A Maçonaria é uma Fraternidade envolta em mistério. Podemos constatá-lo
não só pelos seus símbolos e cerimónias, mas também pelas definições que certas
organizações maçónicas e certos maçons lhe atribuem.
Assim, sabemos por duas fontes, representando os dois pilares
predominantes da Fraternidade, o inglês e o francês, que a Maçonaria
é “uma das mais antigas organizações sociais e caritativas do mundo” ou
uma “instituição iniciática por excelência secular, filosófica e progressista”.
Uma terceira definição que encontramos (perpetrada a partir dos EUA) é que
a Maçonaria é uma organização dedicada a “tornar os homens bons melhores”.
Se fôssemos autossuficientes, poderíamos limitar-nos a estas definições.
Mas como somos Maçons e devemos estar constantemente em busca da Verdade,
poderíamos dissecá-las e analisá-las para formular uma quarta definição,
diferente das anteriores.
Embora nos reunamos em Lojas, contactando com homens pertencentes a
diferentes culturas, meios sociais e cultivemos o princípio da entreajuda,
poderia ser um erro dizer que a Maçonaria é uma organização social e
caritativa.
Se reduzíssemos a este ponto, não passaríamos de meros contribuintes com
aventais tolos e participando em cerimónias sem sentido.
Para atingir tal objetivo, apenas precisaríamos de uma caixa registadora,
de um caixa e de alguns bares onde nós pudéssemos encontrar para perder o nosso
tempo, socializando sem qualquer objetivo em particular.
Embora os graus da Maçonaria contenham certos aspectos filosóficos,
reduzi-la a uma organização puramente filosófica significaria que ela não tem
qualquer semente de verdade conhecível e que todas as interpretações dos seus
símbolos são deixadas à invenção das nossas próprias mentes. Estaríamos assim
na posição de procurar nela algo que nunca poderíamos encontrar.
Embora com a ajuda das lições morais que os graus da Maçonaria oferecem
possamos dizer que nós podemos tornar melhores, devemos ter em conta o fato de
que podemos ser boas pessoas sem sermos Maçons.
Seria uma tentativa de transformar a Fraternidade num culto se disséssemos
que só os Maçons são boas pessoas e que não se pode ser uma boa pessoa sem a
Maçonaria.
Relativamente à população mundial, o número de maçons é muito pequeno, e
não podemos ter a certeza de que apenas alguns milhões de pessoas são boas ou
estão interessadas em se tornarem melhores, dado que nem sequer temos a certeza
de que todos os maçons estejam interessados neste aspecto.
… afinal, o que é a Maçonaria?
A Maçonaria é uma organização tão misteriosa que, para a maioria dos seus
membros, é ela própria um mistério, e tão conspiratória, dir-se-ia para
desfazer as ilusões de certos profanos, que há irmãos nas suas fileiras que
parecem conspirar na maior de todas as conspirações possíveis: a contra a
própria natureza humana, dotada de razão e de uma inteligência que os animais
não possuem.
Ao mesmo tempo, é uma organização com um objetivo nobre, tanto para os
irmãos que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir, como para os profanos que,
podendo constatar isso, batem às portas do Templo e pedem para serem recebidos,
a fim de se juntarem a ela para a sua missão superior.
Se olharmos para as definições oferecidas pelos estudiosos da
Fraternidade, tais como W. L. Wilmshurst, Albert Mackey, Albert Pike, e muitos
outros que estão entre os poucos que conseguiram dar-lhe significados mais
adequados do que os de alguns contemporâneos, encontramos que:
“A Maçonaria é uma ciência, […] um sistema de doutrinas que é
ensinado, de uma maneira peculiar em si mesma, por alegorias e símbolos “
(Albert Mackey,
O Simbolismo da Maçonaria)
“[a Maçonaria] não foi feita para almas frias e mentes estreitas, que não
compreendem a sua elevada missão e sublime apostolado “
(Morals & Dogma do REAA,
Albert Pike).
“Aqueles que entram nela, como a maioria faz, ignorando completamente o
que lá vão encontrar, geralmente porque têm lá amigos ou sabem que a Maçonaria
é uma instituição devotada a altos ideais e benevolência e com a qual pode ser
socialmente desejável estar ligado, podem ou não ser atraídos e lucrar com o
que lhes é revelado, e podem ou não ver nada para além da forma nua do símbolo
ou ouvir algo para além da mera letra da palavra.”
A sua admissão é uma autêntica lotaria; a sua Iniciação permanece muitas vezes
apenas uma formalidade, e não um despertar real para uma ordem e qualidade de
vida anteriormente não vivenciadas; a sua adesão, a menos que tal despertar
resulte eventualmente do estudo cuidadoso e da prática fiel dos ensinamentos da
Ordem, tem pouca ou nenhuma influência maior sobre eles do que a que resultaria
da sua adesão a um clube puramente social”.
(O significado da Maçonaria,
W. L. Wilmshurst).
Estas afirmações podem parecer arrogantes para alguns irmãos e, também
contrárias aos princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que a
Maçonaria defende ferozmente. Mas será que se pode ser livre sem ser educado?
Pode alguém ser igual ao resto dos seus semelhantes se não for livre? Pode
alguém considerar-se seu irmão se não for igual a ele?
E por último, mas não menos importante: pode alguém chamar-se Maçom se não
for educado, livre, irmão dos seus semelhantes, se não aprender e se não se
empenhar na missão de orientar os outros a fazerem o mesmo?
Aqui está a importância da educação de um homem que deseja tornar-se
Maçom, e quantas desvantagens são dadas à Maçonaria por aqueles profanos que se
juntam para fins mesquinhos, mas que encontramos entre nós e reconhecemos como
tal, como Irmãos.
Podemos aprender sobre tais Irmãos no artigo de Albert Mackey intitulado “Maçons que leem e Maçons que não leem“:
O Mestre Maçom que sabe muito pouco, se é que sabe alguma coisa, do grau
de Aprendiz, deseja ser um Cavaleiro Templário […] O auge da sua ambição é usar
a cruz templária sobre o peito. Se ele entrou no Rito Escocês, a Loja de
Perfeição não o satisfará, embora forneça material para meses de estudo.
Ele gostaria de subir mais rapidamente na escala de classificação, e se por
esforços perseverantes ele puder atingir o topo do Rito e ser investido com o
trigésimo terceiro grau, pouco lhe importa qualquer conhecimento da organização
do Rito ou das lições sublimes que ele ensina.
Atingiu o auge da sua ambição e é-lhe permitido usar a águia de duas cabeças.
Esses maçons distinguem-se não pela
quantidade de conhecimentos que possuem, mas pelo número de joias que usam.
Darão cinquenta dólares por uma condecoração, mas não darão cinquenta cêntimos
por um livro”.
O mesmo acadêmico visionário afirma ainda que:
[A Maçonaria] deteriorar-se-á em clubes sociais ou meras sociedades de
beneficência. Com tantos rivais nesse campo, a sua luta por uma vida próspera
será difícil.
.
O sucesso final da Maçonaria depende da inteligência dos seus membros”.
Na era da Internet, podemos facilmente observar o fenômeno maçónico global
e como as suas palavras começam a tornar-se realidade.
Vemos cada vez mais membros para os quais é mais importante debater se o
seu anel maçônico deve ser usado com as pontas para dentro ou para fora, cada
vez mais membros que se sentem lisonjeados pelos títulos e distinções que
ostentam e se sentem infalíveis.
Vemos em certas áreas do mundo como ela declinou ainda mais do que Albert
Mackey e outros “previram”, Lojas inteiras ou Grandes Lojas inteiras a se
tornarem clubes de negócios ou lobbies políticos sob a cobertura de
uma chamada Maçonaria que só eles conhecem.
Vemos como a Maçonaria tem cada vez menos inimigos no exterior e cada vez
mais no interior, e a principal causa disto é a falta de compreensão do que a
Maçonaria realmente deve ser.
Somos mais de seis milhões de membros, pertencentes a diferentes Grandes
Lojas, Lojas, Ritos, mas que têm essencialmente a mesma missão: o
progresso de nós próprios e da Humanidade em direção à Liberdade.
E, no entanto, vemo-nos a nós próprios e à Humanidade numa contínua
regressão, num contínuo estado de escravatura.
Talvez a Maçonaria tenha aberto demasiado as suas portas. Talvez alguns
não tenham compreendido que a sobrevivência da Maçonaria, para atingir o seu
sublime objetivo, não está no número de membros que tem, mas na sua qualidade.
Vale a pena parar por um segundo e refletir:
… somos realmente Maçons, ou apenas membros que pagam quotas?
Gabriel Anghelescu – Gabriel Anghelescu é um Maçom romeno interessado
nos aspectos espirituais e esotéricos da Fraternidade.
A sua paixão pelo esoterismo e pela Maçonaria começou numa idade precoce.
O seu primeiro contacto com sociedades iniciáticas foi a Ordem Internacional De
Molay, uma organização para-maçônica para rapazes dos 12 aos 21 anos. Foi
iniciado no Capítulo Jacques de Molay, em Bucareste, onde mais tarde cumpriu um
mandato como Mestre Conselheiro do seu Capítulo.
Tradução de António Jorge, M∴ M∴
Fonte
Revista Maçônica online The Square Magazine
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