EGRÉGORA NA MAÇONARIA: NECESSIDADE OU FALÁCIA?

 


Introdução

O termo Egrégora tem sido usado na Maçonaria, indiscriminadamente, numa tentativa de caracterizar uma situação que por si só se torna polémica na sua origem quanto à sua validade no contexto maçônico.

Numa busca, quase fatigante e desanimadora, é propósito deste texto identificar se o exercício prático, mais contundente e direcionado de uma Egrégora, possa trazer benefícios para os objetivos da Maçonaria, dentro dos seus recintos.

Alguns questionamentos são necessários, apenas com a intenção de suscitar reflexões particulares, mas sem a pretensão de respondê-los na sua totalidade. Por que estas retóricas sobre a validade de uma Egrégora Maçônica nos seus âmbitos de atuação? É válido preocupar-se com a necessidade, ou exigência, de uma Egrégora nas suas sessões ritualísticas? Nesta tentativa retórica de dizer que todos têm razão nos seus argumentos, apazigua os contendores neste embate? Qual sentido mais específico que esta ação de uma Egrégora Maçônica, nos tempos atuais, poderá agregar conhecimentos e ações que beneficie a todos?

Todos estes questionamentos circulam, esporadicamente, em alguns recintos maçónicos e ignorá-los não é justificativa para a negação da sua existência, bem como, a sua aceitação, também, não é prerrogativa da sua necessidade dentro da Maçonaria.

Registro que, neste texto, interpreto uma Egrégora Positiva, tendo ciência de que também existe uma Egrégora Negativa que por antagonismo definem-se por si próprias.

Caracterizar o termo Egrégora, fazendo uma relação com Egrégora Maçónica, no contexto atual com algumas interpretações, definições argumentativas e, pretensamente, validar a sua necessidade é objetivo deste texto, além de salientar o seu lado positivo que pode contribuir em todo contexto.

Esta caracterização do processo [1] de uma Egrégora Maçônica trará o posicionamento de que, bem ou mal quanto à sua validade, o termo existe e ignorá-lo é pernicioso. A tentativa de desmerecer a existência de uma Egrégora Maçônica denota o entendimento errado da não consideração daquilo que possa existir, mas, não se tem a compreensão exata do que se trata.

Contextualização

Definir o termo Egrégora e, especificamente, o entendimento de Egrégora Maçônica é necessário, mesmo que isto se torne enfadonho, dentro daquele ensinamento inoportuno, pois o leitor está mais do que acostumado a recorrer a definições e conceitos de qualquer coisa, devido à temporalidade em que a rapidez de pesquisa é impressionante. Algumas definições, aqui citadas, não têm o carácter de menosprezar a inteligência do leitor, mas sim, de situar o termo dentro do texto, para que não fiquem dúvidas do que se está tratando.

A definição mais corriqueira, acessível, de Egrégora: Força espiritual que resulta da soma das energias mentais, físicas e emocionais proveniente de duas ou mais pessoas reunidas em grupo. Do grego egrêgorein; velar, vigiar. (DICIONÁRIO, 2023). Tendo por argumento esta definição pode-se interpretar que existem diversos tipos de atuação de uma Egrégora, seja no ambiente familiar, espiritual, pessoal, enfim tudo dentro dos limites estabelecidos.

É válido, também, registrar uma definição, apenas para argumentos posteriores: As Egrégoras são energias coletivas, energias de massa, formadas pelo pensamento coletivo das pessoas sobre um determinado assunto ou quando essas pessoas estão num determinado padrão vibratório. É um campo de energia criado no plano astral, a partir da energia individual dessas pessoas. (GOOGLE, 2023). Alguns sinônimos para Egrégora: sintonia, atmosfera, clima, envolvimento, participação, conspiração, confraria, fé etc., enfim, adaptá-la a qualquer situação depende da abordagem que se quer dar.

Num posicionamento particular, buscando uma definição mística para o processo, saliento que numa Egrégora é necessário agregar uma Espiritualidade e para tanto relaciono a definição com os argumentos na Bíblia Sagrada, escrito no Evangelho de Mateus, 18; 19-20:

E afirmo a vocês que isto também é verdade: todas as vezes que dois de vocês que estão na terra pedirem a mesma coisa em oração, isso será feito pelo meu Pai, que está no céu. Porque, onde dois ou três estão juntos em meu nome, eu estou ali com vocês (BÍBLIA SAGRADA, 2014 p.1454).

Se considerarmos esta definição como verdadeira e inquestionável, num primeiro momento, isto pode causar um desconforto em alguns que, simplesmente, desconsideram que possa existir um envolvimento da Espiritualidade no processo maçônico. Algumas pessoas ignoram qualquer tipo de Egrégora porque não aceitam que ela tenha um componente Espiritual, reduzindo-a uma simples característica abstrata, existente em tudo.

As religiões, também, têm entendimentos sobre a Egrégora, registro duas interpretações religiosas:

No Espiritismo:

Segundo o médium Chico Xavier, a egrégora é poderosa. Por isso, devemos nos atentar a todos os aspectos de casa. Assim,

o que poucos sabem é que as paredes, objetos e a atmosfera da casa têm “memória” e registram as energias de todos os acontecimentos e do estado de espírito dos seus moradores. Por isso, quando pensar na saúde energética da sua casa tome a iniciativa básica e vital de impregnar a sua atmosfera apenas com bons pensamentos e muita fé.

Além disso, você pode buscar fortalecimento nos terreiros ou com os seus guias espirituais. Deste modo, você encontrará forças para lidar com as suas angústias e medos. Ademais, cercar-se-á de uma energia espiritual para a cura dos seus sentimentos. (INSTITUTO REIKIANO, 2023)

No Catolicismo:

Para a Igreja Católica, não há crença na egrégora. Aliás, ela condena qualquer doutrina que pregue os simbolismos da energia. Neste sentido, podemos concluir que não existe uma egrégora católica. Sendo assim, os princípios católicos visam a graça como o dom universal.

Desta maneira, é pela graça que os fiéis são sustentados por Deus. Assim, não dependem de outras energias para encontrar o estado de plenitude. Então, para se alcançar a graça, é preciso cumprir os sacramentos da ideologia católica. (INSTITUTO REIKIANO, 2023)

Na simplicidade da busca Acadêmica para a definição de Egrégora, baseado apenas neste entendimento particular, registro que esta definição pode ser entendida como um termo comum em que significa entrar em sintonia com pessoas visando atingir um objetivo em comum.

E, por fim, algumas definições maçônicas são pertinentes. É importante destacar o que diz o Prof. Avides Reis de Farias na sua disciplina no Curso de Pós-Maçonologia: História e Filosofia:

O conceito da Egrégora corresponde à energia vital circulante no Templo. A Egrégora é entendida em muitas lojas maçônicas como uma carga que se descarrega do CÉU, devendo retornar em sentido contrário. O som das palmas, quando as mãos direita e esquerda entram em contato, drena a energia vital (Egrégora) presente. Os demais membros da cadeia de união sentir-se-ão como ‘minados’ das suas energias. Por isso, algumas lojas substituem as palmas por estalidos de uma mesma mão.

Também visualizada na aula 4 o estado de espírito dos participantes presentes em loja é peça fundamental para o bom andamento das sessões maçónicas. Por isso, recomenda-se que o Ir:. Cobridor (Guarda do Templo – Malkut) deve segurar a sua espada apontada para ‘cima’, ou na horizontal, impedindo que a espada toque o chão. (UNINTER, 2018)

É necessário salientar a citação de Rizzardo Da Camino sobre Egrégora presente na Maçonaria:

Deriva do grego egregorien com o significado de “vigiar”.

A maçonaria aceita a presença da egrégora nas suas sessões litúrgicas. A egrégora é uma “entidade” momentânea; subsiste enquanto grupo está reunido; é formada pelas partículas espirituais de cada Maçom presente.

Os mais sensitivos percebem esta entidade; ela se mantém silenciosa, mas atua de imediato em cada Maçom presente dando-lhe a assistência espiritual de que necessita, manipulando as “permutas” de Maçom para Maçom, construindo assim a Fraternidade.

Os cépticos não aceitam esta entidade. Porém o Maçom espiritualizado deve procurar os seus efeitos e esforçar-se para visualizar a sua Egrégora. (CAMINO, p. 132)

É apropriado fazer uma relação entre uma Egrégora e a Cadeia de União na Maçonaria, através da citação de Jules Boucher:

A “Cadeia de União” é uma tradição que se encontra ao mesmo tempo nas Associações de Operários e na Maçonaria. Ela consiste em formar uma cadeia, dando-se mutuamente as mãos, depois de cruzados os braços.

Ora, é evidente que a Cadeia de união, cria um “campo magnético” turbilhonante, devido ao cruzamento dos braços, e a tensão desse campo será tanto mais forte quanto mais ativa for a malha.

Seria, portanto, necessário para que a Cadeia de união seja realmente eficaz, que uma finalidade determinada lhe seja atribuída…

Se cada Maçom tivesse consciência do seu papel, não apenas toda a Maçonaria seria transformada, mas o próprio mundo receberia a influência benéfica que emanaria da Lojas. Para ser “eficiente”, a ação não tem nenhuma necessidade de publicidade exagerada; ao contrário, é no silêncio e na meditação “ativa” e não passiva, que os pensamentos se transformam em ideias-força, e é pela Cadeia de União que essas ideias podem ser projetadas no mundo profano (BOUCHER, p. 356 – 358)

A citação dos que consideram a Egrégora como necessária na Maçonaria são visíveis, entretanto, os que a ignoram, ou mesmo não a acham necessária, é de difícil registro, pois, estes denotam o medo da argumentação e trazem o estigma dos que são contra algumas coisas e não sabem o porquê, o que prejudica o debate retórico.

Ao posicionar-se sobre a Egrégora na Maçonaria, quanto à sua necessidade ou não, também, obrigatoriamente tem-se que justificar o que está implícito quando se rotula que alguns argumentos sobre esta mesma necessidade possam ser falaciosos, principalmente os contrários à necessidade de uma Egrégora Maçônica. Busca-se uma definição do termo falácia, aqui adaptado a este contexto, sabedor que ele pode ter outras implicações:

Falácias não são apenas formas incorretas de argumentar, mas também formas incorretas de pensar. Contudo, mesmo pessoas inteligentes recorrem conscientemente às falácias, pois são atalhos para encurtar o debate, fugir do assunto ou enganar o público. Algumas falácias são sofisticadas e passam a impressão de argumentação válida.

Muitas pessoas, principalmente líderes religiosos, empresários e políticos, as utilizam ostensivamente contando com o fanatismo, superstição, baixa escolaridade, fragilidade ou ingenuidade das pessoas. No argumento falacioso as premissas não sustentam a conclusão. Muitas falácias são difíceis de serem detectadas e acabam passando a ideia de argumento válido e coerente. (NETMUNDI.ORG)

Para efeito de argumentação, aponta-se aqui que o termo ou processo de uma Egrégora não faz parte da Docência Maçônica no Rito Schröeder, pois, não é citada em lugar algum nas suas Normas, Leis e Procedimentos Litúrgicos e, portanto, não faz parte deste contexto, o que ameniza o debate para aqueles que a desconsideram e usam este argumento para menosprezá-la.

Numa tradução livre dos pensamentos citados e para se chegar a uma definição, entende-se Egrégora Maçônica como a necessidade, dentro do seu esoterismo, de uma sintonia que vise atingir os objetivos em comum.

Considerações finais

Quando se fala em Egrégora Maçônica, entre controversas opiniões, uma se destaca: a Egrégora é supérflua. Esta superficialidade, para alguns, transforma-se em posicionamentos simples, em que citam de que uma Egrégora é algo abstrato e chegar-se a conclusões, se é positiva ou negativa, nem valeria o esforço realizado; são os que trazem “tatuados” o desprezo pelo desconhecido e não tentam compreendê-lo.

Na simplicidade da imaginação, se existisse a necessidade, literal, do processo de uma Egrégora na Ritualística Maçônica, quando se fizesse uma “baixa de frequência ou sintonia”, certamente o seu resultado seria positivo. Como a Ritualística [2] não preconiza isto, fica prejudicado o posicionamento, pois a simples imaginação de que algo seria bom, justifica posicionamentos específicos dos seus detratores que, nestes momentos, atém-se apenas a oficialidade do Rito. Omitem de maneira proposital, para justificar os seus posicionamentos de que existe, oficialmente, o processo chamado Cadeia de União realizada no referido Rito e que traz na sua essência a busca de uma Egrégora que acompanhe os Irmãos mesmo que seja uma intenção, entretanto, referenda a sua validade.

Também, tendo em vista os registros neste texto, especificamente de pessoas, sobre o assunto Egrégora Maçônica, chega-se à conclusão de que a maneira destes ao analisar o processo, depende mais de pensamentos personalísticos. Deveriam, numa concepção utópica de consenso, analisar o processo como um todo, positivo ou negativo, sem levar em conta o pensamento de serem os “donos da verdade”. Justifico este posicionamento individual que uma Egrégora Maçônica apenas agrega coisas boas em Ritualísticas, em ambientes maçónicos ou mesmo dentro da Maçonaria. Nesta quase infindável procura de motivos para entender de que maneira uma Egrégora Maçônica possa prejudicar a Maçonaria, não encontro nada específico, além da má vontade daqueles que não acreditam neste processo.

Na minha aceitação definitiva de que uma Egrégora Maçônica tem um componente Espiritual, senão a sua essência, como explicar ou encorajar o seu processo para aqueles que, teoricamente, acreditam na necessidade de uma Espiritualidade na Maçonaria, mas, na prática a ignoram veladamente? Para estes a Egrégora nunca será quesito necessário numa Ritualística, pois, não a entendem na sua essência, entretanto a ignoram pelo simples motivo de que no Rito e em Leis Maçônicas (GLMERGS – Constituição – 2019) ela não é citada ou recomendada. Na busca dos motivos que levaram a Instituição Maçônica citada no texto a não incluir na sua Liturgia a necessidade de uma Egrégora nas suas Lojas, causa-me um desconforto, pois, imagino várias situações que ocorreram para estes posicionamentos oficiais. O primeiro que vem à mente é a de que a Instituição, entendendo que a Egrégora possa ter um componente Espiritual, não quis, ou não quer, desagradar a estes que ainda não consideram a Espiritualidade como um processo necessário em Lojas, o que se torna um contrassenso na sua exigência de Crença em um Ser Superior.

É pertinente dizer que qualquer tipo de Egrégora somente se realizará se a pré-disposição seja individual, pois, o processo não será possível com a simples exigência de que outros a realizem. Em Lojas Maçônicas [3] (DOCÊNCIA MAÇÓNICA, p. 7) é recorrente ouvir a citação da exigência de uma Egrégora Maçônica desde que esta seja feita pelos outros, sempre em atitudes autoritárias, beirando o egoísmo.

Neste posicionamento necessário, sugere-se a necessidade da prática de uma Egrégora dentro da Maçonaria com o aval Institucional nos seus propósitos, tais como exigências mais contundentes, no registro de que ela seja parte integrante e inicial da Ritualística. As Instituições Maçônicas precisam validar que Maçonaria e Espiritualidade, “caminham lado a lado”, pois, esta referência está lá, entendida que somente serão considerados Irmãos maçônicos os que creem em um Ser Supremo (GLMERGS – Constituição, Preâmbulo, p.6), surgindo a oportunidade da prática Espiritual, também, através deste processo.

No entendimento de que uma Egrégora Maçônica somente será possível se envolver a Espiritualidade, esta prerrogativa trará a oportunidade de um resgate histórico maçônico do necessário envolvimento Espiritual nos seus âmbitos de atuação. Aliado a este entendimento, uma Egrégora Maçônica trará a oportunidade de benefícios recorrentes a todos e a Entidade.

Jorge Antônio Mendes, M. I., Loja Namaste nº 172 – Oriente de Esteio/RS – GLMERGS. Pós-graduado em Maçonologia: História e Filosofia (UNINTER-PR) – 2018.

 Email: jorgemendes2017@hotmail.com

Notas

[1] Método, sistema, modo de fazer alguma coisa. (PRIBERAM DICIONÁRIO, 2023)

[2] Aqui citado, especificamente, a Ritualística do Rito Schröder.

[3] Loja Maçônica é uma reunião de Maçons para uma atividade específica.

Bibliografia

BÍBLIA SAGRADA. São Paulo: Paulinas Editora, 2014.- Impressão 2021

BOUCHER, Jules – A Simbólica Maçônica. Editora Pensamento – São Paulo – 1979.

CAMINO, Rizzardo da – Breviário Maçônico – 6. Ed. – São Paulo. Madras, 2014, p. 132.

DICIONÁRIO – Significado de Egrégora – https://www.dicio.com.br/egregora/ – acesso em 25.04.23.

DOCÊNCIA MAÇÓNICA – GLMERGS, Porto Alegre. Edição 2015

Constituição da Grande Loja Maçónica do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2019.

GOOGLE – www.google.com – acesso em 25.04.23.

INSTITUTO REIKIANO – https://institutoreikiano.com.br/egregora/ – Acesso em 01/05/23.

ORG – https://www.netmundi.org/home/category/falacias/ – Acesso em 01/05/23.

PRIBERAM DICIONÁRIO – https://dicionario.priberam.org/processo – Acesso em 2023

UNINTER – Curso de Pós-Maçonologia: História e Filosofia – Disciplina A Geometria Sagrada e a Visão Cabalística – 2018.

 


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