As três grandes luzes da
Maçonaria são o Compasso, o Esquadro e o Livro da Lei Sagrada.
Talvez o mais conhecido dos
símbolos da Maçonaria seja o que é constituído por um esquadro, com as pontas viradas
para cima, e um compasso, com as pontas viradas para baixo.
Como normalmente sucede, várias
são as interpretações possíveis para estes símbolos.
É corrente afirmar-se que o
esquadro simboliza a retidão de caráter que deve ser apanágio do maçom. Retidão
porque com os corpos do esquadro se podem traçar facilmente segmentos de reta e
porque reto se denomina o ângulo de 90 º que facilmente se tira com tal
ferramenta.
Da retidão geométrica assim
facilmente obtida se extrapola para a retidão moral, de caráter, a
caraterística daqueles que não se “cosem por linhas tortas” e que, pelo
contrário, pautam a sua vida e as suas ações pelas linhas direitas da Moral e
da Ética.
Esta caraterística deve ser
apanágio do maçom, não especialmente por o ser, mas porque só deve ser admitido
maçom quem seja homem livre e de bons costumes.
É também corrente referir-se que
o compasso simboliza a vida correta, pautada pelos limites da Ética e da Moral.
Ou ainda o equilíbrio. Ou a também a Justiça. Porque o compasso serve para
traçar circunferência, delimitando um espaço interior de tudo o que fica do
exterior dela, assim se transpõe para a noção de que a vida correta é a que se
processa dentro do limite fixado pela Ética e pela Moral.
Porque é imprescindível que o
compasso seja manuseado com equilíbrio, a ponta de um braço bem fixada no ponto
central da circunferência a traçar, mas permitindo o movimento giratório do
outro braço do instrumento, o qual deve ser, porém, firmemente seguro para que
não aumente ou diminua o seu ângulo em relação ao braço fixo, sob pena de
transformar a pretendida circunferência numa curva de variada dimensão, torta
ou oblonga, assim se transpõe para a noção de equilíbrio, equilíbrio entre
apoio e movimento, entre fixação e flexibilidade, equilíbrio na adequada força
a utilizar com o instrumento.
Porque o círculo contido pela
circunferência traçada pelo instrumento se separa de tudo o que é exterior a
ela, assim se transpõe para a Justiça, que separa o certo do errado, o
aceitável do censurável, enfim, o justo do injusto.
Também é muito comum a referência
de que o esquadro simboliza a Matéria e o compasso o Espírito, aquele porque,
traçando linhas direitas e mostrando ângulos retos, nos coloca perante o
facilmente perceptível e entendível, o plano, o que, sendo direito, traçando a
linha reta, dita o percurso mais curto entre dois pontos, é mais claro, mais
evidente, mais apreensível pelos nossos sentidos – portanto o que existe
materialmente.
Por outro lado, o compasso traça
as curvas, desde a simples circunferência ao inacabado (será?) arco de círculo,
mas também compondo formas curvas complexas, como a oval ou a elipse. É,
portanto, o instrumento da subtileza, da complexidade construída, do mistério
em desvendamento.
Daí a sua associação ao Espírito,
algo que permanece para muitos ainda misterioso, inefável, obscuro, complexo,
mas simultaneamente essencial, belo, etéreo. A matéria vê-se e associa-se assim
à linha direita e ao ângulo reto do esquadro. O espírito sente-se, intui-se,
descobre-se e associa-se, portanto, ao instrumento mais complexo, ao que gera e
marca as curvas, tantas vezes obscuras e escondendo o que está para além delas
– o compasso.
Cada um pode – deve! – especular
livremente sobre o significado que ele próprio vê nestes símbolos. O esquadro,
que traça linhas direitas, paralelas ou secantes, ângulos retos e
perpendiculares, pode por este ser associado à franqueza de tudo o que é
direito e previsível e por aquele à determinação, ao caminho de linhas
direitas, claro, visível, sem desvios.
O compasso, instrumento das
curvas, pode por este ser associado à subtileza, ao tato, à diplomacia, que
tantas vezes ligam, compõem e harmonizam pontos de vista à primeira vista
inconciliáveis, nas suas linhas direitas que se afastam ou correm paralelas, oportunamente
ligadas por inesperadas curvas, oportunos círculos de ligação, improváveis
ovais de conciliação; enquanto aquele, é mais sensível à separação entre o
círculo interior da circunferência traçada e tudo o que lhe está exterior,
prefere atentar na noção de discernimento entre um e outro dos espaços.
E não há, por definição,
entendimentos corretos! Cada um adota o entendimento que ele considera, naquele
momento, o mais ajustado e, por definição, é esse o correto, naquele momento,
para aquela pessoa. Tanto basta!
O conjunto do esquadro e do
compasso simboliza a Maçonaria, ou seja, o equilíbrio e a harmonia entre a
Matéria e o Espírito, entre o estudo da ciência e a atenção às vias
espirituais, entre o evidente, o científico, o que está à vista, o que é reto e
claro e o que está ainda oculto ou obscuro.
O esquadro é sempre figurado com
os braços apontando para cima e o compasso com as pontas para baixo. Ambas as
figuras se opõem, se confrontam: mas ambas as figuras oferecem à outra a maior
abertura dos seus componentes e o interior do seu espaço. A oposição e o
confronto não são assim um campo de batalha, mas um espaço de cooperação, de
harmonização, cada um disponibilizando o seu interior à influência do outro
instrumento.
Assim também cada maçom se abre à
influência de seus Irmãos, enquanto que ele próprio, em simultâneo, potencia,
com as suas capacidades, os seus saberes, as suas descobertas, os seus
ceticismos, as suas respostas, mas também as suas perguntas (quiçá mais
importantes estas do que aquelas…) a modificação, a melhoria, de todos os
demais.
Quanto ao Volume da Lei Sagrada,
este pode ser qualquer dos Livros de qualquer das religiões que acreditem na
existência de um Criador, qualquer que seja a conceção que Dele se tenha, mais
ou menos interventor no Universo ou mero Princípio Criador catalisador e
definidor do Universo.
O Livro da Lei Sagrada contém em
si as normas básicas da atuação e convivência humanas, referencial para a
conduta do homem de bem. Em suma, simboliza o conjunto de regras que a
Sociedade determina aceitáveis para que a sã convivência entre todos seja
possível, ou seja, A Moral inerente à Sociedade e que todos os que a integram
devem respeitar e seguir.
Nas sessões de Loja, o Compasso e
o Esquadro são colocados SOBRE o Volume da Lei Sagrada. Não porque se
entenda que são mais importantes aqueles do que este, mas, pelo contrário,
porque o Volume da Lei Sagrada simboliza a base Moral sobre a qual assenta a
Ética de cada um.
Esta, a Ética, defini-a já como o
conjunto de princípios que norteiam a determinação e utilização dos meios à
nossa disposição para atingirmos os fins que nos propomos (cfr. texto in ÉTICA? ÉTICA…
ÉTICA!).
O Esquadro traça, sobre o pano
de fundo da Moral, as linhas éticas que o Homem deve definir para a sua
atuação. O Compasso define os limites que essas linhas devem respeitar.
O conjunto de ambos simboliza,
assim, também a Ética que, tal como eles assentam no Volume da Lei Sagrada, assenta
na Moral sobre que a esta se constrói.
Porque a ética sem Moral pode
usar esse nome, mas não é verdadeiramente ética – ou então teríamos que aceitar
como tal a “honra dos ladrões”, a dita “ética dos criminosos”.
A Ética tem que necessariamente
ser individualmente construída respeitando e assentando na Moral da Sociedade
em que nos inserimos, pois nenhum homem é uma ilha podendo arrogar-se o direito
de definir o seu conjunto de princípios fora da Moral da Sociedade em que se
insere.
As Três Grandes Luzes da
Maçonaria são, assim, o conjunto de símbolos que deve guiar a atividade de
aperfeiçoamento do maçom, homem livre de escolher e determinar os Princípios
que o norteiam, mas sempre harmoniosamente integrado na Sociedade em que se
insere.
Rui Bandeira
Publicado no Blog “A partir pedra”.
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