Há algum tempo
atrás, um amigo emprestou-me um pequeno livreto intitulado “PORQUE NÃO SOU
MAÇOM?”. Após tomar conhecimento da minha condição de maçom, ele preocupado com
o meu bem estar espiritual, resolveu revelar-me os perigos que estaria correndo
pelo fato de ser um associado a “seita maçônica”.
Até antes mesmo de ser iniciado, já pensava em quais seriam os motivos, pelos quais algumas religiões, principalmente a católica, teriam certos “preconceitos“ em relação à maçonaria.
Quando teria
iniciado a questão maçonaria versus religião? Por que alguns grupos religiosos
têm tanto receio em relação à maçonaria?
O objetivo do livreto “PORQUE NÃO SOU MAÇOM?”, seria alertar os fiéis católicos, que são inocentemente atraídos (o grifo é meu) pela maçonaria e do drama de consciência que teriam de enfrentar, uma vez que não tem a mínima ideia do que irão encontrar; mas sabem que a igreja Católica condena a maçonaria.
Segundo o autor, os
maçons nos graus simbólicos desconheceriam estes “perigos”, que somente seriam
revelados nos graus filosóficos, e então seria tarde demais.
A fundamentação utilizada para convencer o leitor, não é de origem recente e o seu conteúdo é tão pobre, absurdo e desprovido de objetividade que um observador, mesmo não sendo Maçom, poderia refutar, tranquilamente, todos os argumentos apresentados, que seriam os seguintes:
1-O caráter secreto - segundo o autor “todo agrupamento secreto é suspeito de alguma trama contra as instituições existentes”.
Ora, caráter
secreto de um fato não é um atestado de culpabilidade e de desonestidade, além
disso, não há provas que na maçonaria exista algo de vicioso ou desonesto.
As reuniões
secretas dos cristãos dos primeiros séculos são a prova de que em algumas
situações os segredos se fazem necessários.
2- A índole anticristã - “as intenções e os planos de ação da maçonaria têm sido sorrateiramente hostis ao cristianismo e à igreja.
Muitas das dificuldades
que se opõem à cristianização da vida pública (escolas confessionais, ensino
religioso nas escolas públicas, indissolubilidade do matrimônio, expansão das
instituições católicas) têm sido detidas pelas tramas secretas da maçonaria”.
Bem sabemos que
estes argumentos não correspondem à realidade, pois a maçonaria nunca se opôs
aos ideais cristãos.
3- A mentalidade relativista - “as concepções relativistas da maçonaria não se coadunam com as proposições cristãs referentes a Deus, ao mundo e ao homem”.
4- Maçonaria e religião - “a Maçonaria se opõe à religião na medida em que esta é a adesão firme e constante às verdades da fé ou às verdades por deus reveladas.
Para a maçonaria que tem exigências de tolerância, com relação a
todas religiões, não pode haver alguma religião que exija absoluta vinculação à
verdade”.(não se pode admitir, portanto, a atitude da igreja que pretende
proclamar-se uma autêntica revelação divina).
A animosidade da igreja contra a maçonaria, especialmente a latina, já era evidente desde o século XVIII, e iniciou motivada mais por interesses políticos e econômicos, já que para a igreja interessava a manutenção das monarquias e as autocracias, e via nos segredos e juramentos maçônicos, uma grande ameaça a sua estabilidade.
A primeira condenação oficial à maçonaria foi redigida em 04 de maio de 1738 - bula do papa Clemente XII “IN EMINENTI” onde excomungou os maçons por representarem “uma ameaça à tranquilidade dos estados temporais (representado pelo vaticano na época), mas ainda para a salvação das almas, uma vez que não se harmonizavam com as leis canônicas.
Todas as condenações posteriores (inclusive as do livreto editado em questão) foram baseadas ( copiadas) nesta bula papal, algumas inclusive com o auxílio de ex-Maçons, como foi o caso de Léo Taxil, - pseudônimo de Gabriel Jogand, um dos maiores mistificadores de todos os tempos.
Foi maçom por um breve
tempo, e afastou-se logo da maçonaria. Escritor talentoso e dotado de uma
imaginação prodigiosa começou a escrever uma série de livros e artigos
antimaçônicos, onde relatava com toda minúcia o verdadeiro segredo maçônico; o
“culto ao demônio”, denominado por ele de “palladismo”, a glorificação a
”lúcifer” (representado na forma de Baphomet, um ídolo com patas de cabra,
peitos de mulher e asas de morcego), tudo isto intercalado com trechos
retirados dos rituais maçônicos.
Após doze anos de
incessantes ataques à maçonaria, Taxil confessou ter inventado tudo o que havia
dito, mas a confissão nunca foi divulgada e o mal feito contra a maçonaria
nunca mais conseguiu ser superado.
Os atuais admoestadores da filosofia maçônica continuam se baseando nesses relatos históricos para prosseguir condenando a maçonaria.
O que fica evidente, é que
grande parte dos líderes religiosos confunde a maçonaria com religião,
desconhece que os ideais maçônicos não são desagregadores, nem sectaristas e
muito menos contrários a quaisquer princípios religiosos.
Eles ignoram os
motivos pelos quais a maçonaria acolhe indivíduos das mais diversas religiões,
sentem-se ameaçados pelo relativismo e a tolerância maçônicos, e não conseguem
conceber e nem aceitam as religiões como sistemas paralelos entre si.
Algumas religiões atribuem exclusivamente para si, a “Verdade” por Deus revelada, e querem fazem acreditar que todas as outras estão equivocadas.
Fica evidente então, o fato de que alguns líderes religiosos antimaçônicos, temem mesmo, é que seus fiéis Maçons, percebam a centelha divina existente em cada ser humano, e que ao aprender a “contatar” com esse Deus interior, não sintam tanta necessidade de ficar seguindo dogmas, verdades, preconceitos e fanatismos instituídos pelo próprio homem, mas atribuídos ao Criador.
Renivaldo Costa ..