Creio poder afirmar que minha
iniciação começou antes mesmo da chegada ao templo, quando uma Ir:. em
especial vai à minha casa, pede minha confiança, e que deixe de lado minha
visão, sendo que mesmo na escuridão, a partir daquele momento não estaria mais
sozinho, e sempre haveria uma mão a me ajudar.
Eis, que confiando nas palavras
desta Ir:. percebo que estas eram mais que verdadeiras, pois o
sentimento de confiança a qual ela se referiu perdurou em toda esta jornada, e
ainda, além dela.
Dentre as várias caminhadas por
lugares a mim desconhecidos, sendo eles hora estreitos, hora amplos, hora de
degraus e hora gélidos, foi-me permitido refletir sobre tudo o que estava se
passando, sobre a responsabilidade de entrar para tal Ordem, sobre a
dificuldade de confiar nas pessoas no mundo profano, sobre a rapidez com que
esta vida passa, sobre a insignificância das riquezas materiais, levando a
descobrir dentro de mim uma enorme vontade de crescer como ser humano, de estar
mais atuante em prol da sociedade na qual vivo.
Tudo isso foi enormemente
fortificado no momento em que tiraram minha venda e vi que me encontrava em uma
Sala de Reflexões, cuja qual já havia tido a oportunidade de ler um pouco
sobre. Eis que nesse momento, me recordo da lenda que conta que Alexandre o
Grande antes de morrer solicita três coisas aos seus Generais. Que os melhores
médicos carregassem seu caixão, que seus tesouros fossem espalhados no caminho
até seu túmulo e que suas mãos fossem deixadas vazias para fora do caixão.
Ao
ser questionado sobre o porquê de tais desejos, responde: Os médicos, para
demonstrar a todos que quando sua missão neste mundo dá-se por findada, nenhuma
medicina poderá curá-lo. O tesouro no chão, para que todos vejam que a riqueza
material não é permanente, e que seus inimigos a roubarão enquanto seus amigos
choram em seu túmulo. E por fim, as mãos vazias, para demonstrar que neste
mundo, de mãos vazias chegamos, e de mãos vazias partimos.
Assim, elaboro meu testamento,
visando cortar as más conexões que me prendem ao mundo profano, tendo agora a
consciência de que somente as boas ações, as ações e sentimentos nobres são o
que realmente valem, e o que permanecem neste mundo por meio das pessoas que
amamos.
Além desta viagem, a da Terra,
sou levado por mais três viagens, a do Ar, da Água e do Fogo, nas quais confio
plenamente nos IIr:. que me guiavam, tendo que pular de alturas, e
em terrenos não conhecidos, chegando a passar ao meio de uma batalha onde pude ouvir
vários metais se chocarem, sendo que após isso, após passar pela água e pelo
fogo, senti-me de acordo com as palavras proferidas pela V:. M:.,
de que minhas mãos haviam sido purificadas, e que assim as devia manter, sempre
exercendo apenas boas e honrosas ações no mundo profano, e preocupar-me em
nunca sujá-las.
Confesso que senti medo de ter
feito ou escrito algo que levasse à minha rejeição desta família no momento em
que o doce se transformou em amargor. Mas, após o que pareceu ser uma longa
espera, onde meus pensamentos voavam em turbilhão, veio a explicação de que na
vida do maçom, nem tudo são doçuras, havendo sim, momentos de amargor, e que
devíamos estar preparados para isto.
Pouco tempo após minha
iniciação, leio no evangelho de São João, Nicodemos questionando Jesus: “Como é
que um homem pode nascer de novo, se já é velho?”, e Jesus lhe responde: “Eu
garanto a você: ninguém pode entrar no reino de Deus, se não nasce da água e do
Espírito. Quem nasce da carne é carne, quem nasce do espírito é espírito. Não
se espante se eu digo que é preciso vocês nascerem do alto. O vento sopra onde
quer, você ouve o barulho, mas não sabe de onde ele vem, nem para onde vai.
Acontece a mesma coisa com quem nasceu do Espírito”.
Foi então, que entendi
minha iniciação como um renascimento.
Autor: Luiz Fernando Da Silva