Era – do latim aera, substantivo
feminino, designa, dentre outros, o ponto determinado no tempo, que se toma por
base ou referência para a contagem dos anos. Exemplo: a Era Cristã.
Sob esse aspecto o termo também
representa o número de anos provindos a partir de algum acontecimento notável,
cuja expressão época sugere o momento primordial desse episódio. É o caso
bastante apropriado, por exemplo, no que se refere ao próprio começo dos
tempos, ou o princípio do mundo.
Embora essa concepção seja ainda
hoje especulativa, é graças a ela que muitas civilizações e religiões adotaram
a sua própria “Era” relacionada com a criação do mundo. Dentre outros, os
Judeus, por exemplo, concebem-na a partir do Pentateuco no primeiro livro de
Gênesis, enquanto os Cristãos a idealizam a partir do nascimento de “Jesus
Cristo”.
Vulgar – do adjetivo latino
vulgare, menciona dente outros o que é relativo ou pertencente ao vulgo; comum,
trivial, usual.
O termo “vulgar” relacionado à
“era” (tempo) está presente, segundo alguns autores, embora ainda discutível,
desde que os judeus estabeleceram o título “Era Vulgar” em substituição ao
“antes e depois de Cristo”, fato que viria servir de parâmetro para designar o
mundialmente conhecido Calendário Gregoriano, já que a Era Cristã e a Era
Vulgar por força das circunstâncias se tornariam análogas.
Em se tratando de Maçonaria e o
seu particular calendário, neste, o primeiro ano rotulado que aparece em
antigos documentos do século XVIII é o Ano da Verdadeira Luz, em latim Anno
Lucis, tido como a “idade dos cortadores de pedra” (Age of Stonecutters).
Buscando dar uma classificação
independente de religião, bem como também dar um caráter de universalidade à
Ordem, James Anderson, autor da Constituição de 1.723, baseado nos cálculos do
bispo irlandês anglicano James Usher que houvera desenvolvido um estudo
relativo à criação do mundo conforme o Livro de Gênesis e nos comentários
críticos da massorat, segundo os quais a criação do mundo teria ocorrido em
4.004 antes de Cristo, Anderson então cogitou no texto constitucional que o
início da Era Maçônica havia se dado 4.000 anos antes da Era Vulgar ou Era
Comum (antes de Cristo).
Embora se perceba um pequeno
arredondamento de quatro anos entre o resultado proposto por Usher e o adotado
por Anderson prevaleceria maçônicamente o acréscimo da constante de 4.000 anos
somada à Era Vulgar, cujo ano teria a mesma duração do Gregoriano, com a
diferença de que o ano maçônico começaria no dia 1º de março, tendo os títulos
dos meses designados conforme o seu número ordinal correspondente. Exemplos:
segundo Anderson, o dia 1º de março de 2.014 da Era Vulgar (E∴V∴) corresponde ao dia 01 do mês 01
do ano de 6.014 da V∴L∴; o dia 10 de Junho de 2.014 da E∴V∴ corresponde ao dia 10 do mês 04
do ano de 6.014 da V∴L∴.
À bem da verdade essa inserção de
Anderson não pode ser considerada como uma regra geral e única adotada pela
Moderna Maçonaria (a partir de 1.717), até porque com a evolução e a
proliferação de ritos e sistemas maçônicos, particularidades nesse sentido devem
ser criteriosamente observadas, sobretudo sobre o ponto de vista cultural e até
mesmo religioso que possa envolver o costume.
Assim é o caso, por exemplo, de
uma grande parcela dos trabalhos inerentes ao franco-maçônico básico da
Maçonaria anglo-saxônica, bem como o Rito Moderno, ou Francês que adotam o
calendário da Verdadeira Luz conforme o anteriormente mencionado, enquanto que
o Rito Adonhiramita (origem francesa) adota um calendário equinocial que,
embora também mantenha a mesma constante de 4.000 acrescida à Era Vulgar, tem o
ano maçônico iniciado – ao invés do dia 1º – em 21 (vinte e um) de Março que
corresponde ao primeiro dia do primeiro mês.
Já no caso do simbolismo do Rito
Escocês Antigo e Aceito (também filho espiritual de França), provavelmente pela
forte influência hebraica exercida sobre ele, adota para a Verdadeira Luz a
constante de 3.760 [4] somada à Era Vulgar (gregoriana) entre os dias 1º de janeiro
até 20 de setembro e 3.761 entre 21 de setembro e 31 de dezembro.
Nesse caso o ano maçônico tem
início em 21 de março no equinócio de Primavera no hemisfério Norte o que por
certo aspecto até se confunde com o calendário religioso hebraico (judaico) que
é lunar e geralmente começa também no ponto vernal que ocorre na meia-esfera
boreal do Planeta, cujo primeiro mês tem o nome de Nissan. Assim no simbolismo
do Rito Escocês o dia 21 de março de 2.014, por exemplo, corresponde ao 1º dia
do 1º mês Nissan do ano de 5.774 da Verdadeira Luz (2.014 + 3.760 = 5.774), enquanto
o dia 21 de setembro de 2.014 corresponde ao 1º dia do 7º mês Tishrei ou Tishri
do ano de 5.775 da V∴L∴ (2.014 + 3.761 = 5.775).
A explicação para a diferença de
constantes (3.760 ou 3.761) é porque o ano civil hebraico (judaico) geralmente
quase coincide no seu princípio com o início da estação do Outono no hemisfério
Norte (21 de setembro). Assim o calendário hebraico (judaico) se constitui pelo
ano religioso e pelo ano civil, cujos respectivos inícios se dão muito próximos
aos equinócios de Primavera e Outono no Norte. O religioso no mês Nissan
próximo a 21 de março e o civil no mês Tishrei ou Tishri conexo a 21 de setembro.
Vale a pena mencionar que é no
sétimo mês (Tishrei) que ocorre o Rosh Hashaná, o Yon Kippur e o Sucot.
A título de ilustração, em se
tratando de Rito Escocês Antigo e Aceito e citando como exemplo os seus
Supremos Conselhos norte-americanos, em linhas gerais eles adotam o termo Ano
do Mundo (Anno Mundi) em lugar do título Verdadeira Luz e usam também a constante
de 3.760 somada à Era Vulgar, porém a partir de 1º de janeiro até 31 de agosto
e 3.761 a partir de 1º de setembro até 31 de dezembro. Nesse particular o ano
se inicia em primeiro de setembro do ano em curso e se encerra em trinta e um
de agosto do ano seguinte. Os meses são designados por numeração ordinal, assim
setembro é o primeiro mês, enquanto Agosto, por exemplo, é o décimo segundo e
último mês.
Também na Maçonaria e conforme os
costumes e práticas ainda pede-se encontrar outros cálculos inerentes ao
calendário, todavia os até aqui mencionados são os principais e os que mais
aparecem dentro do franco-maçônico básico.
Em resumo a Era da Verdadeira Luz
pode ser encontrada nos conceitos maçônicos adicionando-se as constantes de
4.000, 3.760 ou 3.761, conforme o caso, ao ano da Era Vulgar (calendário
Gregoriano).
Antes de dar por concluídas as
considerações, vale a pena aqui mencionar que o ideário relacionado aos
calendários maçônicos e a sua afinidade com fatos históricos e lendas
religiosas do passado é apenas e tão somente simbólica, não incentivando
ninguém a imaginar a existência da Maçonaria junto ao princípio do mundo. O
conceito provavelmente foi idealizado no intuito de simbolizar uma antiguidade
para pragmática maçônica, e não a idade da Sublime Instituição que
verdadeiramente possui aproximados oitocentos anos de história.
Graças ao ufanismo de alguns
somados às falsas interpretações do calendário por outros é que no Brasil
arrumaram uma data equivocada para a independência do Brasil dentro da Loja
Comércio e Artes como sendo no dia 20 de agosto e ainda por cima sacramentaram
mais tarde o erro histórico constituindo para falsa data o Dia do Maçom. Pelo
calendário equinocial usado pela Maçonaria na época da Independência, 20º dia
do 6º mês (início do sexto mês em 21 de agosto) correspondia no calendário
gregoriano dia 09 de setembro da E∴V∴ (Boletim do GOB datado no ano 1.874 da E∴V∴). No dia 20 de agosto da E∴V∴ nem mesmo houve sessão no GOB,
fato que pode ser verificado nas suas próprias atas de ouro concernentes à
época.
Pedro Juk

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