A gigantesca e
verdadeira obra da Maçonaria é propiciar ao seu iniciado um lugar adequado para
a modificação da personalidade, a moderação de paixões e desejos e o
desenvolvimento de virtudes; numa escalada que inicia numa operação denominada:
desbastar a pedra bruta.
Esta atividade
consiste no trabalho, básico e rústico, de arrancar da pedra, arestas,
deformidades e protuberâncias, de modo que ela possa vir a adaptar-se ao seu
lugar reservado numa importante construção.
Traduzindo, significa:
o aprendiz recebe instrução, é dotado de ferramentas, de conhecimentos
elementares, é assistido por método e simbologia próprios que, manipulados por
seu intelecto, culminam em desenvolver suas capacidades racionais,
intelectuais, lógicas e filosóficas nos assuntos da Maçonaria.
E estas, por sua vez,
o auxiliam a subir uma escada que parte de um ambiente onde domina a matéria, e
o eleva até um estágio onde ocorre a predominância do espírito sobre a matéria.
O interessante é que,
o potencial adquirido com o uso da sua própria intelectualidade, dependendo de
suas raízes culturais, não o precipita na geração de dogmas que possam torná-lo
fanático; ao contrário, o treinamento o leva ao suave equilíbrio entre
racionalidade e espiritualidade.
Gradativamente, o
processo “abre portas inefáveis” até então invisíveis. Sua sensibilidade lhe
revela, a cada reunião, no templo especialmente preparado para o seu
desenvolvimento pessoal, onde, sob efeito de sons e incenso, ocorre sua
integração com a força do maçom, um campo energético gerado pelo seu grupo de
companheiros.
A vida mística e
profunda da essência dos símbolos vai gradativamente revelando o que até então
não enxergava. Desvelando apenas uma parte onde ele mesmo é material de
construção, uma pedra que depois de trabalhada, constituirá parte integrante do
grande templo moral da humanidade.
Dentre as ferramentas
de trabalho do aprendiz estão o maço e o inseparável cinzel que desbastam a
pedra bruta, ele mesmo. O cinzel representa o intelecto e ambos concorrem para
o mesmo objetivo. É exemplo de dualismo construtivo, eficaz e positivo.
O cinzel é o símbolo
do trabalho inteligente. Seguro pela mão esquerda corresponde ao aspecto
passivo da consciência, à penetração, à receptividade intelectual, ao
discernimento especulativo, indispensável para descobrir as protuberâncias ou
falhas da personalidade. Serve de intermediário entre o homem e a natureza.
Sozinho seu uso é quase nulo. Sem a ajuda do maço ele não produz muita coisa,
exige participação da outra ferramenta. Assemelhado com a razão humana que,
isolada, nada constrói. O cinzel carece da parte operativa, ação, força e
trabalho do maço.
A lógica representada
pelo cinzel torna o aprendiz independente, sem torná-lo mesquinho. Sem sua
intervenção, o resultado do trabalho seria inútil, senão perigoso. A sua falta
representa as soluções aprisionadas no espírito. Além de ser emblema da
escultura, arquitetura e belas artes, é também a imagem da causticidade dos
argumentos que permite destruir os sofismas do erro.
O cinzel é usado para
o trabalho mais bruto, no alicerce de uma construção. Um trabalho básico. É o
aço aplicado sobre a pedra, ambos duros, mas, a dureza do cinzel é maior,
ademais, está afiado, daí sua capacidade de penetração, de corte das asperezas.
Com ele corta-se fora o que o homem tem de feroz, levando-o a uma condição mais
elevada diante da natureza e aproximando-o do conceito de Grande Arquiteto do
Universo.
A Terra seria um
deserto se os seres humanos deixassem de fazer por polidez o que são incapazes
de fazer por amor, e seria quase perfeito, se cada um conseguisse fazer por
amor o que só faz por polidez; isto porque, ela faz a pessoa parecer por fora,
como deveria ser por dentro.
Quem não for bastante
delicado e cortês não pode ser muito bom.
Cerimônias são
diferentes em cada país, mas a verdadeira cortesia é igual em todos os lugares.
Assim como a cera,
naturalmente dura e rígida, torna-se, com um pouco de calor, tão moldável que
se pode levá-la a tomar a forma que se desejar. Também se pode, com um pouco de
cortesia e amabilidade, conquistar os obstinados e os hostis.
Partindo do princípio
de que uma virtude não é natural, mas uma qualidade desenvolvida ao longo do
crescimento individual, do ponto de vista moral, a polidez é uma virtude. Como
exemplo: o que acorreria com as quatro virtudes cardeais: justiça, prudência,
temperança e coragem, se o indivíduo não é polido ou destituído de qualquer
educação ou cortesia? Seriam inúteis!
Sem a educação e o
respeito não há como desenvolver virtudes. E como a polidez é algo de aparente
pouca importância, é neste “quase nada” que reside seu mérito. Ela pode ser
definida como o caráter ou a qualidade do que é polido, da fina educação, da
gentileza.
É também uma forma do
discurso que indica cortesia e civilidade daquele que fala. Ao que se esforça
no uso de expressões que atenuem o tom autoritário, do imperativo e outras
fórmulas de etiqueta linguística.
Adicionalmente,
designa o indivíduo que possui grandes virtudes e elevada cultura e
conhecimento em determinadas áreas do saber.
Na luta para obter
maior controle do espírito sobre a matéria, a polidez lustra o coração, de modo
que revele o não visto. Sua transparência é proporcional ao quanto foi polido.
Para quem mais poliu
sua sensibilidade manifestam-se mais formas invisíveis e revelam-se verdades
para as quais a mais sofisticada racionalidade é impotente.
E o cinzel deve ser
afiado continuamente, permanentemente, exigindo constante aporte de novos
conhecimentos, para não embotar. É a Polidez, o conhecimento aprofundado de
temas da vida que o afia. Afiar o cinzel significa receber fina educação, ser
cortês e atencioso. E estas são atividades nas quais denodadamente deve-se
investir com força, com a ação do maço, e gradativamente ir galgando a escada
que leva à perfeição que pertence ao Grande Arquiteto do Universo.
Autor: Charles
Evaldo Boller
Bibliografia
CAMINO, Rizzardo
da, Dicionário Maçônico, ISBN 85-7374-251-8, primeira edição, Madras
Editora limitada., 413 páginas, São Paulo, 2001;
Paraná, Grande Loja
do, Ritual do Grau de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito,
terceira edição, Grande Loja do Paraná, 98 páginas, Curitiba, 2001.
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