A organização da
Maçonaria Regular tem uma base de sustentação, a Loja.
E a Loja tem como base
os Obreiros que a compõem.
Quero eu acentuar com
este começo de texto que os Obreiros, ao nível das Lojas, são os alicerces
sobre os quais toda a estrutura se levanta.
Bom…, mas sendo os
Obreiros homens, seres humanos com pernas, braços e o resto, como todo o outro
interessa discorrer um pouco sobre o relacionamento entre os componentes desta
estrutura que assume uma tão grande responsabilidade.
Quando alguém é proposto
para iniciação na Maçonaria, necessariamente em nível de loja, é-lhe feito um
inquérito e sobre isso já se escreveu aqui neste blog o suficiente para
justificar que não gaste agora mais espaço com o porquê e o como do inquérito.
Mas interessa notar que
sendo o inquérito, ele também, feito por homens, é evidentemente um exercício
de conclusões falíveis, e pode acontecer que seja proposto para iniciação
alguém que realmente não esteja em condições de admissão na Maçonaria.
Em boa verdade as
exigências são absolutamente humanas, isto é, na prática apenas se exige que o
candidato seja um Homem, assim com maiúscula, o que neste caso se resume no
nosso dizer, “livres e de bons costumes” e queira verdadeiramente pertencer a
esta estrutura.
Apenas isso.
Ainda assim pode
acontecer um erro de apreciação, por parte de quem faz a inquirição ou da parte
do profano que se apresenta a candidato, e quando isso acontece todos perdem.
É uma óbvia desilusão
para todos, desencantamento para o candidato que só tarde percebe que afinal a
Maçonaria não responde às suas interrogações e aos Irmãos que com ele contataram
porque, à alegria de receber mais um membro na Família se segue a tristeza de
verificar que afinal todos estavam enganados.
O relacionamento entre
obreiros da Loja constitui o betão que garante a força da estrutura, de forma a
que o “prédio” resista aos temporais que de tempos a tempos acontecem, tal qual
na Natureza, e do qual a história da nossa Loja Mestre Affonso Domingues,
também já contada aqui, pode bem servir de exemplo.
Este relacionamento tem
por base duas variáveis, a saber, os procedimentos rituais (o “Ritual” como
conjunto de regras formais que regulam a vida em Loja) e a Amizade entre os
Irmãos membros daquela comunidade.
É no Ritual e na Amizade
entre os Irmãos que assenta tudo o resto.
Se alguma destas
variáveis falha, falha a Maçonaria!
Relativamente ao
Iniciado muito pouco se sabe, habitualmente.
A Loja sabe que é
conhecido do padrinho que o propõe e esse, sendo necessariamente um Mestre
Maçom, merece a confiança dos restantes membros da Loja.
Depois, durante o
inquérito, algo mais se fica sabendo, mas são conversas curtas, 1 hora ou 2, o
tempo de um almoço ou algo assim, o que é manifestamente pouco tempo para
conhecer alguém com pormenor.
Quando o Profano se
apresenta para iniciação raramente a generalidade da Loja conhece detalhes da
sua vida profana, nomeadamente a profissão, onde trabalha o que faz qual o grau
de formação e por aí fora.
De fato não é isto que
consta por aí, mas é isto o que acontece na verdade!
O que se pede a todos os
Maçons quando em Loja é que deixem “os metais à porta do Templo”, e este
pedido/exigência é frequentemente mal entendido por muitos, interpretando os
“metais” como sendo a bolsa com os valores que eventualmente contenham (aquilo
com que se compram os melões…).
Ora os “metais” que
devem de ficar à porta do Templo são muito mais subjetivos do que isso.
Esses metais devem ser
entendidos como os valores aos quais a profanidade dá importância grande, mas
que em vivência Maçônica não só são dispensáveis como totalmente desajustados
aos valores que a Maçonaria cultiva.
São a arrogância, a
vaidade e a ambição.
Esses são os metais que,
de todo devem ficar à porta, para que lá dentro reine verdadeiramente, e
naturalmente, a igualdade e a fraternidade objetivos finais do nosso trabalho.
Sem isso surgirão as
disputas por interesses particulares, a arrogância da saliência, a ambição por
lugares de destaque.
Recordo palavras do
nosso companheiro de blog Templum Petrus, “quem se humilha será exaltado, mas
quem se exalta será humilhado”.
Pois saibamos
verdadeiramente, convictamente, deixar à porta do Templo os nossos metais,
principalmente aqueles, porque eles são o fruto da grande maioria (totalidade?)
dos desencontros entre Maçons, tal como afinal são a razão de todas as guerras.
Cultivemos e levemos conosco
a capacidade de compreender as diferenças.
Porque afinal, ser amigo
do que gostamos ou do que nos é igual é fácil.
O que pode ser desafio interessante
é a amizade com a diferença.
E para isso a abertura
de espírito e a capacidade de aceitação é uma exigência.
Texto de J.P. Setúbal,
Outubro de 2007
Do Blog A Partir Pedra