Uma das principais questões que se colocam hoje aos maçons mais velhos,
seja de que obediência forem, é a desse determinar se estamos a formar ou a
formatar novos maçons.
Explicando melhor: uma das missões da maçonaria é a de permitir a criação
ou o aperfeiçoamento de homens e mulheres em si, não só no seu íntimo, mas
também nas relações com os outros e com o meio social e ambiental em que se
interagem.
Para isso serve em traços largos a instrução que por ofício e na maioria
dos ritos, cabe aos Vigilantes principalmente, nos 1ºe 2º graus.
É interessante saber que a maçonaria simbólica – repito, simbólica - não
inclui no seu plano de formação qualquer ensinamento no grau de mestre, isto é,
dá-se a instrução do grau quando da exaltação do grau de Companheiro a grau de
mestre, mas este em si não tem ninguém responsável pela “formação” do si nesse
grau. É como se o mestre maçom, por ter atingido esse grau, estivesse no pleno
conhecimento do que é ser maçom, dos seus direitos e deveres, nomeadamente o de
estar preparado para ensinar aprendizes e companheiros.
É claro que se pode dizer que a extensão da maçonaria simbólica pelos
graus filosóficos permitirá aprofundar os conhecimentos três primeiros graus,
mas isso é se os maçons tiverem interesse em enveredar pela linha filosófica
dos ritos.
Voltando ao tema, o que me preocupa é saber se a “formação” dada tem como
objetivo, e se permite obter, melhores maçons, melhores pessoas, melhores
cidadãos, melhores seres humanos, ou se o ensino ministrado não “formatará”
maçons, limitando-os na sua liberdade de aprendizagem, com o objetivo de
defenderem clubísticamente as cores da sua obediência.
Para já penso que há que definir previamente, o que se deve entender por
formação e formatação maçónicas.
“Formar” significa “dar forma”, estruturar, ou seja, estabelecer contornos
que o próprio destinatário configurará dentro da sua liberdade de escolha e de
análise; por outras palavras a forma que ele quer dar à sua aprendizagem pode
limitar-se a simples leituras, à aceitação de dogmas, ou a aceitar uma
amplitude de questionamentos em nome da sua total liberdade.
Este formar é extremamente difícil para qualquer mestre, já que o neófito
poderá pôr em causa todos os alicerces do edifício maçónico, incluindo nalgumas
obediências, os princípios que são considerados imutáveis, como por exemplo a
crença maçónica (não religiosa) num Grande Arquiteto do Universo.
“Formatar”, à falta de melhor definição é a preparação de uma pessoa para
ser depositária da informação veiculada, no fundo impor um certo modelo ou
padrão. Esta é – ma minha exclusiva opinião – a valência preferida por quem tem
por missão transmitir os ensinamentos maçónicos.
Mas não basta saber fazer os sinais maçónicos, saber andar em templo,
falar à ordem, etc. É preciso perceber a sua razão de ser, o seu significado e
interiorizá-lo.
Enquanto “formar” deixa sementes progressivas, “formatar” é autofágico por
natureza.
Ora sucede que criar maçons formatados é contra a própria essência da
maçonaria, cuja riqueza reside na diferença de pensar dos seus membros,
diferença que não pode ser formatada. Se isso acontecer, condena-se a maçonaria
à sua futura extinção.
2022.07.10. MPS
Manuel Pinto Dos Santos
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