A frase composta
para o título consiste em três conceitos distintos: primeiro o de esoterismo,
de seguida, o de construtores e, finalmente, o das catedrais que são os
monumentos mais grandiosos do catolicismo romano.
Estes três
elementos justapostos refletem uma crença compartilhada por certos maçons: os
construtores de catedrais praticavam entre eles, e gravavam nas pedras das
igrejas, colégios e catedrais, mensagens e sinais de esoterismo, que para
alguns autores do final do século XIX, se tornam pura heresia ou
anticlericalismo se não ateísmo.
Vejamos rapidamente
cada um destes conceitos separadamente, antes de compreender, porque é muito
mais uma questão de compreender que de aderir.
O ESOTERISMO
O esoterismo é uma
maneira de pensar sobre a vida interior e que se manifesta na discrição, mesmo
em segredo. Assim como o símbolo, de que só alguns podem entender o
significado, escreve Marie Madeleine Davy na sua indispensável “Introdução ao
simbolismo romano”, publicado pela Editora Flammarion.
O esoterismo é uma
forma universal de pensar, ao mesmo tempo no tempo e no espaço. Há esoterismo
quando há conhecimento reservado a eleitos e revelado em segredo. Esta ideia
remonta a tempos mais antigos.
Ela é encontrada em
abundância na Grécia. Em seguida, em Roma, com os celtas, os etruscos e os
alemães, mesmo dentro do cristianismo com diversas tradições secretas ente as
quais o gnosticismo; na Idade Média, com os cavaleiros templários, os cátaros,
a lenda do Graal, os grandes poetas entre eles o maior, sem dúvida, Dante, com
a alquimia, a adivinhação, a magia, a astrologia; no Renascimento com Paracelsus
e um florescimento de pensadores e escritores esoteristas; no século XVII com
os Rosacruzes, e no século XVIII com o ocultismo, a teosofia nascente; no
século XIX, com ocultismo invasivo, a Teosofia e a escola de Papus; no século
XX, com um resumo de todos os itens acima, usando o prefixo muito conveniente:
néo.
Uma constatação
geral: o esoterismo parece ser apanágio de intelectuais e pensadores pelo menos
alfabetizados, ou seja, capazes de ler e escrever, e sobretudo, livres para
pensar à margem de quadros impostos.
A questão colocada
acaba sendo saber se, em toda esta confusão onidirecional, os construtores de
catedrais puderam constituir um vetor de um ou outro destes diferentes sistemas
secretos.
A existência de um
esoterismo cristão é afirmada por alguns, incluindo, obviamente, Guenon que vê
ali “o lado interior da tradição cristã”, mas que é rigorosamente rejeitado por
outros e principalmente pela Igreja Católica Romana que nega absolutamente a
existência de qualquer dimensão esotérica na doutrina cristã.
De fato, como
conciliar afirmações contraditórias tais como “não deis pérolas aos porcos”,
Mateus VII, 6, com “O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia”, Mateus
X, 27.
Mesmo assim, como
conciliar a afirmação: “não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo do
alqueire, mas sim sobre um lampadário para iluminar o dia” com o seu oposto
absoluto “estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são
os que o encontram” Mateus VII, 6.
No exame dos textos
cristãos tanto canônicos quanto apócrifos, podemos então recorrer a muitas
referências que lhe eram totalmente contrárias. Por exemplo, de um lado, a
crença num esoterismo cristão proveniente do pensamento do próprio Jesus
marcada por um significado supostamente oculto contido nas suas parábolas, e,
de outro, a completa ausência e mesmo a recusa desse modo de pensar a doutrina
que ele pregava.
OS CONSTRUTORES, OU
MAÇONS OPERATIVOS
Portanto, se existe
um esoterismo cristão, ou vestígios de qualquer outro pensamento esotérico que
tenha uma origem diferente dentro do cristianismo, os trabalhadores que
construíram as catedrais maravilhosas constituíram o vetor? Vejamos, portanto,
como eles eram tanto espiritual quanto sociologicamente
No século XII, a arte
da construção é dirigida pelo mestre de obras, que é ao mesmo tempo arquiteto e
engenheiro, e até mesmo empresário. O seu status social é frequentemente muito
importante. Ele possui casas, às vezes um castelo. Com frequência ele assinava
as suas obras.
Ganhando até vinte
vezes o salário de um trabalhador qualificado, ele está perto do poder de quem
depende a sua sorte, e compartilha muitos privilégios. É também chamado Mestre
Pedreiro. É ele quem tem uma formação emprestada de Pitágoras e de Euclides particularmente.
Devemos encontrar vestígios disso no nosso grau de companheiro Maçom…
Quanto ao patrão da
obra, ele é muitas vezes constituído por uma comunidade religiosa, mosteiro,
claustro ou capítulo de cânones. Ele inclui os únicos estudiosos da época, o
clero secular que conheceu em diversos momentos de um estado vizinho à
decadência. Os monges são muitas vezes eles mesmos, ao mesmo tempo mestres da
obra e mestres de obra.
Há outras escolas
ou colégios de construtores que conhecem formas diferentes e hierarquizadas de
organizações corporativas, e tudo isto ao longo da Idade Média. Estes
trabalhadores trabalham por conta de cânones e capítulos constituídos em
conselhos particulares para os bispos.
A mão de obra
abundante e não qualificada é recrutada na classe dos desenraizados: servos em
fuga, filho de camponeses, filhos de famílias numerosas, além de trabalhadores
especializados tais como pedreiros e canteiros.
Esta última
categoria inclui tanto os “desbastadores de pedras” (canteiros de pedras
brutas) que os escultores- talhadores (pedreiros livres, abreviado como
freemasons ou frimaçons sob o Cardeal Fleury), a noção contemporânea e distinta
de artista sendo então desconhecida e inexistente.
Todo este pessoal
era analfabeto. As contas de salários estavam cheias de erros de soma, que não
enganariam uma criança de 10 anos nos nossos dias.
As marcas
lapidares, de transporte e sinais de posse são grafites rudimentares
compensando a ignorância generalizada do alfabeto.
Esta mão de obra
analfabeta é profundamente católica romana, assim como toda a sociedade da
época. A cultura estava exclusivamente nas mãos dos clérigos.
A composição de
imagens religiosas parte de princípios impostos pela Igreja Católica,
precisamente codificados e de que qualquer desvio era punido. Os escultores
contam a história sagrada aos fiéis, eles também analfabetos, de acordo com uma
tradição cristã onde os monges e os mestres de obra são os depositários
exclusivos e vigilantes.
Havia um segredo
dos Pedreiros? Vários regulamentos corporativos revelam que no final da Idade
Média, compromissos deviam ser assumidos de não revelar “certos truques do
ofício” e nada mais. Esta obrigação de segredo não estava ligada
particularmente ao oficio de construção, mas estava relacionada com a maior parte
dos ofícios organizados como sindicatos.
Os sapateiros e
ferreiros tinham os seus.
Knoop e Jones,
antes da escola francesa, estudaram a fundo o conjunto das Antigas Obrigações
inglesas. Todos estes manuscritos, tipos de regulamentos ou constituições profissionais
defendem rigorosamente isso: “o primeiro dever do Pedreiro é fugir da heresia,
e também amar a Deus, à Santíssima Trindade, à Virgem Maria, os santos e a
Santa Igreja, não brigar e ser discreto”.
Existe mais de uma
centena desses manuscritos, que vão de 1389 a 1722. Os principais textos são:
Ms Regius, datado de 1389; o Ms Cooke, do início do século XV; o Ms Plot datado
de 1686; o Ms Grand Lodge datado de 1583; o Ms. Roberts datado de 1722. Eles nada
contêm, absolutamente, que seja de natureza esotérica, observam Knoop e Jones.
Eles foram escritos
por alguns monges piedosos e eram destinados a serem lidos em grandes ocasiões
a “trabalhadores totalmente analfabetos, profundamente crédulos e supersticiosos”
assim os descreveu Bernard Jones.
A CATEDRAL
Monumento grandioso
e manifesto explosivo da dogmática romana, a catedral é o símbolo vivo da onipotência
da Igreja, mas também da mais autêntica espiritualidade cristã. A catedral é
símbolo. A sua própria função é de ordem simbólica, numa sociedade teocrática e
teocêntrica, onde tudo tem um significado espiritual e simbólico que remete a
Deus. Ela é também ensino.
Marie-Madeleine
Davy escreveu que “a fé penetra a existência, ou melhor, ela É a existência”.
Os monges e ninguém mais, também preservaram de alguma forma, pedaços de
tradições simbólicas vindas da Mesopotâmia, do Egito, da Pérsia, da China, da
Índia e da Palestina, todas as regiões de onde vêm elementos exóticos que às
vezes adornam as capitéis e pórticos.
A alquimia tem ali
o seu lugar, muito pouco esotérico, no sentido moderno do termo. Ela é
integrada ao universo simbólico da catedral. Alguns prelados apropriam-se da
Arte Real, enquanto outros a ela se opõem e a rejeitam. Mas, no século XII, a
alquimia é uma disciplina, ao mesmo tempo natural e hermética, o que não é
absolutamente um pecado. A Alquimia serve para lembrar aos fiéis, entre outras
imagens alegóricas, que ela é o templo de Deus; ela é considerada uma ciência
“sacramental”.
A Igreja não é,
contudo, unânime em considerar que o povo precisa de imagens edificantes e
assustadoras. São Bernardo, por exemplo, critica com ironia, mas com firmeza
todo este material de monstros ridículos “que os monges devem considerar como
estrume”, escreveu este homem santo que não era brando com isto.
Em conclusão, como,
sob estas condições, admitir a tese de romancistas anticlericais do século XIX,
argumentando que os nossos trabalhadores analfabetos e devotos teriam
constituído o veículo de tais ou quais tradições esotéricas do culto de Isis ou
de Druidas celtas?
E a se supor por um
momento que se tal fosse o caso, seria preciso reconhecer que esta transmissão
secreta foi exercida somente através dos mestres de obras, o que implica que
ela foi infiltrada à revelia dos capítulos de cânones, à revelia dos bispos
muito vigilantes e financistas desses projetos caríssimos. Que ela fosse ainda
mais exercida à revelia dos trabalhadores ingênuos e supersticiosos
encarregados da sua execução revela, uma vez mais, pensamento ilusório.
Ou ainda,
infinitamente mais absurdo ainda, com a sua cumplicidade herética em tudo? E,
finalmente, questão determinante, a intenção de quem receberá esta “mensagem”,
o público presente nas igrejas católicas sendo composto de praticantes
sinceros, mas ingênuos, incapazes de compreender o alcance escondido de alusões
ditas esotéricas? A mensagem da Igreja sempre foi exclusivamente exotérica.
Mas a resposta a
estas objeções é bem conhecida, e ela floresce mesmo em alguns círculos maçônicos,
permeáveis a fábulas e mitos. A Tradição Esotérica seria então transmitida para
o uso exclusivo somente dos “iniciados”.
Talvez, mas
iniciados em quê? No culto de Ísis, sob São Luis? Nas práticas dos Druidas, sob
Filipe, o Belo? E existe um único documento irrefutável que permita apoiar
cientificamente estas extravagâncias imaginativas? A resposta é claramente,
não.
CONCLUSÃO
Por que, e quem
propagou esta imagem ridícula do Maçom anticlerical, que ainda existe nos dias
de hoje, e até mesmo numa certa maçonaria? Quem é o inventor da imagem
anticlerical, e com que finalidade?
Por duas razões, na
minha análise, que levam ao conceito francês de uma maçonaria nacionalista e
política, quando ela afirma:
A Maçonaria nasceu
na França e não na Inglaterra ou na Escócia. Ela mesma foi exportada da França
para a Inglaterra, originalmente! Ela descende em linha reta dos construtores
de catedrais, que praticavam uma espécie de esoterismo de natureza
anticlerical, herética, à margem da Igreja Católica, em filiação direta dos
Grandes Iniciados egípcios, dos Collegia Fabrorum Romanos, dos druidas celtas,
seguidos pelos Templários os Rosa-cruzes, os Alquimistas e alguns outros
“Atlantes”. Em resumo, observemos, por um conjunto eclético de adversários
pré-históricos do papado.
Esta filiação
herética e anticlerical é reivindicada ao final do século XIX pelos maçons
franceses em ruptura com a tradição maçônica. A intrusão da política em loja,
por volta de 1860, que coincidirá com a ejeção do GADU e da Bíblia, leva a nova
instituição secular a inventar uma justificativa e uma ascendência nobre, tanto
histórica quanto espiritual: a do canteiro de pedras, do pedreiro, da imagem
anticlerical, Grande Iniciado e detentor de segredos extraordinários, apesar de
todo o poder espiritual e temporal da Igreja. Sabemos o destino que reservou a
Santa Inquisição a esse tipo de pessoas.
Este construtor de
catedrais puramente imaginário é, portanto, o ancestral sonhado do Maçom
“comedor de padres: inimigo da Igreja Católica, mas ao mesmo tempo detentor de
tradições e mistérios antigos genuínos, ou seja, que não se originam do
judaico-cristão. Ele é o arquétipo da Tradição Autêntica (vamos lá com as
guenonices capitalizadas!), que vem de todos os lugares, exceto de Roma e de
Jerusalém.
E esta concepção
surpreendente encontrou ecos cúmplices em alguns círculos intelectuais. E
garante tiragens gigantescas ou faraônicas a autores populares.
Para alguns,
trata-se de um sonho. Não os culpamos por escolher esta opção, muitas vezes
fascinante porque mais suave e consoladora que a dura realidade.
“Eu sou bela, ó
mortais, como um sonho de pedra… “Meu trono é o azul como uma esfinge misteriosa…
“Porque eu tenho o que fascina estes amantes dóceis “Espelhos puros que fazem
mais belas todas as coisas: “Meus olhos, meus olhos enormes, de claridades eternas.
Para outros, esta
opção calmante é um cálculo ideológico. Como tal, ela é lícita, justa e salutar
de denunciar, como todas as fraudes moral e intelectual. Eu jamais me privaria
disto. O sono da Razão produz monstros.
Jean van Win
Adaptado de tradução feita por J. Filardo
Bibliografia
Initiation à la
Symbolique romane, M.M. Davy, Champs, Flammarion.
L”Esotérisme,
Pierre A. Riffard, Robert Laffont.
Images et Symboles,
Mircea Eliade, TEL, Galli-mard.
L”Ordre corporatif
dans la Belgique ancienne, André Frantzen, D. De Brouwer,1941
Le Moyen Age,
Christian Papeians. Ed. Artis-Historia, Bruxelles.
Chateaux et
Cathédrales, Marcel Brion, Edito Service, Genève.
Les Bâtisseurs de
cathédrales, Jean Gimpel, Seuil.
Freemason”s Guide
and Compendium, Bernard E. Jones, Harrar & Compagnie Ltd, London.
Signs & Symbols in Christian Art, George Ferguson, Hesperides Book,
New York-Oxford University. (Pres-criptions iconographiques de l”Eglise).
La Bible et les Saints, Gaston Duchet, Guide icono-graphique,
Flammarion.
Textes politiques. Saint Bernard de Clairvaux. 10/18, Union générale
dӎditions.
La Franc-Maçonnerie opérative, Louis Lachat, Ed. Figuière, Paris.
Questionável e
tendencioso:
Les origines
religieuses et corporatives de la Franc- Maçonnerie, Paul Naudon, Dervy
Delirante e
imaginário :
Le Message des
constructeurs de cathédrales, Christian Jacq, Rocher.
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