À Glória do G:.A:.D:.U:.,
Meus II, em todos os Vossos GG:. e
Qualidades,
Ao longo dos séculos XVIII e XIX, a
Igreja Católica emitiu uma série de decretos e encíclicas que abordavam, de
forma direta ou indireta, os perigos que atribuía à Maçonaria. Estas
declarações papais, em contextos de intensas transformações sociais e políticas,
pretendiam salvaguardar a doutrina e a ordem eclesiástica, condenando os
valores de secretismo, relativismo moral e o individualismo que, segundo os
pontífices, se associavam aos ideais maçónicos. A seguir, analisamos cada um
destes decretos e o seu posicionamento face à Maçonaria.
1. INÍCIOS DO DEBATE: AS PRIMEIROS
ADVERTÊNCIAS
Providas Romanorum (Bento XIV, 1751)
Este decreto é um dos primeiros sinais de alerta da Igreja contra as sociedades
secretas. Em Providas Romanorum, Bento XIV já manifestava a preocupação de que
os preceitos de organizações como a Maçonaria pudessem subverter a disciplina e
a ordem interna da Igreja. A ênfase recai na necessidade de manter a
integridade dos ensinamentos apostólicos, evitando influências que pudessem
minar a autoridade papal.
Inscrutabili Divinae (Pio VI, 1775)
Com o avanço do Iluminismo e o
crescimento das sociedades esotéricas, Inscrutabili Divinae surge como uma
resposta do pontificado de Pio VI. Este decreto ressalta o mistério da
revelação divina em contraste com os segredos humanos, denunciando a natureza
oculta e potencialmente perniciosa de instituições que promovem o relativismo
moral e a dúvida sobre a fé tradicional.
2. CONSOLIDAÇÃO DA POSIÇÃO DA IGREJA
NO INÍCIO DO SÉCULO XIX
Ecclesiam a Jesu Christo (Pio VII,
1821)
Em Ecclesiam a Jesu Christo, Pio VII
reafirma a centralidade de Cristo na identidade da Igreja e, ao fazê-lo,
contrapõe os princípios maçónicos que tendem a desvalorizar a hierarquia e a
autoridade eclesiástica. Este decreto deixa claro que a verdadeira comunhão dos
fiéis passa pela adesão à mensagem de Cristo e não por práticas secretas ou
iniciáticas.
Quo Graviora Mala (Leão XII, 1825)
Quo Graviora Mala é uma manifestação
clara da preocupação com os males que ameaçam a ordem moral e espiritual da
sociedade. Leão XII utiliza este documento para denunciar os perigos de
ideologias que, ao se oporem à fé cristã, colocam em risco a coesão e a
estabilidade da comunidade de fiéis. Entre essas ameaças, os ensinamentos
maçônicos são vistos como um elemento desestabilizador.
3. O PERÍODO DE PIO VIII E A
REAFIRMAÇÃO DA TRADIÇÃO
Traditi Humilitati (1829) e Litteris
Altero (1830)
Durante o pontificado de Pio VIII,
estes decretos enfatizam a importância da humildade e da fidelidade à tradição.
Tanto Traditi Humilitati como Litteris Altero abordam, ainda que de forma
indireta, a necessidade de rejeitar qualquer sistema de pensamento que se
afaste dos preceitos revelados. A Maçonaria, com os seus rituais e juramentos
secretos, é considerada incompatível com a transparência e a simplicidade que
devem marcar a vida cristã.
Mirari Vos (Gregório XVI, 1832)
Um dos decretos mais emblemáticos,
Mirari Vos, de Gregório XVI, critica de forma veemente a liberdade de
pensamento desenfreada e o relativismo moral. Embora não se limite
exclusivamente à Maçonaria, este documento condena ideias que promovem a
tolerância de múltiplas verdades e a fragmentação da fé. A Maçonaria, com a sua
ênfase na liberdade individual e na igualdade entre os seus membros, é vista
como um agente corrosivo da autoridade tradicional da Igreja.
4. EXPANSÃO DO DISCURSO
CONSTRANGEDOR: MEADOS DO SÉCULO XIX
Qui Pluribus (1846) e Quibus
Quantisque Malis (1849)
Estes decretos, emitidos em um
período de intensificação das tensões ideológicas, aprofundam a crítica aos
erros que ameaçam a unidade da fé. Ao expor “malos” que se espalham pela
sociedade, os papas situam a Maçonaria como um dos fatores que incentivam a
disseminação de doutrinas contrárias à verdade revelada e à ordem eclesiástica.
Quanta Cura (1864), Multiplices
Inter (1865) e Apostolicae Sedis Moderatoni (1869)
No contexto do pontificado de Pio
IX, estes documentos ampliam a discussão sobre os riscos que organizações
secretas representam para a moral e para a própria estrutura da Igreja. Quanta
Cura e Multiplices Inter alertam para os perigos da influência maçônica em
ambientes políticos e sociais, enquanto Apostolicae Sedis Moderatoni busca
moderar os excessos, reafirmando o compromisso com a tradição sem ceder a
pressões modernas.
Etsi Multa (1873) e Etsi Nos (1882)
Continuando a linha de defesa contra as ameaças internas, estes decretos
enfatizam como os ensinamentos e práticas das sociedades secretas, como a
Maçonaria, podem semear discórdia e desunião entre os fiéis. A ênfase é na
preservação de uma fé única, que não possa ser diluída por práticas iniciáticas
e relativistas.
5. A CONDENAÇÃO MAIS ENFÁTICA: A ERA
DE PIO IX E LEÃO XIII
Humanum Genus (1884)
Considerado um dos decretos mais
contundentes, Humanum Genus, de Leão XIII, dedica-se inteiramente à condenação
da Maçonaria. O documento denuncia os efeitos corrosivos dos ideais maçónicos
sobre a sociedade e a Igreja, apontando para a sua propensão a promover uma
ruptura com a tradição, a moralidade e a ordem divinamente instituídas. O tom
do decreto é marcadamente enérgico, classificando os ensinamentos maçônicos
como incompatíveis com a fé católica.
Officio Sanctissimo (1887),
Dall'Alto Dell'Apostolico Seggio (1890), Inimica Vis (1892), Custodi di quella
fede (1892) e Praeclara (1894)
Estes decretos complementam e
reforçam a condenação já expressa em Humanum Genus. Cada um, com as suas
nuances, aborda diferentes aspectos da influência maçónica:
● Officio Sanctissimo e Dall'Alto
Dell'Apostolico Seggio reiteram a necessidade de se preservar a santidade e a
unidade da Igreja contra os ataques das doutrinas iniciáticas.
● Inimica Vis e Custodi di quella
fede alertam para a agressividade das ideias maçónicas, que, segundo os papas,
colocam em risco a coesão dos fiéis.
● Praeclara sublinha a importância
de uma fé inabalável, livre das seduções do pensamento relativista que a
Maçonaria representava.
Annum Ingressi (1902) – Leão XIII
Encerrando esta sequência de declarações, Annum Ingressi reafirma a
continuidade do posicionamento crítico da Igreja em relação à Maçonaria. Leão
XIII, ao analisar o contexto moderno, ressalta que os perigos apontados nos
decretos anteriores permanecem relevantes e que o compromisso com a verdade e a
tradição cristã deve ser preservado frente a quaisquer ideologias que visem
subverter a ordem divina.
CONCLUSÃO
Os decretos papais analisados ao
longo deste artigo demonstram uma linha contínua e evolutiva de defesa da fé
contra os perigos que os papas associavam à Maçonaria. Desde os alertas
iniciais de Bento XIV, passando pelas críticas vigorosas de Gregório XVI e
culminando na condenação enfática de Leão XIII, cada documento reflete o
empenho da Igreja em manter a unidade doutrinária e moral dos seus fiéis. Estes
escritos não só denunciaram o secretismo e o relativismo inerentes aos
ensinamentos maçônicos, mas também ofereceram uma defesa robusta dos valores da
tradição cristã, que continua a influenciar o debate religioso e social até os
dias atuais.
Disse, V:. M:.
Michel Melo 23-04-6025
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