O PAINEL NO GRAU DE APRENDIZ



Perdem-se na noite dos tempos, as origens do Painel do Grau de Aprendiz, sendo que, com a finalidade de representar os mais importantes Símbolos de nossa Ordem, o painel era desenhado a giz e carvão no chão dos locais onde se realizavam as reuniões, que geralmente eram realizadas em tabernas, sendo que após as mesmas, tinha-se o inconveniente de ter que apagar e refazê-los, o que acabou  levando algumas Lojas a desenhá-los sobre um tapete ou um pano, expostos nas sessões.

A origem da palavra painel provém do espanhol, significando “pano”, pois eram desenhados neste material, ou ainda pintado ou bordado em um tapete. Foi o irmão John Harris, que em 1820, desenhou os primeiros Painéis, que, existem até hoje, salvo pequenas modificações.

Nos graus simbólicos, existe um painel para cada um deles, ou seja, no Gral de Aprendiz, no Grau de Comp. e no Grau de Mestre, sendo eles, síntese dos mistérios de cada grau.

No Painel encontram-se presente todos os símbolos maçônicos, lembrando que os símbolos são essenciais para a nossa Ordem, sendo eles síntese dos mistérios de cada grau, sendo que o estudo da simbologia é uma obrigação do Maçom.

No nosso rito, o painel adotado pela grande loja, onde se vê as três colunas e a escada de Jacó, de acordo com Ir.·.Benone Rodrigues de Farias  MMI – 196.200 Or.·.de Aracaju – SE, Jul 2012 é original do Ritual de Emulação.

Ocorre que, quando da criação das Grandes Lojas, Mário Behring, à frente do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA, necessitava fornecer os Rituais dos Graus Simbólicos para que as recém-criadas Grandes Lojas pudessem trabalhar. Como se desejava uma aproximação com as Grandes Lojas Brasileiras da Grande Loja Unida da Inglaterra e das Grandes Lojas Americanas, Mário Behring incluiu diversas características do Ritual de Emulação e do Rito de York aos seus rituais do REAA.

Existem, vários painéis do Grau de Aprendiz, pertencentes aos diversos ritos e mesmo no REAA. No entanto, sem entrar na discussão qual o real painel do Rito, vamos nos ater ao nosso, ou seja, da GLMG que, de acordo com vários estudiosos, não é o original.

Como pode se observar, nosso painel possui vários símbolos que passaremos a estudar, resumidamente.

A PEDRA BRUTA E A PEDRA CÚBICA

A esquerda do Painel do Aprendiz figura a PEDRA BRUTA, que simboliza as imperfeições do espírito e do coração que o Maçom deve se esforçar para corrigir, simbolizando a matéria a ser trabalhada, as imperfeições e nossos defeitos. 

Ressalte-se, que o trabalhar na pedra bruta é um caminhar ininterrupto na busca do ideal da perfeição, de nos tornamos melhores do que já somos.

O fim precípuo ao desbastarmos a PEDRA BRUTA, é lapidá-la para chegarmos a PEDRA POLIDA. Esta conquista representa a passagem do Grau de Aprendiz para o Grau de Companheiro.

A PEDRA POLIDA, encontra-se a direita do painel, próximo a segunda coluna. Essa pedra, sobre o qual os Companheiros devem aferir e afiar seus instrumentos simboliza o progresso que eles devem fazer na instituição e em seus relacionamentos com os Irmãos.

No entanto, para desbastar a Pedra Bruta, é preciso fazer uso do compasso, do esquadro, do nível, e do fio de prumo.

O COMPASSO E O ESQUADRO

O ESQUADRO como joia do Venerável Mestre, simboliza a retidão, e indica que ele deve ser o Maçom mais reto e mais justo da loja, devendo servir de exemplo para todos os obreiros.  Ele representa a conduta ética e moral que deve pautar a todos os maçons.

Em nossa   simbologia, representa a matéria, a vida justa e correta, ou ainda o equilíbrio.  Daí ser a joia utilizada pelo o Venerável.

No caso dos Ex-Veneráveis essa joia tem ainda pendurado entre os dois braços a demonstração do Teorema de Pitágoras, sendo que o próprio Esquadro, os braços estão na relação de três por quatro, como os dois catetos do triângulo retângulo dos Pitagóricos.

Enquanto isso, o COMPASSO representa a espiritualidade.  No Grau do Aprendiz, ele está embaixo do Esquadro, indicando que a Matéria predomina sobre o Espírito.
A conjugação destes dois instrumentos, constitui o símbolo mais conhecido da Maçonaria.

O esquadro, com as pontas viradas para cima, e o compasso, com as pontas viradas para baixo, simboliza a união do espírito com a matéria, o equilíbrio que deve reger o Universo.

O PRUMO E O NÍVEL

O NÍVEL representa a igualdade fraterna que deve reger todos os maçons, sendo a joia do 1º Vigilante.

É o NÍVEL que nos faz tratarmo-nos como Irmãos uns aos outros, fazendo-nos sentar lado a lado, sem diferença de classe social, de instrução, seja rico ou pobre, fazendo que não exista dentro de loja, as distinções que existem no mundo profano.

Assim, o NÍVEL é o símbolo da igualdade, com que todos os Maçons se reconhecem.

O PRUMO, conhecido como perpendicular no passado, é o símbolo da Retidão, da Justiça e da Equidade, simbolizando também o equilíbrio. Se o NÍVEL representa a Igualdade entre os homens, o PRUMO nos informa que o Maçom deve possuir uma retidão de julgamento.

Sendo também considerado o símbolo de profundidade e do conhecimento.
Quando o Aprendiz completa o seu tempo e após apresentar seu trabalho sobre o Grau, diz-se que está apto para passar da “Perpendicular ao Nível”.  É a Jóia do 2º Vig.’.

A RÉGUA DE 24 POLEGADAS

A RÉGUA, que se encontra ainda em nosso painel, é um instrumento de medida, onde através dela, pode-se conseguir a informação sobre a dimensão espacial.

Ela é de 24 polegadas, no sentido associado às horas do dia.  Em número de 24, divididas em três períodos iguais de oito horas, alerta que o homem deve ocupar com equilíbrio o seu dia dividindo-o em descanso, trabalho, e a serviço de Deus ou de um irmão necessitado.

A lição que o Aprendiz deve extrair da régua de 24 polegadas é da proporcionalidade e retidão com que deve ocupar o seu tempo.

Quando o irmão se desculpa de não ter tempo para ir as nossas reuniões ou atividades, demonstra um total descaso com os nossos princípios.

O MAÇO E O CINZEL

Estes instrumentos utilizados pelo Aprendiz são apresentados no Painel de forma associada, localizada acima da Pedra Bruta, indicando que quando se utiliza a inteligência, a força física com a força intelectual, mais o talento, e sempre aplicada na medida correta, permite o desbaste da Pedra Bruta, transformando em Pedra Cúbica.

Essa associação, do Maço e do Cinzel, indica a vontade e a inteligência, a força e o talento, a ciência e a arte, a força física e a força intelectual, quando aplicadas em doses certas, permitem que a Pedra Bruta se transforme em Pedra Polida.

O Maço simboliza a força de vontade do Aprendiz, indicando que ele deve ser firme e perseverante.

Mas o homem não pode agir desbastando a Pedra Bruta, se não tiver o auxílio do Cinzel.

A PRANCHA DE TRAÇAR

Na PRANCHA DE TRAÇAR, que se faz presente no painel, está gravado o esquema para a chave do alfabeto maçônico.

O esquema alfabético, que consta na Prancha de Traçar lembra ao maçom que ele deve sempre traduzir seu pensamento de uma forma justa e perfeita, realizando seu trabalho com retidão. Ela constitui um dos símbolos maçônicos, e indica que o Maçom deve traçar seus objetivos e lutar para conquistá-los, sem prejudicar a ninguém.

O SOL, A LUA E AS ESTRELAS

O Sol a Lua e Estrelas se fazem presentes nos Painéis, bem como também na decoração do Templo, simbolizando o Universo.

O Sol e a Lua representam o antagonismo da natureza, o dia e noite, positivo e negativo, masculino e feminino, presente na nossa vida maçônica ensinando-nos que tudo é equilíbrio, apesar de contrários.

O Sol é a fonte de luz e vida, o princípio ativo, a Lua, à noite, o princípio passivo, surgindo quando o Sol se põe e reina no céu da noite estrelado, não com sua própria luz, mas refletindo a luz solar.

O Sol, ativo, fica à esquerda, e a Lua, passiva, fica à direita do Painel.

Na Loja, os trabalhos são abertos simbolicamente ao Meio-Dia, quando o Sol esta em Zênite, e fechados à Meia-Noite, quando ele está no Nadir; nesse momento, supõe-se que a Lua esteja em seu pleno esplendor.

As ESTRELAS, vistas no painel simbolizam o infinito e o universo que está representado em nosso templo.  Ressalta-se que são 27(vinte) as estrelas dispostas no painel e, pela numerologia, é o equivalente ao número 9, ou seja, 3X9, número da trindade que carrega consigo a representação divina dos 3 planos existenciais: o mundo da alma, do espírito e da matéria.

O PISO MOSAICO

O Piso Mosaico é composto por quadrados que se alternam nas cores brancas e pretas, como se fosse tabuleiro de xadrez. Tem como significado, a união íntima que deve existir entre todos os Irmãos Maçons.

O Piso representa os contrastes existentes na vida, os opostos, a presença do Bem ao lado do Mal; o Corpo e o Espírito, Ativo e Passivo, Masculino e Feminino.

A ORLA DENTADA

A Orla Dentada simboliza a união e o amor fraternal que os Maçons devem ter um para com o outro, sendo que em forma de triangulo, tem correlação com a trindade divina, tendo as mesmas cores da orla dentada, alternando-se o preto com o branco, significando a diversidade de nossa Ordem.

Seus múltiplos dentes, entre várias interpretações, significam os planetas que gravitam em torno do Sol, os Maçons unidos e reunidos no seio da Loja.

AS TRÊS COLUNAS

As três Colunas que vemos no painel, significam a Sabedoria, a Força e a Beleza, representando, respectivamente, o Rei Salomão, Hiram, rei de Tiro e Hiram Abiff e são colocadas no Oriente, no Ocidente e no Sul, ás quais foram atribuídas às três ordens da Arquitetura Clássica:

 A Coluna Jônica para, simbolizando a Sabedoria, representada pelo Venerável Mestre, correspondendo ao Rei Salomão;

 A Coluna Dórica, simbolizando a Força representada pelo Ir.’. 1º Vigilante, correspondendo ao Rei de Tiro;

 A Coluna Coríntia simbolizando a Beleza, representada pelo Ir.’. 2º Vigilante, que corresponde ao Mestre Hiram-Abib por seu dedicado trabalho de ornamentação do Templo.

Aos pés de cada coluna, encontram-se as jóias das luzes da Loja, sendo o esquadro na coluna Jônica, joia do VM, na coluna Dórica, o Nível, joia do 1 Vig. e o Prumo, jóia do 2º Vig. na coluna Coríntia

O ALTAR DOS JURAMENTOS

O Altar dos Juramentos que se vê no painel, é onde está depositado o Volume da Lei Sagrada, tendo na posição do Grau, o Esquadro e o Compasso, sendo que acima do Altar começa a Escada de Jacó.

A ESCADA DE JACÓ

A Escada simboliza o caminho do céu, a que todo maçom. tem direito. Ela sugere como alegoria, o verdadeiro caminho iniciático do Maçom, para se atingir a perfeição, sendo que suas  escadas, representa as virtudes que um verdadeiro maçom deve ter.

Como se percebe, aparecem na Escada, vários símbolos. São eles: A CRUZ, ladeada pela Estrela de David, símbolo do judaísmo, e a Meia Luz, símbolo do islamismo, mais

A ÂNCORA e o CÁLICE.

A CRUZ, bem como a Estrela de Davi e a Meia Lua, símbolos das três religiões monoteístas, significa a FÉ, ou seja, os sentimentos de confiança e certeza e a crença na existência de um ente superior, uma entidade divina, ou seja, no Grande Arquiteto do Universo.

A ÂNCORA simboliza a ESPERANÇA, nos indicando que quando passamos por adversidades, devemos lançá-la para podermos nos fixar e não sermos carregados pelas adversidades. Sugere aos Irmãos a real segurança para alcançar os verdadeiros objetivos da vida. Tendo Fé, termos Esperança de dias vindouros melhores.

Já o CÁLICE ou a Taça indica a caridade a ser praticada pelo Maçom, significando ainda o verdadeiro amor que o Maçom deve ter não só aos necessitados, mas a toda humanidade, indicando que sempre deveremos auxiliar aos nossos semelhantes.

Ao alto, temos o HEPTAGRAMA: Estrela de Sete Pontas, representando os sete dias da criação, citado na Bíblia, ou a perfeição de DEUS. Os sete caminhos para a evolução ou iluminação, dos Budistas. A Estrela é um símbolo de integração espiritual.

E por último, podemos ver as pontas ou bordas da corda de 81 nós, em número de quatro, que representam as quatro virtudes do maçom: Temperança. Justiça Coragem e Prudência.

E, assim, terminamos por brevemente descrever o Painel de Aprendiz e sua simbologia.

Autor: Dermivaldo Colinetti Leonel Ricardo de Andrade
ARLS Rui Barbosa, Nº 46 – GLMMG - Oriente de São Lourenço

Referências

Os painéis da Loja de Aprendiz – Rizzardo Da Camino – Ed. Maçônica “A Trolha”
O Aprendiz Maçom – Rizzardo Da Camino – Ed. Madras
Revista “A Trolha” nº 201 – Trabalho: O Simbolismo do Esquadro e do Compasso - Ir\
José César B. De Souza – páginas 39 a 41 – Ed. Maçônica “ATROLHA”
Revista “A Trolha” nº 193 – Trabalho: A Simbologia Maçônica do Painel de Aprendiz - Ir.'.Alcides Pereira Filho – páginas 38 a 41 – Ed. Maçônica “ATrolha”
Ritualista Maçônica – Rizzardo Da Camino – Ed. Madras
Simbologia Maçônica dos Painéis – Almir Sant´anna  Cruz - Ed. Maçônica “A Trolha”.


A MORTE



A oposição entre a morte e a vida é uma das questões mais antigas que a humanidade enfrenta. No entanto, morrer opõe-se a nascer, enquanto Alfa e Ômega de cada tempo de vida.

No mundo ocidental estamos habituados a temer o outro, ou seja, tudo o que é contrário; somos nós ou os outros; se temos vida tememos a morte. Branco ou preto, opostos ou complementos. Antítese. 

No mundo oriental, encontramos a síntese da vida e da morte. Ambas fazem parte do caminho, entrelaçadas, permitem ao homem que avança para a morte saber-se imortal.

A morte será real ou simbólica?

Toda a morte é simbólica e iniciática, permitindo-nos ingressar numa nova vida, renascendo interiormente e transmutando o nosso íntimo, o nosso verdadeiro ser. Não é apenas uma inevitabilidade, mas pode ser também o caminho para uma nova oportunidade, um recomeça.

A morte é fundamental na iniciação maçônica, representando um ritual de passagem do profano para iniciado, constitui uma oportunidade de aceder a uma nova visão da realidade, transformando os metais inferiores, de que necessitei de me separar, em metais superiores dos quais já não será necessário despojar-me.

O tempo de vida do iniciado dá-lhe uma nova oportunidade de vencer o vício e as paixões abrindo o caminho da Luz e da Verdade, libertando o espírito dos grilhões impostos pela razão, como nos transmitiu Paracelso, para quem o conhecimento visionário se substituirá à compreensão literal dos textos.

Este é o tempo para buscar o conhecimento primordial e fundamental, que diz respeito à natureza divina da própria essência do ser, em que a alma surge como centelha de luz divina. Branco.

A informação incorreta remete para o temor, em que a centelha de luz está sujeita à influência de forças exteriores e obscuras, no exílio da matéria. Cativos no cárcere imperfeito que é o corpo, somos iludidos pelos sentidos exteriores.

A ilusão, esta Maya que nos confunde e faz acreditar no mundo material. Estamos pois nesta terra, esta Gaya onde os densos véus de Maya nos impedem de receber o influxo espiritual do Sol. Preto.

Esse dualismo, presente em Zoroastro e Platão, cava um abismo entre interior e exterior, sujeito e objeto, espírito e matéria. Dois caminhos paralelos.

O chão de mosaico de ladrilhos pretos e brancos remete para a natureza bipolar da existência terrena. A quimera da luz e das trevas, forma e matéria. Conduz ao Santo dos Santos que contém o fogo espiritual eterno que nenhum mortal pode ver.

Resta-nos a alquimia. Corpo hermético que nos possibilita a nossa própria transmutação. Transmutação dos metais. Alegoria da transmutação da nossa própria alma. Este é o nosso trabalho enquanto alquimistas. A nossa verdadeira obra alquímica. A arte real.

Três são as substâncias que dão a cada coisa o seu corpus, dizia Paracelso. O que arde é enxofre, o que deita fumo é mercúrio, o que se transforma em cinzas é o sal.

O sal é o sedimento físico, o cadáver. O par alquímico enxofre e mercúrio, Sol e Lua, Masculino e Feminino, unem-se apenas pela ação do fogo salino. O enxofre e o sal são duas forças em perpétua oposição.

Enquanto o enxofre simboliza tudo o que nos induz movimento, mudança, criação e expansão, o sal remete para tudo o que na nossa vida constitui estabilidade, resistência e inércia. Um precisa do outro, pois são dois pólos da Energia Universal. O equilíbrio entre estas duas tendências produz o mercúrio vital, princípio da inteligência e da sabedoria, caminho para as virtudes.

Morrer e renascer. Branco e Preto

Chegaremos ao ternário, harmonizando os opostos, refletiremos no mundo a unidade inicial. Encontraremos os três pontos. Força, Beleza e Sabedoria; Fé, Esperança e Caridade; Liberdade, Igualdade e Fraternidade; Osíris, Íris e Hórus; Brahma, Vishnu e Shiva; Enxofre, Sal e Mercúrio; Pai, Mãe e Filho.

Chegaremos ao triângulo, símbolo de Perfeição, Harmonia e Sabedoria.

A morte como transcendência da vida humana não é algo evidente. Cremos que a morte é deixar de viver, no entanto se a alma supera a morte, então a morte é o meio para alcançar una nova vida.

Morrer é voltar a viver

Isto é defendido por muitas doutrinas que acreditam que os homens constam de um corpo corruptível e de uma alma imortal.

A alma é um princípio imaterial que anima o corpo. Esta imaterialidade é o que assegura à alma a sua imortalidade, não podendo se extinguir porque é uma centelha divina, uma participação do seu criador, o GADU.

Como nos transmitiu William Shakespeare, nós somos feitos da mesma matéria que os sonhos.

Refletir sobre a morte obriga-nos a refletir sobre a vida

A Câmara de Reflexões, isolando-nos do mundo, propícia a introspecção profunda, “o conhece-te a ti mesmo“, na busca da pedra filosofal. Sepulcro e ovo; a Câmara permite-nos pensar a morte não como um fim, mas como um começo.

Superamos a prova da terra, qual grão de trigo que atirado a terra teve de germinar, abrindo o caminho para a luz. Afinal descemos ao interior da terra, penetramos para lá das aparências e retificando a nossa forma de ver, pensar e agir encontraremos a pedra filosofal, essencial na nossa própria transmutação. 

Encontramos o pão. O grão de trigo fez o seu caminho. Também nós temos de fazer o nosso caminho. Desbastar a pedra bruta. Só a pedra cúbica poderá ser utilizada na construção do templo.

Depois, morrerá o “eu inferior”, sendo integrado e alinhado no “Eu Superior”, queimando de vez o Karma, que se tornará Dharma. Chegará o momento de sair da roda de Samsara, pois terminará o ciclo das reencarnações, em que a jangada após atravessar o rio, permite ao passageiro alcançar o Nirvana.

A morte representa o desconhecido. Por isso, é fonte natural de receios e angústias. No entanto, é vulgar encontrarmos entre os profanos a aceitação da morte pela sua inevitabilidade e apenas tementes da dor que acompanha a corrupção do corpo, imposta pelo avançar do tempo ou pelo malho, que nos tomba através da doença ou de acidente. Quando compreendermos a morte estaremos a compreender a vida.

A morte é muitas vezes a única solução que resta numa vida sem sentido, possibilidade de recomeço quando o rio da vida não pode mais seguir o seu caminho e até o livre arbítrio deixa de poder ser exercido.

Encontramos neste caso suicidas, mas também pessoas insuspeitas que desenvolvem todo o tipo de doenças psicossomáticas, forma discreta da alma se livrar do corpo.

Outros casos existem que exigem reflexão mais profunda e que não poderemos explorar. Ficam para outra oportunidade.

A Acácia florescerá onde for plantada.

A morte foi objeto de muitas manipulações ao longo dos séculos. A forma como enfrentamos a morte influencia decisivamente a forma como vivemos. O medo da morte pode paralisar a vida. Por isso, tantas e tantas vezes no passado, o medo da morte foi usado para controlar os impulsos dos injustiçados. Superar esse temor liberta-nos.

Atingimos um poder imenso. Aproximamo-nos da liberdade.

Aqui chegados, importa clarificar que não dizemos “que viva a morte” como o personagem funesto da guerra civil espanhola, mas sim não temeis a morte! Pois, a nossa verdadeira essência é imortal.

A ampulheta marca a brevidade do nosso  tempo de vida até que a gadanha ceife o fio que nos liga ao veículo que nos transporta nesta passagem e nos lance na eternidade. Assim, importante é a maneira como empregamos este tempo que nos é concedido. Imenso privilégio poder partir nessa viagem estando em completa paz interior.

No momento de passar ao Oriente Eterno, deixamos, então, o nosso corpo, iniciando a viagem em direção à Luz, penetrando o túnel inundado de luz e escutando a música das esferas no regresso a casa. Até renascermos e voltarmos a ver-nos numa Cadeia de União.

Autor: J. Paulo
Bibliografia
Blaschke, Jorge e Rio, Santiago, A Verdadeira História da Maçonaria, Quidnovi, Matosinhos, 2006. Blavatsky, Helena Petrovna, As Origens do Ritual na Igreja e na Maçonaria, Editora Pensamento, São Paulo. Camino, Rizzardo da, O Aprendiz Maçom, Madras, São Paulo, 1996. Camino, Rizzardo da, Rito Escocês Antigo e Aceito (1º ao 33º), Madras, São Paulo, 1999. Figueiredo, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, 2ª Edição, Revista e Aumentada, Editora Pensamento, São Paulo, 1996. Guénon, René, Os Símbolos da Ciência Sagrada, Editora Pensamento, São Paulo, 1993. Jacq, Christian, A Viagem Iniciática ou Os Trinta e Três Graus da Sabedoria, Edições ASA, Porto, 1999. Jacq, Christian, O Mundo Mágico do Antigo Egipto, Edições ASA, Porto, 2000. Leadbeater, Charles Webster, A Vida Oculta na Maçonaria, Editora Pensamento, Tradução da 2ª Edição de 1928, São Paulo, 1997. Lepage, Marius, História e Doutrina da Franco-Maçonaria, Editora Pensamento, São Paulo, 1978. Palou, Jean, A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática, Editora Pensamento, São Paulo. Wilmshurst, Walter Leslie, Maçonaria – Raízes e Segredos da sua História, Tradução Portuguesa, Prefácio, Lisboa, 2002

OS FALSOS MITOS DA MAÇONARIA



A Maçonaria tem sido relacionada a uma série de lendas sobre sua origem ou possíveis escolas filosóficas ou esotéricas, a maioria dessas origens é errônea e tem base menos histórica do que o apoio.

No entanto, e especialmente durante o século 18, muitas lojas maçônicas incorporaram símbolos e elementos dessas tradições na bagagem cultural e simbólica da Maçonaria. Por esse motivo, existe uma confusão generalizada de origens reais ou pelo menos historicamente comprovadas.

As origens míticas mais comuns com as quais a alvenaria está relacionada são:
As escolas romanas: Nas áreas conquistadas pelo Império Romano, foram constituídas as chamadas escolas romanas, que tinham a função de transmitir a cultura romana nas novas províncias. As escolas que de alguma forma se relacionavam com o que poderíamos chamar agora de "indústria de guerra” tiveram alguma relevância .

Eles seriam os tignarii (carpinteiros); os aerarii (trabalhadores de bronze e cobre) e tibicines (tocadores de flauta) ou trinickets (trompete). Cada comércio formou um século, dividido internamente entre jovens e idosos (junior-seniors). Cinco outras faculdades de artesãos não formaram séculos e não tinham direitos eleitorais.

A escola pitagórica: era uma escola fundada por Pitágoras por volta de 500 AC. 

Considera-se que os fundamentos da matemática, como a ciência, são estabelecidos lá. Era uma sociedade quase religiosa onde o segredo era mantido sob juramento. 

Não era uma irmandade, mas uma comunidade de famílias. Todo o conhecimento foi transmitido verbalmente.

Os mistérios de Elêusis: eram ritos de iniciativa, que eram celebrados nas épocas da colheita sob a invocação das deusas Deméter e Perséfone, os ritos, bem como as crenças de seus iniciados, eram mantidos em segredo ciumento, com componentes religiosos, porque tinham recompensa em uma vida futura e o poder de se comunicar com a divindade.

A tradição egípcia: Essa origem mítica visa fazer com que os construtores de pirâmides evoluam em uma espécie de fluxo oculto de transmissão de técnicas profissionais que atingiriam a Idade Média e eclodiriam novamente nas sociedades de construtores.

Mistérios mitraicos: Eles faziam parte de uma religião, o mitraísmo que apareceu no Oriente Médio no século II AC, sua operação foi desde a transmissão oral de iniciada a iniciada e teve uma forte implantação entre as tropas romanas. Foi um grande concorrente do cristianismo até que foi declarado ilegal no ano 391 de nossa época pelo imperador Teodósio.

Esoterismo cristão: alguns autores queriam ver em diversas lendas bíblicas uma origem da Maçonaria. Das teorias que afirmam que os irmãos Caim ou Abel são de fato uma imagem de dois tipos de sociedade, um bruto e analfabeto representado por Caim e um ilustrado e refinado representado por Abel sendo o "primeiro" maçom das teorias que relacionam a Maçonaria a Ordem do Templo , passando por uma teoria do cristianismo esotérico fundada pelo apóstolo João em contraste com o cristianismo de Paulo.

Correntes esotéricas: Mesmo entre os maçons, não é incomum encontrar alguém que especule sobre os significados esotéricos de ritos e símbolos. 

Mas é a própria maçonaria esotérica? Se nos referirmos à pura concepção do termo esotérico (do gr. Esoterikós) que significa interior e seu significado moderno de oculto ou reservado, talvez se pudéssemos dizer que a Maçonaria é esotérica, porque todos mantemos um silêncio baseado nos 'segredos'.

Eles são confiados a nós. Se nos referirmos à concepção da palavra esotérico como um contraste antagônico de exotérico (do gr. Exoterikós) que significa exterior ou em seu sentido moderno acessível a todo o mundo. Não há dúvida de que a Maçonaria é esotérica. Nossa Ordem baseia-se precisamente na reserva de nossos símbolos que adquirem um significado muito mais profundo dentro das lojas do que o que eles têm à primeira vista e exotericamente.

Esse uso de símbolos é precisamente o que nos diferencia de qualquer outra associação fraterna. E devido à reserva que fazemos deles contra a sociedade, nos tornamos, por definição, uma sociedade esotérica.

Continuando com a compreensão das palavras que usamos se para uma pergunta semântica e também real, a Maçonaria é esotérica, os membros são Iniciados, pois fomos instruídos no modo de estudar uma série de símbolos, que são, como disse antes, corte esotérico ... Mas a Maçonaria vai além do seu esoterismo?

Minha opinião é não. Os usos e costumes da Maçonaria são o que fazem dela o que é, sem mais, sem ir além.

Por que então o racionalismo versus argumento? Esoterismo?

Em minha opinião, é um problema de misturar conceitos que não são esclarecidos e mal repetidos que hoje, as pessoas que se aproximam de nós, ou não sabem que somos (a maioria) ou que sabem algo, nos vêem como uma sociedade que possui mistérios mágicos que obviamente não temos.

A luta para nos desassociar do tópico que relaciona a Maçonaria a todos os tipos de adivinhos, grupos místicos e outros grupos com crenças irracionais é complexa e difícil, mas necessária. É importante dizer muito claramente que a Maçonaria não tem nada a ver com esses grupos. O racionalismo e a absoluta liberdade de consciência são pilares maçônicos.

Fonte “O Malhete”

A CAVERNA, O CANDIDATO E O APRENDIZ



No Mito da Caverna, Platão nos faz imaginar gerações de homens, mulheres e crianças, acorrentadas pelos pés, mãos e pescoços, no interior de uma caverna, onde nasceriam, viveriam e morreriam, sem nunca vislumbrar sua entrada.

O mundo dessas pessoas é um campo distorcido, formado por sombras dantescas projetadas nas paredes pela forte luz proveniente da entrada, sendo essa a única visão daqueles que lá vivem, e por sons guturais, criados por obra do eco em sua estrutura.

Até que então, um dos membros do grupo desperta da inércia generalizada que acomete seus pares, rompe os grilhões e foge para conhecer o terreno exterior.

Quando retorna percebe que não mais consegue se comunicar com os que lá permaneceram, sendo até mesmo agredido por pensarem que suas histórias sobre como é a vida do lado de fora de fato, nada mais são que mentiras descabidas.

Ele decide então se manter calado quando lá estiver, uma vez que não estão preparados intelectualmente para assimilarem sua descoberta, já que foram condicionados durante gerações a uma determinada “verdade”.

O candidato, que deseja conhecer os Augustos Mistérios da Maçonaria, também se encontra em uma caverna.

Acorrentado, desconhece a verdade sobre o globo terrestre, sobre seu corpo e sobre o SEU EU.

Preso ao mundo profano, as imagens que lhe chegam por sombras na parede da vida lhe enganam.

E os sons distorcidos que vão até seus ouvidos ajudam na criação do engodo promovido pelo Establishment, privando-o do conhecimento do EU Verdadeiro.

Na Câmara de Reflexões, com a tênue luz que lhe é oferecida, ele começa a romper as correntes que teimam em lhe negar o advento da Verdade.

Decidido a morrer e nascer para uma nova vida, após meditar sobre seus atos, redige seu testamento.

Durante a cerimônia, o ainda candidato, privado da visão é instado a se utilizar de seus outros sentidos, como preparação da jornada que está prestes a iniciar rumo à liberdade.

Já como Aprendiz, mas na escuridão do Norte, ele inicia todo o processo de conhecimento do Verdadeiro EU, começando os trabalhos de cavar masmorras ao vício e levantar templos à virtude.

Livre dos grilhões, das sombras e dos ecos, ele pode agora mergulhar na viagem do autoconhecimento, preparando seu espírito para o caminho que o levará à Verdadeira Luz.

Bom dia meus irmãos.

Luiz Viegas M.'.M.'.


APRENDIZES E COMPANHEIROS: ESPELHOS DA HIERARQUIA SOCIAL?



Atualmente a maçonaria tupiniquim, infelizmente, tem um pensamento corrente de que duas de suas três classes de maçons não têm direito a fala e muito menos a escrita (no caso Aprendizes e Companheiros).

Acredito que este pensamento tenha raiz em um modelo antiquado de hierarquia, e para tratar o assunto traremos hoje um texto “num” formato nunca visto antes por essa área desolada da internet. Para tanto eu contei com a ajuda de um Grande Irmão que trabalha e vive na terra da Rainha.

No famoso grupo de estudos sobre “ciências maçônicas” (me superei aqui) Ritos e Rituais eu levantei uma pergunta direcionada ao Irmão Felipe Côrte Real de como os ingleses tratam os trabalhos (textos, monografias, artigos, peças de arquitetura e etc.) que são confeccionados por irmãos aprendizes e companheiros, confira agora a pergunta e a resposta na íntegra.
Cloves Gregorio – do blog Maçonaria Tupiniquim

Pergunta
Algo interessante a perguntar para você sobre a maçonaria na Inglaterra.

Aqui no Brasil infelizmente há uma cultura de não se levar a sério o estudo e artigos de Irmãos aprendizes e companheiros. O que na opinião de todo mundo aqui (acredito) é uma grande idiotice.

Enquanto peças extraídas do livro de Rizzardo são altamente elogiadas, peças com pesquisas dignas de cunho acadêmico são sumariamente descartadas e ainda ganham a alcunha de “você pesquisou na internet, basta o seu ritual”.

Quando você confeccionou o artigo “Protect the integrity”: regularidade no discurso das relações maçônicas internacionais entre Brasil e Inglaterra (1880-2000), o mano era companheiro, porém o mano é doutorando em História e como o tal sabe fazer pesquisa e escrever sobre com maestria. Como é essa percepção na Inglaterra?
Resposta

Meu irmão Cloves, a tua pergunta me é tão cara e possui tantas camadas que merece uma resposta de igual complexidade, por isso escolho esta carta aberta ao nosso grupo para respondê-la.

Sou DeMolay desde 2000 e maçom desde 2012. Escolhi entrar tardiamente na maçonaria, não sendo, felizmente, por falta de convite. Então, como os irmãos DeMolays podem confirmar, tenho conhecimento dos maçons brasileiros não somente a partir de 2012. Logo, eu sabia muito bem no que estava me metendo.

A cultura de desmerecer aprendizes e companheiros, a meu ver, está ligada ao pernicioso “classismo” que podemos testemunhar no dia a dia.

O irmão sabe bem que a cultura escravocrata e patriarcal está incrustada em nossa sociedade. Como a maçonaria brasileira não recruta seus membros em Marte, ou na Suíça, acabamos por ter nas lojas, e nas obediências, um microcosmo que retrata o Brasil.

Ser “superior” e destratar ou desmerecer “quem está abaixo” é tão natural para a nossa cultura quanto falar sobre o tempo aqui na Inglaterra.

Em muitas lojas, a relação entre aprendizes, companheiros e mestres reflete isso. 

Então, claro, como o irmão bem ressaltou, a maioria dos maçons que merecem essa alcunha irá concordar que isso é, no mínimo, uma subversão do espírito que anima a maçonaria.

O Rizzardo da Camino, entre outros escritores “maçônicos”, merece um artigo crítico (e me refiro aqui ao sentido acadêmico da palavra) sobre suas obras. Acho que tais escritores possuem grande importância, porém trazem uma interpretação demasiado mística da maçonaria. Tal interpretação não me agrada como maçom e tampouco como acadêmico.

Essa mistificação, ou “beatificação”, promovida por parte dos maçons brasileiros pode ser vista na postura sectária com a qual as potências e os ritos são vistos e comparados.

A prova de que isso é estrutural e estruturante da nossa sociedade é que nas universidades brasileiras a mesma coisa acontece: se você é da linha de pesquisa X, deve se opuser sistematicamente aos fulaninhos da linha de pesquisa Y.

Claro que isso é suavizado pelo nosso “deixa disso” ou como escreveu Sérgio Buarque de Holanda, pela cultura do homem cordial. Porém, no fim do dia, os ritos e as potências continuam sendo “igrejinhas”, com seus teólogos, padres e devotos.

É normal que muitos maçons brasileiros enalteçam tais interpretações mistificadoras, pois estas vão ao encontro da nossa interpretação religiosa do mundo. Basta observarmos quais assuntos são “tabu” ou “polêmicos” no Brasil, todos eles são assim vistos por causarem desconforto em relação a valores que são noves fora, religiosos. É daí também que vem parte da desconfiança quanto ao conhecimento acadêmico, pois este sempre terá por missão fazer uma leitura crítica, ou a contrapô-lo, da realidade, seja esta leitura partindo da Física, da Sociologia, da Química ou da História.

Essa resistência ao uso de trabalhos acadêmicos também está ligada a um receio de subversão da ordem social. Há certa cota para self-made ma no Brasil. A trajetória deste prosélito deve ser balizada por uma série de pontos de vista específicos para que este se ajuste perfeitamente entre seus novos pares, de modo a não causar nenhuma “desordem” ou “desconforto”.

Não é a toa que a hierarquização dos saberes funciona em nosso país com em nenhum outro, respeitamos as profissões que estavam disponíveis durante o Império (Direito, Medicina e Engenharia), sendo as outras vistas com desdém e/ou suspeição.

Algumas dessas profissões fora do eixo ascendem a uma categoria melhor por serem bem pagas.

O “tu és o quanto tu ganhas ou o “teu contracheque designa o quanto sabes” são dois exemplos de regras veladas da nossa sociedade que no âmbito das lojas, muitas vezes, podem ser percebidas.

Se somente o ritual basta para fazer uma peça de arquitetura, significa que está sendo pedida uma eisegese do que ali está escrito. Isso implica, na prática, supor que o ritual é “ahistórico”, que ninguém o escreveu e se o fez, o fez em tempos “imemoriais”. Creio que nenhum maçom sério crê nisso. Crê-se, está transformando a maçonaria em religião ao exigir um credo ut intelligam (eu creio para que possa entender).

A minha pesquisa sobre a maçonaria é feita como acadêmico, sempre.

Tenho peças de arquitetura escritas para a minha loja no Brasil e somente essas são feitas com um cunho maçônico. Então o fato de ser aprendiz, companheiro, mestre ou “past GADU” não faz a mínima diferença quando se estuda a maçonaria academicamente. Inclusive, alguns dos melhores acadêmicos na área não são maçons.

Isso porque o segredo da maçonaria (a meu ver e na visão de outros acadêmicos mais afamados) está na performance do ritual e na experiência subjetiva de cada maçom. Fora isso, tudo está publicado e acessível, principalmente se você for um pesquisador profissional.

Na Inglaterra a maçonaria é uma fraternidade com um caráter muito semelhante aos clubes, claro, com suas trezentas especificidades. A maçonaria é vista aqui, por grande parte da população, como algo secreto, oculto e etc.

Porém, a própria UGLE está se encarregando de desmistificar esta visão, como o irmão já deve ter percebido através de séries para a televisão como Inside the Freemasons. Claro que o meu “eu” adolescente, DeMolay empolgado e candidato a candidato a maçom, não gosta muito dessa ideia, pois ele começou a gostar disso pelo caráter de mistério.

Porém o adulto, maçom e acadêmico, vê com bons olhos essa iniciativa, pois não há como a maçonaria continuar relevante no século XXI sem que haja a promoção de mudanças substanciais. Do contrário, viraremos, em questão de anos, um grupo folclórico. Alguns diriam que já somos.

Pessoalmente, a grande diferença aqui nessa relação entre maçonaria e academia é o fato de ser respeitado por ser um doutorando (PhD Candidate). E não digo somente entre os maçons, mas socialmente. A questão de as pessoas entenderem que você está abdicando, sim, de uma série de coisas para colocar mais um tijolinho na grande obra que é a construção do conhecimento e que esta é a sua profissão, é algo inenarrável.

Nada de perguntas com “Você SÓ estuda?”, a qual eu sempre quero responder “Não, eu também consigo dar um mortal para trás enquanto canto o Hino da Bulgária”.

A UGLE me trata com a maior deferência, já que estou me especializando em uma de suas coleções. O respeito dos funcionários e das diretorias é ímpar. Identifiquei-me como maçom para dois dos irmãos que lá trabalham, mas depois de meses e totalmente por acaso.

Grande parte dos funcionários da Library and Museum of Freemasonry não são maçons e podes ter certeza mano Cloves, eles colocam qualquer “sabão” (aquele que sabe tudo, segundo grande Maurício de Sousa) no bolso quando o assunto é maçonaria.

O que me enche de esperança é essa geração nova, que em certa medida também é a nossa, que está vindo cheia de perguntas e curiosidade.

Embora tenhamos de reconhecer os vários irmãos que por muito tempo lutaram e lutam para que a maçonaria seja algo mais que aventais e medalhinhas. “Porque sim”, ou “porque sempre foi assim” ou “porque fulano disse”, nunca serão respostas para nada, muito menos para a maçonaria.

Em minha opinião, como maçom, o que falta em parte da maçonaria brasileira é autocrítica, o famoso “se enxergar”. Falamos tanto em perfeição, temos nomes tão pomposos para tudo que, eventualmente, acreditamos que estamos num grupo mega especial que em nada reflete ou promove a situação extra-loja.

Poderia falar num tom hierático que o que falta é humildade e blá blá blá, porém creio que só falta bom senso e coerência, mesmo. A maioria das discussões que leio ou ouço são incoerentes ao ponto da esquizofrenia, sem nenhuma definição conceitual clara e principalmente, com modelos de pesquisa ou de formulação de problema dignas do século XIX (ou nem isso).

Eu sei que me alonguei mano Cloves, mas as suas perguntas são sempre inteligentes e cheias de nuances, então resolvi tomar um tempo para responder adequadamente ao menos uma.

Um tríplice e fraterno abraço do seu irmão,

Felipe Côrte Real de Camargo
Fonte: Maçonaria Tupiniquim

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