Hoje de manhã ao preparar-me para
sair de casa, lembrei-me que deveria vestir camisa branca e calça preta. Também
não poderia esquecer-me da pasta onde guardo os rituais, o avental e o
balandrau.
Afinal, hoje é segunda-feira, dia
de sessão da nossa Loja. Enquanto tomava as providências de saída, fiquei refletindo
sobre as razões de cumprir tal agenda, especialmente num evento que
invariavelmente participo bastante cansado, depois de um dia intenso de
trabalho.
Mas, respondi para mim mesmo:
devo ir, pois sou Maçom e tenho que cumprir com as minhas obrigações assumidas
perante os Irmãos e a minha consciência.
Também, devo dizer: adoto a
disciplina de procurar sempre cumprir com os compromissos assumidos. Afinal,
sou ou não um Maçom? Perguntei para mim mesmo.
Ao pensar sobre o questionamento
lembrei-me do texto contido no nosso ritual de Aprendiz que diz:
“um Maçom para ser completo, deve ser educado, ativo, estudioso,
verdadeiro e firme e possuir espírito público”.
Refletir sobre aqueles valores e
comportamentos e conclui de relance que eu estou longe de ser um Maçom. Afinal
de contas, para que seja um Maçom preciso ser um cidadão completo em termos
de valores filosóficos e materiais.
Mas vamos por parte na análise de
tal conceito: para ser Maçom devo ser educado. Bem, constantemente, isto não é
fácil de ser. O conceito de educado tomado no sentido do bom comportamento e de
cortesia nem sempre prático.
Não raras vezes sou explosivo com
os outros, muito especialmente, quando sou contrariado. Para preencher este
requisito penso que teria que ser mais tolerante, bom ouvinte e humilde.
Conclusão: não sou educado. Pelo
menos como deveria ser.
Ativo: bom, ativo para algumas
coisas eu sou. Mas, na idade que estou, sou mais seletivo nas escolhas. Não
raramente sou ativo com aquilo que dá mais prazer.
Conclusão: não devo ser chamado
de inativo completo. Porém, não sou bom exemplo neste quesito.
Com a palavra a tela da
televisão, que me tem por horas a contemplá-la.
Apesar de não assistir qualquer
coisa, é bom que se diga. Para melhorar neste item, deveria assistir menos esta
tela invasora dos nossos lares.
Estudioso: bom, agora mesmo é que
a autocrítica fica mais pesada.
Quantos livros tem lido
ultimamente? Nenhum começo e nenhum término. A idade fez-me diminuir a
paciência com textos longos. Mas, também tenho qualidades neste tópico. Leio
jornais e revistas. Isto também é uma forma de estudo. Mas é pouco, devo
reconhecer.
Verdadeiro e firme: estes
valores difíceis de serem praticados. Verdadeiro significa ser sincero,
agir com ética, comprometido com a verdade. Do mesmo modo, firme não é fácil de
ser, ao menos constantemente.
Não raras vezes prefiro vergar a
coluna a afrontar opiniões ou comportamentos contrários, mesmo sabendo serem
eles errados, com a explicação de “pagar para não se incomodar”.
Possuir espírito público: neste
quarto quesito a minha consciência diz que sempre mereci mais consideração do
que tive do ponto de vista do reconhecimento de terceiros. Aqui o espelho da
consciência diz-me que, se não andei sempre nos trilhos, o trem da corrupção e
das facilidades não me atropelou.
Feitas estas considerações, vem o
questionamento das razões de eu estar aqui. Me autoqualificar de Maçom.
Mudar a assinatura para
incorporar os três pontinhos. Chamar os iguais de Irmãos. Praticar rituais com
os quais não estava acostumado. Usar trajes que no início me pareceram
estranhos. Usar terminologias e gestos estranhos ao meu vocabulário habitual e
outras ritualísticas.
O espelho mirado nesta manhã,
simbolizado pela minha consciência, disse-me algumas coisas interessantes, que
gostaria de enumerar.
- Estou longe de ser um Maçom. Sou apenas um Aprendiz e
talvez algum dia um candidato a ser.
- Se algum dia alcançar a condição de Maçom tenho de ser
muito melhor do que sou hoje e se quiser alcançar o objetivo, não será
possível sem esforço pessoal e isto ninguém fará por mim.
- Preciso ser mais educado no trato com os Irmãos (de
todas as lojas e orientes), mais ativo, mais estudioso, mais verdadeiro e
firme, pensar mais no interesse público e ser menos egoísta.
Refletindo sobre tudo isto e
observando o comportamento alheio, diga-se de passagem, fazer isso parece que
dá mais prazer. Mesmo porque fica mais fácil para justificar as nossas
carências e falhas.
Com um fio de prazer concluo que
não sou tão desigual. Na minha ótica, não estou sozinho neste mar de
imperfeições. Volto a pensar melhor e concluo que isso não justifica, afinal,
carências alheias não suprem as minhas.
Assim, não tem jeito. Tenho que
cuidar mais de mim. Assumir compromissos de melhora e fazer a própria reforma
íntima. Caso contrário, é bem provável que até a condição de Aprendiz um dia
venha a perder, pois a caravana anda e tenho de estar sempre nela, polindo a
pedra.
E você, meu irmão, já se olhou no
espelho hoje para ver e ouvir a voz da sua consciência?
Walter Celso Lima, Loja Alvorada
da Sabedoria, Florianópolis – SC