“Daria tudo que sei pela metade do que ignoro.”
(René Descartes)
À G.’.D.’.G.’.A.’.D.’.U.’.
A importância da
aprendizagem na vida humana sempre foi tema de estudos dos mais aprofundados. O
aprender é um processo de tal valor para o homem que foram pensados meios
educacionais para tornarem a aprendizagem mais eficaz. Entretanto, não é apenas
pela via escolar formal que aprendemos. Estamos constantemente aprendendo,
sobretudo com a leitura de mundo que fazemos, através de nossas experiências
sensoriais.
Estudos da Psicologia
chegam a afirmar que o homem começa aprender mesmo no ventre de sua mãe, mantendo
um vínculo com o mundo que o cerca através de sentimentos, toques, falas e
outros elementos perceptíveis.
Para o pensador Bernard
Charlot, aprender é adquirir um saber. Entretanto, para que este saber produza
frutos, ou seja, adquira um sentido na vida humana, depende das relações que
estabelecemos com o saber. É nessa perspectiva que direcionaremos este breve
estudo.
Pelo chamado “senso
comum”, desde tenra idade, nós mergulhamos num oceano de dados e ficamos como
que extasiados por novas aquisições de conhecimento. Em casa, na rua, na
escola, em todos os ambientes em que convivemos, é grande oferta de novas
descobertas para compreensão das realidades.
Corrobora com esta
proposição o pensamento de Freire:
A curiosidade ingênua,
de que resulta indiscutivelmente um certo saber, não importa que metodicamente
desrigoroso, é a que caracteriza o senso comum. O saber de pura experiência
feito. (FREIRE, 2011, p. 31)
Somos seres sociais e
vivemos num mundo que nos oferece uma gama extraordinária de informações.
Quando nos apropriamos de certa informação e damos um sentido a este novo
conhecimento, adquirimos um saber. Portanto, o saber assume um papel de
pertencimento do sujeito.O saber contribui para a personalidade dos indivíduos
e para o desenvolvimento de suas habilidades no mundo social. Entretanto a
aquisição de saberes práticos como: ler, escrever, fazer contas, apreender
elementos da cultura científica ou literária por si só não nos dá o verdadeiro
sentido do saber.
Assim, que é que, em um
saber, possibilita considerá-lo “prático”? Não é o próprio saber que é prático,
mas sim, o uso que é feito dele, em uma relação prática com o mundo. Essa
distinção permite evitar falsos debates. (CHARLOT, 2000, p. 62)
Na maioria dos casos,
quando se pergunta a um jovem estudante por que ele estuda, a resposta mais
comum é que o estudo lhe proporcionará um saber intelectual que o levará a
ocupar um melhor posto no mercado de trabalho. O saber torna-se utilitário e
mercantilizado. Sem dúvida nenhuma que a escola é um espaço para a ascensão
social. O desejo de escolarização encerra um sentimento de melhoria das
condições de vida. Por isso, a maior parte dos jovens não sente prazer em
aprender algo que não lhe seja imediatamente útil.
Constantemente
confunde-se educação com escolarização. Na verdade, a escolarização é apenas
uma parte da educação. Grande parte da apreensão de mundo que o cidadão carrega
em seu bojo intelectual é advinda da vivência em família ou em outros ambientes
sociais fora da escola.
Nos tempos em não
existia a escola formal, nas sociedades primitivas, era a família que
desempenhava o papel que agora denominados “escola”. Também é bastante comum
associarmos o conhecimento com a bagagem intelectual que absorvemos dos livros,
dos estudos, dos eventos científicos... Porém, poderia ser definido o saber
principalmente como a compreensão inteligível da realidade, que o sujeito humano
adquire através de suas experiências.
A educação formal nos
permite absorver conteúdos intelectuais, tais como: aprender gramática,
matemática, desenvolver a reflexão filosófica, compreender os elementos
históricos que compõem um determinado acontecimento na humanidade, situar-se na
geografia do mundo, entre outros. Porém, a escolarização por si só não nos
capacita a compreender o mundo ou construir referências para compreender o que
é a vida. Necessário se faz que o aprender adquira um sentido mais significante
do que o saber.
Compreender as
realidades que nos cercam de forma mais ampla e significativa deve ser o
objetivo central de toda prática educativa. É preciso se apropriar do
conhecimento de forma que ele faça parte da nossa vida. Segundo a análise de
Freire (2011), quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender,
tanto mais se constrói e desenvolve a curiosidade epistemológica. E nesse ponto
de vista, o aprender adquire mais importância do que o saber.
Aprendemos, sobretudo,
fazendo. A única maneira de aprender a nadar é praticar a natação. O que vale
para as habilidades motoras, guardadas as devidas proporções, serve para as
habilidades mentais. A única maneira de aprender a pensar é exercitar o
pensamento.
Todo indivíduo aprende e,
através da aprendizagem, desenvolve os comportamentos que o possibilitam viver.
Todas as atividades e realizações humanas exibem os resultados da aprendizagem.
A partir desse
entendimento, podemos afirmar que aprender é um ato de dentro para fora do indivíduo.
Ninguém pode aprender pelo outro. Querer aprender, entretanto, embora seja o
primeiro passo, não é o suficiente para se adquirir um saber. É necessário,
pois, estar aberto para o novo e, sobretudo, identificar-se com aquilo que vai
ser aprendido.
Encerro este ensaio com
a verdade inquestionável do mestre das letras Guimarães Rosa: “Mestre não é
quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”.
A.’.R.’.L.’.S.’.
PRINCESA DO SERTÃO - Nº 8
ORIENTE DE PALMEIRA DOS
ÍNDIOS-AL
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA:
CHARLOT, Bernard. Da
relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artes Médicas
Sul, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia
da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: paz e Terra,
2011.
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