O Maçom prega a
tolerância, pratica a caridade sem distinção de raças, crenças ou opiniões e
luta contra a hipocrisia e fanatismos (sabedoria maçônica)
A Cerimônia Magna
de Exaltação se realiza quando o obreiro, após o privilégio de ser acolhido na
Ordem, cumprir com denodo os trabalhos como Aprendiz e Companheiro, e
mostrar-se um líder, faz jus ao reconhecimento do Grau de Mestre Maçom,
considerado a conquista do ápice do simbolismo da Maçonaria, como o coroamento
de um período de estágio.
Com a exaltação, o
Mestre adquire a tão esperada Plenitude Maçônica, que enseja um forte
significado e não se traduz em pavonear-se ao exibir a boniteza do seu novo
avental.
Implica ser, a
partir de então, protagonista, proativo e estar sintonizado com todos os
movimentos da Maçonaria Universal, fazendo-se respeitado e reconhecido como
Mestre, na Ordem e na Sociedade.
Deve assumir a
responsabilidade pelos trabalhos da sua Oficina, com o direito de ser votado,
ocupar cargos e estar inclusive comprometido a ajudar nos trabalhos em qualquer
outra Loja regular nos Graus Simbólicos, quando solicitado, sempre com foco no
aprimoramento.
Ao refletir sobre o
simbolismo da sua caminhada, o Mestre precisa reconhecer que no Grau de
Aprendiz Maçom (germinação – o grão que brota: estuda, pratica e observa)
desenvolveu-se no aspecto material, trabalhou na Pedra Bruta e venceu a luta
contra inimigos como as paixões, hipocrisias, fanatismos, ambições, abraçou o
ideal da liberdade, praticou o socrático “conhece-te a ti mesmo”, e está apto a
discernir entre o vício e a virtude e entre o erro e a verdade.
Já como Companheiro
Maçom (crescimento – a planta que floresce: analisa e compara) laborou a Pedra
Cúbica, tendo como aspiração a igualdade e os sentimentos de fraternidade.
Na esfera
intelectual, reavaliou e ponderou os conhecimentos adquiridos, duvidando e
questionando paradigmas e fazendo novas descobertas ao aprofundar os conceitos
sobre as capacidades do pensamento, da consciência, da inteligência, da vontade
e do livre-arbítrio.
Com uma visão mais
ampla, preparou seu dinamismo cerebral e desenvolveu competências para
interpretar os elementos fundamentais do simbolismo. Reconheceu a relevância do
Grau de Companheiro, que não consiste em trampolim para o Mestrado, mas um indispensável
e aprofundado estágio entre o autoconhecimento do Aprendiz Maçom e o espiritual
que será objeto de aprimoramento no Grau seguinte.
Agora os horizontes
se ampliam. Sobrepondo-se a si mesmo, o campo de atuação do Mestre é o
espiritual (produção – a planta que frutifica: aplica o que observou na
primeira etapa e analisou na segunda), com a missão de reunir o que está
disperso, através da síntese para a conclusão da obra de construção social, de
modo a tornar a fraternidade humana mais forte, e difundir a Luz do
conhecimento, progresso e ciência, sobre as trevas da ignorância, por meio da
educação, decifrando as realidades, consagrando-se à firmeza de caráter e à
Moral que não transige com o dever.
Ao transpor a
metamorfose dos três degraus iniciáticos, representando o homem que se esculpiu
e mostrou-se apto para ser o Mestre de si mesmo, vem o imperativo de aprofundar
estudos e pesquisas, com o compromisso de retribuir o que conquistou e de ser
um facilitador para os novos Aprendizes e Companheiros, para que os mesmos se
superem e, quando esses discípulos estiverem prontos, se tornem também Mestres,
em “buscadores da verdade”, realimentando o círculo virtuoso, com o ensino e os
conceitos sempre se renovando.
Dentro do
simbolismo e alegorias maçônicas, claros para os verdadeiramente iniciados, a
Acácia – a Obra, como o Mestre, jamais apodrece, pois é o símbolo de uma vida
indestrutível, representando a sobrevivência de energias que a morte não pode
destruir face o reconhecimento pelos esforços feitos em prol do desenvolvimento
da Ordem.
A alegoria da lenda
do Construtor do Templo é um constante alerta, quando a Virtude e a Sabedoria
são postas em perigo pela ignorância, pelo fanatismo e pela ambição. Cabe aos
verdadeiros Maçons compreender a finalidade da Maçonaria e não usá-la como meio
para escalada social ou busca de algum proveito material.
Assim, conquistar o
Mestrado Maçônico, conhecer as ferramentas, receber as primeiras noções do
Grau, as responsabilidades que o mesmo comporta não se caracteriza o fim de um
processo, pois ainda falta o principal, a vivência, o trilhar do caminho, o que
ocorre à medida que se fizer novos progressos.
Para isso deve
compreender o simbolismo do traçar e delinear os trabalhos de construção na
Prancheta da Loja. O que se espera de um Mestre, portanto, é que absorva e
vivencie conscientemente os desafios do grau e continue a ser assíduo,
estudioso, participativo, fraterno, se fazendo necessário e compartilhando seus
saberes, empenhando-se para o fortalecimento da Loja e da Maçonaria Universal.
No Grau de Mestre,
o Espírito prevalece sobre a Matéria, ou seja, esta opera como um instrumento
físico compatível com o mundo e serve àquele para sua jornada evolutiva. Com a
compreensão desse sutil mistério é que o verdadeiro trabalho começa, pois o
legítimo Maçom, um filósofo na sua essência, está sempre em busca do seu
crescimento espiritual, da sua regeneração, da sua vitória sobre a vaidade e os
vícios, visando incansavelmente ao bem de seus semelhantes, em prol de uma sociedade
mais justa.
Apesar da conquista
do mestrado, esse obreiro qualificado precisa ter consciência de que continua a
ser Pedra Bruta e a lapidação interna não termina neste estágio material do
espírito, o que se verifica, apenas e tão somente, com o derradeiro e solitário
ato de passagem ao Oriente eterno.
O Mestre é o
artífice da Pedra Filosofal, o alquimista do eu interior, cujo segredo é
desenvolver o poder que eleva no homem a capacidade de se transformar e
realizar. Portanto, compreender a dimensão do Mestre é praticar a tolerância, o
perdão, a partilha, o entendimento e o equilíbrio entre os ensinamentos da
razão e os sentimentos do coração.
O Mestre é a
referência, o alicerce, semelhante à Pedra Angular base das construções
antigas, sobre a qual se apóia a sociedade justa e perfeita, devendo, portanto,
saber ouvir, mediar, aconselhar, inspirar, agir de forma colaborativa e servir
de exemplo a ser seguido, empenhando-se em ajudar os outros irmãos na
caminhada, tornando-se cada vez mais útil e indispensável.
Ao decifrar o
enigma da existência e da morte, a condição de exaltado representa um recomeço
um renascimento em plano mais elevado, um novo ciclo. Muito mais há pela
frente, desta feita impondo-se o comprometido com a busca permanente da
Verdade, agora que detém as chaves para abrir novos portais de conhecimento.
Entretanto, é
importante ter em mente que o verdadeiro trabalho maçônico é fora da Loja e se
dá na interação com o mundo que o cerca.
As reuniões em Loja
se constituem em um meditar constante, que permitem revigorar o ânimo, além da
salutar troca experiências e informações necessários à consolidação de um
arcabouço moral e intelectual.
O perigo é deixar
que a plenitude maçônica alcançada com o Grau de Mestre leve à acomodação, à
falsa sensação de infalibilidade e segurança, à indiferença e apatia em relação
aos trabalhos da Loja.
Infelizmente, para
alguns, a caminhada cessa ou é praticamente interrompida quando se chega ao
Grau de Mestre. Quando isso acontece, pode-se dizer que o suposto Mestre foi
mal exaltado e está investido de falsa plenitude. Isso pode ser constatado
ainda com atitudes de desdém ou de arrogância.
Estas
invariavelmente reconhecidas naqueles que passam a se comportar como gurus,
pretensos detentores de um saber transcendental, com ares de mistério e cheios
de invencionices, achismos e mimimis.
A determinação, a
perseverança, o “pegar pra fazer”, é o exemplo fundamental do Mestre, sendo
motivo de repreensão a postura de se restringir a dar “ordens” ou “ideias” para
os outros, como se dono da Loja o fora. Muitos, quando questionados por um
Aprendiz ou Companheiro sobre alguma questão específica, respondem com ar
triunfalista que ainda não chegou a hora do consulente saber, pois na realidade
não sabem exatamente como responder.
Não raramente dão
interpretações distorcidas aos rituais e simbolismos, relutam em aceitar os
próprios erros, à míngua de estudos, passando atestado de insofismável e total
desconhecimento dos fundamentos da Ordem.
Na realidade, são
esses “Mestres” os verdadeiros responsáveis pelas críticas em geral e pela
evasão de obreiros em muitas situações.
Por outro lado, a
senda do autêntico Mestre não é um mar de rosas e os desafios são variados.
Atropelos existem e, por vezes, os trabalhos não recebem o apoio e reconhecimento
de alguns irmãos, em especial nas suas próprias Lojas ou Potências,
mostrando-se sempre atual a reflexão do nosso Mestre Maior quando disse que “um
profeta só é desprezado em sua terra e em sua própria casa “(Mt 13,57), o
popular “santo de casa não faz milagre”.
Já ouvimos falar
também sobre a valorização do “estrangeiro” em detrimento da prata da casa.
Mas, é preciso acreditar, ter força de vontade, entusiasmo, vencer as próprias
deficiências e limitações, e prosseguir lançando as sementes do bem,
construindo o caminho no hoje e não deixando para um incerto amanhã. Nesse
sentido, não podemos deixar de registrar os exemplos edificantes e inspiradores
de Mestres com mais de meio século em franca atividade na Ordem e que se
superam a cada dia.
O campo de
crescimento na Maçonaria é vasto. Vislumbram-se ainda novos níveis além do Grau
de Mestre, que no Rito Escocês Antigo e Aceito são 33, além de outros Ritos.
Porém, as graduações superiores não são exigidas, apenas recomendadas, pois o
3º Grau confere a plenitude da qualidade de Maçom. Jules Boucher (2015)
comenta: “Os altos graus não lhe trarão nada de novo, pois nada mais são do que
desenvolvimento, ampliações do terceiro grau”. E aduz: “Poderíamos mesmo dizer
que, em certos casos, eles podem representar uma diminuição, caso desenvolvam
em quem os recebe – mas que não os possui – um sentimento de vaidade”.
Enfim, o mestrado
maçônico não pode se reduzir à sua titularidade e à obtenção de diplomas e
porte de insígnias, estando à grandeza da Plenitude Maçônica na ressignificação
da existência, na construção de um legado, no despertar de uma vocação
direcionada no sentido de tornar feliz a humanidade, cabendo ao Mestre
manter-se firme no propósito de transformar-se em uma pessoa melhor e mais
instruída a cada dia e ter a certeza de contar nessa caminhada sempre com os
seus irmãos, que não se furtarão ao compromisso sagrado a que estão submetidos.
“O Mestre está
entre o Esquadro e o Compasso, isto é, entre a Terra e o Céu – no Meio, no
Centro, ou seja, é o ‘homem verdadeiro’, é a conclusão dos pequenos Mistérios.”
(René Guénon).
Autor: Márcio dos
Santos Gomes
Márcio é Mestre
Instalado da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte,
membro da Academia Mineira Maçônica de Letras.
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