TRÍPLICE ARGAMASSA


Conceda-nos o auxílio de Tuas Luzes e dirige os nossos trabalhos a perfeição. Concede que a Paz, a Harmonia e a Concórdia sejam a tríplice argamassa com que se ligam nossas obras.
[...].”
Por que começo o trabalho pelo final da ritualística meus Irmãos? Por que se pretende fechar a Oficina? Não, de maneira alguma faria tal violação aos nossos mandamentos. É necessário começar pelo fim, pelo encerramento dos trabalhos da Loja por conta da importância da  das palavras e do sentido “tríplice argamassa”.
A própria ritualística nos traz que a “tríplice argamassa” é composta por 3 (três) elementos que são: a “paz, a harmonia e a concórdia”. Mas por que escolher um tema desses para apresentar em Loja? Para responder tal questionamento necessário trabalhar um pouco a simbologia e o significado desses elementos tão importantes.
No Livro escrito por Raymundo D’Elia Júnior, intitulado “Maçonaria: 100 instruções de aprendiz” há o ensinamento de que uma Loja deve ser edificada a um “templo Interior” diferente do que ocorre com os profanos, ou seja, um Templo onde prevaleça sempre a piedade, a amizade e, ,”sobretudo, extremamente Justo.”  Para o exercício da justiça Irmãos é necessário que tenhamos “paz, harmonia e concórdia”.
Ao longo dos trabalhos que são realizados em grupo, onde cada irmão Mestre tem seu papel fundamental na composição da Oficina, fazendo com que assim, mesmo com o trabalho individual seja composto o “todo”, sendo neste “todo” que as energias começam a fluir e por meio desta energia conseguimos enriquecer o nosso “templo interno”.
O fato dos trabalhos serem em grupo se respeita assim um dos mandamentos da Maçonaria chamado de Landmark. Ainda, não haveria a troca de energias se não existisse o trabalho em grupo, não enriqueceríamos com as experiências dos Irmãos se não estivéssemos em grupo. 
Como ensina D’Elia Júnior, os trabalhos em Loja, em grupo, vertem do Landmark de número 9, com redação da seguinte forma, conforme o referido doutrinador: “Os Maçons se ‘congregam’ em Lojas Simbólicas.”  Logo, toda a Loja deve os Irmãos congregarem e esta congregação deve se dar por conta da argamassa composta pelos 3 (três) elementos, sendo eles: “Paz, Harmonia e Concórdia” que unidos e misturados torna-se a “tríplice argamassa” que une os nossos trabalhos, que une nossas energias, e que une os nossos conhecimentos tirando-nos das trevas. 
Se tivéssemos como sociedade o mesmo proceder que temos em Loja teríamos menos problema, menos desigualdades sociais, menos violência, menos conflito, as relações entre as pessoas seriam mais tranquilas, com base na “Paz, Harmonia e Concórdia”. Essa ‘tríplice argamassa”  nos faz crescer, nos faz termos tolerância e senso de justiça.
Para que os trabalhos ocorram de forma “Justa e Perfeita” é necessário que os Irmãos estejam entrelaçados, unidos por meio da “tríplice argamassa”, pois sem ela não há Loja, se não houver a comunhão em Loja, por meio da União, não há "egrégora", e não fluindo a energia não passamos de simples (re)produtores de um ritual como tantos presentes na vida profana. Sem esta União e a mistura não há a troca de energias e por conta disso não ocorre o aprimoramento individual, não ocorre o “desbastar a pedra bruta” inclusive.
Vejam Irmãos que o V.’.M.’. evoca ao G.’.A.’.D.’.U.’. que una as nossas obras com a “tríplice argamassa”, sendo ingredientes dessa “argamassa” a “Paz, Harmonia e a Concórdia”, elementos faltantes em nossa sociedade.
Vivemos um tempo de preocupação, um tempo de discórdia e de (des)harmonia, um tempo de desencontros e de individualismo intenso. Estamos na era do consumismo, ou seja, da valorização das pessoas pelo o que elas tem sempre vinculado a um patrimônio ou até mesmo a estética de um poder aquisitivo, isso sempre em detrimento ao que a pessoa é como ser humano, como ser no mundo.
No contexto social atual por conta da sensação de insegurança, por conta da globalização das informações por meio da tecnologia, vivemos uma relativização do tempo estático e com isso surge também a sensação de que tudo está perdido e que estamos em desordem total. 
Não podemos esquecer que Illa Priggogine, físico contemporâneo, em seus estudos aponta para ordem inclusive no caos o que é desconhecido por muitos e por conta deste desconhecimento cada vez mais as sensações em sociedade são mais intensas de que vivemos um tempo perdido.
Na contra mão da atualidade percebemos o significado magnífico que tem a evocação  antes relatada que é parte do Ritual, ou seja, o pedido para que o Grande Arquiteto, que é Deus, nos una por meio das nossas obras, bem em um momento que os profanos parecem estar desencontrados e desorientados.
É nesse momento que lembro a aclamação feita por meio de Carta da Poderosa Assembléia Legislativa Maçônica do Estado do Rio Grande do Sul, que clamada para que nós tomemos as nossas posições neste mesmo Estado. No entanto, os irmãos podem estar se perguntando e a dúvida pairando sobre os seus pensamentos, pois a aclamação foi para aqueles que possuem um lugar ou tem a possibilidade de tomar seus lugares em uma posição social de relevância no poder estatal.
Entendo que a aclamação da Poderosa Assembleia foi ao sentido mais lato sensu do que stricto sensu, pois todos nós possuímos uma posição de destaque no seio social no qual estamos inseridos, desde a simples (que não é tão simples assim) posição de pai, chefe de família, empresário, educador, político e etc.; não importa a posição que temos ou podemos exercer, podendo inclusive ser várias ao mesmo tempo. 
É por meio destas posições e dos atos que delas decorrem que podemos plantar nas pessoas, com nossos exemplos de vida, princípios diferentes do que estes do consumo, do tirar proveito das pessoas, da (in)volução presente na sociedade.
É evidente que falta na sociedade “paz”, bem como também falta a “harmonia”, sem contar a falta de “concórdia”, pois aparentemente tenho a sensação de que estamos na era da discórdia, ou seja, é moda discordar mesmo que não se tenha fundamentos plausíveis e razoáveis para fundamentar tal discordância. Quando não vemos pessoas discordar uma das outras e chegar no calor da problematização partirem para a violência física e verbal.
Fraternos Irmãos são necessários e importantes para a evolução de nossa sociedade que passemos exemplos de “paz”, de “harmonia” e de “concórdia”, buscando o consenso e o auxílio do nosso próximo profano. É necessário que venhamos a nos importar com o que acontece em sociedade sob pena de sucumbirmos os mesmos males que vem sofrendo a nossa sociedade, sucumbirmos por valores perdidos.
Bertold Brecht, em um dos seus poemas, retrata da seguinte forma a necessária posição de tomar parte do problema e não ficarmos de braços cruzados para eles, quando necessário for tomemos a dos direitos estabelecidos sob pena de perdermos eles por falta de seu regular exercício, o poema diz o seguinte:
Primeiro levaram os negros, mas não me importei com isso eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários, mas não me importei com isso eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis, mas não me importei com isso porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados, mas como tenho meu emprego também não me importei
Agora estão me levando, mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo. 
Fraternos Irmãos cada vez mais estou certo de que temos que (re)passar a “paz”, a “harmonia” e a “concórdia” que temos entre nós em Loja para a sociedade que vivemos.
Esta (re)passagem se dará por conta dos nossos atos, na nossa probidade, dos nossos ensinamentos aos nossos filhos, aos nossos companheiros de labuta, aos nossos vizinhos, este será o nosso legado e por ele seremos lembrados.

Tiago Oliveira de Castilhos
A.'.
M.'. - A.'.R.'.L.'.S.'. Sir Alexander Fleming 1773, OR.'. de Porto Alegre/RS (Brasil)


O PRINCÍPIO CRIADOR - DEUS


Nem a alma, princípio dos fenômenos da vida e do pensamento, nem a matéria, princípio dos fenômenos sensíveis, bastam para se explicar a si próprias.

Por isso mesmo, ambas devem a sua existência a um outro ser. Conhecer este ser pré-existente, razão última de toda a existência, é conhecer a unidade absoluta a que chamamos Deus. 

A Teodiceia é a ciência que estuda a existência de Deus, única e exclusivamente à luz da razão. Ela se distingue da Teologia, que se ocupa de Deus com o auxílio da razão, esclarecida pela fé.

Segundo a Teodiceia, Deus é o ser absoluto, existente por si mesmo e independente de qualquer outro ser; é o ser perfeito que contém em si a plenitude de todas as outras perfeições, o alfa e o ômega de toda a existência.

A EXISTÊNCIA DE DEUS
Será necessário, e será possível demonstrar a existência de Deus? Duas classes de filósofos pretendem que esta verdade á absolutamente indemonstrável: uns por a considerarem demasiado evidente, e outros por achá-la demasiado elevada.

Os ontologistas e os partidários da evidência imediata afirmam que, sendo Deus o ser primeiro, Ele é também a primeira de todas as verdades e o primeiro de todos os princípios. Assim sendo, a sua existência é evidente por si mesma e, como conseqüência, é impossível demonstrá-la.

Segundo estes filósofos, Deus é a primeira verdade e o princípio de todo o ser existente. Por outro lado, à luz da razão, esta verdade necessita ser conhecida e racionalmente demonstrada. Esta demonstração, à luz da razão humana, inexiste para os positivistas, que afirmam que esta questão é racionalmente impossível, porque o ser que é objeto de hipótese ou de esperanças não pode ter uma certeza científica.

Segundo Pascal, o ser humano é incapaz de conhecer o que é Deus e por isso não pode afirmar que ele existe. Por sua vez, Kant afirma que a existência de Deus é um postulado da lei moral, e o dever de observar esta lei nos obriga a crer na existência de Deus; mas não podemos demonstrar esta verdade.

Para a grande maioria dos filósofos que viveram ao longo dos séculos, a razão humana tem, ao mesmo tempo, a necessidade e a possibilidade de demonstrar a existência de Deus.

As provas da existência de Deus são de três tipos: provas físicas, morais e metafísicas. 
As provas físicas se baseiam na natureza. Pode-se considerar no mundo externo a sua existência real, os movimentos ou mudanças nele produzidos e também a ordem que nele existe. Daí se originam as três provas físicas da existência de Deus:
1. A prova baseada na existência do universo.
2. A prova fundada no movimento, no primeiro motor.
3. A prova originada na ordem do universo, ou prova das causas finais.

A EXISTÊNCIA DO UNIVERSO PROVA A EXISTÊNCIA DE DEUS
O universo se compõe de seres que existem, mas que poderiam também não existir. Logo, estes seres não têm em si próprios a razão da sua existência. Se todo o ser existente tem a sua razão para existir, e se não a tem por si mesmo, tem-na em outro ser do qual recebe a sua existência, Deus.

Segundo os panteístas, este ser primeiro não é Deus; é o próprio universo, considerado como ser único, infinito, tão perfeito ou imperfeito como o é cada uma das suas partes, mas que possui o poder de se aperfeiçoar com toda a sua independência.

Kant, o dekantado filósofo da Crítica da Razão Pura, refuta todas as provas físicas da existência de Deus, afirmando que nenhuma desta provas tem valor por não serem demonstráveis pela razão, mas tão somente são admissíveis como postulado da lei moral.

Na realidade, o universo, no seu conjunto, é apenas uma soma de seres ordenados entre si, numa série continua ou circular, onde cada ser conseqüente tem as características do seu antecedente, mas todos são distintos uns dos outros e, como conseqüência, a sua existência exige uma causa primeira, distinta do próprio universo. E esta causa é Deus.

O MOVIMENTO PROVA A EXISTÊNCIA DE DEUS

O argumento do primeiro motor, formulado pela primeira vez por Anaxágoras (500-428 a.C), foi retomado por Platão no Livro das Leis, e foi desenvolvido por Aristóteles no XII Livro da sua Metafísica. Este argumento recebeu a sua forma perfeita e definitiva dos escolásticos, sobretudo de S.Tomás de Aquino.

Segundo Aristóteles, o movimento, entendido no sentido mais geral e metafísico, pode ser definido como “a passagem da potência ao ato”. Sabe-se que é princípio básico que nada pode passar da inércia para a ação senão através de uma causa inicial: “A água, só se aquece pela ação do fogo, que possui a energia calórica”; do mesmo modo, “o ignorante só se torna sábio pelo ensino do que, ou de quem, está de posse da ciência”. E esta causa somente pode ser encontrada no ser que se move sem ser movido, Deus.

O movimento físico, que é diferente do movimento metafísico, também constitui uma prova da existência de Deus. Se admitíssemos, como Descartes, a inércia absoluta da matéria, considerá-la totalmente passiva e somente capaz de transmitir um impulso recebido, ainda assim, como o movimento físico da matéria existe, ele provém do movimento metafísico, isto é, da ação da vontade, que por meio desta se reduz ao primeiro motor, Deus.

A ORDEM DO UNIVERSO PROVA A EXISTÊNCIA DE DEUS

Este argumento ou prova remonta à mais alta antiguidade. Podemos seguir-lhe os vestígios, desde Bossuet até Platão e Sócrates, que o recebeu de Anaxágoras. Deste último disse Aristóteles: “Quando um homem veio dizer que havia na natureza uma inteligência, causa da disposição e da ordem do universo, pareceu que só este homem tinha conservado a razão, no meio das loucuras de seus predecessores”. O próprio Irmão Voltaire levava este princípio em consideração:

L’univers m’embarrasse et je ne puis songer
Que cette horloge existe et n’ait point d’horloger

O universo me intriga e eu me ponho a pensar
Como existiria este relógio, se não existisse o relojoeiro?

E o próprio Kant, apesar das restrições que inicialmente fez a esta prova, no final admitiu-a como a mais antiga e clara das provas da existência de Deus. O fim de uma coisa é aquele para a qual essa coisa é feita. Assim, o fim dos relógios é indicar a hora, e o fim das facas é cortar. Antes de existir fisicamente, a finalidade dos relógios já existia na intenção do relojoeiro. O fim, a sua finalidade, é, portanto, a verdadeira causa da construção dos relógios.

Assim, fica fácil de entender que toda a finalidade, toda a causa final, supõe uma inteligência que a conceba. É nisto que se baseia a prova das causas finais. A este respeito, Bossuet afirma: “tudo o que mostra ordem, proporções bem estabelecidas, meios próprios para obter determinados efeitos, mostra também uma intenção, um desígnio pré-concebido e, por conseqüência, uma causa inteligente”, Deus.

Existem relações entre a estrutura e a função, entre a anatomia e a fisiologia, seja do globo ocular, seja do estômago, seja do fígado, etc. Isto exige o concurso regular e constante de uma infinidade condições, todas elas necessárias. A verificação destas condições deve ser vista como a pré-figuração do futuro: a célula-ovo contém um adulto com suas características já determinadas: e tanto a célula-ovo, como o seu desenvolvimento, são o resultado de forças puramente físicas, específicas e determinadas. 

Foi necessário que através das forças da natureza, e entre a multidão infinita de combinações possíveis, um delas chegasse a vingar, não uma só vez, mas constantemente, de modo a dar sempre aos elementos de um órgão de um ser vivo a disposição que permita o seu desenvolvimento posterior; mas este órgão contém, de antemão, a função que virá a desempenhar.

Esta disposição ou pré-ordenação constante, e a sua preparação para o futuro, é ininteligível, e não tem uma razão suficiente sem uma inteligência ordenadora. Neste caso, a finalidade é evidente, e o termo futuro é a causa de uma disposição anterior; é a causa final. Só a inteligência pode conceber de antemão a ideia do fim que deve ser atingido.

A ordem do universo, por si só prova, contra os materialistas, a existência de uma inteligência superior, sapientíssima e ordenadora da matéria. Daí, poder-se dizer que a prova das causas finais é o complemento metafísico do qual se conclui, racionalmente, a existência de uma causa infinita, criadora, única, Deus.

AS PROVAS MORAIS DA EXISTÊNCIA DE DEUS
Estas provas, que são deduzidas da natureza moral do homem, são a prova social ou histórica, que se funda na universalidade da crença em Deus; a prova psicológica, que se baseia nas aspirações da razão humana, e a prova propriamente moral, deduzida da existência do dever.

É uma realidade: a humanidade, no seu conjunto, admite com unanimidade a existência da divindade; esta unanimidade supõe a verdade do seu objeto: logo, Deus existe. A unanimidade é provada pela História das Religiões: em toda a parte encontramos a ideia de Deus, sem que seja possível verificar como ela se formou; esta fé em um Ser Supremo é o fundamento da religião dos povos primitivos.

A Escola Evolucionista inglesa, a Escola Etnológica católica, afirmam esta verdade. Este deísmo se encontra em todas as civilizações históricas: China antiga, Assíria e Babilônia, raças semíticas, Fenícias, Egípcias, e Indo-europeias. Se das massas humanas, passamos ao escol intelectual, veremos que a esmagadora maioria dos inventores das ciências positivistas adoravam a Deus. 

Pesquisa feita no século XX mostrou que só 4% dos cientistas eram ateus, os demais 96% eram crentes em Deus.

A universalidade da crença em Deus mostra a alma humana em sua busca da verdade, tentando apreender o que está encoberto sob as aparências, isto é, mostra a sua busca pela razão última das coisas, Deus. É uma realidade a tendência constante do homem para o infinito, com todas as forças de sua alma. É o amor do Ser Supremo, que nos é tão íntimo como a nós mesmos. 

A presença em todo o ser humano desta profunda aspiração é a prova psicológica da existência do Grande Geômetra, Deus.

A obrigação moral é uma realidade. Não somos moralmente livres para fazer ou deixar de fazer qualquer coisa. O bem moral e a ordem moral impõem-se como prioritários; só depois disso se apresenta a razão, para comprovar e sancionar determinada ação. 

Estamos todos submetidos a uma lei moral, que nos é imposta por nossa vontade, e que não podemos abolir ou mudar. A essência da Moral consiste em preferir tudo o que é nobre, elevado e racional. A Moral estabelece a natureza e as conseqüências do Dever. Por estar sujeito à Lei do Dever, o ser humano é um ser Moral.

Cícero, orador e escritor romano, escreveu há mais de 2.000 anos: “A Moral é uma Lei comum a todos os homens. Ela é racional, impõe-nos a virtude e nos proíbe a injustiça. É uma Lei que não pode ser impunemente transgredida ou modificada. Nem o povo, nem os legisladores, nem os magistrados têm o poder de isentar das obrigações que ela nos impõe”.

Esta prova, fundamentada no dever é, juntamente com a prova das causas finais, a que mais impressionou Kant.

PROVAS METAFÍSICAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS
Estas provas vêm diretamente do raciocínio lógico, sem nenhum recurso à experiência. São elas: a prova ontológica, pela análise da ideia de perfeito; a prova cartesiana, pela origem da ideia de perfeito.

A prova ontológica é célebre na história da filosofia, pelas discussões a que deu origem. Esboçou-a S. Agostinho, porém foi S. Anselmo (1033-1109) que lhe deu a sua forma rigorosa. S. Anselmo começa a sua obra pelas palavras da Escritura: Não há Deus. E empenha-se em provar que negar a existência de Deus é uma loucura e contra-facção revoltante.

Todo o homem possui a ideia de um ser tão perfeito que não pode conceber outro melhor. Este ser existe, este ser é perfeito, este ser é Deus.

Descartes disse: “Deus é o ser que possui todas as perfeições; a existência é perfeição; portanto, Deus existe”. Em vão Leibniz e Kant tentaram anular esta prova. Só conseguiram mostrar, mais uma vez, que o argumento ontológico é ineficaz para provar a existência real e concreta de Deus.

Eu duvido, diz Descartes; ora, duvidar é imperfeição, porque é muito melhor chegar à certeza sem passar pelo estado de dúvida. Portanto, sou um ser imperfeito. Mas, a ideia de imperfeito supõe também a ideia de perfeito, de que é a negação; isto porque, em todas as coisas, só se concebe a negação pela afirmação, - a obscuridade pela luz, a morte pela vida, a ignorância pela ciência, etc. Deste modo, diz Descartes, a ideia da imperfeição foi introduzida em mim por um ser realmente perfeito, Portanto, Deus existe. 

Relanceando a vista sobre as provas concludentes da existência de Deus, verifica-se:

a)    Que todas são a posteriori, isto é, todas partem da observação: existência do ser contingente, existência do movimento e da ordem, nas provas físicas; existência da crença unânime, da tendência irresistível, da obrigação indeclinável, nas provas morais;
b)    Que todas as provas se estribam no princípio da razão suficiente; porque se limitam a estabelecer que estes fatos de ordens tão diversas não têm, nem podem ter razão de ser senão em Deus e por Deus.

Estas provas estão intimamente relacionadas entre si, completam-se umas às outras, e cada uma delas revela-nos Deus sob um aspecto diferente. Consideradas em si, as provas físicas levam à conclusão de que existe um Ser Supremo, distinto do universo, causa eficiente, matriz e ordenadora do universo visível.

Quanto a se saber se este Ser tão poderoso e tão inteligente é eterno, infinito, perfeito e absoluto, a resposta é totalmente positiva. Será este um ser moral, Será Deus justo e bom, em que a humanidade espera? A prova moral suprime esta última incerteza. A dificuldade de alguns em aceitar a existência de Deus reside em que nada há de absoluto em nosso conhecimento da criação, do mesmo modo que nada há de absoluto em nossa ideia sobre o Criador.

Não é necessário se perder no labirinto do desconhecido para chegar à certeza da existência de Deus. Nada de sistemas! A mais absoluta independência deve estar sempre presente na busca da verdade. O esforço do homem para conhecer o absoluto deve estar baseado no teísmo ontológico, o teísmo racional.

O teísmo é a filosofia da busca da verdade, da busca de Deus. A razão do homem, em seu inevitável desenvolvimento e em seu divino amor pela liberdade, derruba todas as barreiras e se liberta dos obstáculos e dos conceitos preconcebidos. 

Kant, na Crítica da Razão Pura, demonstrou que o homem está invencivelmente disposto a julgar reais os objetos de sua crença, ao passo que esses objetos são puramente subjetivos. Hegel adotou a grande máxima apregoada por Protágoras, que diz que “o homem é a medida de todas as coisas”, e ensinou que o Universo marcha para a perfeição. Esta tendência ao progresso não é explicada sem a existência de um pensamento diretor.

A escola que se intitula positivista, pela primeira vez resolveu o problema de construir uma religião ateia. Este sistema não deixou de adorar a um Deus. Este Deus é a humanidade, e Aguste Comte é o seu profeta. Em seus fundamentos, o positivismo/materialismo apregoa que “no princípio era o átomo, e o átomo existia por si mesmo, e o átomo é o primeiro gerador do universo”. Segundo os materialistas, Deus é tolice e é fraqueza: Deus é hipocrisia e é mentira; Deus é tirania e miséria; Deus é o mal. Em vez de chamar Deus à direção das forças que regem o universo, os materialistas ateus atribuem a inteligência Suprema à própria matéria.

São estes os que, em 1877, criaram a Summa Divisio na Maçonaria, ao retirar da Constituição e dos Rituais do Grande Oriente de França todas as referências a Deus, o Supremo Arquiteto do Universo. O primeiro dos cinco Princípios Fundamentais da nossa Ordem proclama a existência de um Princípio Criador, sob a denominação de Grande Arquiteto do Universo. Sábios foram os nossos antigos Mestres ao proclamarem este Princípio.

Por isso mesmo, o estudo de Deus e da Verdade, deve constituir um dos deveres do Maçom. Sem o estudo deste tema transcendental, o maçom se arrisca a bloquear o seu aperfeiçoamento moral e espiritual.

Elifas Levi disse em sua Historia da Magia que “o sábio apóia-se no temor do verdadeiro Deus, enquanto que o insensato é esmagado pelo medo de um falso deus, feito à sua imagem”. Deus é a Luz. Caminhemos para ela.


Bibliografia
Kant – Crítica da Razão Pura/Hegel – Enciclopédia das Ciências Filosóficas/Descartes – Discurso do Método/Anaxágoras de Clazômenas – Doxografia/Camillo Flammarion – Deus na Natureza/Aristóteles – Metafísica/Augusto Comte – Curso de Filosofia Positiva/Tomás de Aquino – Compêndio de Teologia/Valério Alberton – O Conceito de Deus na Maçonaria/Nicola Aslan – Dicionário de Maçonaria Simbólica/Leibniz – O Conhecimento Platão


ANTÓNIO ROCHA FADISTA
M.'.I.'., Loja Cayrú 762 GOB-RJ / GOB - Brasil


POSTURA MAÇÔNICA E COMPOSTURA MAÇÔNICA


Enquanto a Postura trata de aspectos corporais, tais como: maneira de andar, sentar, portar-se nas mais variadas situações, a Compostura é o conjunto de ações que denotam boa educação.

Segundo os nossos Dicionários, postura significa “disposição ou posição do corpo”. Dentro de nossos Templos devemos obedecer a uma sistemática ordenada pela tradição. A postura sempre externará nosso “respeito”, uma atitude convencional de expectativa e de participação.

Segundo nosso Ir.’. Rizzardo de Camino “as posturas são originárias da Índia e do Egito e nestes países, sempre tiveram aspecto místico”.

A posição exata contribui para que o fluxo do sangue alimente mais, certa região necessitada; equilibra nosso sistema nervoso; provoca a secreção de sucos necessários às funções das glândulas; isso que descrevemos a “grosso modo”, apresenta no seu desenvolvimento científico, verdadeiros milagres. 

É a “magia” que atua auxiliada pela nossa disposição em nos manter, quando em postura, da forma mais perfeita possível.

Ao fazermos o Sinal de Ordem, bem como a Saudação Ritualística, devemos estar perfeitamente eretos, altivos formando um esquadro com os PP.’. quando executamos o sinal de ordem que por si só representa um ângulo reto. 

É o símbolo da postura que deve presidir o discurso do Maçom. Dessa forma, só são realizados quando obreiro estiver de pé e parado, ou praticando a Marcha Ritualística.

“Infelizmente, tem-se constatado em visitas a oficinas que alguns IIr.’. não estão observando os ângulos exigidos nas posições, formando-se assim, uma postura desajeitada, como se o organismo se encontrasse exausto a ponto da mão não poder ficar na posição correta”.

A uniformidade da postura, com certeza embeleza os trabalhos da loja. Imaginem uma fileira de soldados praticando a “ordem unida”. Se não houver sincronismo, o desfile se tornará horroroso e cheio de trapalhadas. Assim acontece nas nossas colunas. 

Devemos manter um porte elegante, pois nada há de mais belo que ver uma Loja trabalhar corretamente, pois isso entusiasma e traz resultados surpreendentes.

Ao fazer uso da palavra, mister se faz que se cumpram algumas formalidades em que se enquadra a boa postura. Concedida a palavra, deve o irmão, antes de iniciar sua fala, dirigir os cumprimentos a todos os presentes, obedecendo-se a ordem hierárquica.

No nosso Ritual, o diálogo entre as Luzes e as Dignidades e Oficiais é feito usando-se o pronome da segunda pessoa do plural (vós), portando, seria interessante que todos se habituassem a seguir o exemplo.

Como a Maçonaria considera a todos os seus Iniciados como iguais, os títulos e patentes profanas como Senhor, Doutor, Professor, Coronel, etc. devem ser ignorados em nossas falas, não como sinal de desrespeito, mas como uma afirmação a esta decantada Igualdade.

Segundo nossos ensinamentos, o Maçom não deve fazer ostentação daquilo que possui, portando, recomenda-se que não usemos medalhas dos graus filosóficos em sessões simbólicas, por entender que um peito cheio de medalhas pode constranger um Ir.’. de grau inferior.

Sentado, o Maçom deve assumir umas posturas convencionais, que aparentemente pode ocasionar um cansaço, mas na realidade, se estiver de maneira correta, o obreiro poderá permanecer sentado por um longo período. 

Essa postura, representada pelos Egípcios através de estátuas e pinturas, nos leva a crer que essa posição conduzia a algum resultado esotérico.

Os pés formam com as pernas uma esquadria. As pernas com as coxas formam outra esquadria. As coxas com o tronco uma nova esquadria. Os braços e antebraços completam mais uma esquadria. As mãos abertas repousam sobre as coxas.

Postura Maçônica e Compostura Maçônica

A posição do corpo pode curar distorções fisiológicas e nervosas, portando, as posturas devem ser executadas com interesse, pois, já sabemos que, em Maçonaria nada existe e nada se faz sem uma razão.

Sentado, o Maçom, além de isolar completamente os membros superiores, inferiores e baixo ventre, deixando livre a parte respiratória e a mente poderá, se sua postura estiver correta, aperceber-se com mais proveito de tudo o que vê e ouve.

Nossas palavras, gestos e atitudes, são cartões de visita do nosso comportamento. Temos momentos de incorreção, mas não se julga ninguém pelo tombo e sim pelo modo como ele se levanta.

Meus queridos Irmãos: digam suas palavras, pratiquem corretamente a ritualística com a postura e seriedade que requer o respeito, a ética e o comportamento dentro e fora do Templo.

Fonte de consulta: Livro Ordem na Ordem – Enielson Pereira Lopes .


AUMENTO DE SALÁRIO


O verdadeiro aprendizado acontece depois que você acha que já sabe tudo!
AUMENTO DE SALÁRIO – É a elevação de um Grau a outro, que lhe é imediatamente superior. Tem a denominação genérica de elevação. Segundo os graus, estas cerimônias têm outras designações como: passagem, exaltação, iniciação, eleição, nomeação, investidura, consagração.
Na Maçonaria de Ofício, ou seja, nas corporações operativas, o salário era real e feito pelo senhor, ou patrão, das obras; na Maçonaria atual, a dos Aceitos, ele é simbólico e recebido na forma de ensinamentos e doutrinação, na Coluna que lhe compete, através do Vigilante dessa mesma Coluna.
O aumento de salário depende da aprovação da Loja e envolve, evidentemente, certas condições de merecimento e avaliação do aperfeiçoamento do Obreiro. Isto é medido através dos trabalhos prestados, da freqüência às Sessões da Loja e das provas de conhecimento do Grau em que o Maçom se encontra.
Ninguém pode ter aumento de salário sem ter mérito e sem ter adquirido os conhecimentos necessários para isso, devendo ser justificados por uma conduta irrepreensível no mundo maçônico e no mundo profano, além da idade exigida constitucionalmente e pelo interstício necessário.
As Instruções louvadas em um guia seguro (Ritual do Grau) são aulas expostas didaticamente pelas quais vamos nos redescobrindo até despertar nosso interior. É a compreensão das leis da vida maçônica.
Aprendemos a conhecer-nos, a crer em nós mesmos e a crer no Grande Arquiteto do Universo, que é Deus.
Aprendemos que o homem é alguma coisa mais do que um simples animal que traja roupas e que a sua natureza íntima e divina, ainda que a sua divindade se conserve oculta, adquire o hábito da Virtude, a aluminação da Inteligência e a purificação da Alma que o faz refletir, pois, sem isso, o homem seria um animal entregue aos mais grosseiros instintos.
Com o Cinzel, dá forma e regularidade a massa informe da Pedra Bruta.
Por ele aprende que a Educação e a Perseverança são precisas para chegar a perfeição; Aprende, também, que o homem não é simplesmente um fenômeno da vida ou um joguete da casualidade, mas uma potência e o Criador e o destruidor da casualidade.
Por meio de sua força interior vencerá sua indolência, libertar-se-á da ignorância.
Então sentirá amor por tudo o que vive e se constituirá em poder inexaurível para o bem da espécie, neste mundo de permutas, de confusões, de vicissitudes e de incertezas.
Aprende que o objetivo da Maçonaria para o futuro é que o homem aja, então, com toda a justiça e ame seu irmão como a si mesmo, porque ele e seus semelhantes são parte de um todo e que o todo é “Uno”; ele não pode ferir o seu irmão sem ferir-se.
Desbastadas as asperezas, a Pedra Bruta é transformada em Pedra Polida.
Recomenda o Ritual do 1º Grau que todos os membros de uma Loja devem se esforçar quanto possível, para compreenderem as vantagens dos ensinamentos das instruções.
Apresenta mensagens que devem ser assimiladas para que tenham sempre em mente o dever de pautarem seus atos individuais de todos os dias, por esse rico e antiquíssimo manancial de sabedoria.
O Aprendiz tendo recebido a LUZ e podendo caminhar sozinho no T.’. embora ainda auxiliado pelos conselhos dos IIr.’. e pela experiência dos MM.’. sente-se responsável por si mesmo e sabe que seus pensamentos, palavras e obras devem demonstrar, sempre, a consciência de seu juramento ao ingressar no Templo do Ideal cujo serviço aceitou livremente, sem constrangimento, nem restrição de espécie alguma.
A vontade de evoluir oportuniza-lhe chances de crescimento e de progresso.
O uso persistente e tenaz dessa faculdade soberana permite-lhe modificar sua natureza, vencer todos os obstáculos. Aprende a meditar, a concentrar-se, sintonizando com as esferas superiores e com as nobres aspirações.
Conhecendo passo a passo, a extensão dos recursos que nele germinam, fica deslumbrado, não mais teme o futuro, tampouco se julga fraco.
Conhece, agora, o templo Simbólico, e sabe perfeitamente que ele não se constrói com pedras e madeiras, mas com Virtude, Sabedoria, Força, Prudência, Glória, e Beleza; enfim, com todos os elementos morais que devem ser ornamento dos Maçons.
Consciente de si mesmo compreende seus recursos latentes, sente crescer dia-a-dia suas forças na razão de seus esforços, acredita na possibilidade de ele próprio alterar seu presente e seu futuro.
Assim ele há de se conservar firme na vontade inabalável de enobrecer-se e elevar-se. Atrai, com o auxílio de seus Mestres e de sua inteligência, riquezas morais e constrói para ele uma personalidade melhor.
Concluídas as instruções de Aprendiz nos sete meses de vivência maçônica, diz-se que o instruendo está apto a galgar o segundo degrau para elevação, representada como subida, fazendo-se reconhecer que todos somos Irmãos, aprendendo a eliminar o apego, o egoísmo, a intolerância, a intranquilidade, a desarmonia.
Sabe também que tudo que recebemos de Deus, devemos irradiar para todos, sem buscarmos qualquer recompensa. Em se tratando de “aumento de salário” o maçom é honrado pela concessão do ingresso em uma nova coluna, trocando os instrumentos de trabalho para melhor se ajustar na busca de outras luzes.
É um erro julgar que podemos fazer tudo sozinho, sem o auxílio dos demais. É também um equívoco acreditar que o trabalho só sairá bom se formos nós os executores.
Nenhum de nós sabe e pode tudo, nosso saber e poder são relativos.
Todos nós estamos na condição de Aprendizes, em regime de interdependência, destinados a aprender uns com os outros o que ignoramos.
Também deverá ser apurado o que o candidato haja feito em favor dos semelhantes, quais os cuidados que tenha dispensado ao seu próprio aprimoramento pessoal.
Uma advertência que poderíamos considerar é de que não pode ser homem de bem aquele que não é justo. Contudo, não deixamos de ser injustos e imperfeitos pelo simples fato de abraçarmos os princípios maçônicos: “Um erro muito frequente entre alguns neófitos é o de se julgarem “justos e perfeitos” após alguns meses de estudo”.
Há nessa pretensão de não mais necessitar de conselhos e de se julgar acima de todos, uma prova de incompetência, pois não atende a um dos preceitos da Ordem: tornar-se sempre um elemento Humilde, de Paz, de Concórdia, de Harmonia no seio da Maçonaria. Não são apenas os novos adeptos; muitas vezes, alguns mestres, antigos e experientes, equivocadamente, também pensam assim.
Depois, quando, no término do trabalho de aperfeiçoamento moral, simbolizado pelo desbastar das asperezas dessa massa informe, a que chamamos Pedra Bruta, pela Fé e pelo Esforço, conseguimos transformá-la em Pedra Polida, então sim, deve ter lugar o “aumento de salário” concedido com consciência tranquila, a fim de que, mais tarde, tais decisões não venham a dar causa a arrependimentos.

Apta à construção do edifício, podemos descansar o Maço e o Cinzel, para empunharmos outros utensílios, subindo a escala da hierarquia maçônica, ou seja, recebendo o merecido AUMENTO DO SALÁRIO.
Ir.: Valdemar Sansão
Fonte de Consultas:
- Dicionário Etimológico Maçônico (Castellani)
- Ritual do Simbolismo Aprendiz Maçom do REAA (GLESP)
- Bem-Vindo à Maçonaria – Valdemar Sansão (aguardando publicação)


APERFEIÇOAMENTO DOS COSTUMES


“Usos e costumes” é uma expressão muito utilizada no meio maçônico para descrever – erroneamente – os elementos da tradição. Em geral, ela descreve um conjunto de práticas utilizadas através dos tempos, mas que têm significado desconhecido ou mesmo desprovidas de significado.

Tais práticas ou são deformações de algo que no formato original possuía significado, ou são absolutos erros incorporados através de sua constante prática.

Então, com o passar dos anos, perpetuam-se os erros, e lá está a ideia mal-formada dos “usos e costumes”, pronta para protegê-los do poder retificador da regeneração. 

Tal deformidade “fobisófica” (fobus = inimiga, sophia = sabedoria) serve ao propósito de justificar algo, cuja justificativa se desconhece, exercendo o papel de um grande “guarda-chuva” que torna indissolúvel aquilo que permanece sem causa.

Na Maçonaria, tudo deve ser tratado aos influxos da moral e da razão, sendo que, portanto, ela não pode comportar nada de imoral e nem de irracional. O que não estiver revestido do vigor moral e da clareza da razão deveria ser extirpado de nossos Templos, sob pena de incorrermos no erro e, por conseqüência, no vício.

Lembremos que a antiguidade de uma prática não outorga legitimidade a ela, e sim a proximidade de sua essência com as leis do universo; da mesma forma que a sabedoria de um maçom não é certificada pelo o colorido de seu avental, mas sim por sua humilde predisposição para aprender e evoluir, valorizando a alvura do avental dos eternos aprendizes que devemos ser.

A Tradição Maçônica não é composta de intocáveis “usos e costumes”, mas de um profundo conteúdo moral e filosófico, cujos princípios devem permanecer intactos, mesmo que estejam apresentados sob as mais diversas roupagens.

Tais roupagens devem sofrer constantes renovações, de forma a preservar, não a velha e puída roupagem dos “usos e costumes”, mas os intocáveis e indestrutíveis princípios que concedem à Maçonaria o título de “arte-real”, sob os auspícios da pura moral e da límpida razão; ideia contrária não permitiria adaptá-la ao contexto da atualidade, esta que aspira ser presenteada pela prática dos princípios, mas a cobre com o espesso véu da ignorância.

O maçom, como “amigo da sabedoria” – leia-se, filósofo – que deve ser, precisa buscar compreender a razão de ser das coisas. A tolerância não o obriga a aceitar aquilo que se apresenta sem propósito; apenas adia brevemente seu entendimento, levando a uma busca correspondente que traga luz ao que é potencialmente aceitável.

Por isso, não traz consigo a Maçonaria qualquer dogma inquestionável, mas sim um profundo conhecimento que deve ser desvelado pelo “amigo da sabedoria”.

O silêncio e o mistério devem ser instrumentos práticos da tolerância à serviço da preservação da verdade e não a sepultura do conhecimento.

A morte iniciática que não precede um renascimento é tão útil quanto o livro que não é lido, assim como o vulgo significado de “sacrifício” nada tem de semelhante com o ofício sagrado – ou “sacro ofício”.

A renovação da roupagem com que são apresentados os princípios é o igualmente ouvido e desprezado “aperfeiçoamento dos costumes”, aos quais os rituais maçônicos fazem referência.


Aperfeiçoá-los significa mantê-los em movimento, descristalizar os comportamentos, tal como os elétrons que orbitam para criar a matéria, tal como a vontade ativa que transforma o ignorante em sábio, tal como o preconceito que transmutado dá lugar ao conceito, o erro que dá lugar à verdade e o vício que dá lugar à virtude.

“Levantar templos à virtude e cavar masmorras ao vício” significa dissolver os automatismos inconscientes que nos mantêm presos à ilusão da matéria, de forma a criar hábitos conscientes, concebidos pela pura sabedoria, impulsionados pela força da vontade e iluminados pela beleza da razão.


Murilo Juchem,
A.'.M.'., A.'.R.'.L.'.S.'. Hermanubis nº 34, Porto Alegre - RS - Brasil.

O MAÇOM DE OFÍCIO É UMA CONTRADIÇÃO!


Por vezes alguns se esbarram em informações não corriqueiras, em que o maçom contemporâneo tem por legado, as suas principais “construções” das corporações de ofício.
Construções, digo aqui para espelhar o que ficou edificado, ou seja, os conhecimentos, os símbolos e a magia das lendas e alegorias que dão brilho e beleza a todos os simples momentos sublimes de per si.
Posto vamos ao ofício por assim falar.
Não é de todo verdade, a maioria dos ensinamentos da maçonaria simbólica hoje em evidência, na verdade deve-se, ao longo da história, a uma aglutinação de esforços e aplicação de conhecimentos coerentes ao desenvolvimento do homem maçom e da sociedade em que ele se insere.
A maçonaria operativa contribuiu sem sombra de dúvida para a raiz desta frondosa árvore do conhecimento, que hoje desemboca num novo modo de se olhar muitas ações da maçonaria, numa maçonaria, que segundo alguns estudiosos caminha mais para ser contemplativa.
Assim, maçonaria vem se transformando de acordo com os tempos. Alicerçando nova visão sobre os mesmos valores, combinada novas formas de manter-se ativa e viva no mundo atual.
Os maçons do ofício, não quebram, mas as pedras de antes. Apenas, simbolicamente se deitam sobre os fatos, sobre a história e a filosofia, para haurir sua visão inquietante diante do mundo, e quiçá construir o futuro.
O ofício é tarefa árdua. E contrapartida ao quebrar pedras da antiguidade. Não se relaciona unicamente com a matéria da pedra, mas busca o espírito, não da pedra, mas da pedra virtual, pessoal e da humanidade.
Os primeiros sinais dos não operativos são todos posteriores ao início do séc. XVII. Na Escócia, em Edimburgo, os primeiros sinais aparecem em 1634. Em Atchison’s Haven, em 1672, 1677 1693. Em Kilwinning, em 1672 e em Aberdeen, em 1670.
Na Inglaterra, já em 1621 os registros comprovam a existência de uma Sociedade de Maçons, em conjunto com a corporação de ofício regular.
Esta nova sociedade recebia captações dos maçons Aceitos, tanto dos construtores de ofício, quanto dos que não tinham nenhuma relação com a profissão.
Deste modo, afirmar que durante o séc. XVII tenha sido constituída uma fraternidade oculta, dentro da corporação profissional. Os seus membros ditos Aceitos seriam os efetivos possuidores do esoterismo e da maior parte da ritual idade que nos é hoje conhecida.
Os membros desta nova fraternidade foram gradativamente assumindo a sua condição maçônica perante o público externo, a partir da segunda metade do mesmo século. Pode ser, mas não há registros históricos.
O maçom do ofício é cada um de nós que entendeu a iniciação.
Ivair Ximenes Lopes



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