Desde o início, entendemos o tempo como um
conceito adquirido por eventos. Experiências estas que ocorrem ordenadas de
forma cronológica e resultando em diferentes destinos. Visto como processo
linear pelo cristianismo, a idealização do tempo tem sido muito discutida desde
os primeiros registros da cultura ocidental.
Os cristãos organizam-se de acordo com
acontecimentos singulares, como por exemplo, o marco do cristianismo: o
nascimento, crucificação e ressurreição de Cristo. Estes são acontecimentos
únicos. Também o apocalipse simbolizando o fim do mundo e encerramento de um
ciclo que não mais irá se repetir.
Já a filosofia oriental, suporta que o tempo,
assim como o espaço, são invenções de nossa mente. Acreditam na rotatividade
temporal.
Essas teorias eram iminentes, uma vez que os
homens sempre buscaram conhecimento a respeito da vida e da natureza, como os
movimentos da terra, estações do ano, plano orbital do nosso planeta em
interseção com a esfera celeste, sucessão de dias e noites, alterações
climáticas, funções de cada grupo alimentar, fitoterapia e assim por diante.
Esses fatos naturais sobre a rotatividade do
tempo conduziram as civilizações antigas, e seus pensadores a imaginarem que o
tempo também seria circular, ou seja, a evolução da natureza seria baseada na
repetição.
Para os egípcios, por exemplo, os dias eram
representados pelos barcos sagrados do deus do Sol Rá, conhecidos também como
barcas solares, chamadas de Mandjet e Mesektet. O Mandjet era o barco que Rá
utilizava para atravessar o céu, e o Mesektet era o barco que o levava ao
submundo.
O deus Sol era entendido em quatro fases: a
primeira ao nascer do sol, recebendo o nome de Khepri (ou Kopri); a segunda ao
meio-dia, sendo contemplado como um pássaro ou com o próprio barco a navegar; a
terceira ao pôr-do-sol, visto como um homem velho que descia à terra dos
mortos; na quarta fase, durante a noite, era visto como um barco que navegava
ao leste preparando-se para o dia seguinte, onde tinha de lutar ou fugir de
Apep (de acordo com alguns teóricos, denominado também como Apópis, a grande
serpente do caos que tentava devorá-lo.
A ideia de um tempo progressivo, sempre
novo, e a ideia de que o tempo é cíclico marcado pela transformação é discutida
não somente na filosofia. Este é um assunto também recorrente a literatura.
Considerando então que tanto a literatura
quanto a filosofia têm o papel de questionar tudo que vivenciamos como um
padrão, então qual é a perspectiva da literatura a respeito do tempo?
Heráclito de Éfeso faz a seguinte citação a
respeito do tempo: “O tempo é uma criança que brinca, movendo as pedras para lá
e para cá; governo de criança”.
Para Heráclito o tempo não segue a uma
sequência de acontecimentos, é totalmente casual como o jogar de dados por uma
criança. E analisando a questão das mudanças que o tempo nos proporciona, há
uma outra frase de Heráclito que diz: “ninguém se banha duas vezes no mesmo
rio”. A analogia feita por Heráclito utiliza o rio, porque em alguns momentos
se olharmos de longe parece estar estagnado, mas quando nos aproximamos somos
testemunhas do deslocamento incessante das
águas.
Na maçonaria sabemos que não só ele muda. Nós
também mudamos. Na segunda vez que entramos tanto nós quanto o rio somos um
outro, buscamos conhecimento e aperfeiçoamento, buscamos sempre aparar as
arestas de nossa pedra bruta.
Borges em A Arte Poética diz:
“Fitar o rio feito de tempo e água
e recordar que o tempo é outro
rio,
saber que nos perdemos como o
rio
E que os rostos passam como a água.”
“Rio feito de tempo e água”. Nessa afirmação rio não é constituído somente por
água; na fluidez da água também existe fluidez do tempo, diferenciada apenas na
frequência vibracional de suas partículas se olharmos mais de perto– Então um
tempo não é apenas uma sequência de eventos ou momentos, mas um marco dos
momentos que se passam. O tempo é outro rio, e flui por si, sem ser sustentado
nem fundado: atua por si só. Atua e deixa marcas em toda a humanidade. “E que
os rostos passam como a água.”.
Voltando ao pensamento de Heráclito, a base
dentro da doutrina do eterno retorno e isso porque na perspectiva de Nietzsche
tudo é um eterno fluir e um passar incessante de todas as coisas numa eterna
circularidade. Não há início, meio ou fim, mas as eternas mudanças. Para ele
assim como para o niilismo o mundo não tende a um fim, não tende a um
propósito.
Através de outra abordagem diferente da
filosofia, mas acrescentando seu sentido a concepção de tempo pela literatura,
também pode ser vista como forma de contestação ao padrão ocidental de estudos
filosóficos acerca dos fins, propósitos, objetivos e finalidades.
Apesar de ser impossível afirmar o que é o
tempo definitivamente, a literatura representa nossa experiência do tempo
grafado na história em todo seu dinamismo. Torna conceitos filosóficos mais
acessíveis e palpáveis.
Enquanto a filosofia teoriza sobre a literatura
tem a liberdade de utilizar seus conceitos e teorias nas construções de
histórias poéticas e singulares sobre o tema como Guimaraes Rosa em Grande
Sertão Veredas ou contestar através da própria estrutura narrativa. Em Borges
por exemplo não há início, meio ou fim.
A estrutura narrativa de Borges apresenta uma
ideia de forma não ortodoxa e fragmentada. Vai de encontro ao encadeamento de
ideias que vão se desenvolvendo e combinando em um modelo tradicional.
Em Grandes Sertões Veredas, de forma criativa e
poética, Guimaraes Rosa trabalha com esse questionamento sobre o tempo e
mudanças propostas por Heráclito. Não só as mudanças em si, mas seus efeitos
nos homens. Grande Sertão de Guimarães Rosa representa a filosofia e seus
conceitos.
“O mais importante e bonito do mundo é isso
Que as pessoas não são sempre iguais
Ainda não foram terminadas
Mas que elas vão sempre
mudando
Afinam ou desafinam
Verdades maiores é o que a vida me ensinou.”
Pelos fragmentos deixados por Heráclito e nessa
obra de Guimarães Rosa, percebe-se que filosofia e literatura se complementam e
se enriquecem. Estão entranhadas no papel de questionar, indagar o que é dito
como padrão, papel esse que também tem o maçom.
O conceito do tempo pode ser multidimensional,
cheio de significados, tão amplo que a realidade difere a cada ponto de vista,
mas nenhum destes conceitos de tempo invalidam o nosso tempo cronológico em si,
mas sim o abarcam e transcendem. Fazendo sempre lembrarmos que precisamos
dividir nosso tempo com sabedoria, buscando o momento certo para semear e
colher, para trabalhar e descansar, assim como também o momento certo de agir
assim com se abster.
Devemos utilizar todas as ferramentas que
estejam, ou, que temos disponíveis ao nosso alcance, se assim necessário para
nossa evolução e não podemos esquecer a duração do tempo é um estado que nenhum
obstáculo poderá esgotar os movimentos.
Não é uma mera condição de repouso, pois uma
pequena imobilidade significa também um retrocesso, uma vez que as águas do rio
não esperarão por você.
O tempo é o movimento de uma totalidade
organizado por nossas ações e completo em si mesmo. Esses movimentos cíclicos ou
contínuos se realizam segundo a lei que dita que a cada término dá-se lugar a
um novo começo.
O objetivo é sempre atingido por uma direção
interna: a inspiração, a sístole, a contração, o V.I.T.R.I.O.L.. Esse movimento
se transforma num novo começo tomando a direção externa: a expiração, a
diástole, a expansão e por fim as nossas ações.
Texto elaborado por: Irmão Marcos Antônio
Xavier Filho
Obreiro da Loja Maçônica Cavaleiros do Hermon
335
Data da elaboração 22OUT2018.
BIBLIOGRAFIA
https://awebic.com/natureza/22-fenomenos-naturais-que-voce-nao-vai-acreditar-que-realmente-existem/
https://antigoegito.org/a-barca-de-ra/
https://www.infoescola.com/geografia/solsticio-e-equinocio/
https://www.infoescola.com/civilizacao-egipcia/ra/
https://focoartereal.blogspot.com/2017/08/o-que-e-o-tempo-para-o-macom.html