DEZ RAZÕES PARA NÃO PERTENCER À MAÇONARIA


Fala-se muito das razões para justificar a entrada na maçonaria, e naquilo que esta pode dar a cada um dos seus membros. Mas a sociedade em geral, ou grupos ou pessoas singulares, podem ter motivos válidos para afirmar que não vale a pena entrar em organizações maçônicas.

Tudo na vida é uma moeda com duas faces e tanto uma como outra são parte da mesma realidade.

A loja Laval n° 139 da Grande Loge du Québec, Canadá fez o levantamento de “10 boas razões para não querer ser maçom”, as quais devem constituir motivo de reflexão.

1. Já ter demasiados amigos e estes causarem preocupações, devendo haver um espaço para o homem estar sozinho.

2. Gostar de manipular, mentir, burlar e roubar.

3. Ser um não conformista, não podendo aceitar regras e limites de um grupo que pode cercear a liberdade individual.

4. Ser avarento ao ponto de não ajudar aqueles que precisam.

5. Ser um fundamentalista religioso e pensar que o dogma da sua fé é a único caminho para a verdade, devendo os outros serem convertidos ao seu dogma.

6. Ser um materialista ou um ateu, recusando a existência de qualquer ser espiritual ou divino, e julgar os crentes como estúpidos e pensar que a matéria pode existir sem espírito.

7. Recusar os Direitos e Liberdades do Homem, negando o princípio de que todos nascem iguais e os princípios da liberdade, justiça e igualdade e considerando que a desigualdade natural deve prevalecer com todas as suas consequências.

8. Estar muito ocupado, principalmente com os jogos desportivos, os espetáculos, a televisão, a internet, a vida social, relegando para último plano qualquer ligação à comunidade e ao próximo.

9. Detestar tudo o que respeita à tradição e história, porque o presente é a modernidade que não se compadece com o passado e com rituais arcaicos e bolorentos.

10. Não haver nenhuma razão para o aperfeiçoamento pessoal, uma vez que as técnicas de controle pessoal permitiram obter o meu equilíbrio pessoal.

E agora vos convido há meditar um pouco sobre cada um destes pontos.

(Baseado num artigo de Gadlu-info). 2022.06.05. MPS

 

A POUCA FREQUÊNCIA NAS LOJAS


 

Vez por outra, estudiosos da Maçonaria se perguntam o porquê da pequena freqüência existente da atualidade em nossas Lojas. Baseado nos parcos registros da história, fica-nos a idéia de que sempre foi assim.

A diferença palpável que poderá ser encontrada é a de que existe hoje uma menor quantidade de membros dentro de uma maior quantidade de Lojas.

Presume-se que antigamente uma mesma quantidade de obreiros pertencia a um menor número de Lojas, o que aparentemente daria uma frequência maior. Se, no entanto, se pudesse ter das antigas lojas as suas atas a porcentagem de comparecimento, certamente não diferenciaria nem para mais nem para menos do número percentual de hoje.

Aliás, quanto maior fosse o número de obreiros que compusessem uma Loja em tempos atrás, menor seria a sua porcentagem de frequência.

Exemplificando: uma Loja de 300 Irmãos, tem hoje uma frequência aproximada de 60-70 membros, o que dá 20% mais ou menos. Outra com 30 ou 50 membros, comparecem 20-30 obreiros, ficando entre 70-60%.

Esta afirmação está baseada no fato de o autor da presente, ter frequentado uma das maiores Lojas do Brasil onde normalmente a quantidade de Irmãos em cada sessão não passava de 10 a 20%, ou seja, de 30 a 60 comparecimentos para um total de 300 obreiros, que era o número dos que compunham aquela Loja.

As informações que temos da Maçonaria americana são de que lá algumas Lojas chegam a ter 900 membros, cuja média em regra geral vai de 100 a 300 comparecimentos.

Acontece que lá, as sessões de aprendiz e companheiro, somente são realizadas para Elevações e Exaltações. Pelo número de seus membros, calculem o tamanho que teria que ter o Templo de cada uma dessas Lojas, se fosse frequentada por todos e a impressão de vazio que daria quando de uma reunião, em havendo no seu interior, um comparecimento de 10%.

Seria o mais provável a acontecer, se as suas reuniões fossem semanais como aqui. Pois bem, o referido vazio mostra que uma Loja, dentro da própria realidade em tamanho, não deve construir seu Templo igual ao de uma Grande Loja.

Em certa ocasião, assistimos a uma palestra de um famoso autor numa grande cidade do Estado de São Paulo e, para que se tenha uma ideia da capacidade do Templo e da realidade do comparecimento, a dita palestra foi realizada no Oriente onde tranqüilamente sentaram-se umas 25 a 30 pessoas e ainda sobraram cadeiras, ficando as Colunas completamente vazias.

Esse prédio enorme tem quase 100 anos de existência e a Loja mais de 110 anos da sua fundação. Pode se compreender que a sua construção foi uma obra para outra realidade que não a da presente. Essa Loja vive hoje das glórias passadas, nada havendo na atualidade que a leve a uma situação igual à antiga.

Seu número de membros não passa de 70 ou 80, o que seria bom para a realidade de hoje, não houvesse ali uma grande quantidade de irmãos em avançada idade, dispensados de frequência. Houve ainda uma descontinuidade nas iniciações. Pode ser esse outro motivo a justificar vazios para uma Loja que em tempos de antanho tinha mais do que o dobro da atual, além de também não ter existido naquela época a mesma rotatividade que hoje existe.

No início, ela era única na cidade onde agora já existem mais de 10 Lojas. Vislumbramos aqui alguns dos motivos da impressão de ausência existentes na Maçonaria Brasileira – O vazio fica só na impressão, mesmo porque na nossa visão a nossa Ordem está mais viva do que nunca.

Outro fator importante que precisa ser levado na devida consideração é que nos primórdios da Arte Real no Brasil, recebemos a influência da Maçonaria Francesa, profundamente política, tendo uma filosofia racionalista em cima do Positivismo, muito em voga na época, daí uma busca maior por parte daqueles que tinham ambições ao poder governamental.

A sua ingerência nos sistemas de governo de então, cuja atuação extrapolava o silêncio dos Templos, fazia com que ganhasse campo na imprensa, provocando debates públicos e inclusive um maior alarido nas rodas das intelectualidades de então.

Numa comparação à luz da história, a sensação é a de uma presença mais efetiva em tempos passados e a sua existência muito mais sentida exatamente devido à ocupação de um enorme espaço político e, consequentemente, havendo uma maior divulgação nesse sentido.

Assim, pois, é para se aceitar como coisa muito natural que houvesse naquela época uma porcentagem de presença em números mais elevados.

Só que, sendo político o motivo dessa maior presença, a atuação da Loja, comparada aos modelos de hoje em relação à História, à Linguagem Simbólica, à filantropia e ao Esoterismo, dentro desse campo, seria muitíssimo menor.

Com o quase total desaparecimento do colonialismo e seu conseqüente absolutismo governamental, deixou de existir o terreno propício a uma atuação política da maçonaria daquela tendência. Além do mais, com a ocorrência no Brasil de uma maior influência da vertente inglesa, cujo trabalho sempre foi e é discretamente realizado no interior dos Templos e sendo esta outra vertente (a inglesa) da política, fez-se com que não se receba mais como maçônico, o "oba-oba" das ruas, acontecimento natural da influencia francesa, e daí também, a impressão de um maior vazio hoje dentro da Ordem.

Ainda pela ação da Maçonaria Inglesa, existe na atualidade, outra visão da realidade sobre a nossa Ordem onde muitos são candidatos e poucos realmente escolhidos.

Entre estes, todos terão que passar pela iniciação, que é uma ação ritual peneiradora "ESOTÉRICA", o que resulta uma sobra minoritária dos que realmente possam vir a ser os, esotericamente, realmente "Iniciados".

A nossa angústia ante o desconhecido, quer pela vivência aqui na Terra enquanto um Ser material ou após a morte, como provável Ser espiritual, provocará dentro e fora do Templo, uma busca na solução do mistério.

Não sendo este encontrado aqui dentro, (não vamos entrar no mérito dos motivos) dará como resultado uma maior rotatividade no "entra e sai", da Ordem.

A pequena iniciação é por todos vista e sentida. A grande iniciação, porém, não é ele, o Filho da Luz, que se dá conta da metamorfose sofrida, pois foram os seus irmãos que vislumbraram nele um possível grande iniciado.

Foi então um reduzido, porém muito eficiente grupo, e é aí que repousa a grande força da Arte Real. O que resulta para olhos que só enxergam esotericamente é uma sensação de vazio, que pode e deve ser compreendida apenas na sua aparência.

Na realidade, aquilo que uns poucos esotericamente produzem, apesar de ínfima minoria, é incomparável e somente podem ser aquilatados, vistos e compreendidos por outros olhos também esotéricos.

Para esse vislumbre, seria bom não esquecermos uma das primeiras colocações do proceder maçônico: - "O que se faz com a mão direita, a esquerda não deve ver". A grandeza da Ordem e da Arte devem permanecer ocultadas a vistas profanas.

Assim, as obras maçônicas não são elaboradas para que o mundo lá fora delas tomem conhecimento, situação essa que é contrária aos seus fundamentos.

Ir.’. Osvaldo Ortega

A VERDADEIRA HUMILDADE MAÇÔNICA


 

Num Conclave Maçônico realizado por uma determinada Potência, havia um prosélito desfilar de vaidades, onde as alfaias e paramentos ofuscavam o disputar de quem era mais “DIFERENCIADO” em termos de notoriedade naquele evento.

Um pequeno grupo de irmãos estava alheios a tamanha manifestação de ostentação daqueles “pombos de aventais” que arrulhavam pelos corredores, com frivolidades que chegavam à beira da mediocridade.

Conversando entre si, aqueles honoráveis irmãos, começaram um dialogo contemplativo e ao mesmo tempo dissertativo, sobre o fato tão comum na nossa Ordem, que transcrevo abaixo em essência, numa crônica adaptada à nossa filosofia.

Começo o tema com a seguinte pergunta: “QUAL A VERDADEIRA HUMILDADE DE UM IRMÃO MAÇOM?” Pergunta esta que nos remete à inúmeras analises em todos os campos da erudição da psicologia moderna, com as suas nuances também no campo da Psiquiatria contemporânea advinda da globalização.

Teremos que iniciar tal crônica, com a definição real do que é HUMILDADE. A humildade não deve ser confundida com baixa auto-estima, timidez, sentimentos de inferioridade ou auto degradação.

Embora ser humilde exija reconhecer as nossas próprias dificuldades, limitações e limites, isso não significa fazer uma demonstração deles. Humildade para o verdadeiro Maçom significa viver na verdade, aceitando que não somos perfeitos e isso deve ser sempre a nossa realidade.

Muitos irmãos pensam que são humildes, quando, na realidade, estão constantemente reclamando e falando sobre quão desafortunados ou desvalorizados são, concentrando-se inteiramente em si mesmos, o que é uma forma oculta de orgulho.

A verdadeira humildade do homem Maçom, não significa olhar constantemente para a própria pequenez e comparar-se aos outros. Fazer estas comparações significa constantemente voltarmo-nos para nós mesmos e apenas ver os outros como superiores ou como ameaça ao nosso crescimento na Instituição.

A humildade não é uma virtude a ser conquistado para alcançar a auto perfeição, o que na verdade leva ao orgulho, a frase comum que ouvimos nos nossos templos e ágapes “na minha humilde opinião” não é nada além de orgulho disfarçado. Quando a humildade se torna explícita, não é mais humildade.

A psicologia contemporânea usa o termo “autenticidade” mais que a humildade. Significa viver a verdade sobre si mesmo, ser honesto consigo próprio e com os outros. Essa é a verdadeira humildade que deve ser exercitada na Maçonaria. É um sinal de maturidade psicológica e espiritual e de liberdade interior.

Em vez de uma série de comportamentos que devemos adotar, a humildade é um modo de ser e de se relacionar com os outros. É caracterizada pela maneira como uma pessoa se aceita e se valoriza.

A humildade é como a argamassa que sustenta a base de um edifício; sem ela, é impossível manter-se de pé na vida espiritual. Após esta explanação acima, fica mais plausível algumas conclusões sobre o que vem acontecendo na modernidade da Maçonaria atual: OS IRMÃOS PERDERAM A VERDADEIRA HUMILDADE MAÇÓNICA, na sua grande maioria, disse um dos decanos, presentes ao dialogo.

Que frase impactante, que provocou um profundo e pesado silêncio naquele debate. Concluiu o que repasso ipsis litteris:

A verdadeira humildade do homem Maçom é dar o melhor de si sem se sentir melhor que os outros.

É ter consciência das suas qualidades, mas reconhecer que tem muitos defeitos também.

É mostrar os seus talentos sem querer abafar os talentos dos outros.

É admirar os outros pelo que eles são sem esquecer que você também é filho de Deus, o Grande Arquiteto do Universo.

É admirar os outros pelo que eles fazem sem esquecer que você também é capaz de fazer coisas maravilhosas.

É aceitar cargos importantes, mas fazer deles uma maneira de servir ainda mais.

Assim meus amados irmãos, vemos que hoje existem muitos irmãos, que por terem maior bagagem de conhecimento que outros, se julgam superiores, achando-se com o direito de menosprezar aqueles que, menos favorecidos cultural ou financeiramente, não dispõem do mesmo cabedal de conhecimentos, mas que nem por isso podem ser considerados como irmãos inferiores.

Não podemos esquecer-nos de que cada indivíduo dentro da Ordem Maçônica é um especialista no seu campo de ação. Então… alguém é melhor do que alguém? Pode ter mais conhecimentos porque teve mais chances para estudar, mas não é melhor do que ninguém.

Todos os irmão tem a sua importância na construção do edifício da verdadeira Maçonaria, que é o seu TEMPLO, o seu Coração de Pedra transformado em Vaso de Amor. Vemos muitas lives, com o TEMA: o que viestes fazer aqui? Cada uma mais espetacular que a outra, em dizeres, com apresentações riquíssimas de detalhes supérfluos ou mais elaborados.

Mas a resposta PRINCIPAL sempre será: Vencer as minhas paixões, submeter a minha vontade e fazer novos progressos na Maçonaria, estreitando os laços de amizade que nos unem como verdadeiros Irmãos”. Ai o irmão pode-se estar a perguntar, o que tem a ver o CONCLAVE MAÇÓNICO do parágrafo inicial com a crônica apresentada nessa dissertação?

A resposta é muito simples, TUDO E NADA. TUDO, pois não é fácil identificar a vaidade em nós mesmos e os julgamentos da espécie devem considerar atitudes hipócritas que levam à analogia de quem consegue ver um cisco nos olhos dos outros quando tem algo bem maior no próprio olho, conforme advertido no “Sermão da Montanha”.

Mas, condenações e julgamentos à parte, a vaidade é transparente quando os observados demonstram um comportamento de se situar acima dos demais, por quaisquer atributos, sejam estéticos, intelectuais, materiais ou outros que ensejam uma atitude de atrair admiração. Pode ainda se manifestar de uma forma disfarçada, de acordo com objetivos a atingir.

Aprofundar nessas perspectivas não é o nosso objetivo, mas dizem os especialistas que muitas vezes o vaidoso o é naturalmente, sem perceber, e vive desempenhando um personagem que escolheu e com os conflitos de encontrar-se a si mesmo.

A forma mais visível da vaidade é identificada em irmãos em postos de comando que, ao se julgarem superiores aos demais, demonstram empáfia, orgulho arrogante e presunção da verdade. Tal vício de conduta gera, muitas vezes, problemas de ordem interna nas instituições, principalmente na Maçonaria e disputas desnecessárias, que levam a implosão das Potencias, como tempos observado nos últimos anos, principalmente no GOB.

E NADA, Se no mundo profano os vaidosos disputam posições de destaque, na Maçonaria o obreiro não deve pleitear cargos nem honrarias, realizando apenas e tão-somente os trabalhos que realcem o valor da Ordem, e quando investidos nesses cargos, que ajam com Humildade, Serenidade, com foco na construção e fortalecimento de relações sinceras, leais e éticas, tendo a convicção de que a vaidade compromete a sustentação das colunas da Loja.

A conduta dos Veneráveis e dos Mestres da Loja é a referência para os Aprendizes e Companheiros, que anseiam por bons ensinamentos a ser transmitidos com paciência, prudência e serenidade.

Concluindo, repasso a pergunta aos amados irmãos: “A sua Humildade dentro da Ordem é verdadeira?

Respondei com franqueza, a sua resposta não nos ofenderá.

Dario Angelo Baggieri

 

GRAUS FILOSÓFICOS

 


A expressão Graus Filosóficos já se tornou corrente na Maçonaria – usa-se em contraposição a Graus Simbólicos.

Conquanto já faça parte dos nossos usos e costumes, inclusive sendo útil para diferenciar os graus anteriores dos posteriores criados na história dos Ritos, estas expressões objetivam conceitos extremamente inadequados que nos servem de paradigmas inconscientes.

Quando nos referimos à Maçonaria, independentemente dos graus dos quais estejamos falando, invariavelmente nos vem à mente a ideia de uma “filosofia”.

Não há como ser diferente, pois uma instituição que pretende a construção de um determinado modelo de homem, almejando com isso uma profunda transformação social, terá obrigatoriamente uma “filosofia”, que é permanentemente atualizadas nas suas lendas, ritos, mitos, símbolos e doutrinas.

Mesmo se estiver de acordo com este raciocínio, o leitor atento provavelmente estar-se-á perguntando a razão de colocarmos “filosofia” entre aspas. Para diferenciá-la de Filosofia, com “f” maiúsculo.

Desejamos defender aqui a tese de que, ao falarmos de Maçonaria, existe uma diferença entre “filosofia” e Filosofia, e que isto é fundamental para a nossa práxis.

Estudar e conhecer Filosofia podem ser sinônimo de erudição ou indicação de um status profissional. Erudito, segundo os dicionários, é quem tem instrução vasta e variada, que é sabedor de muitas coisas. Um professor de Filosofia, um filósofo profissional ou alguém com “amor à sabedoria” (que é o que significa o termo) podem ser eruditos em Filosofia; conhecer autores e obras, sistemas filosóficos e história da Filosofia. Isto não faz de nenhum deles um filósofo, no sentido existencial. Assim como conhecer profundamente Teologia não faz de alguém um religioso.

Começa a aparecer a pedra de toque para fazer a distinção que pretendemos. Dois parágrafos acima falávamos de práxis. Devemos diferenciar práxis de prática. Prática refere-se, ainda segundo o dicionário, ao ato ou efeito de praticar; à experiência nascida da repetição dos atos.

Necessitamos prática para dirigir automóveis ou para realizar uma cirurgia. Já práxis é a totalidade do nosso agir enquanto seres humanos. Cada ação humana implica aspectos objetivos (como fazer, falar, produzir) e aspectos subjetivos (como valores, ideologias, condicionamentos de toda ordem e as atitudes deles decorrentes). Prática refere-se ao que eu sei fazer; práxis refere-se ao que eu sou.

Paulo Freire, o notável pedagogo brasileiro, já nos ensinava que a atividade essencialmente humana é a reflexão, e a práxis humana deve ser composta de ação « reflexão; assim mesmo: uma ação de mão dupla onde as partes são inseparáveis com o perdão da redundância. Quando na nossa, o nosso agir está dissociado da reflexão, alienamo-nos.

Quando alienados, por mais ativos que sejamos não somos os senhores da nossa história; não estamos na direção das nossas vidas. Somos levados pelas circunstâncias. Para se desalienar, é preciso “filosofar”, perquirir, duvidar.

Os fatos são-nos dados pela existência, e podem ser organizados pela Economia, pela Sociologia, pela Antropologia, mas é “filosofando” que os interpretamos que os julgamos e que os transcendemos.

Neste sentido de um compromisso consciente com a existência é que devemos ser seres ativos e reflexivos, isto é, adotar uma postura naturalmente filosófica. Esta postura implica numa atitude inquiridora e céptica, sem ser relativista ou cínica.

Devemos ser filósofos no sentido do ideal marxiano de ser pescador pela manhã, poeta à tarde e filósofo à noite, sem que sejamos pescadores profissionais, poetas profissionais ou filósofos profissionais.

A Filosofia será ferramenta de aprimoramento do olhar e do raciocínio, e para isso é importante conhecer os filósofos e os seus pensamentos. “Filosofar”, porém, será a nossa atitude constante.

Eis porque, meus Irmãos, conceber graus filosóficos e não-filosóficos na Maçonaria é defender uma posição maçonicamente contraditória, pois não pode haver Maçonaria que não seja essencialmente filosófica. E, consequentemente, não pode haver Maçom que não seja filósofo.

Se fomos iniciados, então basta-nos “saber” sinais, toques e palavras; “conhecer” algumas instruções e princípios. Se somos iniciados, então sinais, toques e palavras servirão para reconhecermos pessoas com as quais teremos uma identidade de interesses, de convicções, de posturas sociais e espirituais; viveremos os nossos princípios, pois eles serão conscientemente compreendidos e livremente aceitos.

A Iniciação é uma conversão, uma metanóia. Os Irmãos que nos acolhem numa Loja, dirigentes ou não, podem apenas fazer-nos o convite, mostrar-nos o caminho e fornecer-nos as ferramentas. O sim terá que ser nosso.

A transformação da nossa atitude perante nós mesmos e perante o mundo é tarefa exclusivamente nossa. E responderemos solitariamente às nossas consciências pela nossa decisão.

Se não realizarmos esta conversão, continuaremos frequentando Lojas simbólicas, onde apenas repetiremos enfadonhos gestos e palavras, e Lojas filosóficas, onde apenas recordaremos o Cobridor e leremos os rituais.

E voltaremos à nossa vida real sem marcas, sem sinais, sem toques e sem palavras.

Francisco C. L. Pucci

 


O APRENDIZ IMPERFEITO


 

Aprendiz no sentido de estar apto a aprender, a compreender aquilo que se vivencia, para então assimilar como experiência definitiva, que será incorporada a si mesmo. Imagine um paraíso repleto de coisas perfeitas, onde tudo seria regido pela mais perfeita harmonia, sem falhas, sem nada para ser corrigido, ampliado, ajustado, que papel então teria seus inquilinos?

Estes não estariam mais sujeitos a aprender coisa alguma, uma vez que não mais existiriam objetivos a serem conquistados, nem falhas a serem reparadas.

Quando se observa o crescimento de qualquer coisa, logo se percebem os vários estágios, cada qual com seus aspectos peculiares, que delimitam claramente fases de transição, onde a transformação cíclica é a única certeza.

Entre uma fase e outra, há a transferência de um estágio imperfeito para outro mais adequado, mas, jamais perfeito. Uma criança, por exemplo, ao crescer fisicamente, também torna possível ao seu cérebro assimilar novos experimentos, pois ganha nova capacidade mental. Ela não deixa de ser criança, mas se transforma em outra mais capaz.

Os limites próprios do primeiro estágio desaparecem, são substituídos por um modelo mais eficaz, mais adequado à nova realidade, que é uma necessidade desse crescimento físico.

O constante e sempre cíclico transformar-se é que caracteriza aquilo que é eterno. Não existe o eterno estático, pois este não poderia escapar das leis de transformação de si mesmo, onde aquilo que não muda, definha e morre.

É uma lei natural, o que não se transforma, ou se adéqua, ou melhora se desgasta até o fim. A eterna criança envelheceria como criança, não passaria pelos demais estágios existenciais, não teria sentido sua existência.

Para os pais, não iria diferir em nada de um boneco de plástico desses que já existem nas lojas, que até são capazes de falar, cantar, comer, que simulam com perfeição uma criança pequena. Num mundo de perfeição, um aprendiz não teria nenhum espaço para sua transformação, sua experiência vital e espiritual, onde as falhas são seus verdadeiros mestres de conhecimento.

Apenas em condições dessa natureza poderá ele progredir, se qualificar, deixar de ser potencial para se transformar em capaz. Deverá aprender a partir daquilo que é imperfeito, poderá então através desse experimento, através dos devidos ajustes em si mesmo, deixar para trás os estágios de menor capacidade, para os de maior capacidade.

Trata-se de um caminho espinhoso, uma vez que todos a sua volta, sem exceções, estarão na mesma trilha, dentro do mesmo modelo de viver imperfeito. Imperfeito quer dizer transitório, e perfeito significaria o permanente. Mas, não existe o permanente estático, por isso não existe o perfeito. Mas perfeito é o eterno ciclo de reciclagem, da transformação do inadequado para o mais adequado.

Perfeito é o aprendiz que se conscientiza disso, em cujo caminho a eternidade se revela, com suas infinitas possibilidades, seu eterno movimento de auto-ajustamento. E tudo isso são coisas perfeitas, o reconhecer-se imperfeito, o incompleto que vê na transformação de si mesmo progresso.

Não se trata do transformar-se sem aprender, mas do aprender pelo transformar-se. E assim o aprendiz se percebe imperfeito, por isso não julga nem a si mesmo. Apenas observa, pratica em si mesmo aquilo que aprendeu com suas próprias limitações e falhas.

Não vê o perfeito como objetivo derradeiro, pois isto ele não conhece, mas nas próprias imperfeições a possibilidade de mudar. Não julga o mundo imperfeito a partir de si mesmo também imperfeito, mas observa em si tais imperfeições, compreende a necessidade de mudar, aprende com esse mudar.

Observe o cíclico movimento da terra em volta do sol, onde nenhum dia é igual ao anterior. Amplie isso aos confins do universo, até onde nossa imaginação é capaz de alcançar, e o que se deduz são os eternos estágios, onde o ponto de origem de qualquer coisa, sempre aponta para sua transformação.

Se essa transformação parece menos para nós, deve significar mais para outro, e assim por diante. Uma pedra preciosa bruta se transforma em mais quando lhe tiram as arestas, logo, para esta, o menos significa mais.

Diante da imperfeição, finalmente, o aprendiz se torna capaz de transformar-se, de desenvolver novas qualidades, de migrar para novos estágios existenciais, mas nunca sem antes conhecer seus limites. Afinal de contas, um limite precisa ser percebido claramente, ou não haverá mudanças.

 Observar, perceber, e finalmente compreender a si mesmo, faculta a transformação, e esta significa que houve aprendizado. Eterno é seu movimento, perfeito o seu ritmo, perfeito a sua causa e efeito, perfeito é o eleger do imperfeito como a força motriz de todas as transformações.

Ir Anderson Vasconcelos, ARLS Adolfo Barbosa Leite nº 3341, Rio Branco - GOB-AC

 

 

REENCARNAÇÃO E MAÇONARIA


 

A Maçonaria não requer nenhuma crença particular na vida após a morte, apenas a imortalidade da alma – que alguma parte de quem somos continua de alguma forma após a morte corporal.

A reencarnação não é uma crença comum nas religiões ocidentais tradicionais, mas pesquisas mostram que pelo menos um quarto dos cristãos acredita nela. Alguns dizem que isto é uma contradição, enquanto outros encontram confirmação ou pelo menos indícios da crença nas escrituras judaico-cristãs.

A ideia também não era desconhecida dos místicos judeus e cristãos, provavelmente do contacto com a Índia desde a época de Alexandre, o Grande. Independentemente disto, o ponto de vista de viver vida após a vida tem profundas implicações consistentes com os valores Maçônicos.

Uma consequência é a do legado. A maioria de nós deseja deixar um mundo melhor para os nossos filhos; aqueles que acreditam na reencarnação também estão a tornar o mundo melhor para si mesmos.

Qualquer que seja o mundo que eles construam, eles terão que viver nele novamente. Não é apenas uma passagem de testemunho, mas uma continuação do trabalho.

Ao refletir sobre este ponto de vista, podemos perguntar-nos – mesmo hipoteticamente, se não acreditamos na reencarnação – o que queremos fazer nesta vida que gostaríamos de poder dar continuidade na próxima, ou colher os seus benefícios?

Que marca poderíamos deixar no mundo tão significativa que ao sermos lançados aleatoriamente numa outra vida, garantiria sermos afetados por ela?

Outra implicação é a ideia de que temos muitas oportunidades, ou passos, para aperfeiçoar a pedra bruta, e o nosso trabalho só pode ser entregue depois de apresentarmos uma pedra que seja verdadeira e quadrada.

Esta é uma desculpa para ajudar na reforma dos outros e de nós mesmos, considerando que poucos, se houver, estão para além da redenção. E que melhor maneira de ser humilde do que saber que o nosso trabalho espiritual é maior do que a nossa única vida.

A Maçonaria, como a Arte Operativa dos construtores de catedrais, ensina-nos que começamos o que os outros vão terminar e terminamos o que os outros começaram, abrangendo vidas e gerações. Não podemos esperar fazer tudo durante os nossos curtos anos e não devemos nos arrepender disso como uma falha pessoal. Quão estranho seria, no grande desígnio da Divindade, que apenas vivêssemos e morrêssemos, quando propósitos mais gloriosos exigem tempo voltado para a eternidade, qualquer que seja a forma que o resto das nossas viagens tome.

A reencarnação é também o inverso da cultura YOLO (“You Only Live Once”, ou “Só se vive uma vez”) do libertino, ou do ateu materialista. Tal como uma crença na recompensa celestial imediata, aqueles que abraçam a reencarnação não vivem para o momento, exceto como um prelúdio para um futuro. O que fazemos agora tem consequências reais para o nosso futuro nesta vida e na próxima (e na próxima).

Talvez seja uma ideia sensível para nós ou mesmo uma em que já acreditamos. Ou talvez pareça estranho para nós, mas o sentimento deve ser familiar às nossas crenças centrais, onde viajamos “de vida em vida”.

Ou talvez rejeitemos a noção de reencarnação, mas ainda assim, possamos aprender as suas lições. O poeta romano Sêneca dizia: “Viva cada dia como uma vida separada“.

Cada dia, ou vida, apresenta-nos um novo Quadro para Pintar, e mesmo que possamos ver apenas o trabalho deste dia, sabemos que não começamos, e continuará por muito tempo depois que as ferramentas de trabalho da vida caírem das nossas mãos.

E talvez as ferramentas estejam à nossa espera mais uma vez, amanhã.

Ken JP Stuczynski

Tradução de António Jorge, M M

Fonte

Blog Midnight Freemasons

 

LAPIDANDO MINHA PEDRA


 

Desde que me iniciei nesta Augusta Ordem, e desde que adentrei ao templo em busca da verdadeira luz, me foi sempre dito que deveria lapidar minha pedra bruta.

Disseram-me também que este lapidar seria um trabalho lento e solitário, onde deveria aparar minhas arestas sem reparar nas imperfeições de outras pedras.

Entretanto, a solidão na caminhada ao espiritual não significa viver apartado das pessoas, pois o crescimento sem a companhia dos irmãos é impossível, visto que desapareceriam os referenciais que servem de colunas de orientação.

Da mesma forma, torna-se impossível lapidar minha pedra sem reparar nas pedras a meu lado que me servem de vetor e por isso mesmo de orientação em minha lenta lapidação. É muito fácil dizer que eu não reparo na imperfeição da pedra alheia e por isso também não vou querer que reparem na imperfeição da minha.

A Maçonaria é sábia e perfeita em seus ensinamentos e nada nos é colocado sem que haja uma razão de ser. Se no primeiro grau simbólico a pedra bruta tem que ser desbastada, ela terá sempre como molde a pedra cúbica.

Para que possa o Aprendiz galgar sua subida na escada de Jacó, ele sempre terá como modelo o Companheiro. Dá mesma forma, o Companheiro no polimento de sua pedra cúbica aprimorando-se em busca da perfeição maçônica, também o fará moldando-se no modelo da pedra polida, que por seu polimento reflete a sabedoria e conhecimentos do Mestre.

Daí a importância em reparar nas perfeições e porque não dizer nas imperfeições de outras pedras, pois até mesmo o errado nos é importante para que saibamos o que vem a ser o certo.

A maçonaria é perfeita, mas o homem, este, está fadado à imperfeição, pois vive ainda em sua constante luta entre o espírito e a matéria. Vemos também a necessidade de um aprendizado em conjunto nas palavras de Lev Vygotsky que particulariza o processo de ensino e aprendizagem na expressão “obuchenie” própria da língua russa, que coloca aquele que aprende e aquele que ensina numa relação interligada e diz ainda que “na ausência de outro, o homem não se constrói homem”.

Pois se de uma forma devemos abrir nossos corações para o que nos ensinam, da mesma forma quem nos ensina deve saber tocar nossos corações.

A grande importância de nos reunirmos está em revigorar nossas forças para o solitário desbastar de nossas imperfeições, pois além do carinho, da fraternidade, do amor que nos une e nos fortalece, está também o exemplo que damos e que seguimos.

 Pois fica, assim, mais palpável para nós, tornarmos pessoas melhores, se estivermos ao lado de pessoas que consideramos e admiramos. Jean Piaget, Emília Ferreira, Tânia Zagure, Paulo Freire, Rubens Alves, entre tantos outros pedagogos e pensadores são unânimes em reconhecer que aprendemos mais pelos exemplos que temos do que pelas palavras que nos falam, ou seja, a máxima – faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço – não funciona nem em nossa infância, quanto mais em nossa maturidade.

E, sendo assim, não adianta dizer que por ser um trabalho solitário, tal trabalho não me dará responsabilidades para com as pedras a meu redor, não basta polir somente a minha pedra, tenho que também servir de exemplo para o polimento de outras a meu lado.

Todavia, inerente a tal afirmativa, o maçom está fadado a ser sempre um exemplo a ser seguido, um exemplo de moral, virtude, sabedoria, instrução, bondade, tolerância, ou seja, estará sempre sendo cobrado em sua luta eterna na construção de castelos a virtudes e masmorras ao vício.

O Aprendiz vem a ser um exemplo de modelo ao profano, e terá o Companheiro como modelo, que por sua vez se espelhará nos Mestres, pois a Arte Real sabiamente dividiu os graus simbólicos em três da seguinte forma: no primeiro conheça a ti mesmo, vença suas paixões e submeta suas vontades; no segundo adquira conhecimento, através das ciências para que no terceiro já esteja pronto para ministrar os conhecimentos adquiridos e venha a formar novos Mestres.

Daí, a importância de nos reunirmos, tanto em loja, quanto fora dela em nossos momentos de ágape, para que na troca de experiências possamos nos aprimorar, e comungando, em fraternidade e harmonia, possamos revigorar nossas forças para a árdua caminhada em busca de conhecimento e sabedoria para nos tornarmos homens melhores, servindo de exemplo ao resto da humanidade.

Ir Ivan Barbosa Teixeira, MM

 

A INSTALAÇÃO DE UM VENERÁVEL MESTRE


 

Esse é um tema um tanto quanto comentado na Maçonaria contemporânea. Há tantas teorias, histórias e invenções sobre o assunto que se torna até difícil tratá-lo de forma concisa.

Você pode ler por aí que Instalação é a mesma coisa que Investidura ou que Posse. Isso não é verdade.

Você também pode ler que Instalação é um costume que a Maçonaria copiou dos Cavaleiros Templários. Isso é viagem.

Talvez você leia em algum lugar que Instalação é uma influência da Igreja Católica na Maçonaria. Isso é besteira.

Você também poder se deparar com a teoria de que Instalação é uma cerimônia adaptada de um Grau Superior do Real Arco Americano, chamado de Grau de Past Master. Essa é uma grande idiotice.

E se você ler que a Instalação surgiu por volta de 1823 na Grande Loja Unida da Inglaterra, também não acredite.

Em primeiro lugar, instalação significa “ato de instalar”, sendo o verbo “instalar” originado do termo latim “installare”, que significa “introduzir na cadeira”. Assim sendo, instalação é algo maior do que uma simples investidura ou posse. Os Oficiais são investidos no cargo, tomam posse. Mas apenas o líder é “introduzido na cadeira”, ou seja, é “instalado”.

Esse costume de instalar o Mestre da Loja, de sentá-lo no Trono de Salomão, não nasceu com a Grande Loja Unida da Inglaterra, ou com o Ritual de Emulação, ou mesmo com algum Grau Superior. Pelo contrário, esse costume é mais antigo do que tudo isso e ainda mais antigo que o Grau de Mestre Maçom.

Como todos sabem (ou pelo menos deveriam saber), antigamente só havia 02 Graus: Aprendiz e Companheiro. Então, os Companheiros escolhiam entre eles aquele para governar a Loja, o qual era instalado na “Cadeira do Oriente” e chamado de Mestre da Loja. Na própria 1ª versão da Constituição de Anderson, datada de 1723, não havia ainda citação do Grau de Mestre Maçom, que só foi acrescentado na edição seguinte, mas já havia o antigo costume de “instalar” o Venerável Mestre.

Esse costume da Maçonaria Inglesa se deveu à cultura monárquica dos britânicos. Afinal de contas, os reis também são “instalados” no trono quando assumem o posto, e se o Venerável Mestre simboliza o Rei Salomão, então nada mais justo dele ser devidamente instalado no trono. Daí muitos estudiosos também relacionam o uso do chapéu do Venerável Mestre com a coroa, e o uso do malhete com o cetro.

Já essa história de que a instalação foi adaptada do Grau de Past Master do Real Arco é a típica suposição maçônica. Alguém que fica sabendo que existe um grau no Real Arco que se chama “Past Master” e conclui que esse grau serviu de base para a Instalação de Venerável Mestre não pode ser considerado um Investigador da Verdade. É apenas mais um “achista” de plantão.

Na verdade ocorreu exatamente o contrário: o grau de Maçom do Real Arco tradicionalmente era restrito a Mestres Instalados. Então, para não restringir o grau apenas àqueles que foram Veneráveis Mestres, foi criado um grau conhecido como “Past Master Virtual” que é apenas uma “Instalação Virtual” para que o membro que não seja um Mestre Instalado tenha o conhecimento mínimo para se tornar um Maçom do Real Arco. Portanto, foi a Instalação que serviu de base para o Grau de Past Master, e não o contrário.

Outra observação a se fazer quanto à Instalação é quem a realiza. O correto é que o Venerável Mestre realize a Instalação de seu sucessor. Ele se une com pelo menos três Mestres Instalados da Loja ou visitantes e forma o Conselho de Mestres Instalados, o qual realiza a Instalação.

É direito daquele que está deixando o posto entregar o bastão, faixa, colar, malhete ou o que quer que seja ao que está assumindo. Isso faz parte do processo democrático.

Enfim, trata-se de um antigo costume maçônico inglês com valor simbólico importantíssimo para a manutenção da cultura maçônica através das Lojas, e por isso adotado por praticamente todos os Ritos e Rituais regulares do mundo.

http://www.noesquadro.com.br

 

O TRABALHO MAÇÔNICO E A ESPIRITUALIDADE


 

Uma Loja maçônica, que pode simbolizar o mundo, o universo em que vivemos, é uma plataforma que permite o crescimento do maçom, o seu desenvolvimento espiritual assim como a sua elevação ética e moral.

Uma plataforma, que quando utilizada de forma correta, de coração aberto e em verdade, permite ao indivíduo aperfeiçoar-se e crescer, em suma, tornar-se um homem melhor e mais apto, livremente responsável, que, partilhando um desígnio com os Irmãos, se aperfeiçoa e aperfeiçoa o meio onde se insere, á sua dimensão.

O trabalho maçônico, para mim, claro está, tem como objetivo tornar o mundo melhor. Isto parece um objetivo vago e inalcançável, que tudo permite dizer e nada diz. Porém, é minha convicção que é mesmo isto que fazemos todos os dias.

Uma L.’. maçônica tem por obrigação ser uma escola dos melhores de uma comunidade, mais capazes e mais aptos a fazer esse mesmo trabalho, o de potenciar o cumprimento dos homens, desbastando a pedra em bruto, aperfeiçoando-se e realizando-se na sua plenitude, contribuindo então para deixar o Mundo um sitio melhor do que era quando cá chegamos. Um primado da Razão e da Filosofia, da bondade Moral e Justeza das ações.

Com os pés no chão, com a certeza de que não resolveremos os problemas todos, nem mesmo muitos ou alguns, apenas aqueles que conseguirmos depois de a isso nos dispormos.

Esse trabalho faz-se mudando os homens, que através do crescimento espiritual e cultural, vão, a pouco e pouco, alterando a sua forma de interagir com a comunidade onde se inserem.

Crescendo e aperfeiçoando-se, o maçom muda para melhor, estou em crer, mesmo que inconscientemente, o mundo que o rodeia. Do somatório puro e simples do aperfeiçoamento dos maçons, observamos uma transformação na sociedade, quer tenhamos ou não disso noção. Um processo que se apresenta como profundamente individual assume então a sua generosidade.

O trabalho do maçom é aperfeiçoar-se em L.’.. E como é que isso acontece? Esse é o trabalho da L.’., há luz dos códigos de elevação moral e espiritual, onde o Ritual assume um papel preponderante, tornar homens bons melhores, dispostos a preparar o futuro e construir o presente á luz dos ideais maçônicos.

Para isso deve ter a L.’. um critério rigoroso de escolha dos seus candidatos, sob pena de se transformar num clube de amigos que transferimos do mundo profano, desprovido de sentido.

Os candidatos devem ser convidados á luz das características dos seus talentos, para que possam ser uma mais valia para o trabalho que está na gênese da Maçonaria e é a sua razão de existir.

E porque talentos per si não valem nada, é aqui que os potenciamos e aprendemos que o que conta é o que com eles realizamos, á luz de um código de moralidade e de valores que escolhemos livremente e em consciência para nós.

Estes homens que descrevo têm de ser capazes de conceber o Divino; o Indizível; de sonhar; de terem visão; de terem a Força, a Sabedoria e o desprendimento de se entregar a projetos aparentemente impossíveis, utópicos e belos; têm de conceber a fraternidade leal fruto da partilha do Desígnio.

Porque é disso que falamos, de uma escola de Cavaleiros, que foram Cavaleiros da Terra, depois Cavaleiros do Mar e hoje Cavaleiros do Mundo. Essa dimensão espiritual é a sua característica mais importante. Que passo a explicar como se me apresenta hoje.

Entendo que a espiritualidade é uma dimensão indissociável da condição humana, mais do que o bem exclusivo de Igrejas, Religiões ou Escolas de pensamento.

Na prática, fala-se de Espiritualidade para a parte da vida psíquica, fruto da inteligência humana, que nos parece mais elevada: aquela que nos confronta com Deus ou com o absoluto, com o infinito ou com o todo, com o sentido da vida ou a falta dele, com o tempo ou com a eternidade, com a oração ou o mistério.

Temos a felicidade de ter na nossa Ordem homens de religiões reveladas diferentes, de escolas de pensamento diferentes, sem opção por nenhuma das religiões reveladas, sem se reconhecerem em nenhuma escola de pensamento, homens de profundo esoterismo e outros que nem por isso.

Não temos porém nenhum despojado da assunção da sua espiritualidade.

O respeito por essas opções é a nossa riqueza, a base para a geração da harmonia. Isto exige uma reflexão profunda do que é a tolerância maçônica, sempre á Luz de um ideal maior que todas as religiões e escolas de pensamento.

Porque a Maçonaria está num patamar diferente. Não se preocupa com a forma como cada um vive a sua espiritualidade nem ambiciona ter voto nessa matéria.

A preocupação da Maçonaria é o Individuo e depois o Mundo, onde vivem os homens hoje e os de amanhã, a sua preocupação última é a vida dos homens na Terra, e não oferecer salvação ou condicionar a sua existência á salvação eterna. Para isso existem outras sedes, cujo sucesso e eficácia jamais se poderá questionar ou até medir.

A espiritualidade que aqui tratamos remete-se para a relação do homem com o divino em vida, aqui na Terra e como essa relação pode condicionar as suas ações com vista ao cumprimento de um ideal ou Desígnio.

E como os seus obreiros são homens plenos em todas as suas dimensões, a Maçonaria não se demite de aprofundar a relação dos homens com o divino, lutando para que isso os una e jamais os divida, porque a Maçonaria quer libertar os homens das grilhetas profanas e levar esses mesmos homens a realizar a sua dimensão espiritual em total liberdade e no pleno respeito pelas crenças alheias.

O que nos une será o sentir o Universo, o Todo, que nos contem e nos transporta, uma presença universal…Será possível uma espiritualidade universal? É minha convicção profunda que sim, mais do que uma espiritualidade clerical e redutora ou do que uma laicidade desprovida de espiritualidade!

Uma espiritualidade universal… Será uma “espiritualidade da imanência, mais do que da transcendência, da meditação mais do que da oração, da unidade mais do que do encontro, da lealdade mais do que da fé, do amor mais do que da esperança, e que será igualmente motivadora de uma mística, ou seja, de uma experiência da eternidade, da plenitude, da simplicidade, da unidade, do silêncio…”.

É a essa espiritualidade universal que ouso chamar Espiritualidade Maçônica. Mas antes de procurá-la definir, poderei por ventura afirmar que é apenas no trabalho maçônico que ela poderá ser verdadeiramente aprofundada. Não um conceito que se aprenda nos livros, tem de se sentir e de se viver, fruto de um percurso iniciático.

No entanto, a Maçonaria não revela nenhuma verdade superior nem dá respostas cabais ás questões que atormentam a nossa dimensão espiritual.

Pelo contrário, convida os II.’. a procurarem saber quem são, conhecerem-se a si mesmos, com o intuito de se cumprirem, o que é profundamente diferente, colocando-os na via dessa procura e dessa realização, situando-se aqui o verdadeiro significado da iniciação, o primeiro passo de um caminho a percorrer e trabalho para fazer na construção do nosso templo interior.

Assim, a tolerância apresenta-se como uma das principais virtudes da Maçonaria e do maçon. Trata-se de uma atitude interior que repousa no respeito pela individualidade espiritual do candidato, pela liberdade de pensamento e pelo percurso intelectual e espiritual que cada maçom depois de iniciado escolhe para si.

É neste pressuposto que assenta a minha afirmação de que a Espiritualidade Maçônica é uma Espiritualidade Livre: ao sugerir um caminho individual para a relação com o divino, constrói também um percurso libertador, é um processo livre. Para isso ser possível, precisa no seu seio de homens diferentes dos demais.

O nosso trabalho hoje ao escolher esses homens, é com a convicção plena de que hoje se podem encontrar em qualquer proveniência, podem ter estado ao nosso lado toda a vida, serem os nossos amigos de infância, familiares ou colegas de profissão, como podem estar por detrás de um e-mail manhoso sem rosto.

Temos é de estar certos de que estão á altura do desafio, é de critério que vos falo, não de forma de ingresso nem de sede de relação. Porque é lógico que apenas podemos indicar homens que conhecemos minimamente e por isso têm de vir das nossas relações pessoais, todos temos porém pessoas de quem gostamos muito que sabemos não terem os requisitos mínimos para poderem ser iniciados, por mais que de disso gostássemos, fosse porque razão fosse. O critério é tudo.

É tudo porque a eles vão ser exigidos sacrifícios, de tempo para dedicar ao trabalho, para comparecer ás sessões, para se despojarem de títulos e posições, para se disporem a aprender, a aceitar criticas quando para isso não estão preparados e cuja propriedade da origem questionam, a aguentar ouvir aquilo que não entendem sem julgar, a sentir que fazem parte de algo maior e viver com essa avassaladora responsabilidade sem ser esmagado, quando finalmente se torna clara a missão a que se propuseram.

Por mais capaz que qualquer um seja, tem um percurso a fazer, para poder identificar ferramentas, e então dedicar-se ao trabalho. Uma L.’. maçônica é uma elite dentro de uma comunidade, coisa que facilmente assumimos sem complexos e nem soberba.

Entre nós deverão estar os mais capazes nas suas áreas de intervenção, que podem ser profissionais ou não, têm apenas de ser úteis ao projeto, estar dispostos a aprender e a ensinar partilhando.

Ser maçom é uma vivência, uma forma de estar na vida e perante a vida, onde a Honra, a Ética Moral, o sentido de missão, o espírito cavalheiresco das suas ações, fruto da Responsabilidade de se ser e sentir Diferente, assumem um aspecto fundamental.

Não somos com certeza homens plenos de virtudes, todos temos as nossas arestas para desbastar. E este é o local para fazê-lo, a L.’., depois de responder ao chamamento e livremente bater á porta do Templo, para servir o Desígnio.

Com a orientação de todos os obreiros, tornar ferramentas capazes em ferramentas melhores. Porque somos ferramentas de trabalho, somos os que cumprem e efetivam o Desígnio, como outros o fizeram antes de nós.

Os desígnios dignos desse nome sempre tiveram um cunho marcadamente iniciático, porque não se prendem com objetivos de pedra, betão ou madeira, mas com a realização dos sonhos, sendo perpetuados no tempo indefinidos enquanto matéria, mas muito claros quando conceitualizados por homens que se dispuseram a um processo de transformação e crescimento como o nosso, essa ideia indizível transmite-se pela iniciação, pelos rituais, pela via iniciática.

E para isso, a dimensão espiritual do homem têm de ser a sua consciência maior, aquilo que lhe rege as ações e circunscreve as paixões e os sonhos á luz das suas capacidades e talentos.

E neste trabalho não há espaço para paternalismos com os menos capazes e aptos, para soberbas profanas ou para alimentar egos com comendas. Não se faz parte da Maçonaria, não se pertence á Maçonaria, é-se maçon.

Da sua relação com a L.’. e da sua condição de maçom só o individuo pode ser responsável, se não se sente capaz ou a tarefa assusta, mais vale arrepiar caminho. Sem jamais hipotecar a solidariedade inerente á fraternidade leal, todos temos momentos piores e felizes e para isso cá estamos todos e nessa altura dizemos presente.

Não estamos é aqui para tomar conta de ninguém, proporcionar benefícios ou oferecer a salvação, estamos aqui para trabalhar, o nosso tempo é curto e o trabalho imenso. Para que nos cumpramos á luz do que aqui nos trouxe, temos de ser objetivos, sob pena de se esvaziar o sentido da Ordem Maçônica e o trabalho ficar por fazer, comprometendo o Desígnio.

Reconhecendo os méritos e as virtudes dos nossos II.’., não potenciando e exacerbando os seus defeitos, que desses não precisamos, usando o fole com cautela na forja para que a ferramenta que lá se aperfeiçoa não enfraqueça por falta de atenção ou derreta por excesso dela.

Desbastando a pedra em bruto, com a lealdade que a critica exige, com a fraternidade que o sacrifício cultiva, com a generosidade a que partilhar o desígnio não é alheia, com o reconhecimento da força e inteligência para fazê-lo cumprir.

Dessa partilha nasce a riqueza da Irmandade, do respeito pelo trabalho e pela forma como é executado. Não sendo santos nem isentos de virtude, temos toda a consciência do Desígnio.

Assumamos o objetivo que aqui nos trouxe e não deixemos que nada perturbe a caminhada para a realização desse mesmo Desígnio, que não assume forma material, mas é apenas uma ideia que todos partilhamos… Uma ideia de Homem e de Mundo.

José Eduardo Sousa, M:.M:.
R:.L:. Alengarbe (G:.L:.L:.P:.), a O:. de Albufeira, Portugal

 

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