mestre construtor, Hiram Abiff, que era versado em geometria. Hiram era filho de uma viúva, tendo aprendido o ofício de artesão trabalhando com bronze. Devido ao seu talento artístico, Salomão nomeou Hiram arquiteto-chefe e mestre-pedreiro do templo a ser construído em Jerusalém.

Hiram concluiu o templo num período de sete anos (esse número tem uma significação especial na tradição ocultista e na maçonaria), mas essa realização foi empanada por sua morte misteriosa e violenta. Certa vez, ao meio-dia, durante o descanso dos pedreiros, Hiram fez uma visita ao templo para verificar o andamento do trabalho, que se aproximava do fim.

Ao entrar no pórtico do templo, atravessando a entrada flanqueada pelos dois pilares do portão, um de seus colegas pedreiros aproximou-se de Hiram, solicitando o segredo da senha do Mestre Pedreiro. Hiram negou-se a fornecer essa informação secreta, dizendo ao trabalhador que ele receberia no momento propício, depois de avançar mais em sua carreira.

O pedreiro, insatisfeito com a resposta, golpeou Hiram, que seguiu aos tropeções, aturdido e sangrando, até o segundo portão do templo. Ali, foi abordado por um segundo pedreiro, que fez a mesma pergunta e, ao ser-lhe negada a resposta, golpeou Hiram, que cambaleou até a terceira entrada (ocidental) do templo, onde outro pedreiro o aguardava. O processo se repetiu e, dessa vez, o arquiteto-chefe morreu do terceiro golpe.

Os três traidores pedreiros carregaram o corpo de Hiram do templo até o topo de um monte vizinho, onde cavaram uma cova rasa e o enterraram. Marcaram o local do túmulo com um ramo de acácia e, à tarde, como de hábito, retornaram ao trabalho. Quando a falta de Hiram foi notada, uma equipe de busca foi organizada, mas esta levou quinze dias para descobrir o seu corpo.

Salomão foi informado e ordenou que o corpo de Hiram fosse exumado e enterrado novamente, com uma cerimônia religiosa completa e as honras devidas a um artesão de sua importância. Os três assassinos acabaram sendo descobertos, julgados e condenados à morte pelo seu crime.

Fonte:Brasil Maçom

Referências

As Origens das Sociedades Secretas Antigas. Documento PDF fornecido, Parte 1 revisada.

Bíblia Sagrada, Gênesis 11:4-6, referência à Torre de Babel.

Textos sobre Hermes Trismegisto, associados ao mito da Tábua de Esmeralda.

Referências acadêmicas sobre os Cátaros e a Ordem dos Cavaleiros Templários, vinculadas ao movimento cristão herético.

Histórias sobre Hiram Abiff, personagem da tradição maçônica.

 

 

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