Aprendiz no sentido de
estar apto a aprender, a compreender aquilo que se vivencia, para então
assimilar como experiência definitiva, que será incorporada a si mesmo. Imagine
um paraíso repleto de coisas perfeitas, onde tudo seria regido pela mais
perfeita harmonia, sem falhas, sem nada para ser corrigido, ampliado, ajustado,
que papel então teria seus inquilinos?
Estes não estariam
mais sujeitos a aprender coisa alguma, uma vez que não mais existiriam
objetivos a serem conquistados, nem falhas a serem reparadas.
Quando se observa o
crescimento de qualquer coisa, logo se percebem os vários estágios, cada qual
com seus aspectos peculiares, que delimitam claramente fases de transição, onde
a transformação cíclica é a única certeza.
Entre uma fase e
outra, há a transferência de um estágio imperfeito para outro mais adequado,
mas, jamais perfeito. Uma criança, por exemplo, ao crescer fisicamente, também
torna possível ao seu cérebro assimilar novos experimentos, pois ganha nova
capacidade mental. Ela não deixa de ser criança, mas se transforma em outra
mais capaz.
Os limites próprios do
primeiro estágio desaparecem, são substituídos por um modelo mais eficaz, mais
adequado à nova realidade, que é uma necessidade desse crescimento físico.
O constante e sempre
cíclico transformar-se é que caracteriza aquilo que é eterno. Não existe o
eterno estático, pois este não poderia escapar das leis de transformação de si
mesmo, onde aquilo que não muda, definha e morre.
É uma lei natural, o
que não se transforma, ou se adéqua, ou melhora se desgasta até o fim. A eterna
criança envelheceria como criança, não passaria pelos demais estágios
existenciais, não teria sentido sua existência.
Para os pais, não iria
diferir em nada de um boneco de plástico desses que já existem nas lojas, que
até são capazes de falar, cantar, comer, que simulam com perfeição uma criança
pequena. Num mundo de perfeição, um aprendiz não teria nenhum espaço para sua
transformação, sua experiência vital e espiritual, onde as falhas são seus
verdadeiros mestres de conhecimento.
Apenas em condições
dessa natureza poderá ele progredir, se qualificar, deixar de ser potencial
para se transformar em capaz. Deverá aprender a partir daquilo que é
imperfeito, poderá então através desse experimento, através dos devidos ajustes
em si mesmo, deixar para trás os estágios de menor capacidade, para os de maior
capacidade.
Trata-se de um caminho
espinhoso, uma vez que todos a sua volta, sem exceções, estarão na mesma
trilha, dentro do mesmo modelo de viver imperfeito. Imperfeito quer dizer
transitório, e perfeito significaria o permanente. Mas, não existe o permanente
estático, por isso não existe o perfeito. Mas perfeito é o eterno ciclo de
reciclagem, da transformação do inadequado para o mais adequado.
Perfeito é o aprendiz
que se conscientiza disso, em cujo caminho a eternidade se revela, com suas
infinitas possibilidades, seu eterno movimento de auto-ajustamento. E tudo isso
são coisas perfeitas, o reconhecer-se imperfeito, o incompleto que vê na
transformação de si mesmo progresso.
Não se trata do
transformar-se sem aprender, mas do aprender pelo transformar-se. E assim o
aprendiz se percebe imperfeito, por isso não julga nem a si mesmo. Apenas
observa, pratica em si mesmo aquilo que aprendeu com suas próprias limitações e
falhas.
Não vê o perfeito como
objetivo derradeiro, pois isto ele não conhece, mas nas próprias imperfeições a
possibilidade de mudar. Não julga o mundo imperfeito a partir de si mesmo
também imperfeito, mas observa em si tais imperfeições, compreende a
necessidade de mudar, aprende com esse mudar.
Observe o cíclico
movimento da terra em volta do sol, onde nenhum dia é igual ao anterior. Amplie
isso aos confins do universo, até onde nossa imaginação é capaz de alcançar, e
o que se deduz são os eternos estágios, onde o ponto de origem de qualquer
coisa, sempre aponta para sua transformação.
Se essa transformação
parece menos para nós, deve significar mais para outro, e assim por diante. Uma
pedra preciosa bruta se transforma em mais quando lhe tiram as arestas, logo,
para esta, o menos significa mais.
Diante da imperfeição,
finalmente, o aprendiz se torna capaz de transformar-se, de desenvolver novas
qualidades, de migrar para novos estágios existenciais, mas nunca sem antes
conhecer seus limites. Afinal de contas, um limite precisa ser percebido
claramente, ou não haverá mudanças.
Observar, perceber, e finalmente compreender a
si mesmo, faculta a transformação, e esta significa que houve aprendizado.
Eterno é seu movimento, perfeito o seu ritmo, perfeito a sua causa e efeito,
perfeito é o eleger do imperfeito como a força motriz de todas as
transformações.
Ir∴ Anderson Vasconcelos,
ARLS Adolfo Barbosa Leite nº 3341, Rio Branco - GOB-AC