“Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu
vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar”. (João l4: 2)
Dê ou não, o meio, condições para que o tempo de vida se
prolongue o ser humano fatalmente morrerá. Breve é a nossa passagem por esta vida
terrena. Ontem chegamos hoje nos banhamos no Rio da Vida, amanhã partiremos. O
Rio da Vida já corre muito antes do nosso nascimento e continuará a fluir
indiferente, após a nossa partida.
A morte, ou seja, a total e permanente cessação dos processos vitais
do organismo, das funções físicas e mentais, é o fecho de um ciclo que começou
com a separação do indivíduo da paz intra-uterina pelo nascimento e que termina
com o retorno simbólico a um estado de paz e silêncio, onde não há mais desejos
nem dor.
Desde a infância o homem tem consciência da morte como o fim da
sua história natural e pessoal, e o impacto deste conhecimento influencia suas
atitudes diante da vida conforme as experiências sofridas nas várias fases do
desenvolvimento.
Na velhice, a morte já é algo familiar ao indivíduo. Sua atitude
a respeito dela pode variar de uma suave expectativa, de quem está ciente de
ter realmente um saldo positivo dos investimentos vitais realizados e que se
perpetuará na espécie, até a angústia e o desespero de quem viveu estéril e
improdutivamente. O velho é o produto final dos valores que foi assumindo
durante toda uma vida. Só se torna uma preparação para a morte, quando se
renuncia a um projeto de vida, quando se mata a esperança.
“A morte de um jovem me parece uma chama extinta com um dilúvio
de água: enquanto a de um velho se assemelha à chama que se apaga naturalmente,
ao fim da reserva de combustível” (Cícero).
Muitos consideram que o falecimento de uma pessoa amada é
verdadeira desgraça, quando, na verdade, morrer não é finar-se nem consumir-se,
mas libertar-se.
Devemos nos afligir? Sim, se não soubéssemos que nada morre a
não ser o invólucro terrestre. Não, se como ensina nossa consoladora Ordem,
somos essencialmente espíritos e, por isso, devemos aproveitar todas as
oportunidades para nos aprimorarmos como pessoas, como “pedras polidas”. Diante
das dificuldades, temos que nos superar. Escutemos o espírito ou a voz da
Verdade em nosso coração e teremos a orientação sobre o caminho a seguir.
Crescer espiritualmente, extirparmos os defeitos, as mazelas, etc.
Nada pode pretender se estabilizar no coração do maçom se não
possui, em seu conjunto, como em seus menores detalhes, essa emanação pura e
divina que chamamos a Verdade; um ponto fundamental da doutrina maçônica porque
afirma que o Maçom deve estar constantemente em busca da verdade.
Designa a realidade, a exatidão; a qualidade pelas quais coisas
e pessoas aparecem tais como são; é a única imutável como o Criador, que dela é
a fonte. Isso não significa, todavia, que a verdade total, absoluta, seja
atingível, pois, se isso fosse possível, essa busca constante deixaria de ser
uma meta de vida e o ensinamento perderia o seu valor.
Significa, apenas, que o Homem é perfectível, mas que nunca
chegará ao acme da perfeição total, que só pode ser conseguida com o
conhecimento da verdade absoluta, ou seja, daquela que independe de
interpretações, pois são variáveis de acordo com as tendências e as paixões.
A grande Verdade é que decidimos a pessoa que escolhemos ser. Potencialmente,
somos perfeitos. Está em nós, particularmente no Maçom, caminharmos para a
perfeição. Cada dia decidiu continuar do jeito que somos ou mudar.
Devemos perguntar-nos: o que estamos fazendo neste planeta?
Parece que a resposta será: evoluirmos espiritualmente e
aprendermos a melhor servir e amar.
A Maçonaria aceita que o maçom, após sua morte física, adentra
em um Oriente Eterno, local místico, situado em outro plano, totalmente
desconhecido. No momento da “desencarnação”, havendo lucidez, o maçom deve
aguardar com ansiedade essa “passagem” de um estado de consciência para outro,
mais real e mais sublime.
A partida, não é mais que um avanço de alguns dias, alguns anos
talvez, sobre a viagem que todos nós devemos realizar em direção ao Oriente Eterno,
a nossa pátria comum, o infinito. Infinito é uma das denominações de Deus; o
ser humano, na sua vida espiritual, é infinito. As Lojas maçônicas possuem a
Abóboda Celeste para simbolizar o infinito.
Teoricamente, tudo tem um final, mas esse final constitui o
“seio do Senhor”, ou seja, a assimilação do Criador com a criatura. O infinito
é o que dá ao homem a esperança de sua eternidade.
O maçom aplica o substantivo “infinito” para expressar o seu
amor ao seu irmão de fé; infinito é o amor de Deus para conosco, e em
retribuição a nossa entrega a Ele deve, por sua vez, ser infinita.
O que não tem fim é a eternidade; entender isso é privilégio de
poucos; porém, a perseverança abre o entendimento.
Quando um de nós deve empreender uma longa peregrinação toda a
família se reúne para festejar a partida, ou se juntam amigavelmente para
enumerar as qualidades, as virtudes sociais e familiares do futuro imigrante;
cada um faz seus votos para uma feliz viagem e um breve regresso.
Assim, diante dos que partiram na direção da morte, assuma o
compromisso de preparar-se para o reencontro com eles na vida espiritual.
Prossegue em sua jornada na Terra sem adiar as realizações superiores que lhe
competem. Pois elas são valiosas, quando você fizer a grande viagem, rumo à madrugada
clarificadora da eternidade.
Contam que um filósofo, quando hospitalizado, um médico legista
lhe disse que tinha aberto muitos corpos, mas jamais tinha encontrado um
espírito. O filósofo, então, lhe explicou que não se poderia achar o pássaro,
depois que a gaiola tinha sido aberta.
O genial VICTOR HUGO deixou o texto que se segue falando do
homem e da imortalidade:
“A morte não é o fim de tudo. Ela não é senão o fim de uma coisa
e o começo de outra. Na morte o homem acaba, e a alma começa.
Que digam esses que atravessam à hora fúnebre, a última alegria,
a primeira do luto. Digam se não é verdade que ainda há ali alguém, e que não
acabou tudo?
Eu sou uma alma. Bem sinto que o que darei ao túmulo não é o meu
eu, mas o meu ser. “O que constitui o meu eu, irá além.”
O homem é um prisioneiro. O prisioneiro escala penosamente os
muros da sua masmorra. Coloca o pé em todas as saliências e sobe até ao
respiradouro. Aí, olha, distingue ao longe a campina. Aspira o ar livre, vê a
luz. Assim é o homem. O prisioneiro não duvida que encontre a claridade do dia,
a liberdade. Como pode o homem duvidar se vai encontrar a eternidade à sua
saída?
Por que não o possuirá um corpo sutil, etéreo. De que o nosso
corpo humano não pode ser senão um esboço grosseiro?
A alma tem sede do absoluto e o absoluto não é deste mundo. É
por demais pesados para esta terra. O mundo luminoso é o mundo invisível. O
mundo luminoso é o que vemos.
Os nossos olhos carnais só vêem a noite.
A morte é uma mudança de vestimenta. A alma, que estava vestida
de sombra, vai ser vestida de luz. Na morte o homem fica sendo imortal.
A vida é o poder que tem o corpo de manter a alma sobre a terra,
pelo peso que faz nela. A morte é uma continuação.
Para além das sombras, estende-se o brilho da eternidade. A alma
passa de uma esfera para outra, torna-se cada vez mais luz. Aproxima-se cada
vez mais e mais de Deus.
O ponto de reunião é no infinito. Aquele que dorme e desperta,
desperta e vê que é homem. Aquele que é vivo e morre desperta e vê que é
Espírito.
Autor: Valdemar Sansão – M.’. M.’.
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