A CONDUTA DE UM MAÇOM JUSTO E PERFEITO


Pelos dispositivos constitucionais e regulamentares maçônicos, a base de todos os nossos compromissos é firmada na Honra e na Justiça.

Isto quer dizer, pois, que todo maçom deve ser honrado e justo, não só porque assim participará da grande família dos OObr.'. do bem – incomparável pela sua moral – como porque, essas são as qualidades que o Criador inspira às suas criaturas para sua felicidades neste mundo de padecimentos.

E, quando dizemos imperativamente que o maçom deve ser, é tão somente porque espontaneamente ele assumiu uma grande responsabilidade no momento em que, também espontaneamente, se filiou à grande instituição.

Não pode, portanto, deixar de mostrar praticamente, a beleza dos princípios maçônicos, porque, ninguém o tendo obrigado a assumir deveres de caráter tão graves e elevados, desviando-se da sua fiel observância, só poderá esperar, como recompensa, o desprezo da família maçônica.

Não é idêntica, porém, a repulsa que a sociedade profana inflige aos casos de infração moral, porque, entre os maçons, é imediata e efetiva, depois da sentença de um tribunal verdadeiramente equitativa, que não fecha ao afligido as portas da reabilitação, visto que a nossa justiça não é mais do que a caridade pura.

Deve o maçom trilhar constantemente, o caminho da perfeição moral, porque, assim, convencerá aos seus inimigos de ideais – e praticamente – de que a Maçonaria procura, em realidade, elevar o nível do caráter de todos quantos fortalecerem as suas colunas.

Que a conduta do maçom seja sempre a da Honra e da justiça, e que, longe de preceitos religiosos, impróprios de um homem de bem, respeite todas as religiões porque todas procuram concorrer para o bem social.

Só assim, com essa prática, não atribuirá a nenhuma superioridade sobre as demais, revelando desse modo, ainda, a noção perfeita da tolerância, elemento essencial para a prática perfeita da Fraternidade.

GRUPO MAÇÔNICO ORVALHO DO HERMON 
Fundado em 31 de maio de 2006

Rio de Janeiro – RJ – Brasil

A MAÇONARIA E O SALMO 133

O Livro da Lei, símbolo da vontade suprema, integra os ornamentos de uma Loja Maçônica, o mesmo impõe as crenças espirituais estabelecidas pelas religiões (seja ela qual for) e não se traduz apenas o Velho e Novo Testamento dos cristãos, mas de acordo com a filosofia religiosa de cada povo. Ao livro se juntam o Esquadro e o Compasso constituindo as três Grandes Luzes da Maçonaria.
O Livro da Lei é considerado indispensável nos trabalhos de uma Loja Maçônica. Sua presença foi estabelecida em 1717, a partir da fundação da Grande Loja da Inglaterra, de onde veio o costume para as Lojas abrirem a bíblia no Salmo 133.
Não é regra geral, dependendo dos costumes locais se usam outros livros sagrados (Alcorão, por exemplo).
No Brasil, as Lojas Maçônicas Simbólicas, obedecendo à decisão da Assembleia Geral da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, de junho de 1952, seguem a orientação da Grande Loja da Inglaterra, e costumam abrir o Livro da Lei no Salmo 133, versículos 1, 2 e 3.
No Salmo 133 Davi saúda a vida em fraternidade, vejamos cada um dos três versículos:
 “Oh! quão bom e quão suave é que os Irmãos habitem em união”.
A interjeição “Oh” designa admiração, surpresa, realça o espírito do texto ao relatar a “excelência do amor fraternal”, o grau máximo de bondade e de perfeição causado pelo encontro dos que se amam.
Para os hebreus de antigamente, a palavra “irmão” apresentava significado bem definido. Jerusalém não era apenas a Capital civil, mas também uma entidade espiritual. Em algumas ocasiões, práticas religiosas eram celebradas no Templo de Salomão.
Era um período feliz, pois todos os judeus reconheciam a sua comum irmandade e “habitavam em união” por diversos dias, na Cidade Sagrada para onde todos convergiam.
Mais do que qualquer outro povo, os judeus davam importância à unidade familiar. Os filhos nunca deixavam a tenda do pai, mesmo quando nômades. Quando um rapaz casava, outra tenda era levantada. Somente as moças deixavam o lar, para se mudar para a tenda de seus maridos. Era o ideal da família, que “os Irmãos habitassem em união”.
Assim como os irmãos de sangue sentiam a necessidade de unir-se em torno do Templo Familiar, entende-se que a filosofia maçônica tomou como exemplo essa experiência, para ensinar seus membros a estarem sempre juntos como única família, constituindo o seu Templo Espiritual.
Davi salienta a importância que dava aos povos de diversas aldeias que iam aos templos de Jerusalém para rezar, e Jerusalém acolhia quem quer que fosse, viesse de qualquer lugar. Sugere “…que os irmãos vivam em união…” traçando um programa de convivência amena e construtiva, e veremos que a palavra “irmão” se constitui uma necessidade entre os homens daquela época.
Quando são lidos os versículos do Salmo 133 o texto atua em todos os Irmãos presentes, como unificador das mentes em torno do grande objetivo comum, pois neste momento constitui-se uma egrégora voltada ao criador e à Jerusalém celeste.
“É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Aarão, e que desce a orla de suas vestes”.
O óleo citado acima, usado para unção sagrada,  era uma espécie de óleo muito especial, era um perfume raríssimo à base de mirra e oliva,  usado para ungir os reis e sacerdotes, e ou aqueles neófitos que aspiravam a alguma iniciação. O óleo possuía um valor extraordinário sobre todos os aspectos.
Era o símbolo da unidade e do amor entre os Irmãos. Ungir da cabeça aos pés com óleo era sinal de grande respeito e amor entre os Judeus. Se um convidado fosse recebido para jantar, as boas vindas lhe eram dadas, derramando óleo sobre a cabeça.
Se alguém era bem vindo, o óleo era derramado em abundância e corria livremente da cabeça aos pés, passando pela barba, pescoço até o vestuário. O perfume do óleo dava ao ambiente um odor refrescante.
A barba e o cabelo compridos eram marca de distinção entre os judeus. A barba era um sinal de veneração e virilidade, símbolo de austeridade moral. Os Israelitas evidenciaram especial estima pela barba, a ela conferiam forte merecimento, apreciável atributo do varão, que externava pela sua aparência, sua própria dignidade. Para os Israelitas raspar  ou eliminar a barba demonstrava sinal de dor profunda.
Aarão era Israelita, membro destacado da tribo de Levi, irmão mais velho de Moisés e seu principal colaborador e possui um peso próprio na tradição bíblica, devido ao seu caráter de patriarca e fundador da classe sacerdotal dos judeus. A referência a Aarão é correta, uma vez que ele foi ungido como Alto Sacerdote para Moisés, antes do povo escolhido deixar o Egito em direção à terra prometida.
Atualmente, sentimos alegria em recebermos a visita de Irmãos de outras Lojas, os quais conosco vêm se juntar para a realização dos Trabalhos. E essa satisfação se difunde como o óleo gerando um perfume espiritual que transcende a nossa própria individualidade, uma vez que a união de todos constitui o somatório da força geradora da obra a que todos os Maçons se propõem.
As vestes daqueles que tinham por missão exercitar atos religiosos, como a unção, o sacrifício, o culto, eram de especial significado litúrgico e ritualístico, e variavam de conformidade com os diversos ofícios religiosos para invocação da divindade.
Havia especial preferência pela cor branca nas vestes sacerdotais, nas representações egípcias contemporâneas ou posteriores ao médio império, os sacerdotes usavam um avental grosseiro e curto, já o sacerdote leitor, usava uma faixa que lhe cobria o peito como distintivo de sua categoria, enquanto que o sacerdote vinculado ao ritual de coroação exibia uma pele de pantera.          
No velho testamento presume-se o uso de um avental quadrado, quando se fala na proibição de aproximar-se do altar.
Então o óleo sagrado era jorrado sobre a cabeça da pessoa a ser ungida, descia pela barba e escorria pela orla de suas vestes.
“É como o orvalho de Hermon que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre”.
O esplendor da natureza oferece a magia do orvalho, que desce das alturas para florir de viço às plantas, nada mais belo e nada mais sedutor do que o frescor das manhãs. No capim deposita-se o orvalho em gotículas que, juntando-se umas às outras, vão nutrir a terra ávida de alimento, parecem espadas de aço ao calor do dia, nas pétalas floridas, formando-se pérolas do líquido cristalino, espelho da vida que exulta ao redor.
Agora quando ouvimos “…é como o orvalho do Hermon, que desce sobre os montes de Sião…” esta passagem refere-se ao monte em sua pujança, sua importância para a existência de Israel, dos montes vem o orvalho e o orvalho é a água, a vida, a natureza, o bem mais precioso.
Os montes de Sião são um maciço rochoso  situado ao sul-sudeste do antilíbano do qual se separa um vale profundo e extenso. Antilíbano é a cordilheira que se estende paralelamente ao Líbano, separando-o das planícies de Bekaa.
De todas as cadeias montanhosas, é a que se posta mais ao oriente, pois se situa do nordeste ao sul-sudeste, por quase 163 quilômetros, suas extensões e alturas são visíveis a partir do mar mediterrâneo. Seu ponto culminante é o monte Hermon, com mais de 2.800 metros de altitude, possui neve em seu cume e de lá o vento traz o orvalho.
O Monte de Hermon está localizado ao longo da fronteira norte de Israel, seu nome quer dizer “o que pode ser visto de longe“. Mesmo durante o calor do verão, quando o restante da região está ardendo em virtude do vento seco denominado “siroco”, a neve que cobre a montanha é visível há muitos quilômetros de distância.
A terra pode estar seca e árida, mas a neve, “o orvalho de Hermon”, permanece brilhante e alva. O sistema do rio Jordão é alimentado por esse orvalho que se derrete, tem suas principais nascentes ao sopé do Monte Hermon.
 É uma bênção para a nação, pois o rio corre por um vale entre duas cordilheiras, que são ricas em ferro e cobre, com abundante suprimento de carvão, fornecendo excelente base para a indústria. O solo é alimentado por esta água, e ali se cultivam em abundância azeitonas, uvas e outras frutas.
O Jordão tendo sua foz no Mar da Galiléia torna possível uma intensa indústria pesqueira, colaborando para a produção de alimentos. O monte Hermon, um verdadeiro oásis, contrastando com os países vizinhos, a neve derretida forma os rios e os lençóis de água,
Também chamado de monte de Deus, o monte Sião foi escolhido pelo Senhor para ser sua morada, para todos, o monte será um refúgio seguro e inabalável (Em Salmos 2:6 vemos que Deus mesmo instalou seu reino sobre o monte santo, “Eu, porém, constituí meu reino sobre o monte Sião ”).
O orvalho que escorre de Hermon para os montes de Sião, como o senhor ali mora, é dele que escorre o orvalho abençoado, e todas as suas complacências. O “Orvalho de Hermon” é físico, exterior e visível a olho nu. O que desce da montanha de Sião é escondido, interno, brotando em fontes por debaixo do solo. O primeiro é simbólico, terreno; o outro é espiritual, eterno.
O homem apresenta o aspecto material, temporal, ao lado da manifestação invisível, espiritual. Assim o “orvalho de Hermon” foi de grande significado para a existência da Palestina. “Montes de Sião” era um lugar sagrado, o local do Templo, a Casa do Senhor, onde se ordena “a bênção e a vida para sempre”, o que nos induz a pensar na imortalidade da alma. A irmandade, ou a fraternidade, é uma graça interna e algo que brota de dentro do coração. Seus frutos são facilmente vistos, assim como a cevada, o trigo, as uvas, os figos, que crescem resultantes da neve derretida de Hermon. Essas frutas, embora não eternas, por sua importância para o povo, são símbolo de paz, harmonia, amor.
A benção significa tudo que é bom e lhe é agraciado. Em Hebraico, seu significado é “berakak” palavra que deriva de “Berek” que por sua vez significa joelho. Nota-se a relação entre uma e outra palavra, porque, sendo a benção a invocação das graças de Deus sobre a pessoa que a recebe, deve ser colhida com humildade e unção, portanto, de joelhos em terra, reverenciado e respeitosamente.
Para os Semitas, benção possui força própria e, por isso, é capaz de produzir a saúde, se despertada a sua potencialidade energética, é palavra que se acha envolvida por vibração, carregada de energia dinâmica e magia, como vemos em Gênesis 49:25 “O onipotente te abençoará com a benção do céu, com as bênçãos do abismo, que jaz embaixo, com as bênçãos dos seios maternos e dos úteros”.
Assim “… Porque ali o senhor ordena a benção e a vida para sempre.. ”.
A bênção que todos devemos procurar é o fruto da união fraternal, é a dádiva espiritual, é a vida eterna.
O Salmo 133 encerra o símbolo do Amor Fraternal, com certeza a razão de ter sido escolhido para representar a união dos maçons do Universo.
Honório Sampaio Menezes, 33°, REAA.


OS SÍMBOLOS E OS RITUAIS MAÇÔNICOS: FERRAMENTAS DE TRABALHO


Conta-se que um novo monge, chegado a um mosteiro, é incumbido de auxiliar os outros monges na cópia de textos antigos à mão. Nota, porém, que estão a copiar a partir de cópias, e não de textos originais., o que o leva a perguntar a razão ao superior, notando que, em caso de erro em qualquer cópia, esse seria propagado por todas as cópias seguintes. O superior responde-lhe: «É assim que temos feito há séculos, mas é uma boa questão, meu filho.»

Assim, o velho monge desce com uma das cópias à cripta para comparara-la com o original, e por lá fica horas esquecidas. Não o vendo regressar, os monges, preocupados, enviam um deles ao seu encontro.

Este, ao aproximar-se, ouve o ancião soluçar debruçado sobre um dos livros antigos. Pergunta-lhe o que se passa ao que ele lhe responde, com os olhos rasos de lágrimas: «Aqui diz "celebrado", não diz "celibato"...»

O tempo e as sucessivas passagens de testemunho encarregam-se de que as palavras, os símbolos e os gestos percam o seu significado original, adquirindo eventualmente outros completamente distintos. "Quem conta um conto acrescenta um ponto", diz com razão a sabedoria popular. Aquilo que, na sua gênese, poderia constituir mero artifício literário destinado a ilustrar uma ideia pode, ao fim de algum tempo, ser distorcido pela própria evolução linguística.

Ainda hoje se discute a que se referiria, precisamente, a frase bíblica que diz “ser mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus".

O camelo seria o bicho de duas bossas, ou uma má tradução da palavra grega que significa "cordel", ou ainda um tipo de cabo usado nos barcos para amarrá-los ao cais?

E o buraco da agulha, é mesmo um buraco literal de uma agulha vulgar, ou é uma porta, uma passagem, um estreito, como especulam alguns?

As palavras - simbólicas - ficaram conosco; o seu contexto original perdeu-se. Ficou a ideia que se pretenderia passar: de que aos ricos é difícil"entrar no Reino dos Céus".

Por outro lado, algumas mentes têm tendência para tomar os símbolos por aquilo que representam. A partir deste instinto formam-se verdadeiros cultos: veja-se o das personalidades políticas nos países do bloco soviético ou, mais proximamente, o do Doutor Sousa Martins.

Cientes deste fato, várias religiões têm duras regras de condenação da idolatria, que mais não é do que a adoração de um símbolo, ao tomar-se o objeto por aquilo que ele representa.

O Islã proíbe, por exemplo, qualquer representação de pessoas ou animais, não vá alguém tentar-se e lançar-se em sua adoração; e os protestantes costumam acusar os católicos de idolatria por terem nas suas igrejas imagens humanas.

Quer as restrições alimentares estipuladas por certas religiões como o Islã ou o Judaísmo (segundo as quais não se pode consumir carne de porco, e se impõe que os animais sejam abatidos de forma ritualizada e sangrados) quer a proibição de consumo de álcool pelo Islã, parecem refletir hábitos e costumes anteriores ao surgimento dessas mesmas religiões.
Recordemo-nos de que o álcool desidrata, e que quem o consuma no calor do deserto pode correr perigo de vida; que a carne de porco, rica em gordura, se decompõe facilmente com o calor, podendo provocar epidemias; que o mesmo se pode dizer do sangue, que, se retirado da carne, permite que esta chegue a secar ou, pelo menos, dure mais em temperaturas altas.
Estas medidas constituem por si mesmas, sensatas medidas sanitárias de defesa da saúde pública. Se a sua inclusão enquanto preceito das religiões em causa decorreu de causa humana ou revelação divina já é questão a ser respondida no foro íntimo de cada um.
A Maçonaria tem os seus símbolos e os seus rituais. Os símbolos - que representam princípios, ideias e deveres - servem para evocar, e não para que se lhes preste culto.

Não há nada de idólatra nos símbolos maçônicos. Há, de fato, símbolos e lendas cuja gênese se perdeu; mas persiste o seu significado, que não podemos garantir que seja o original. Há entre os maçons, como em todo o lado, quem tome os símbolos por mais do que eles representam, atribuindo-lhes sentidos oblíquos, afetando significados ocultos, e mesmo especulando encerrarem as mesmas verdades inalcançadas.

 Esta "corrente" existe desde que a Maçonaria existe - e existe ainda hoje - mas a maioria dos maçons tem os pés mais assentes na terra, e considera serem os símbolos, rituais e lendas simples ferramentas de trabalho.

Cada um é, todavia, livre de crer no que quiser, e mesmo de fabricar o próprio objeto da sua crença, mas essa é uma postura que, em certa medida, é contrária ao espírito da Maçonaria, segundo o qual o Homem deveria caminhar para a Luz e para o Esclarecimento.

E aqui se suscita uma questão essencial: onde acaba a liberdade religiosa e começa a superstição e o disparate? Como se concilia, a este respeito, o fato de a Maçonaria defender a liberdade individual (que passa pelo direito de cada um crer no que quiser) com a defesa da Razão enquanto fonte de autoridade e de legitimidade?

Perante princípios antagônicos temos que estabelecer hierarquias; e a Maçonaria dá primazia ao respeito pela liberdade individual, o direito de cada um acreditar no que queira, sobre o interesse em que todos sejam racionais e esclarecidos.

Assim, cada um é senhor de si mesmo e do caminho pessoal que escolheu e, desde que respeite os ideais e princípios maçônicos e a liberdade alheia, tem o direito de não ver questionado, escrutinado ou dissecado aquilo em que acredita.

Paulo M.


MARY´S CHAPEL, A LOJA MAÇÔNICA MAIS ANTIGA DO MUNDO


Quem passa em Hill Street junto à porta n.º 19, não deixa de reparar no invulgar do seu aspecto, desde as colunas jônicas laterais até um misterioso emblema gravado por cima da entrada, que tem sido motivo das mais desencontradas leituras por aqueles que desconhecem estar diante da Mary´s Chapel n.º 1 de Edimburgo, a mais antiga Loja Maçônica ativa do Mundo.

Esse emblema esculpido em pedra sobre a entrada principal portando a data 1893, nasceu de um projeto apresentado pelo Venerável Mestre Dr. Dickson no Lyric Club em 6 de Outubro desse ano e que se destinava a ser colocada aqui. Consiste num hexalfa dentro de um círculo tendo ao centro a letra G resplandecente.

O hexalfa ou estrela de seis pontas com dois triângulos opostos entrelaçados circunscritos pelo círculo designa a Harmonia Universal, a Alma Universal alentada pelo G raiado indicativo de Geômetra, o Grande Arquiteto do Universo, portanto, God ou Deus, que como Espírito (triângulo vertido) elabora a Matéria (triângulo vertido), ambos os princípios não prescindido um do outro (triângulos entrelaçados) para que a Grande Obra do Universo (a sua evolução e expansão incluindo todos os seres viventes dele) seja justa e perfeita, o que se assinala no círculo.

Em linguagem Maçônica, isso quer dizer que os trabalhos de Loja possuem retidão e ordem. Em linguagem hermética ou segundo os princípios de Hermes, o Trismegisto, significa “o que está em cima é como o que está em baixo, e vice-versa, para a realização da Grande Obra”.

Nesse emblema aparecem também muitas marcas em forma de runas pictas (isto é, a dos primitivos habitantes da Escócia, os pictos, que estabeleceram o seu próprio reino) e símbolos de graus maçônicos que vêm a designar em cifra, correspondendo à marca Maçônica pessoal, os nomes dos Oficiais da Grande Loja da Escócia e da Loja de Edimburgo nesse ano de 1893 da qual esta Loja de Mary´s Chapel faz parte como número 1.
Com efeito, entre os triângulos e o círculo aparece a sigla LEMCNºI, “Loja (de) Edimburgo Mary´s Chapel n.º 1”, e dentro dos triângulos 12 símbolos correspondentes aos 12 Oficiais desta Loja, enquanto os 4 símbolos fora do círculo designam os 4 Oficiais da Grande Loja presentes quando se aprovou esta peça artística.
Como exemplo único evitando indiscrições, repara-se no H com o Sol Levante por cima: é a marca pessoal de George Dickson, Venerável Mestre desta Loja de Edimburgo em 1893.
Leva a designação atual de Loja de Edimburgo porque Mary´s Chapel (Capela de Maria), onde a Loja funcionou originalmente, não existe mais. Ela foi fundada e consagrada à Virgem Maria, no centro de Niddry´s Wynd, por Elizabeth, condessa de Ross (Escócia), em 31 de Dezembro de 1504, sendo confirmada por Carta do rei James IV em 1 de Janeiro de 1505. A capela foi demolida em 1787 para a construção de uma ponte no sul da cidade.

Esta Loja é a número 1 na lista da Grande Loja da Escócia (estabelecida em 30 de Novembro de 1736) por lhe ser muito anterior possuindo a ata de uma sessão Maçônica datada de 31 de Julho de 1599, constituindo o documento maçônico mais antigo do mundo e num tempo de transição entre a Maçonaria Operativa e a Maçonaria Especulativa, posto à existência de esta Ordem poder-se repartir por três períodos distintos:
1.º) Maçonaria Primitiva (terminada com os colégios de artífices romanos, osCollegia Fabrorum);
2.º) Maçonaria Operativa (terminada em 1523); Maçonaria Especulativa (iniciada em 1717). Por esse motivo, foi nesta Loja de Mary´s Chapel que William Shaw (c. 1550-1602), Mestre de Obra do James VI da Escócia e Vigilante Geral do Ofício de Construtor, apresentou os seus famosos Estatutos Shaw datados de 28 de Dezembro de 1598, apercebendo-se pelo texto que ele além de pretender regular sob sanções a Arte Real dos artífices, procurava estabelecer uma separação entre os maçons operativos e os cowan, isto é, profanos.

O fato de aqui redigir-se uma ata Maçônica em 1599, pressupõe que a Loja é anterior a esse ano e estaria organizada e ativa desde data desconhecida. Seja como for, esta também foi a primeira Loja Maçônica antes de 1717 a admitir membros que não fossem construtores: Sir Thomas Boswell, Escudeiro de Auschinleck, Escócia, foi nomeado Inspetor de Loja em 1600, o que constitui a primeira informação relativa a um elemento não profissional recebido em Loja de Construtores Livres.

Outros autores dão o nome como John Boswell, Lord de Auschinleck, admitido como maçom aceito nesta Loja. Este John Boswell é antecessor de James Boswell, que foi Delegado do Grão-Mestre da Escócia entre 1776 e 1778.

As atas de 1641 desta Loja Mary´s Chapel igualmente indicam que maçons especulativos foram iniciados nela. Nesse ano foram iniciados Robert Moray (1609-1673), general do Exército Escocês e filósofo naturalista, Henry Mainwaring (1587-1653), coronel do Exército Escocês, e Elias Ashmole (1617-1692), sábio astrólogo e alquimista. 

Reconheceu-se aos três novos membros o título de maçons, mas como não gozavam dos privilégios dos autênticos obreiros, pois o cargo era somente honorário, foram denominados como accepted masons.

Ainda sobre Robert Moray, Roger Dache, do Institut Maçonnique de France, informa que a quando da sua iniciação Moray recebeu como marca Maçônica pessoal o pentagrama ou estrela de cinco pontas, muito comum na tradição dos antigos construtores, com a qual se identificou bastante e a utilizou nas assinaturas de diversos documentos.

Ainda sobre Elias Ashmole, G. Findel, na sua História da Maçonaria, diz que há uma confusão nas datas sobre a sua iniciação Maçônica: Ashmole terá sido iniciado em 16 de Outubro de 1646 em uma Loja de Warrington, Inglaterra, mas o fato é que o próprio escreve no seu Diário ter sido iniciado em Edimburgo em 8 de Junho de 1641.

Em 1720, o artista italiano Giovanni Francesco Barbieri apresentou na Loja Mary´s Chapel um trabalho lavrado em reproduzindo com muita fidelidade a Lenda de Hiram, ou seja, o fenício Hiram Abiff que era o chefe dos construtores do primitivo Templo de Salomão, em Jerusalém.

Sabendo-se que essa Lenda foi incorporada ao ritualismo maçônico cerca de 1725, conjectura-se que Giovanni possa ter sido um dos maçons aceitos da época e que a Lenda já era parte da ritualística Maçônica em Mary´s Chapeldesde muito antes.

Há ainda o registo da visita de Jean-Theophile Désaguliers (1683-1744) à Loja Mary´s Chapel em 1721, visita estranha do filósofo francês Vice-Grão-Mestre (em 1723 e 1725) da recém-formada Grande Loja de Inglaterra. 

Os maçons escoceses duvidaram do seu estatuto e sujeitaram-no a rigoroso inquérito em 24 de Agosto de 1721, até finalmente acreditarem nele e aceitarem-no com as regalias do cargo. Seja como for, não parece que as pretensões de Désaguliers tenham obtido o êxito que procurava, talvez por motivos de recusa de sujeição dos maçons escoceses aos maçons ingleses, o que recambia para a antiga questão independentista.

Foram ainda iniciados nesta Loja de Edimburgo o príncipe de Gales, depois rei Eduardo VII (1841-1910), e o rei Eduardo VIII (1894-1972), que abdicaria do trono britânico para poder casar com a americana Bessie Wallis Warfield.

A caneta com que assinaram o documento da sua iniciação é conservada no museu desta Loja, que o visitante pode ver entre outros objetos relacionados com a longa história dos maçons de Mary´s Chapel.

Aqui fica, em síntese simplificada para o leitor não familiarizado com estes assuntos, a história da Lodge of Edinburgh n.º 1 (Mary´s Chapel), aliás, desconhecida de muitos maçons apesar de ser a mais antiga da Escócia e do Mundo.

Por Vitor Manoel Adrião 


Fonte: Lusophia

BOOZ ou BOAZ?


As discussões bíblicas sempre ocuparam um lugar de destaque nas minhas elucubrações intelectuais. Possuo a Bíblia em mais de 15 línguas, do hebraico ao coreano, passando pelo esperanto e pelo afrikaner.

Há uns 10 anos atrás, depois de velho, comecei a estudar hebraico para tentar ler no original o Antigo Testamento.

Sempre me intrigou a divergência sobre a palavra Booz ou Boaz, citada várias vezes em inúmeros livros da Bíblia. 25 no Antigo Testamento e 2 no Novo Testamento. Pela minha Concordância Bíblica (Sociedade Bíblica do Brasil, Brasília: 1975, pg. 107) são 21 citações em Rute, uma em 1 Reis, 2 em Primeiro Crônicas, 1 em Segundo Crônicas, 1 em Mateus e 1 em Lucas. Para efeitos de simplificação vou considerar somente Rute (Rt 2,1) e o nome de um par de colunas que se encontrava na frente do templo de Salomão (1 Rs 7,21).

O livro de Rute tem como subtítulo Rute nos Campos de Booz (ou Boaz dependendo da versão): “Noemi tinha um parente por parte de seu marido, pessoa importante, do clã de Elimelec, cujo nome era Booz”, Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Ed. Paulinas, 1980, pg. 415. Em latim da Vulgata: “erat autem vir Helimelech consanguineus homo potens et magnarum opum nomine Booz”, Bíblia Sacra – Iuxta Vulgatam Versionem, Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1983, pg. 359.

O livro de 1 Reis: “Ergueu as colunas diante do pórtico do santuário; ergueu a coluna do lado direito, à qual deu o nome de Jaquin; ergueu a coluna da esquerda e chamou Booz (ou Boaz)”, Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Ed. Paulinas, 1980, pg. 518. Em latim da Vulgata: “et statiot duas columnas in porticum in porticum templi cunque statuisset columnam dexteram vocavit nomen eius Iachin similiter erexit columnam secundam et vocavit nomen eius Booz”, Bíblia Sacra – Iuxta Vulgatam Versionem, Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1983, pg. 468.

Depois de uns 4 meses de aula perguntei à minha professora Zahava de hebraico o que era בֹּעַז (leia-se obviamente da esquerda para a direita com os sinais massoréticos criados pelos estudiosos judeus a partir do século VIIº d. C. para ajudar a grafar as informações transmitidas oralmente) e ela singelamente me disse: Boaz.

Ai foi a minha vez de novamente perguntar: o que significa Booz? Ela espantada: o que é isso? Retruquei que era uma forma alternativa para a palavra Boaz. Ela riu e me disse: Isso não é hebraico, pois nele não existem vogais [somente os sinais massoréticos] e muito menos dobra de vogais, a não ser em nomes próprios ou estrangeirismos.

Resolvida a questão com a dona da língua, passei a tentar entender por que o Booz (corrupção da palavra Boaz) penetrou no Ocidente. Entrei em contato com a Bíblia de Jerusalém, reputada de ter os maiores exegetas e conhecedores da Bíblia no mundo, em Paris, pois nos seus textos bíblicos sempre empregou a palavra Booz.

Encontrei um especialista de erudição beneditina e lhe perguntei: qual é o certo Boaz ou Booz? Respondeu-me serenamente: claro que é Boaz. Retruquei na hora: por que a Bíblia de Jerusalém emprega a palavra errada ou corrompida: Booz? Ao que candidamente me respondeu: dado que São Jerônimo traduziu a Bíblia para o latim como Booz, a Igreja manteve a tradição até os dias atuais...

Como é de conhecimento geral, São Jerônimo terminou a versão denominada Vulgada da Bíblia, em latim, traduzido do grego e do hebraico, no ano 405 d.C. Era para os cristãos desde então, a versão universal da Bíblia até a Reforma quando Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, rompendo com o monopólio católico e da língua latina.

A tradução de Lutero para os dois textos acima já emprega o Boaz.
Veja-se o título do capítulo dois de Rute: “Rut liest Ähren auf dem Feld des Boaz” e a citação: “Es war aber ein Mann, ein Verwandter des Mannes der Noomi, von dem Geschlecht Elimelechs, mit Namen Boaz; der war ein angesehener Mann”, Die Bibel nach Martin Luthers übersetzung, Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1985, pg. 281.

O texto de 1 Rs 7,21 é: “Und er richtete die Säulen auf vor der Vorhalle des Tempels; die er zur rechten Hand setzte, nannte er Jachin, und die er zur linken Hand setzte, nannte er Boas“, Die Bibel nach Martin Luthers übersetzung, Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1985, pg. 359.

A versão inglesa do Rei James (Kings James Version – KJV) mantém o Boaz já que os protestantes não tinham por que manter a tradição de São Jerônimo. O capítulo de Rute apresenta no título a seguinte versão: “Ruth Works in the Field of Boaz” e o versículo é o seguinte: “And Naomi had a kinsman of her husband's, a mighty man of wealth, of the family of Elimelech; and his name was Boaz”, Bible KJV.

O versículo de 1 Reis 7,21 é o seguinte: “And he set up the pillars in the porch of the temple: and he set up the right pillar, and called the name thereof Jachin: and he set up the left pillar, and he called the name thereof Boaz”, Bible KJV.

A versão portuguesa da Biblia traduzido por João Ferreira de Almeida reza: “Tinha Noemi um parente de seu marido, senhor de muitos bens, da família de Elimeleque; o qual se chamava Boaz”, Bíblia, Sociedade Bíblica do Brasil, Brasília, 1969, pg. 288.

O versículo de Reis é o seguinte: “Depois levantou as colunas no pórtico do templo, tendo levantado a coluna direita, chamou-lhe Jaquim; e tendo levantado a coluna esquerda, chamou-lhe  Boaz”, Bíblia, Sociedade Bíblica do Brasil, Brasília, 1969, pg. 365.

Conclusão: o correto é a palavra Boaz, visto que pelo exposto, a vertente católica da Bíblia usa o Booz numa homenagem tradicional a São Jerônimo; os protestantes, principalmente os anglo-saxônicos e germânicos por não terem a carga da tradição, usam a palavra certa.

EPÍLOGO MAÇÔNICO
Em época de globalização já é tempo da maçonaria brasileira ver o que acontece no resto do mundo em relação às colunas do Templo de Salomão: Boaz e Jakin. Não há mais desculpas de erros elementares depois da Internet.

O primeiro ritual maçônico publicado no mundo de forma clandestina que causou comoção foi Masonry Dissected de Samuel Prichard em 1730. Na página 18 desse repositório de informações do século XVIII está lá a palavra em letra maiúscula: BOAZ.

Ainda no século XVIII, os maçons ingleses, com o clássico Three Distinct Knocks (Três Batidas Distintas) de 1760, já diziam: “the senior and junior Warden have each of them a Column in their Hand, about Twenty Inches long, which represents the two Columns of the Porch at Solomon´s Temple. Boaz and Jachin”.

Dois anos depois em 1762, o best seller que desvendou os mistérios dos modernos trazia no seu título, em letras garrafais, o recado: Jakin and Boaz.

Em seguida, os franceses, já agora no século XIX também atacam de Boaz. Possuo uma série de Thuileurs (Rituais) franceses do século XVIII e XIX, sendo que o mais famoso e raro é o de Delaunaye que apresenta diversas palavras em hebraico com o nome corrompido e o nome retificado:

Noms corrompus Noms rectifiés Leur signification BOOZ BOHAZ en Force.

Os ingleses desconhecem o Booz que é uma invenção, como se viu acima da Igreja Católica. Desconheço algum livro anglo-saxônico que empregue a palavra Booz. 

Agora em tempos mais recente, o clássico Bernard E. Jones, uma das maiores autoridades inglesas em maçonaria afirma que: “the pillar was named after Boaz...”.

Os norte-americanos, a começar pelo controverso Albert Pike, também desconhecem o que é Booz. O erudito Pike no seu clássico Moral and Dogma pontifica: ”the word Boaz is בעז ".

Ainda nos norte-americanos, suas duas melhores enciclopédias sobre assuntos maçônicos desconhecem a palavra Booz. Robert Mackey na sua Enciclopédia de Maçonaria, no verbete Boaz (inexiste o Booz) declara que: “Boaz. The name of the left hand pillar that stood at the porch of King Solomon´s Temple”. Henry Wilson Coil no seu afamado Coil´s Masonic Encyclopedia no verbete Boaz que faz remissão aos Pillars and Columns apresenta o seguinte verbete: The Two Pilllars or Columns, Jachin and Boaz, with their Pannels.

A revista Philalethes da Sociedade Philalethes nos EUA fundada em 1928 e que congrega os estudiosos da maçonaria norte-americana também só usa Boaz conforme se observa no artigo sobre “The Great Pillar” do Ir. Harry L. Haywood: “the names 'jachin' and 'boaz' by which the two pillars at Solomon's Temple were known, were in each instance a Hebrew form of those old Semitic root-terms. The Hebrews had their own language, religion, culture, but they all had come to them by inheritance, to a large extent, from the older peoples of the Near East, just as our own language, religion, and culture, thought it is peculiarly our own, came to us from Europe and Britain”.

Harry Carr, o José Castellani britânico, apresenta várias citações com Boaz e nenhuma com Booz.

A maior e mais antiga Loja de Pesquisas Maçônicas do mundo, a Quatuor Coronati de Londres publicou até hoje 118 volumes dos seus Ars Quatuor Coronatorum, iniciados em 1886. Compulsando o índice geral de minha coleção completa anotei mais de 20 citações sobre Boaz e nenhuma sobre Booz.

E para terminar, os modernos acadêmicos maçons franceses também atacam de Boaz. Daniel Ligou no seu Dictionnaire de la Franc-Maçonnerie no verbete Boaz: “Seconde colonne du Temple que l´on traduit généralement par ‘dans la force’. Sur le symbolisme general.Cf; Colomne, Temple”.

Todas as Bíblias maçônicas nos EUA, que são versões do Rei James (KJV), constam a palavra Boaz.


Autor Desconhecido

A CADEIA DE UNIÃO


Em todas as reuniões das Lojas que trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceito (mas não só neste rito: por exemplo, também no Rito de Schröder) se reserva um momento para que todos os maçons presentes formem a Cadeia de União.

É um dos momentos marcantes da reunião: ao formarem e integrarem a Cadeia de União, os maçons relembram que cada um individualmente faz parte de um Conjunto. Conjunto que é mais forte do que a mera soma das forças individuais, porque a todas estas se agrega a força da união de todos.

A Cadeia de União simboliza e demonstra ainda o princípio fundamental da plena Igualdade dos maçons. Todos os presentes, desde aquele que dirige a Loja ao mais recente Aprendiz se unem, na mesma exata e igual postura, cada um mero elo de uma cadeia. Não há, naquele momento, distinção alguma, não se atende a graus, a funções, a antiguidades. Todos iguais em comunhão!

É um momento de reflexão, de solidariedade, de união, em que cada um sente que contribui para o grupo - mas também sente que beneficia da força comum do grupo.

A Cadeia de União forma-se perto do final dos trabalhos, já depois de finalizados os debates da ordem do dia. Por muito acesos que tenham sido esses debates, por muito díspares que tenham sido as opiniões formuladas, por muito distantes que porventura estivessem as concepções confrontadas, o debate já terminou, a decisão já foi tomada, ora uma bissetriz traçada com as contribuições de todos, ora uma opção que não será a de todos.

Mas todos contribuíram, leal e esforçadamente, para a assunção da decisão, contra a qual nenhum militará. Todos se reúnem na cadeia de União, onde não há lugar a desacordos, pontos de vista ou discordâncias: cada um assume a sua função de elo de uma cadeia, igual a todos os outros elos, solidário com todos os outros elos. De muitos, e diferentes, se faz um, o grupo, o conjunto.

A Cadeia de União é a expressão da rara capacidade que os maçons adquirem e praticam: conformar e utilizar a diversidade para o bem e o objetivo comum. Todos são diferentes, todos colocam as suas diferenças em prol do grupo, todos são ali iguais.

A Cadeia de União é a prática sempre repetida, que, em iguais proporções, reforça o elemento "cadeia" (cada um é um elo, uma peça de um conjunto) e "união" (todos juntos, todos em comum, solidários).

A Cadeia de União é uma prática pela qual se forma, reforça e assinala a coesão do grupo. Nos momentos em que o grupo assim se une, desvanecem-se os individuais egos, avulta o coletivo, na busca de uma egrégora fortalecida e fortalecedora. Todos os espíritos se unem no mesmo objetivo, na mesma intenção, na mesma prece, na mesma celebração, seja o que for, mas o mesmo...

A Cadeia de União é um gesto, mas é muito mais do que um gesto. É parte integrante do nosso segredo de maçons, não porque guardemos ciosamente a notícia da sua existência (este texto prova o contrário...), mas porque é realmente impossível explicar a quem nunca participou numa Cadeia de União o efeito, a paz, a comunhão, a força, que produz nos membros de uma Loja assim unidos.

É um gesto, mas é muito mais do que um gesto. E o seu significado só é plenamente apreendido por quem nele participa, uma e outra e ainda outra vez e muitas vezes. É um significado que não se ensina. Aprende-se vivendo-o!

Fora de Loja, só se forma Cadeia de União em homenagem fúnebre a maçom que passou para o Oriente Eterno. E aí, então, têm lugar como elos nessa cadeia todos aqueles que se reclamam de ser maçons. Aí não importam reconhecimentos, nem regularidades, nem nada dessas miudezas.


Aí, pessoas de boa vontade e com muito em comum homenageiam uma pessoa de boa vontade que nos precedeu no caminho que todos trilharemos.

Rui Bandeira

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O MAÇOM NÃO NASCE PRONTO!

  Ao ser iniciado, diz-se que o Maçom morreu para a vida profana e renasceu na Verdadeira Luz.  Obviamente, isso é uma simbologia e, o que e...