Comparando,
comparando... o viver parece-me bastante com a travessia de um mar vivo. Sem
calmarias. Sempre revolto. E povoado de monstros marinhos. É isto, com um pouco
menos de exagero. Mas que um mar vivo, revolto e sem calmarias, é o que se
oferece ao viver. Ah! Isto é. A Maçonaria tem esta percepção, quando adverte o
candidato que pretende ingressar em suas fileiras.
Há um compromisso
do candidato para consigo mesmo, em se adequar à filosofia da Ordem, além das
obrigações para com o amor a Deus e ao próximo; à dignificação da família e ao
zelo da pátria.
Calmaria é prêmio.
Só depois. Se a proposta é mudar o mundo viciado e agônico, injetando-lhe vida
nova, torna-se necessário formalizar as pedras segundo as exigências do
espírito deste novo tempo.
E o construtor
social precisa esculpir-se. A começar por si próprio, porque se não sou capaz
de mudar a mim mesmo, falecer-me-ão, por assim entender, as condições da
prática da mudança de meu entorno.
Era o conselho do
Templo de Delphos: o nosce te ipsum, ou seja, “conhece-te a ti mesmo”. Para
isto é preciso seguir o caminho do VITRIOL: voltando ao interior íntimo, pois
lá é que se encontra a pedra filosofal, a decifração das coisas.
Acontece que dizer
isto é muito fácil. Difícil é a prática. E tome mar revolto... Mas insistir é
preciso. Sempre lembro o poeta maranhense, para quem “viver é lutar” e que esta
luta “aos fracos abate”, no entanto “aos bravos e fortes, só faz exaltar”.
O certo é que “o
compromisso para consigo mesmo”, a que se reporta a Maçonaria, passa por aí,
pelo enfrentamento das dificuldades. Entretanto a Ordem Maçônica não deixa o
seu integrante sozinho, considerando que o homem é um ser social.
Criou a Loja, como
a “escola de conhecimento”, ou o lugar aonde vão os Maçons para, fortalecidos
pelo orvalho da união, se estimularem uns aos outros na prática da virtude. E
aí adquirir o hábito de combate às suas paixões e da submissão de suas
vontades.
Do lado de cá está
o meu acampamento inicial. Minha vida é minha missão. E minha missão é
contribuir efetivamente para com a feitura do lado de lá. Se não houve esta
contribuição, “fui só espectro de homem”. Pois em plácido repouso adormeci, mas
apenas “passei pela vida, não vivi”, como sentencia o poeta carioca Manuel
Otaviano. Hegel entendia ser muito pouco ou nada contributivo o deixar tudo
como está. Vem uma geração, vem outra e outra mais, todas se vão, e tudo fica
como foi encontrado.
E a evolução? Cadê
o compromisso para com a evolução? Ou não há tal compromisso? Gente de
“pensamento pensado”, dizia ele. Agora quer ver o filósofo alemão melhorar de
tom? É somente ler a respeito das gerações que receberam o acervo cultural e
penetraram suas entranhas.
Dissecaram-no.
Conheceram suas possibilidades de melhorar. E acrescentaram estas melhorias,
dando-se em decorrência disto o surgimento de “um maravilhoso mundo novo”. Esta
é a obrigação de cada geração.
Legar à próxima “um
maravilhoso mundo novo”, expressão devida a Aldous Huxley. Hegel filosofava de
“pensamento pensante” quem contribuía desta forma. Todavia, não mais existe
aquela história de maná caindo do céu ao amanhecer do deserto.
Se quisermos
possuir o maná, temos que fabricá-lo. Meter a nossa mão na massa. Submeter
nossas vontades. Vencer nossas paixões. Senão a evolução não vem. E a
construção social não acontece. O lado de lá (lembram Canaã?) é um pós-mar
vivo. A missão do viver é atravessá-lo. É chegar lá. Percalços! Eles devem de
haver. Aí não esquecer Moisés. Medroso e com dificuldades até no falar, temia
por sua missão.
Mas o Grande Arquiteto do Universo sempre lhe garantia como
decerto garantirá todos que honram seus compromissos: “Eu serei contigo”.
(Êxodo 4, 12 e 4, 15)..
Ir.’.Antônio do
Carmo Ferreira Grão-Mestre do GOI-PE Or.’.Recife - PE
FONTE: FRATERNIZAR