RELACIONAMENTO FRATERNO – PERDÃO - RETIDÃO - INVEJA


Uma simples desatenção de nossa parte em relação a outrem - mesmo que não intencional – pode, às vezes, gerar um desafeto. De modo geral, os nossos inimigos são pessoas que prejudicamos deliberadamente ou ainda cujos interesses contrariamos através de nossa conduta.

Os inimigos nem sempre são claramente identificáveis. Perdão - Perdoar aos que nos inspiram indiferença, ódio e desprezo, não nos querem bem; aos que nos ferem; aos que nos causam mal, que nos ultrajam e nos perseguem é tarefa espinhosa; mas, é precisamente isso que nos torna superiores a eles; se nós os odiarmos como nos odeiam, não valeremos mais do que eles.  
             
No evangelho de Mateus, Jesus inicia uma sessão de ensinamentos com a seguinte frase: “Se o seu irmão pecar contra você (...)”. Diante do que é colocado, Pedro levanta uma palpitante questão: “Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim?” O Mestre dos Mestres responde de forma enigmática, dizendo que não deveria fazê-lo somente sete vezes, mas sim, “setenta vezes sete” (Mateus 18.21-22). 

É interessante que a primeira preocupação que nos ocorre ao lermos este trecho é qual seria o significado da frase ”setenta vezes sete”.

Isso muitas vezes desvia a nossa atenção de alguns outros elementos bem mais importantes no texto. Um deles é o fato que este conjunto de ensinamentos trata dos desencontros entre “Irmãos”.
                                                                 

No entanto, se ambicionamos crescer espiritualmente, não há outro jeito. Devemos ter em mente que não é um feito impossível, basicamente, compete-nos começar por honrar e venerar o G.’.A.’.D.’.U.’. , confiando na Sua Justiça; melhorar o nosso procedimento, praticando o bem de todas as formas ao nosso alcance. Perdoar aos que nos tenham ofendido, pois aquele que se recusa a perdoar, não somente não é maçom, como não é nem mesmo cristão.

Orar pelos que nos vêem como inimigos. O sacrifício que nos obriga a amar aqueles que nos ultrajam e nos perseguem é penoso; mas, é precisamente isso que nos torna superiores a eles; se nós os odiarmos como nos odeiam, não valeremos mais do que eles.

Não se odeia quando se preza, odeia-se apenas aquele que está à nossa altura ou superior a nós. Perdoar é experimentar um pouco de Deus. Deus conhece os nossos méritos e sabe medir nossos esforços e apenas Dele devemos esperar a recompensa pelas nossas ações.

Que o Grande Arquiteto do Universo permita-nos, ao recebermos palavras duras e malévolas, um insulto, injúria ou injustiça, que voltemos os olhos para Ele e jamais que o nosso braço se levante contra um Irmão para vingar o agravo.                                                             

É admirável como a Sabedoria Divina transforma o ódio em pura afetividade, unindo os maiores desafetos em laços de genuína fraternidade através do trabalho regenerador e do perdão. Somos protagonistas de grandes erros e enormes males.

Admiramo-nos como podemos transportar conosco os rancores por tempo indeterminado, protelando soluções definitivas; como o ódio é força perniciosa que se volta sempre sobre quem o alimenta, lesando-o de forma muito mais grave do que o alvo de nossas intenções, devemos repudiá-lo até mesmo por “malandragem” sabedoria.

Assim, ao confiarmos na justiça de Deus, cedo ou tarde vamos encontrar a oportunidade para reparação do mal que causamos. O Grande Arquiteto do Universo, em sua magnanimidade, reúne os desafetos sob adequadas condições para que o amor sublimado prevaleça, apagando todos os vestígios de raiva, ódio e ressentimentos.

Em contrapartida, se nos pautamos pelo bem, mostramos aos nossos inimigos e desafetos que estamos nos transformando

Por outro lado, é notório que não conseguimos atrair simpatia para a nossa pessoa em todos os círculos. No presente estágio em que a humanidade terrena se encontra, é impossível agradar a todos os que nos cercam.

Como também é fato que nem todos com os quais convivemos nos agradam ou se afinam conosco. No entanto, temos que contribuir com o melhor das nossas possibilidades para o equilíbrio da existência comum, e cumprimento de um juramento solene. Retidão - O maçom tem por obrigação demonstrar que é possuidor da virtude da Retidão necessária para quem deseja vencer na ciência e na virtude. 

Retidão significa que as ações dos maçons devem ser retilíneas, sem contornos, subterfúgios e desvios.

O comportamento social e ético, esotérico e espiritual, deve para o maçom ser “transparente”. Simbolicamente, o maçom “transita” a sua jornada sobre a Régua das Vinte e Quatro Polegadas, significando que durante todo o dia deve manter-se correto.

A sinceridade, a coragem e a perseverança, deverão ser companheiros inseparáveis do maçom. Cremos que algumas medidas nos parecem indispensáveis para evitarmos granjear desafetos gratuitos. São reflexões que nos conduzem a conclusões relevantes e nos fazem calar todo impulso de crueldade que ainda teima em dirigir-nos os atos e habitar-nos as intenções. Entre elas sempre:

- honrarmos e venerarmos o Grande Arquiteto do Universo; 
- tratarmos todos os homens, sem distinção de classe e de raça, como nossos iguais e irmãos;
- praticarmos a Justiça recíproca, como verdadeira salvaguarda dos direitos e dos interesses de   todos. Agindo com justiça e com compaixão estaremos certos em todas as circunstâncias;
- tratarmos a todos que nos procuram com respeito e consideração;
- irmos ao encontro dos deserdados da fortuna e dos aflitos, praticarmos a Caridade e a Beneficência de modo sigiloso, sem humilhar o necessitado, incentivando o Solidarismo, o Mutualismo, o Cooperativismo e outros meios de Ação Social;
- ampliarmos a nossa disposição de ouvir o que os outros têm a nos dizer;
- não ofendermos e muito menos humilharmos a quem quer que seja;
- combatermos a ambição, o orgulho, o erro e os preconceitos, que acarretam o obscurantismo; 
- lutarmos contra a ignorância, a mentira, o fanatismo e a superstição; 
- dilatarmos a nossa capacidade de Paciência e Tolerância, que deixa a cada um o direito de seguir sua religião e suas opiniões, pois que cada um está situado num degrau de evolução;
- demonstrarmos empatia pelas necessidades dos outros; e, se necessário, extirparmos o mal que se aninha, mas sem abdicarmos da generosidade;
- por fim, se possível, tentemos – ou pelo menos facilitemos - a reconciliação com o inimigo. Se não for possível um entendimento, deixemos ao desafeto o ônus do fracasso. 

Por outro lado, não convém abrigarmos dentro de nós sentimentos de inimizade contra quem quer que seja.

Compartilhar espaços com quem nos prejudicou ou tenta nos prejudicar, reiteramos, não é tarefa fácil. Todavia, não devem partir de nós atitudes inamistosas, sobretudo em Loja. Inveja – A inveja não é propriamente um vício ou ato de maldade; ele pode surgir e desaparecer em uma fração de segundo.

É a reação inesperada que alguém possa ter ao presenciar que um conhecido seu, ou próprio irmão, receba um favor ou um destaque. Obviamente, essa atitude é maléfica ao próprio agente, que carreia para dentro de si uma porção de “veneno”. A inveja, por sua vez, como excrescência da alma humana, constitui um eficiente modo de construção de inimigos.

Corroído pelo importuno sentimento, seu infeliz portador só vê demérito onde há mérito. Normalmente, o indivíduo invejoso se sente incomodado com as conquistas, capacidades e recursos alheios, entre outras coisas.
   
Infelizmente, as inimizades – sejam elas motivadas pela inveja ou não – estão presentes em todos os agrupamentos humanos. As organizações humanas são terreno fértil para inimizades e inveja, inclusive nas Lojas maçônicas.

Dentro da Maçonaria, constatamos, infelizmente, a presença de invejosos, que sofrem quando alguém é eleito para cargo elevado, ou quando um autor do meio lança uma nova obra, ou quando um irmão recebe uma condecoração, ou até mesmo um simples elogio.

Irmãos sentem inveja da amizade, do relacionamento, da capacidade intelectual, da oratória, da posição social conquistada por outro e assim por diante. Sendo a inveja uma reação negativa, ela deve ser eliminada prontamente; os atos de desamor ferem a quem não ama; a inveja vem sempre acompanhada por outro sentimento menor, como a cobiça, e tudo que é negativo, a Maçonaria a repele e evita.
               
A reação contra o “pensamento invejoso” é o aplauso imediato e o rejúbilo com o qual foi agraciado por algo que aspiraríamos para nós. Essa atitude negativa não ocorre apenas dentro das Lojas maçônicas, mas também no mundo profano. Concluindo - Devemos ler, reler e meditar sobre a 4ª Instrução. Ela realça nossos possíveis erros e defeitos mostrando como repará-los.

Todos nós devemos colher os frutos de seus ensinamentos, oportunidade de amizade saudável e relacionamento fraterno. Aquilo que for semeado será colhido, semeai a boa semente que seus frutos serão bons!

BIBLIOGRAFIA
Klebber S Nascimento
ARLS Cavaleiros do Templo nº 26
BIBLIOGRAFIA


A FLOR DA VIDA E A GEOMETRIA SAGRADA


Em todo o mundo há inúmeras construções de caráter religioso que foram elaboradas segundo os princípios da geometria sagrada. São igrejas, templos, monumentos, altares e jardins destinados a transmitir de maneira visual ensinamentos de natureza superior, já que tiveram sua constituição determinada por formas e proporções geométricas dotadas de especial significado místico.

Ao longo da história espiritual da humanidade, números e formas geométricas sempre foram considerados entidades especiais dotadas de um poder de criação e sustentação da vida. Enquanto os números são mais abstratos e conceituais, as figuras geométricas carregam maior apelo emocional, já que podem ser vistas e usadas para a construção de objetos no mundo físico.

Uma das formas geométricas mais interessantes, mais antigas e que atualmente é muito usada em práticas místicas e para facilitar a transmissão de ensinamentos de certos movimentos espiritualistas é a chamada Flor da Vida.

Este é o nome moderno dado à uma figura geométrica composta de vários círculos de igual diâmetro, sobrepostos de maneira padronizada, formando uma estrutura semelhante à uma flor composta, em seu núcleo, por seis pétalas simétricas.

Numa cadeia infinita de círculos que formam uma teia harmoniosa dentro da qual emergem figuras geométricas sagradas para muitas tradições espirituais antigas, o centro de cada círculo está posicionado exatamente sobre a circunferência dos seis círculos que o cercam.

Muitos consideram a Flor da Vida como um dos mais importantes símbolos da geometria sagrada, pois dentro dela estariam codificadas as formas fundamentais que constituem aquilo que conhecemos como tempo e espaço. Estas formas seriam as estruturas conhecidas como a Semente da Vida, o Ovo da Vida, o Fruto da Vida e a Árvore da Vida.

Portanto, ela contém em si mesma as diversas etapas do desenvolvimento da vida, desde o surgimento com a Semente, sua expansão através do Ovo, sua proteção através do Fruto, a manifestação de sua beleza através da Flor e sua expressão final na Árvore, de onde nascerão as novas sementes, retomando assim o ciclo natural de expansão da natureza.

A vida tem sua origem nas águas e toda a vida na Terra requer a presença deste elemento para a sua manutenção. Ao contemplarmos a forma da Flor da Vida, com seus raios que partem do centro formando um hexágono, encontramos outro aspecto simbólico que reforça a mensagem transmitida por esta figura geométrica, pois sua forma básica é igual ao modelo estrutural do floco de neve, a água cristalizada.

Por este motivo a Flor da Vida é reverenciada desde tempos imemoriais, tendo servido como elemento de construção simbólica para muitas culturas antigas e alguns dos mais ilustres sábios da humanidade. Com muito pouca pesquisa é possível encontrar a Flor da Vida em muitos templos, obras de arte e manuscritos de culturas antigas espalhados por diversas partes do mundo.

Ela está espalhada por Israel, no interior das antigas sinagogas da Galileia e de Massada, e na região do Monte Sinai. Foram encontradas em mesquitas no Oriente Médio, em antigos sítios arqueológicos romanos localizados na Turquia, bem como no Marrocos e em obras de arte italianas datadas do século XIII.

Muitos templos japoneses e chineses, além da própria Cidade Proibida, ostentam diversos exemplares da Flor da Vida. Na Índia, ela pode ser vista no Harimandir Sahib, o Templo Dourado, e nos templos localizados nas Grutas de Ajanta. Ela também foi encontrada na Bulgária, na Hungria e na Áustria, assim como no México e no Peru.

Por muito tempo se pensou que a representação mais antiga da Flor da Vida havia sido gravada nas paredes do Templo de Abidos, no Egito, um lugar sagrado dedicado à Osíris, divindade crística que representa os ciclos de vida, morte e ressurreição. Contudo, o exemplar mais antigo estava num dos palácios do rei assírio Assurbanípal, e hoje pode ser encontrado no Museu do Louvre, em Paris.

Mesmo assim muitos autores afirmam que os desenhos da Flor da Vida no interior do Templo de Abidos possuem entre 6000 e 12000 anos de idade. Existem cinco Flores da Vida desenhadas em cada uma das duas colunas que sustentam o Templo de Osíris, todas desenhadas de forma muito precisa, mas não gravadas na pedra, e tão apagadas que quase não se pode notar sua presença.

Em regiões como a Polônia e outras culturas influenciadas pelos eslavos era costume esculpir a Flor da Vida em diversos tipos de arte feita com cerâmica. Além disso, foram encontradas muitas representações esculpidas nos caibros de madeira que serviam de sustentação para os telhados das casas destes povos, como uma forma de proteção contra relâmpagos.

Um dos maiores gênios da humanidade, o renascentista italiano Leonardo da Vinci realizou estudos a respeito da Flor da Vida e de suas propriedades matemáticas. Através da Flor da Vida, Leonardo desenhou de próprio punho diverso de seus componentes geométricos, como é o caso dos cinco sólidos platônicos e da Semente da Vida.

Assim como toda flor, a Flor da Vida nasce de uma semente, que neste caso é a Semente da Vida, uma figura geométrica formada por sete círculos dispostos segundo uma simetria hexagonal, formando um padrão composto por círculos e lentes, e que serve como componente básico estrutural da Flor da Vida.

Segundo algumas tradições judaicas e cristãs, os estágios de construção da Semente da Vida correspondem aos seis dias da Criação descritos no livro do Gênesis. E logo nas primeiras etapas desta construção podem ser encontrados outros dois símbolos religiosos antigos, que são a Vesica Piscis, símbolo do eterno feminino, e os Anéis Borromeanos, correspondentes à trindade divina.

Acrescentando seis círculos à estrutura básica da Semente da Vida, temos a forma mais elementar da Flor da Vida. Esta, por sua vez, pode ser convertida no Ovo da Vida, um símbolo composto por sete círculos tomados do desenho da Flor. O formato do Ovo da Vida é semelhante ao formato do embrião nas primeiras horas de sua criação.

Por sua vez, o Ovo da Vida é o fundamento para a formação de diversas outras figuras geométricas. Uma delas é o Cubo, um dos cinco sólidos platônicos, e outra é o Tetraedro, outro sólido platônico, um pouco mais complexo que o Cubo. De extrema importância para a mística judaica é a Estrela de Davi, outro símbolo que pode ser extraído do Ovo da Vida.

Ampliando um pouco mais o Ovo da Vida podemos extrair o Fruto da Vida, que é formado por treze círculos tomados da Flor da Vida. Muitos consideram o Fruto da Vida como a própria planta arquitetônica do universo, pois conteria os fundamentos para a estrutura de todo átomo, de toda molécula e de toda forma de vida existente.

O Fruto da Vida contém a base geométrica do Cubo de Metatron, desde o qual é possível extrair os cinco sólidos platônicos. Se o centro de cada círculo for considerado um nó, e cada nó for conectado ao outro por uma linha, haverá um total de 78 linhas formando uma espécie de cubo, que é o próprio Cubo de Metatron.

Seguindo o desenvolvimento natural da Semente, da Flor e do Fruto da Vida, encontramos a Árvore da Vida, um conceito presente em várias teologias e filosofias herméticas, e uma metáfora muito importante para o conjunto de ensinamentos místicos de origem judaica, conhecido como Cabala.

A ideia cabalista da Árvore da Vida é usada para compreender a natureza de Deus e a forma como ele emana seus atributos de forma a constituir todo o universo. Ela pode ser entendida como um mapa da Criação e das energias presentes nos seres humanos, e corresponde tanto biblicamente como esotericamente à Árvore da Vida mencionada no livro do Gênesis.

Na busca pela compreensão de natureza mística da origem da vida, todos estes elementos geométricos derivados da Flor da Vida podem servir como instrumento fundamental e completo. Ela pode servir como amparo didático para o entendimento do esoterismo dos números, do fluxo de desenvolvimento da energia divina através do macrocosmo e do microcosmo, bem como uma mandala através da qual certos estados míticos elevados podem ser alcançados.

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REFLEXÕES SOBRE A CÂMARA DE REFLEXÕES


I - INTRODUÇÃO:

A Câmara de Reflexões é a verdadeira chave da iniciação do neófito na Ordem Maçônica, tendo ela uma enorme importância para o Maçom futuramente, pois é justamente nesse momento que o neófito reflete sobre toda a sua vida profana e como deverá segui-la após adentrar na Maçonaria.

Em se tratando realmente do verdadeiro ponto crítico da Iniciação, espera-se inspirar ao Candidato, dentro da Câmara de Reflexões, sentimentos de profundo respeito que hão de levá-lo a entregar-se a uma meditação profunda, através da qual o seu espírito purificado será levado a compreender o valor das coisas terrenas e o valor inestimável dos bens espirituais. Sem essa meditação em lugar tão apropriado, a verdadeira iniciação torna-se irrealizável.

Encontramos também um ambiente sombrio, adornado de emblemas fúnebres, destacando frases marcantes, no qual o profano faz o seu testamento, a fim de lembrar ao Candidato a sua morte para o mundo profano e que, purificado e regenerado, deverá começar uma nova vida.

Esse cenário decifra para muitos profanos, como também para numerosos Maçons, que a Câmara de Reflexões pode ter o objetivo de amedrontar o iniciante, provocando nele terror físico, disso resultando, muitas vezes, situações constrangedoras e não iniciáticas. Esta situação se agrava ainda mais quando o profano não é devidamente instruído pelo Ir:. Experto.

No entanto, devemos nos apegar ao fato da Câmara de Reflexões possuir toda essa carregada simbologia, mas no intuito de despertar a reflexão profunda ao profano.

Ao entrar no prédio da loja, com os olhos vendados, o candidato é recolhido à Câmara, e essa simbologia corresponde a Terra, a qual, por sua vez, representa a materialidade.


II - FUNDAMENTOS DA CÂMARA

A Câmara de Reflexões é também o símbolo manifesto de um estado de conseqüência equivalente, mas seu simbolismo não para aí. É considerada como uma descida aos infernos, ou seja, aos lugares inferiores, visto que, na Câmara de Reflexões o neófito é obrigado a descer em si mesmo, entregando-se a uma introspecção muito importante.

Trata-se, portanto de um recuo, de um retrocesso ou reflexão em si mesmo. Isso levou o simbolista francês Presigout a preferir dar a esse local a denominação de Câmara de Reflexão, porque, diz ele, o profano não se entrega a reflexões, mas opera sobre si mesmo uma reflexão, no sentido de “inversão”, para poder nascer de novo.

E de fato, ao fazer passar o profano pela Câmara de Reflexão, espera-se que o isolamento que ele vai se encontrar, a atmosfera que nela existe e os objetos que nela se encontram, hão de concorrer para levá-lo a novas descobertas e a proporcionar-lhe ensinamentos novos. Isso, sem dúvida, há de ajudá-lo a realizar esse recuo sobre si mesmo, assim como um corpo muda de direção depois de chocar-se com outro.

O choque de espírito contra a superfície refletora da Câmara há de levá-lo a examinar as suas idéias, a compará-las e, desse processo, há de resultar certamente um pensamento novo.

Existe também a idéia de que esse simbolismo significa a posição de feto no ventre e constitui o tempo da gestação que precede o novo nascimento. Esse ventre é comparado à Câmara de reflexão, aonde o embrião se desenvolve. E pelo aspecto fúnebre entende-se como o significado da morte do neófito na vida profana.

Pode-se entender, ainda, o aspecto de uma gruta ou de uma caverna sombria, por simbolizar o centro da Terra, o seio da natureza material, de onde vimos e para onde voltaremos, com o nosso físico dissolvido e transformado em pó, o que é lembrado ao iniciante pelos despojos humanos nela contidos.

Por seu isolamento e suas paredes negras, a Câmara de reflexões representa um período de escuridão e maturação silenciosa da alma, por meio da meditação e da concentração em si mesmo, período que prepara o verdadeiro progresso, efetivo e consciente, que se manifestará posteriormente à luz do dia.

A finalidade da Câmara de reflexões não é infundir terror físico aos iniciantes, como infelizmente ainda alguns supõem. Ao contrário, pretende-se criar um estado de espírito indispensável à compreensão dos ensinamentos decorrentes do simbolismo e do esoterismo da Iniciação Maçônica. A incompreensão dos elevados objetivos da Iniciação por parte de muitos iniciadores faz, muitas vezes, abortar essa necessária predisposição espiritual.

Ao fazer passar pela Câmara de reflexões o profano, pretende-se mostrar que tinha chegado o momento de morrer para o vicio, as paixões, os preconceitos e os maus costumes; para fazer-lhe compreender que diante da morte desaparecem o orgulho e a ambição humana, e que de nada valem o poder e as riquezas do mundo.

A permanência do iniciante na Câmara de reflexões representa o período de gestação do Maçom, pois, ao morrer para o mundo profano, ele prepara a sua mente e o seu espírito para o nascimento de uma nova vida.

É necessário que se conceda ao profano tempo suficiente para meditação frente aos símbolos que se encontram na Câmara de reflexões, tendo-se o cuidado para que nada venha perturbá-lo durante aquele período. Deve-se evitar a todo custo fazer entrar dois profanos ao mesmo tempo na Câmara, sob o pretexto anti iniciático de se ganhar tempo.

Os profanos devem ser convidados a comparecerem com antecedência suficiente para que cada um possa permanecer pelo menos meia hora dentro da Câmara.

III - DESCRIÇÃO DA CÂMARA

A Câmara de Reflexões é um cubículo que não deve receber luz do exterior, sendo iluminada apenas por uma vela ou uma lamparina. As paredes, forradas e pintadas de preto, ostentam várias inscrições e emblemas fúnebres formando um conjunto.
Em seu interior encontram-se uma mesa e um banco pequenos, um esqueleto humano ou um crânio e ossos, enxofre, e outra sal e mercúrio, um pedaço de pão, uma bilha d’água, uma campainha, papel e caneta.

Muitas Lojas mais modestas, porém mais interessadas no estudo da doutrina e do simbolismo maçônicos, representam tais objetos sobre um simples painel. Sobre ele acham-se pintados vários emblemas: no alto, a palavra V.I.T.R.I.O.L. (Visita Interiora Terrae, Retificandoque, Invenies Occultum Lapidem), que significa: “Visita o interior da terra e, retificando, encontrarás a Pedra Oculta”.

Logo abaixo, um galo, uma bandeirola, na qual estão inscritas as palavras Vigilância e Perseverança. No meio do quadro vêem-se uma ampulheta, uma foice, um crânio com duas tíbias cruzadas.

De cada lado, duas taças com os símbolos do enxofre e do sal marinho. O do enxofre é um triângulo com vértice para cima e uma pequena cruz grega embaixo; o do sal é um circulo atravessado por uma diagonal horizontal.

O galo representa o Mercúrio e estarão pintados, por baixo de duas taças, de um lado a bilha d’água e, do outro, o pão.

IV - AS CITAÇÕES DA CÂMARA DE REFLEXÕES

Sobre as paredes da Câmara de Reflexões há inscrições, descritas abaixo, com a finalidade de levar o profano a encarar o ato a que vai ser submetido, com a honestidade a que deve fazer jus.

· SE A CURIOSIDADE AQUI TE CONDUZ, RETIRA-TE
A Maçonaria não pode servir de campo experimental para satisfação de uma simples curiosidade. Inteiramente dedicada ao estudo de problemas fundamentais e de grandes ensinamentos, todo elemento possuído por uma simples curiosidade, longe de lhe ser útil, seria um perigo.

Sendo manifesto o desejo da Maçonaria de participar ao mundo a sua utilidade por meio de sábios e discretos ensinamentos e por elevados exemplos, ela reprime a louca afeição ao superficial, ao fútil, engrandecendo no homem o desejo de instruir-se através de estudos sadios, sérios e proveitosos.

· SE TENS RECEIO DE QUE SE DESCUBRAM OS TEUS DEFEITOS, NÃO ESTARÁS BEM ENTRE NÓS
O ensinamento que essa frase encerra é fundamentalmente proveitoso. O homem não pode alcançar um grau de elevada perfeição, senão pelo constante estudo de si mesmo e com o conhecimento mais amplo de seus próprios defeitos, e, dessa forma, a Maçonaria exige de seus adeptos uma recíproca advertência sobre si mesmos.

O Maçom, para seguir o seu caminho de constante aprendizado, precisa transparecer, sem receios, todos os seus defeitos, por mais amargo que isso venha a ser, pois é através desta exteriorização que se pode lapidar a verdadeira pedra bruta.

· SE FORES DISSIMULADO, SERÁS DESCOBERTO
A hipocrisia é uma das causas principais que fazem progredir o mal no mundo, devendo o Maçom fazer sempre o possível para desmascará-la, combatendo-a por toda a parte onde ela se encontre. Todo aquele que finge, aquele que oculta, cedo ou tarde será desmascarado e seus vícios expostos à luz do sol, à luz da verdade.

· SE ÉS APEGADO ÀS DISTINÇÕES MUNDANAS, RETIRA-TE; NÓS AQUI, NÃO AS CONHECEMOS
A Maçonaria respeita as hierarquias do mundo profano e as distinções sociais exigidas pela ordem social. No entanto, dentro de seus templos, isso é desprezado pelo princípio da igualdade que deve reinar entre todos os seres, sem mais distinções que as merecidas pela virtude, nobreza e talento; da mesma forma em que os trabalhos dos Aprendizes Maçons iniciam-se ao meio dia, fazendo com que os irmãos trabalhem sem fazer sombra uns aos outros.

Esse sentimento de igualdade traz, por conseguinte, uma evolução em conjunto muito mais forte e duradoura, fazendo com que o sentimento de desprezo ou o próprio individualismo não sejam bem quistos na Ordem Maçônica.

· SE TENS MEDO, NÃO VÁS ADIANTE
Embora a Maçonaria não pretenda despertar o terror ao iniciante, essa inscrição existe para indicar que no momento de perigo, o homem carente de fé e de valor, que se deixa dominar pelo terror e a superstição, não consegue exteriorizar a sua pedra bruta.

O sentimento de medo faz com que o homem bloqueie seu caminho a ser triunfado, inibindo a sua coragem, perseverança, auto-estima, valor e fé, que é justamente o que o iniciante está precisando exteriorizar nesse momento.

· SE QUERES BEM EMPREGAR A TUA VIDA, PENSA NA MORTE
Sendo a morte o fim de tudo, a sua aproximação será o castigo ou a recompensa da vida, de acordo com o emprego que lhe foi dado e a direção que lhe foi impressa. O homem deve refletir sobre a morte para assim valorizar e lapidar a sua vida. Sendo assim, o Maçom deve fazer de sua vida um caminho laborioso, superando obstáculos, com a máxima valorização intrínseca de si mesmo.

Pode-se entender, ainda, a morte, como sendo o fim da vida profana e o nascimento na vida maçônica, na qual o iniciado começa a glorificar a verdade e a justiça, levantando templos à virtude e cavando masmorras ao vício.

V - O SIMBOLISMO DOS ELEMENTOS DA CÂMARA

A VELA
A Câmara de reflexões é iluminada apenas pela luz de uma vela ou de uma lamparina. Há várias interpretações sobre este símbolo. Pode ser a primeira luz da Maçonaria que o profano recebe, de início fraca, para que o profano, através dos pensamentos que o ambiente lhe sugere, possa acostumar a sua visão espiritual à luz deslumbrante das verdades que lhe serão reveladas.

A luz dessa vela é o reflexo e a representação da divindade no plano terrestre. É ela o único asilo seguro contra as paixões e perigos do mundo e que proporciona o repouso, o discernimento e a luz da inspiração, quando a Ela se recorre.

Esse clarão simboliza então a lâmpada da razão, iluminando a Câmara que não é outra coisa senão o interior do homem, dando lhe assim a esperança de um mundo novo e diferente, que se abre a sua frente, mundo do qual ele não pode fazer uma ideia precisa, mas que na iniciação haverá de descobrir.

O GALO
O galo representa o Mercúrio, principio da Inteligência e da Sabedoria. Essa ave é, também, um símbolo de Pureza.

O Galo é um gerador da esperança, o anunciador da ressurreição, pois seu canto marca a hora sagrada do alvorecer, ou seja, a do triunfo da Luz sobre as Trevas. A sua presença na Câmara de Reflexões simboliza o alvorecer de uma nova existência, visto que o iniciante vai morrer para a vida profana e renascer para a vida maçônica, sendo ele o signo esotérico da Luz que o Profano vai receber.

Também simboliza a Vigilância que o iniciado deve manter relativamente ao papel que desempenha na sociedade. Também simbolizado por forças adormecidas que a Iniciação pretende realizar, esotericamente simbolizado pela “força moral”, indestrutível, guiando os passos do Maçom dentro e fora do Templo.

A BANDEIROLA
Colocada por baixo do Galo traz inscritas as palavras Vigilância e Perseverança. Consideradas do ponto de vista etimológico, essas palavras podem significar “vigiar severamente”. Indicam ao Futuro Maçom que deve, a partir daquele momento, prestar toda a atenção e investigar os vários sentidos que podem oferecer os símbolos, os quais, só conseguirá entender completamente através de uma paciente Perseverança.

 Assim como o dever moral, que o Maçom deve colocar em prática dedicando-se a uma Vigilância constante. É também a difícil tarefa de desbastar a Pedra Bruta que só alcança algum sucesso, quando realizada com a mais firme Perseverança.

O CRÂNIO
A presença de um Crânio pode despertar no profano alguns pensamentos, através dos quais ele poderá imaginar a representação, pela caixa óssea, da inteligência e Sabedoria, da qual ela é símbolo. A Sabedoria é tão importante para o nosso cotidiano como o conjunto de nossa existência e para as grandes decisões. Pode ser vista como a Razão governando a prática pela teoria.

Assim como na Câmara, os ossos são um mero complemento do Crânio como símbolos da Morte.

A AMPULHETA
Como é um instrumento para medir o tempo, é considerado na Maçonaria, um símbolo que mostra, pelo escoamento da areia, o rápido transcorrer do tempo, e recorda ao profano a brevidade da existência humana, aonde têm um significado esotérico com diversas interpretações.

O tempo passa e voa, e a vida sobre a terra é semelhante ao cair da areia. Por isso é preciso saber aproveitá-la em coisas úteis e proveitosas para si próprio e também para a humanidade. Pois uma vida dedicada ao acumulo de riquezas e ao gozo dos prazeres sensuais não contribui para a felicidade de ninguém, é uma vida desperdiçada. O iniciante deve lembrar que as pequenas porções do tempo juntam-se umas as outras e terminam no seio da Eternidade.

A FOICE
Símbolo muitas vezes não utilizado, mas que representa o símbolo da destruição e da morte, que em dado momento perturba a vida de qualquer pessoa, sem distinção de classe social. Pode ser interpretada como também, um símbolo do tempo, mostrando-nos a curta duração de nossa existência terrena e despertando-nos o medo.

O PÃO E A ÁGUA
Tende a assemelhar a Câmara de Reflexões a uma masmorra, onde o profano deve ser recolhido. Mas o Pão simboliza o laço de fraternidade entre os irmãos e a Água é o símbolo da purificação. São emblemas da simplicidade que deverá reger a vida do futuro iniciado, assim como alimentos do corpo e do espírito, os quais são indispensáveis, mas que não devem ser o único objetivo da vida.

Sendo assim, é o elemento indispensável à vida, e o pão, provindo do trigo, simboliza a força moral e o alimento espiritual.

O SAL
É o símbolo da mão estendida, representando a hospitalidade. Os antigos Greco-Romanos o simbolizavam pela amizade, finura e limpeza da alma e da alegria. Seria como se fosse algum dizer de boas vindas ao iniciante, mostrando-lhe que ele será acolhido alegremente, com todo o coração, e que ele há de se sentir em “sua casa”. Assim, o profano, com o espirito livre, se entregará inteiramente à conquista das verdades prometidas.

O MERCÚRIO
Representado pelo Galo, é um símbolo não apenas de Vigilância e Coragem, como também de Pureza. Princípio fêmea, na alquimia, é considerado Hermeticamente como o princípio da Inteligência e Sabedoria.

ENXOFRE
É considerado o princípio macho, na alquimia. É o símbolo do espírito e por isso simboliza o ardor.

“ A pedra Filosofal é um Sal perfeitamente purificado, que coagula o Mercúrio afim de fixá-lo em um Enxofre extremamente ativo. Esta fórmula sintética resume a Grande Obra em três Operações que são: a purificação do Sal, a coagulação do Mercúrio e a fixação do Enxofre”. (In “O Simbolismo Hermético” de Oswald Wirth)

TESTAMENTO
É o ato que geralmente, na vida Profana, é praticado a aqueles que se encontram à beira da morte. Mas na Maçonaria é considerado como um testamento “filosófico”, e não um testamento “civil”, como o dos profanos.

No testamento o iniciado irá “testemunhar” por escrito as suas intenções filosóficas, assumindo, dessa forma, uma obrigação prévia.

Sua verdadeira finalidade não é somente responder as perguntas, mas sim, fazer com que o iniciado expresse sua opinião sobre elas e escreva as suas últimas vontades, como se fosse mesmo morrer, no seu Testamento.

O profano expressará seus últimos pensamentos e suas últimas disposições, pois é sob influência da Câmara de Reflexões que ele dirá a verdade.

Assim, por esse documento, em que a sua mente só dirá a verdade, a Loja terá um conhecimento quase perfeito dos verdadeiros sentimentos do Profano.

VI - CONCLUSÃO
Resumidamente, a Câmara de Reflexões nada mais é do que a transição da vida profana para a vida Maçônica, que usa de seus elementos e simbolismos para preparar o iniciante para essa nova e frutífera vida.

A Câmara de reflexões leva o neófito ao mundo da introspecção. Mais tarde, pelo V.’.M.’. fica sabendo: "Os símbolos que ali existem vos levaram, certamente, a refletir sobre a instabilidade da vida, lição trivial sempre ensinada, e sempre desprezada".

Assim, constatamos que a Câmara de Reflexões tem como fundamento maior fazer com que o iniciante consiga exteriorizar, expor a sua pedra bruta, para que assim, a mesma possa ser permanentemente lapidada, intuito este, inerente à Maçonaria.

É neste local que o iniciante consegue se preparar para se tornar um verdadeiro Aprendiz Maçom, resgatando o seu verdadeiro eu interior e desprezando a sua parte infrutífera, catalisando assim todos os elementos necessários para o início dos trabalhos Maçônicos.

Essa fundamental preparação realizada pela Câmara no candidato torna-se claramente necessária ao entender-se que tal profano já está prestes a iniciar-se na Ordem.


A garimpagem de um irmão Maçom, o achado dessa nova pedra bruta (o iniciante), já fez com que se trouxesse uma grande expectativa de mais um irmão abrilhantando os trabalhos em Loja. Mas sem dúvida esse momento de garimpagem do próprio candidato, dentro da Câmara de reflexões, é vital para sua completa preparação.

VII - Bibliografia

Ritual do Primeiro Grau – Aprendiz – GOB;

ASLAN, Nicola, Comentários ao Ritual de Aprendiz – VADE MÉCUM INICIÁTICO, Editora MAÇÔNICA, Rio de Janeiro;

WIRTH, Oswald – O Simbolismo Hermético -

NÓS E A PALAVRA


A Maçonaria tem certas particularidades que a tornam única no mundo porque nenhuma outra instituição alcança com tamanha nitidez a alma humana na mais legítima expressão do bem, construindo ao longo da sua história o verdadeiro santuário em defesa do Amor, da Fraternidade, da Solidariedade, que respeita a Família, defende a Pátria e cultua a Bandeira como expressão do patriotismo que orgulha os seus filhos e, principalmente, pela fraternidade universal praticada pelos Maçons espalhados por todo orbe terrestre. 

No que se refere a Deus e a religião, o Maçom não pode nunca se esquecer de praticar a moral como forma de cumprir os mandamentos do Grande Arquiteto do Universo, nunca negando a sua existência ou a vida do amanhã, não se lhe permitindo, jamais, ser ímpio, ateu ou agnóstico.

A Maçonaria é por excelência uma instituição eminentemente filosófica, obsessivamente segura dos seus propósitos de tornar feliz a humanidade pelo aperfeiçoamento dos costumes, da propagação da ordem e da paz, principalmente, pela preservação da família como elo da força invisível do espírito e a própria existência do homem.  

Mas, no conjunto da obra, o Maçom acredita nos postulados da Ordem Maçônica e segue, passo a passo, o longo caminho que o leva a atingir a perfeição do seu caráter, buscando na felicidade do seu semelhante à riqueza de que precisa para alcançar a sua própria felicidade.

Em sendo de cunho filosófico, nos ensina o Irmão Hipólito Sérgio Ferreira, membro fundador da Academia Mineira Maçônica de Letras, a Instituição Maçônica passa pelos mesmos caminhos de outras instituições do mesmo gênero e até mesmo da maioria das religiões existentes.

Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino são exemplos da fundamentação filosófica da Maçonaria, iguais na teoria de que não existe paradoxo irreconciliável entre aquilo que diz a filosofia e a razão, porque a revelação da fé cristã e da verdade são sinônimos paralelos.

A filosofia é nada mais, nada menos, do que uma forma de pensar, tanto que a Maçonaria prima seu comportamento pelo soberano princípio do livre pensamento, buscando no mundo das ideias a inspiração para chegar à verdade.

A conciliação da doutrina maçônica com o seu compromisso com a Humanidade está expressa no documento que os Maçons conhecem como a Constituição de Anderson, aprovada em 17 de janeiro de 1723, resultado de um trabalho iniciado em 10 de setembro de 1721 que consistia no encerramento num mesmo título dos antigos documentos, livros de Lojas e as antigas disposições, “levando-se em conta as mudanças do tempo e das circunstâncias”.

Agora, digo eu, que a Maçonaria demonstra não ser estática, procura adequar-se ao tempo e aos costumes da época, porém guarda incólume a tradição de se fazer conhecida através da comunicação oral entre os seus membros, no que constitui uma defesa natural contra os maledicentes da Ordem.

Aliás, segundo a escritora Ana Helena Goes, “a palavra é o primeiro elemento transformador do mundo de que se vale o ser humano. A partir da palavra o homem passa a organizar e orientar-se por todo significativo, organizado o real, dando-lhe significados, percepções e sensações, ganham significados, a partir da palavra ganha um sentido recebendo uma significação, um nome. A palavra passa a fazer parte do mundo que é construído por nós, onde evitamos o caos, a desordem e damos um caráter todo unificado, ordenado por meio da linguagem.” 

A origem da palavra remonta à criação do mundo quando Deus, na sua infinita sabedoria, fez nascer a luz e iluminou a terra para que todos os seres encantados do Éden pudessem se ver mutuamente e aprender a dominar o tempo, a noite e o dia para sua completa felicidade. 

Na Maçonaria, mais do que em qualquer outra Ordem Iniciática, tudo nos leva à palavra como forma de transmissão oral da sua história e reconhecimento, seja nas sessões ritualísticas, como também, representa a segurança de que os meios e os fins que a fizeram traspassar os séculos estão a salvo da curiosidade do mundo profano.

Por isto que é de suma importância na Instituição Maçônica garantir a palavra ao Maçom nas assembleias de que participar, não somente porque é a forma dele expressar a sua verdade, mas, essencialmente a oportunidade que tem de ouvir para aprender todas as razões encerradas no simbolismo maçônico. 

Tão certo quanto o dia e a noite que se encontram no milésimo de segundo em cada ciclo equinocial e, simbolicamente, representa a igualdade que deve existir entre os Irmãos Maçons, sem brilhos ou sombras entre si mesmos, é de fundamental importância que a utilização dos meios de comunicação modernos, via internet, principalmente, se faça com a mesma discrição que sempre pautou o comportamento maçônico.

Por isto que os próprios Maçons têm o dever de policiarem a si mesmos, de saberem conscientemente o limite para publicarem os seus conceitos maçônicos, guardando o costume da transmissão oral da palavra maçônica, sem risco de, involuntariamente, abrirem as portas do imponderável para conhecimento do mundo não maçônico.


Autor: José Alberto Pinto de Sá 
Ex-Venerável Mestre da Loja Maçônica Inconfidência e Liberdade I, Nº 106 
Oriente de Ouro Branco 
Grande Inspetor Geral, 33º 
Juiz da Egrégia Câmara de Justiça da Grande Loja Maçônica de MG 
Membro Fundador da Loja de Pesquisas Maçônicas Quatuor Conorati - Pedro Campos de Miranda
Membro Efetivo da Academia Mineira Maçônica de Letras 


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