A MAÇONARIA NA CHINA


 

Acabo de ler um estudo feito por um instituto de pesquisas econômicas, informando que próximos cincos anos o PIB (Produto Interno Bruto) da China deverá ultrapassar o dos Estados Unidos.

Isto quer dizer que a China, hoje a segunda potência econômica do mundo, logo será a primeira, se é que já não é. E dentro de vinte anos os americanos vão ficar para trás em relação aos chineses, também em termos de PNB (Produto Nacional Bruto).

Bem, abstraindo-nos do fato de que PIB ou PNB não significa necessariamente riqueza, nem qualidade de vida, pois a China tem uma população cinco vezes maior que a dos Estados Unidos, o exemplo chinês leva-nos a fazer algumas reflexões. Talvez seja o momento de reler um pouco da filosofia chinesa, expressa principalmente no Tao Te King, de Lao Tse, nos Anacletos de Confúcio e a Arte da Guerra, de Sun Tzu.

Alguém poderá perguntar o que isto tem a ver com a Maçonaria. Eu tenho resposta para isso, mas levaria tempo e gastaria muito espaço para transcrevê-la aqui, porque implica no desenvolvimento de uma tese que envolve filosofia, história e noções de sociologia que certamente cansaria o leitor deste artigo e não vem ao caso para o objetivo para o qual ele foi escrito.

Apenas gostaria de lembrar aqueles que conhecem a Maçonaria, que as figuras de Lao Tse e Confúcio fazem parte do simbolismo da Cripta dos Filósofos e compõem as Oito Colunas da Sabedoria, estudadas num dos últimos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito. Então, se os autores do REAA colocaram como matéria de estudo a filosofia desses sábios chineses, algum motivo há de haver [1].

O meu enteado, um jovem engenheiro recém-formado, aceitou um convite para ir trabalhar na montagem de uma fábrica de papel na China. Quando lá chegou mandou as suas primeiras impressões que resumo no seguinte:

Foram os chineses que inventaram o papel; mas agora estão chamando brasileiros e alemães para montar fábricas para eles. Esperam tornar-se o primeiro produtor mundial de papel nos próximos dez anos.

Os chineses estão acostumados com furacões, tufões, terremotos e outros cataclismos do gênero. Faz parte do dia a dia deles.

Falam uma dúzia de dialetos, alguns deles tão diferentes uns dos outros, quanto o português e o guarani. Mas todos se entendem de alguma forma.

A maioria dos chineses nunca ouviu falar de Jesus Cristo. Não sabem que “sobre a terra, a nenhum outro foi dado poder para salvar os homens”, como disse o Apóstolo Paulo.

A China parece ser outro planeta. Ele surpreendeu-se com o fato de os chineses serem tão dinâmicos quanto disciplinados. O que quer dizer: são esquentados por fora e tremendamente frios por dentro. A China parece um imenso caldeirão fervilhante pelo lado de fora, alimentado por um fogo frio pelo lado de dentro.

No homem ocidental é fácil ver quando ele está feliz ou infeliz; quando está alegre ou triste; nervoso ou tranquilo, sossegado ou com raiva. Transparece na fisionomia dele. As pessoas, no ocidente, têm uma linguagem não verbal extremamente explícita.

O que nós não verbalizamos, mostramos na nossa postura corporal. O chinês não. Parece uma estátua de pedra. O seu rosto é uma esfinge. E impossível ler na sua linguagem corporal qualquer mensagem neurolinguística.

Compreendo a perplexidade de um ocidental quando é posto frente a frente com a cultura tradicional do chinês. Afinal, um povo que conseguiu conciliar taoísmo com confucionismo e marxismo é realmente um fenômeno que merece uma boa reflexão.

O Taoísmo é a filosofia fundada por Lao Tse, um sujeito que viveu no século V antes de Cristo. E uma doutrina profundamente naturalista que procura seguir a linha do chamado não agir. Não agir significa não deixar que tudo aconteça naturalmente.

E, antes de tudo, acompanhar o curso da natureza, integrar-se com ela, não como um organismo que luta contra ela, para mudá-la, mas para se adaptar a ela, na melhor forma possível. O Tao, diz Lao-Tse, é como o rio. Ele segue naturalmente o seu curso. Se encontra obstáculo no seu caminho, ele não luta contra ele, contorna-o.

Toda ação provoca uma reação em sentido contrário. Deste movimento de ação e reação o universo tira o seu equilíbrio. Por isso o mundo se equilibra entre duas forças potencialmente iguais e contrárias: Yin e Yang, o positivo e o negativo. O equilíbrio natural está no meio. Quando se alcança este equilíbrio encontramos o Caminho Perfeito. Eliminar as tensões é o grande segredo do sucesso em qualquer empreendimento. Por maior agitação que se encontre aqui fora, é preciso manter a calma interior. Esta é a sabedoria do Taoísmo.

Como é possível ao chinês praticar uma filosofia dessas? Bom, diz Confúcio: através da disciplina, do respeito à autoridade constituída, honrando os ancestrais e trabalhando duro. Ou seja, respeitando a tradição, aprendendo com o passado e aceitando as coisas naturalmente. A tendência é sempre o mundo buscar um ponto de equilíbrio. E ele encontra-se sempre na absoluta imobilidade.

Confúcio também viveu no século V a.C. Lao Tse e Confúcio são os nomes mais proeminentes da filosofia chinesa. A maioria dos chineses de hoje talvez nem os conheça, mas ainda vivem segundo os seus ensinamentos.

Quer dizer: viveram mais dois milênios exclusivamente de acordo com eles. Até que no século XX o alemão Karl Marx (que já tinha morrido há mais de um século) chegou à China com a doutrina de que o trabalho é o único elemento que agrega valor. E o único capital que merece ser remunerado.

Todo o resto é acumulação indevida. Esta ideia caiu como uma luva para os líderes de um bilhão de pessoas que trabalhavam com disciplina, respeito à autoridade e honra ao passado. Um bilhão de operários e camponeses cujo único capital era justamente a sua capacidade de trabalho. Era o que eles precisavam para montar o comunismo chinês, que é igual aos demais regimes totalitários na teoria, mas é diferente na intenção e na execução.

Ainda tem mais. O filósofo mais lido da atualidade (não só na China, mas no ocidente também), é Sun Tzu, um general chinês do século VI d C., que ensina que o segredo do sucesso em qualquer empreendimento é a estratégia, a dissimulação e a surpresa.

Juntando tudo isso, o guerrilheiro Mao Tsé-Tung criou uma doutrina, venceu o regime imperial, expulsou os estrangeiros colonizadores e implantou o regime comunista na China. Tendo como matriz essas doutrinas ele montou o comunismo chinês com uma combinação bem bizarra: o naturalismo dos taoistas, o conservadorismo dos confucionistas e o materialismo pragmático dos marxistas.

Mas hoje Mao Tsé-Tung é apenas um personagem da história chinesa. Ninguém fez dele um deus, nem sequer um herói, como os russos de antes da queda do regime comunista fizeram com Marx e Lenin. Na União Soviética, depois que o comunismo foi extinto como regime de estado, as estátuas desses “deuses” dos proletários também foram derrubadas a golpes de martelos e picaretas. Os mesmos instrumentos com os quais eles demoliram os “os deuses” do capitalismo. É mania dos povos ocidentais fabricarem deuses e depois se livrarem deles. Somos deístas e iconoclastas por natureza.

Mao não virou um deus. Há quem goste dele, há quem não goste. Mas não há uma igreja Maoísta, nem altares consagrados a ele. Afinal de contas, a China não tem um Deus. Aliás, há muito que a China já abandonou o Maoísmo a favor de uma espécie de nacional socialismo que combina capitalismo de estado para fins de produção e socialismo marxista para fins de organização do estado e distribuição de renda.

Fato espantoso —, disse um amigo meu que passou um tempo na China — a religião dos chineses não tem um Deus. Pelos menos não da forma como nós o entendemos. Embora existam entre eles cristãos, budistas, muçulmanos, e outras crenças levadas para a China pelos colonizadores, a grande maioria dos chineses ainda se mantém aferrada às suas tradições shenistas [2].

Isto explica, penso eu, por que Mao é hoje apenas um personagem histórico. Para os chineses homens não são deuses. Podem tornar-se shens bons ou ruins em virtude das suas atuações na vida. Os homens fazem coisas boas e ruins. As coisas são boas quando trazem felicidade para o povo, são ruins quando não trazem. O resto é história.

Afinal, o que é a história e o que ela nos reserva? Devemos acreditar nos historiadores? Os marxistas sustentavam que o capitalismo iria fazer desmoronar os regimes do ocidente porque traziam no seu seio o próprio germe da destruição, que era a alienação do trabalhador do resultado do seu trabalho.

Os historiadores liberais afirmavam que o comunismo era um regime antinatural porque eliminava o principal móvel da atividade humana: a sua ambição. O liberalismo imperou na China no tempo da colonização inglesa. Depois que o regime imperial acabou e os comunistas tomaram o poder, o marxismo foi a doutrina imperante. Hoje, ninguém fala mais em Marx nem em Adam Smith na China.

Afinal, certo é o que dá resultado. O resto é só filosofia. O crescimento da China é hoje um fenômeno que espanta o mundo. Crescimento econômico com liberdade vigiada. Um regime socialista criando uma sociedade de consumo? Paradoxal em termos de lógica clássica, mas perfeitamente aceitável em termos de psicologia social.

Há quem critique e há quem exalte o modelo chinês. Isto é normal. Não existe regime perfeito, nem ideal. O que hoje parece bom amanhã também o será? E o que hoje parece ruim, amanhã quem o pode saber? Afinal segundo a moderna ciência atômica, só de uma coisa neste mundo nós podemos ter certeza: que existe um princípio de incerteza a reger o desenvolvimento da vida do nosso universo. Tudo pode ser e não ser ao mesmo tempo. Tudo depende da posição de quem observa o fenômeno. Ou de quem o está vivendo.

Tudo isto é muito interessante e leva-nos a algumas reflexões. O Tao Te King tem um verso que diz; “Não será o espaço entre o céu e a terra um gigantesco fole? Esvazia-se sem se exaurir. Inesgotável. Quanto mais trabalha, mais alento produz. Muitas palavras esgotam-se sem cessar e conduzem ao silêncio. Aferrando-se ao vazio protegemos o nosso ser interior e o mantemos livre?’

Era mais ou menos o que dizia Sartre: tudo que fazemos destina-se a preencher um espaço, que sem as nossas ações seria apenas um imenso vazio.

Afinal, no fundo todos os sistemas de pensamento convergem para um único objetivo: encontrar o sentido da vida e criar modelos para que ela se torne cada vez mais prazerosa. O resto resume-se em tentativas que os homens fazem para pôr em prática esses modelos.

Voltando à Maçonaria, podemos dizer: O importante é ser livre para aprender. Livre para confrontar todas as ideias e acontecimentos sem crucificar nem endeusar absolutamente nada nem ninguém. Para receber todas as experiências como aprendizagem, sem precisar transformá-las em culto. Isto é o que ensina a Maçonaria.

Bom é o que útil, certo é o que dá resultado. Disposição para estudar e tolerância para agasalhar todas as tendências e visão para enxergar as diferenças. E, principalmente, sabedoria para escolher o que mais nos serve. Se quisermos acreditar nos Mestres que organizaram o Ritual dos graus superiores do REAA, nessa filosofia está inserta a boa Maçonaria.

O Taoísmo e o Confucionismo são bons momentos de sabedoria que o bom povo chinês legou à humanidade.

O Marxismo, que na origem hospedou uma romântica concepção libertária e igualitária, tornou-se, na prática, um regime totalitário e castrador. O ideal de liberdade, igualdade e fraternidade que inspirou os seus idealizadores foi sufocado pela ambição daqueles que assumiram o poder em nome do grupo vencedor.

A propósito, a Maçonaria já foi bastante forte na China, durante o período colonial. Mas depois que o comunismo foi implantado ela praticamente desapareceu do território chinês. O que ainda resta da Arte Real entre os chineses sobrevive na ilha de Taiwan. Isto é próprio dos regimes totalitários, que abomina toda e qualquer organização de defende a liberdade de pensamento. Aqui fica a pergunta que tem sido feita desde que os primeiros grupos humanos começaram a se organizar: existirá uma ordem social perfeita? Será que algum dia liberdade, igualdade e fraternidade conseguirão coexistir num mesmo sistema?

João Anatalino Rodrigues

Notas

[1] Particularmente o grau 32, no qual a Cripta dos Filósofos é estudada. A esse respeito, veja-se a nossa obra “Mestres do Universo”, publicada pela Ed. Biblioteca 24×7

[2] A tradição religiosa chinesa pode ser definida como uma espécie de panteísmo naturalista que cultua um tipo de divindade conhecida como “os shens”. Estes podem ser espíritos da natureza, heróis nacionais, semideuses e até animais mitológicos como dragões e tigres. É uma tradição religiosa bastante sincrética, que integra elementos de taoísmo, confucionismo e budismo, reunidas sobre o título popular de shenismo.

Bibliografia

A Arte da Guerra- Sun Tzu- Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2008

Tao Te Ching- Lao Tse -Ed Pensamento, São Paulo, 1978 – Os Analectos- Confúcio- Ed. Cultrix- São Paulo, 1995.

 

A ENTRADA NO TEMPLO MAÇÔNICO


 

De acordo com Lavagnini (2008), a palavra templo se origina do latim tenebrae, que significa trevas. O mesmo autor nos diz que tal nome alude ao antigo costume de se fazer os templos em grutas ou criptas – lugares escuros e ocultos – ao amparo da indiscrição profana. E que assim, todos os templos deveriam ser, antes de tudo, ambientes de recolhimento e silêncio, distinguidos por uma penumbra favorecedora da concentração e elevação mental.

Oliveira Filho (2022) ressalta que “uma vez consagrado, um Templo Maçônico passa a ser um recinto santo, exigindo-se respeito e veneração.” Assim, ninguém poderá ingressar nesse ambiente, qualquer que seja o pretexto, antes do início da Sessão, excetuando-se os Obreiros que tiverem que prepará-lo.

Há regras para a organização do cortejo e para a entrada e saída do recinto. Não somente, todo obreiro retardatário deverá ingressar no espaço ritualisticamente, e os Irmãos só poderão retirar seus paramentos e insígnias quando estiverem novamente no átrio.

Sobre os espaços contíguos ao Templo Maçônico, Da Camino (2014) nos instrui que

“na sala dos passos perdidos, permanece o efeito do profano, uma vez que o maçom ingressa no edifício onde está instalado o templo e mantém diálogos profanos, cumprimentos, assuntos interrompidos da semana passada, enfim, o dia a dia comum. Lentamente, prepara-se o ingresso no átrio, que é o subconsciente; tudo o que é profano permanece na sala dos passos perdidos.”

Em contraste com o exposto, é relativamente comum que as práticas maçônicas para realizar as reuniões não sejam totalmente seguidas, ou que, tomados pelas preocupações cotidianas que a todos alcança, tenhamos dificuldade para nos concentrar nas reuniões.

Indo um pouco mais além, sabemos pela experiência que, individualmente, possui alta volatilidade os sentidos que os símbolos nos evocam, como interpretamos os momentos vividos e como apreendemos as informações que nos chegam.

O significado que daremos para cada um dos eventos que experimentamos é dependente sobretudo do nosso estado emocional no instante do ocorrido. Por exemplo, um trecho das Sagradas Escrituras pode ser entendido de certa maneira em um momento, enquanto a releitura, mais adiante, provavelmente evocará no leitor sentido diverso.

Outro fato relacionado com a percepção humana é o de que se ouvirmos uma nota contínua emitida no limite da audibilidade, o som parecerá interromper-se a intervalos regulares para começar de novo. Esse fenômeno é causado por oscilações da nossa atenção e não por qualquer modificação na nota (Jung, 2002). Esses eventos revelam sutilezas da natureza humana, e evidenciam o quão difícil é manter a concentração nas diversas situações que vivemos.

Evidentemente, há estratégias para minimizar nossas limitações físicas e psíquicas, e, visto sob esse prisma, fica mais fácil compreender a necessidade de se melhorar a aderência ao ritualismo maçônico. Consequentemente, não será difícil perceber a relevância do que ocorre nos momentos que precedem cada reunião, para que essa seja mais proveitosa.  

Assim, não por acaso, a adoção de rituais é procedimento farto ao longo das eras. Nesse sentido, caracterizam os espaços ritualísticos desde tempos imemoriais, a presença de etiquetas e símbolos, combinados com o bom uso da sonoridade e do refinamento da plasticidade do ambiente. Juntos, esses recursos possuem o poder de despertar, integrar e harmonizar os sentidos dos presentes, criando sutilmente, condições para o exercício da atenção, da reflexão e da acomodação do espírito.

No caso da Maçonaria, são formalidades diligentemente aperfeiçoadas no decurso de milênios, e representam a sabedoria acumulada pelas gerações. Temos assim à nossa disposição, os frutos, embora eternamente inacabados, de inumeráveis experimentações, lutas e sacrifícios, nos exigindo apenas zelo e disciplina a favor do cumprimento do que foi estabelecido para a realização das cerimônias.

E a entrada no templo, relevante parte desse contexto, quando sistematicamente executada de acordo com as tradições, nos remeterá imediatamente às expectativas e preparação psicológica relativas à reunião da qual estamos prestes a participar.  

Ademais, é muito provável que a adoção rotineira da entrada ritualística proporcione vários outros desdobramentos benéficos aos trabalhos da Loja. A pontualidade para o início da reunião a ela se interliga. O uso da Sala dos Passos Perdidos fortalece a interação entre os Irmãos, condicionando a qualidade da formação da Egrégora Maçônica quando no Templo.

A previsibilidade e repetição própria dos ritos favorece a integração psíquica do participante. Esses aspectos colaboram também para a otimização do tempo da reunião. Se curto, não cria meios para suavizar a inquietude. Se longo, atribula os sentimentos. No tempo perfeito, os procedimentos seguem com fluidez, como uma brisa suave que toca a face e modula a alma de cada Obreiro. E, como resultado, desperta o vibrante desejo que a próxima reunião logo chegue.

Autor: Mauro José de Oliveira

Mauro é Mestre da Loja Maçônica Novos Tempos Nº 288 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte

Nota

Aprendiz Maçom Gr 1 – REAA, 2012 

Referências

DA CAMINO, Rizzardo. Breviário Maçônico, 6ª. ed., São Paulo: Madras, 2014

Ritual de Companheiro Maçom Gr 2 – REAA, 2017

D’ELIA JÚNIOR, Raymundo. Maçonaria: 100 instruções de aprendiz, São Paulo: Madras, 2012

JUNG, C. G. O Homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002

LAVAGNINI, Aldo. Manual do Aprendiz Maçom – A Maçonaria Revelada, Porto Velho, 2008

OLIVEIRA FILHO, Denizart Silveira de. A Lenda de Hiram Nos Graus Inefáveis do REAA – O Templo de Salomão. São Paulo: Madras, 2022

Ritual Aprendiz Maçom Gr 1 – REAA, 2012

 

A FARSA DA FALSA HUMILDADE NA MAÇONARIA TUPINIQUIM

Breve reflexão sobre o texto intitulado “O mestre e a luta contra a vaidade” do Irmão Mario Vasconcelos

Numa sexta-feira chuvosa, recebi com alegria o texto do Irmão Mario Vasconcelos, o qual, imediatamente, passei a ler e refletir sobre o conteúdo que nos foi ofertado. Estimulado pelas provocações, sempre pertinentes, passei a escrever estas breves linhas que representam as minhas preocupações sobre o todo arrazoado por ele.

Pois bem!

O argumento de que os graus são meramente simbólicos ou filosóficos pode desconsiderar a profundidade e a importância de cada fase da aprendizagem maçônico. Embora os graus representem etapas no caminho do conhecimento, eles não são apenas estruturas formais, mas sim oportunidades para uma aprendizagem mais profunda e para a internalização de conceitos que requerem tempo e reflexão.

Cada grau, em cada sistema maçônico, oferece uma nova lente através da qual o Maçom pode ver o mundo, e desconsiderar isso é perder a chance de um verdadeiro crescimento.

Realmente, a humildade é, sem dúvida, uma virtude central na Maçonaria, mas deve ser praticada de maneira que não dilua a responsabilidade de guiar e ensinar. A humildade verdadeira não é subserviência ou autonegação, mas o reconhecimento do valor tanto do próprio conhecimento quanto da contribuição do outro.

Um verdadeiro Maçom humilde é aquele que está disposto a aprender, mas também a ensinar, compartilhando o que sabe com a intenção de elevar o entendimento coletivo. A humildade não deve ser uma desculpa para negligenciar a transmissão de conhecimento ou para igualar experiências e sabedorias que são distintas e complementares.

Lembro agora a máxima construída por T. S. Eliot, que escreveu em Choruses from The Rock: “Where is the wisdom we have lost in knowledge? Where is the knowledge we have lost in information?“.

Este trecho ilustra bem a distinção fundamental entre estes conceitos. Informação é o conjunto bruto de dados, algo que pode ser adquirido em quantidade, mas que, por si só, não transforma o indivíduo.

Conhecimento é a organização e compreensão desses dados, o processo de fazer sentido das informações. Saber vai além do conhecimento, é a aplicação consciente desse conhecimento em situações práticas, e sabedoria é a culminação desse processo: a capacidade de fazer julgamentos equilibrados e de agir de forma justa e compassiva.

Na Maçonaria, entendo, não basta acumular informação; é preciso transformar esta informação em conhecimento, aplicá-lo para desenvolver o saber, e, finalmente, cultivar a sabedoria. A aprendizagem maçónica é uma jornada que vai além da memorização de rituais ou da absorção de simbologia e textos maçônicos; trata-se de uma transformação interna que requer introspecção, prática e tempo.

O exemplo trazido pelo Irmão Mario, amplamente conhecido, que retrata uma passagem de Santo Antão, que sucumbe à vaidade, serve como um alerta sobre os perigos da superficialidade e da busca por reconhecimento. No contexto maçônico, é vital que os irmãos se concentrem mais na profundidade da aprendizagem do que na busca por títulos ou símbolos de status.

A verdadeira humildade, como mencionada anteriormente, é essencial para esse processo. Ela não é apenas uma questão de comportamento externo, mas uma disposição interna de estar sempre aberto à aprendizagem, independentemente do quanto já se sabe.

A superficialidade é o maior inimigo da sabedoria. Como Eliot sugeriu, o caminho da sabedoria é muitas vezes perdido quando nos contentamos com o conhecimento superficial ou com a simples acumulação de informações. É através da prática constante, do diálogo aberto e da disposição para questionar que um Maçom pode verdadeiramente avançar na sua jornada.

Embora o artigo do Irmão Mario sugira que a educação maçônica deve ser horizontal, é importante ressaltar que um modelo horizontal não significa a ausência de orientação ou de estrutura. A horizontalidade pode permitir que todos os irmãos participem de um processo de aprendizagem mútuo, onde o conhecimento flui em ambas as direções.

No entanto, essa estrutura também deve reconhecer que diferentes irmãos têm diferentes níveis de experiência e que essa diversidade é o que enriquece a troca de conhecimentos. A humildade e a abertura para aprender com os outros são fundamentais nesse processo, mas também é preciso estar disposto a ensinar e a liderar quando necessário.

Neste sentido, parece-me que o compartilhamento de conhecimento é, ou deveria ser um pilar na Maçonaria, mas deve ser feito com consciência e responsabilidade. Não se trata apenas de transmitir informações, mas de facilitar a transformação daquela em conhecimento, deste em saber, e do saber em sabedoria. Cada Maçom tem a responsabilidade de contribuir para o crescimento dos demais, mas também de reconhecer os momentos em que é necessário dar um passo atrás e permitir que o outro encontre as suas próprias respostas, fortalecendo assim a própria jornada de aprendizagem.

A ideia de que um “mestre Maçom” detém uma suposta autoridade inquestionável para transmitir conhecimento deve ser reavaliada criticamente. Nem todos os que alcançam o título de mestre possuem, de fato, a profundidade de saber necessária para exercer tal função com eficácia.

Muitas vezes, o título pode ser obtido por fatores que não refletem a verdadeira compreensão dos ensinamentos maçônicos ou a capacidade pedagógica. A Maçonaria, como qualquer outra instituição, pode ter membros que alcançam níveis elevados sem, necessariamente, possuírem o discernimento ou o conhecimento profundo, quer seja por movimentos políticos, por graça ou bom relacionamento.

Este cenário agrava-se quando mestres maçons, com pouca ou nenhuma formação (acadêmica ou não!) substancial, tentam ensinar aprendizes e companheiros maçons que, paradoxalmente, podem possuir uma formação (nas suas vidas fora das lojas maçônicas) muito superior.

A situação torna-se particularmente frustrante quando o mestre repete clichés superficiais ou faz confusões grotescas sobre temas fundamentais como história, filosofia, filologia e até mesmo localização geográfica de fatos relevantes à fraternidade, expondo a sua ignorância e, pior ainda, minando a credibilidade dos ensinamentos maçônicos.

Esta discrepância revela a fragilidade do argumento de que a experiência maçónica, por si só, garante a sabedoria. A experiência é valiosa, mas deve ser acompanhada de um esforço contínuo para expandir o conhecimento e refinar a capacidade de transmitir e compartilhar o que foi absorvido. O simples fato de ter passado pelos graus não confere automaticamente a capacidade de transmitir conhecimento de maneira eficaz e esclarecedora.

Aliás, aqui, é interessante tocar num ponto que me incomoda demais. O conceito de ser um “eterno aprendiz” na Maçonaria, embora atraente na sua superfície, muitas vezes é usado de maneira hipócrita. Aqueles que proclamam esta expressão com demasiada frequência podem estar tentando ocultar uma falsa humildade ou, pior, uma lacuna de conhecimento que não se dispuseram a preencher. Em vez de verdadeiramente buscar aprender e crescer, eles utilizam essa expressão como um escudo para evitar o confronto com as suas próprias deficiências.

Além disso, esta postura pode tornar-se uma manifestação de arrogância disfarçada, onde o indivíduo se vangloria da sua “humildade” e, paradoxalmente, adota uma atitude de superioridade moral. Esta falsa humildade é, na verdade, uma das formas mais insidiosas de vaidade, pois busca reconhecimento não pelo que foi aprendido, mas pelo que se pretende ser: um “eterno aprendiz”.

No entanto, o verdadeiro aprendiz é aquele que busca continuamente o conhecimento de forma genuína e sem ostentação, reconhecendo tanto as suas limitações quanto a necessidade constante de crescer.

Dentro do contexto atual da Maçonaria brasileira, alguns poucos anos atrás, cunhei o neologismo “nescionaria”, como uma crítica (ácida) às práticas realizadas de forma superficial e sem o devido respeito e compreensão dos pilares que compõem a fraternidade maçônica. A “nescionaria” reflete-se no ingresso de novos “membros” sem uma formação adequada (e aqui não estou a referir-me à formação acadêmica!), o que resulta em práticas maçônicas carentes de profundidade e significado. Este fenômeno escancara uma crise institucional na nossa fraternidade, onde a prioridade parece, ainda, estar na expansão numérica, ao invés do necessário desenvolvimento qualitativo dos seus membros.

A “nescionaria”, em essência, é uma falha sistêmica que subverte os objetivos da nossa fraternidade ao permitir que maçons avancem nos graus sem uma verdadeira compreensão do que efetivamente eles representam, no melhor estilo fast-food maçônico.

Isso cria um ciclo vicioso onde mestres malformados continuam a perpetuar a mediocridade, agravando o problema e diluindo o valor dos ensinamentos maçônicos, com consequências nefastas para o quotidiano das lojas, pois cria um ambiente fértil para práticas não alinhadas com os objetivos da Maçonaria (ao menos em tese!).

No Brasil, esta prática (néscionaria) tem levado a uma fragmentação e a um enfraquecimento das potências maçônicas, onde a busca pelo verdadeiro saber e pela sabedoria tem sido substituída por uma superficialidade que desonra os princípios fundamentais construídos e cristalizados ao longo do iluminismo e da era do humanismo.

A minha crítica é uma tentativa de alerta para a necessidade urgente de uma reforma no modo como o conhecimento é transmitido e valorizado dentro da Maçonaria (brasileira, em especial), focando na qualidade (em verdade, deveria ser excelência!) em vez da quantidade, bem como na escolha dos seus membros.

É essencial que a Maçonaria, tanto no Brasil quanto em qualquer outra parte do mundo, reavalie a maneira como o conhecimento e autoridade são entendidos e exercidos dentro da Fraternidade.

A verdadeira humildade reside não em proclamações vazias de ser um “eterno aprendiz”, mas na constante busca por se aprimorar e na disposição para reconhecer as próprias limitações. Da mesma forma, ser um “mestre Maçom” deve implicar em mais do que a simples passagem por rituais; deve refletir uma verdadeira capacidade de ensinar, de inspirar e de conduzir outros no caminho do conhecimento, do saber e, finalmente, da sabedoria.

Caso contrário, a Maçonaria corre o risco de perpetuar a “nescionaria” e de se afastar da sua origem e objetivos que a mantiveram acesa por mais de 300 anos.

Em resumo, compreendi que o artigo do Irmão Mário Vasconcelos enfatiza a necessidade de humildade e o perigo da vaidade, sendo crucial lembrar que o verdadeiro crescimento maçônico se dá pela transformação da informação em sabedoria, um processo que exige tanto humildade quanto comprometimento com o estudo e a prática.

A jornada maçônica é tanto pessoal quanto coletiva, e cada irmão tem o dever de contribuir para o avanço do conhecimento de todos, sempre com respeito, abertura e, acima de tudo, humildade verdadeira.

Rui Badaró, Membro da Loja de São João, nº 680, Sorocaba – SP, GLESP.

Referências

ARENDT, Hannah. A condição humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2016.

BUBER, Martin. Eu e tu. 5. ed. São Paulo: Centauro, 2016.

DERRIDA, Jacques. Gramatologia. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013.

DEWEY, John. Democracia e educação: uma introdução à filosofia da educação. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.

ELIOT, T.S. Os quatro quartetos. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 41. ed. Petrópolis: Vozes, 2021.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 65. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2019.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método. Petrópolis: Vozes, 2015.

HABERMAS, Jürgen. Teoria do agir comunicativo: racionalidade e sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral. 4. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

PIAGET, Jean. A construção do real na criança. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

RICOEUR, Paul. Hermenêutica e as ciências humanas: ensaios sobre linguagem, ação e interpretação. São Paulo: Loyola, 2010.

VYGOTSKY, Lev. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

 

 

JUSTO E PERFEITO


 

“JUSTO E PERFEITO” é uma expressão, encontrada no Livro de Gênesis, onde a história do Dilúvio é retratada, com Deus, arrependido de criar o homem, resolvendo destruí-lo numa proporção imensurável, pois o mesmo passou a trilhar os caminhos da iniquidade, corrompendo a sua humanidade, conforme versam o Capitulo 6, versículo 9: “Noé era um homem Justo e Perfeito no meio dos homens da sua geração. Ele andava com Deus” e, em Gênesis, capítulo 7, versículo 1-3, Deus disse a Noé: “Entre na arca…tu e toda tua casa… porque te reconheci justo diante dos meus olhos… entre os de tua geração”.

Esta expressão, para a Maçonaria, remonta às organizações medievais de canteiros onde efetuava o enquadramento da pedra bruta e, onde também havia muita rivalidade dentre as corporações dos profissionais, que resultava na sabotagem no trabalho, que consistia em penetrar no terreno do concorrente para fazer um leve desbastamento da pedra já cúbica que, difícil de ser verificada pelo olho humano, se mostrava quando usada na construção.

Assim, no fim do dia de trabalho, por ordem do Master (que era o proprietário ou o seu preposto), um zelador ou vigilante média a horizontalidade da obra com o nível, enquanto outro aferia a sua perpendicularidade com o prumo, e, se tudo estivesse em ordem, comunicavam ao Master, está “Tudo está Justo e Perfeito”.

Na manhã do dia seguinte a operação era repetida para prevenir eventuais sabotagens noturnas, pois a estabilidade das construções dependia da forma cúbica das pedras. Com tudo “JUSTO E PERFEITO” os trabalhos eram iniciados.

A expressão “Está Tudo Justo e Perfeito” é utilizada como cumprimento e reconhecimento entre os Maçons. Porém, de fato, tudo está Justo e Perfeito, tendo em vista as queixas de Irmãos de que nada vai bem hoje na Maçonaria? Tudo está JUSTO e PERFEITO com a Maçonaria atual, que permanece como a de ontem, crendo que, a sua Filosofia é eterna, assim como os seus ensinamentos?

A Maçonaria está ciente de que nada mudou, pois, as inconformidades estão nas atitudes de alguns Irmãos que não assimilam os seus ensinamentos, deixando de incorporá-los nos seus “Templos Interiores”, ou seja, não praticam as virtudes juradas, vilipendiando-as muitas vezes ao se mostrarem vaidosos, antiéticos e hipócritas, deixando de se renunciar ao TER para acreditar no SER.

Os Maçons que corrompem a "cubicidade" das suas próprias pedras não levam consigo para o mundo profano os preceitos e ensinamentos da SUBLIME ARTE REAL. Muito pelo contrário, trazem do mundo profano imperfeições que semeiam a desarmonia na Loja, fomentando a desagregação entre os Irmãos e o desequilíbrio dos trabalhos que têm como principal objetivo a assunção do cumprimento dos seus juramentos, prestados nas suas iniciações, para o engrandecimento do próprio ser em si.

Enquanto a pedra d’outrora era física, a atual representa o próprio ser em si, que é moldado numa "cubicidade" cujos lados representam a Personalidade e o Eu. Três deles a Personalidade (Caráter, Determinação e Virtude) e os outros três o Eu (Crença, Fé e Espiritualidade). A união das pedras cúbicas, representativas dos Maçons, se perfaz numa pedra cúbica que envolve e influencia toda a sociedade.

Portanto cabe a cada Maçom o desafio do labor que impede a geração de imperfeições na sua própria pedra, sujeita às intempéries e divergências naturais da sociedade. Portanto a ele cabe a responsabilidade de colocar em prática, no mundo profano, a doutrina e os ensinamentos Maçônicos, transformando-o, com muito trabalho e ação, num sistema harmónico baseado numa “Filosofia de Vida”.

“É surpreendente ver como os homens falam das virtudes e da honra e não pautam as suas vidas nem por uma nem outra. A boca exprime o que o coração devia ter em abundância, que quase sempre é o inverso do que o homem pratica”.

A principal obra de uma Loja Maçônica está na constituição da união de todas as pedras cúbicas lavradas e lapidadas com ardor, perseverança e vontade de cada um dos seus integrantes, por isso ela deve ser aferida diariamente a fim de cada Irmão se certificar de que não será a sua pedra a corruptora da imagem emanada da sua Loja para a sociedade que a cerca.

Esta Peça de Arquitetura é dedicada a aqueles Irmãos que não cumprem os nossos ensinamentos, rituais, deveres e as nossas Leis

Ernande Costa Macedo, 33º – Acadêmico Secretário da Academia Maçônica de Letras Ciências e Artes da Região Grapiuna (AMALCARG).

 

 

SOIS MAÇOM?


No momento que somos iniciados nos augustos mistérios de nossa fraternidade, ao adentrarmos no templo, recebemos as primeiras instruções, palavras e sinais importantes, que tem sua história e seus objetivos para serem como são, sejam aprendizes, companheiros ou mestres.

Essas são lições diretas, claras e obrigatórias, para que todo maçom possa galgar degraus e receber seu aumento de salário, porém existe um ensinamento subliminar, que todo maçom recebe, bem antes de receber sua primeira instrução de aprendiz, muito pouco falada no quesito de estudo, porém está presente em todas as sessões.

Talvez por seu caráter indireto também pouco praticado pelos maçons no mundo profano, apesar de falado sempre, um motivo provável disso seja o caráter corriqueiro de sua pronúncia, muitos irmãos podem achar que está ali somente por acaso, mas que nos remete muita meditação e autorreflexão a todos os maçons!!

A frase MMIIrCTMR pode nos levar a dezenas de questionamentos, mas o principal deles, e que é o sentido direto da frase, é que a pessoa questionada, no caso o Maçom não fala que o é, mas sim reconhecido como um!!

Sobre o caso mencionado acima no sentido direto podemos de imediato pensar em duas situações: um em que o questionado diz que é reconhecido como tal, respondendo alguém que não conhece ou não tem intimidade, porém não o nega, afinal não há um covarde em nossas fileiras!

E um segundo possível caso, é onde essa resposta é dada a algum irmão como praxe, seja por hábito ou dentro das sessões.

Mas a questão é: Por qual motivo o maçom nunca fala que á maçom? Mas sempre reconhecido pelos irmãos como um?

Aprofundando nesse tema, como não é mencionado diretamente, podemos fazer suposições, e a que eu acho mais plausível é no quesito da vaidade, do ego, das paixões do mundo profano.

Em nossos estudos percebemos a difícil e trabalhosa missão que é estar sempre nos aprofundando nesses augustos mistérios de nossa irmandade, missão que apesar de exigir bastante afinco, nos é claro que é nobre e gloriosa!!

E ao responder esse questionamento com essa resposta indireta, porém positiva, o maçom a responde se livrando de todo tipo de ego e vaidade que possa existir em seu interior, pois é uma frase chave, que ao pensar nela mesmo sem a dizer, é impossível deixar de fazer uma reflexão do porquê estar respondendo de forma indireta, se poderíamos ser diretos e dizer, sim, eu sou maçom.

Vale mencionar que é um ótimo tema de trabalho e reflexão, ainda mais quando vivemos, com excesso de informações e todas as distrações possíveis do mundo profano que pode nos afastar mesmo que rápida e corriqueiramente de nossa filosofia e hábitos maçônicos, é um erro achar que essa autorreflexão deve ser feita somente no momento que é questionada, porém a vejo como uma boa ferramenta para usarmos sozinhos em momentos de indecisão, fraqueza, ou até mesmo em momentos de desafios.

Na minha humilde opinião, o motivo para ela ser sempre falada é exatamente esse,  para que não nos caia no esquecimento posturas e comportamentos no mundo profano, e que mesmo inconscientemente essas palavras estejam sempre na mente do maçom, de forma que se ele as profana, mesmo depois de seu comprometimento em agir como tal, sua mente o castiga quando erra, porque mesmo no erro ainda continua sendo reconhecido pelos irmãos como tal, sua mente anda no erro, e essa auto sugestão faz o irmão indiretamente procurar corrigir seus erros, sejam eles quais for.

Depois de muito ler sobre nossa ordem e refletir muito sobre esse tema, eu vejo que essa instrução que recebemos indiretamente é uma das mais importantes, mesmo que nós não saibamos disso, pois a prática de atitudes que estão enraizadas em nossas mentes, acabam por se tornar hábito em nosso cotidiano, e é que faz o verdadeiro maçom.

Uma forma de interpretar também, é que quando todos respondem de uma mesma forma, sem distinção de graus, instruções ou condecorações, claro que fora dos momentos previstos, essa forma de questionamento nos mostra que todos somos iguais, aliás um de nossos princípios, não obstante isso, podemos inserir essa resposta a todos os nossos princípios, como a Liberdade, Igualdade e a Fraternidade.

Se todos me reconhecem como tal e eu reconheço os outros, é porque temos Liberdade para isso, num amplo sentido de Igualdade de tratamento e valor, e como tais, podemos praticar a Fraternidade entre os irmãos, com isonomia e com princípios sinceros, íntegros e fraternais.

Espero que esse curto trabalho possa levar os irmãos a reflexão, e que sempre possamos galgar altos degraus em nossa fraternidade, e aqui digo unicamente no quesito de qualidade e conhecimento.

M M Vagner Augusto De Oliveira

Trabalho para a sessão Magna dedicada ao dia do Maçom.

Augusta e Respeitável Loja Simbólica Fé, Amor e Liberdade n°

3447 Ori De Mendes RJ

MAÇONARIA, A ARTE REAL

Por se tratar de uma Arte destinada à construção do caráter humano, a Maçonaria adotou como base da sua filosofia e como suporte do seu simbolismo os fundamentos e as ferramentas da ciência contida na arte de construir, ou seja, a Arquitetura.

Daí a razão de a grande maioria dos símbolos, alegorias, lendas, analogias e arquétipos presentes na Arte Real estarem todos ligados à ideia da construção ou da reconstrução, física ou espiritual, do edifício moral da humanidade. Destarte, a arte de construir, tomada no seu sentido simbólico, é o principal arquétipo maçónico.

Evidentemente, há nesta questão um fundamento histórico inegável que não se pode ignorar. Pelo fato de a Maçonaria estar umbilicalmente ligada aos antigos construtores medievais (pedreiros livres, como se chamavam esses profissionais), é natural que boa parte da sua simbologia provenha desta que é a mais antiga fábrica do engenho humano.

Mas hoje, sendo a Maçonaria essencialmente especulativa, isto é, análoga a uma escola de filosofia, com características de entidade filantrópica e associação corporativa, não há mais que se falar na simbologia dos antigos pedreiros em termos operativos, mas apenas como alegorias de fundo espiritual.

Assim, a arquitetura de que se fala na Maçonaria refere-se à construção de uma sociedade justa e fraterna, onde todas as pessoas possam viver em harmonia e união. Neste, como noutros princípios defendidos pela Irmandade, ela não se afasta da proposta esotérica contida em todas as religiões, que prometem um estado interior de bem-estar a ser experimentado em nível de espírito.

E, também, integra uma esperança de caráter profano, buscada por todas as experiências políticas já tentadas pelo homem na tarefa de organização das suas sociedades, que é a de proporcionar bem-estar e justiça para todos. Em ambos os casos, a analogia com a arte da arquitetura é bastante adequada, pois se trata sempre de construir um edifício na forma de um mundo ideal. Por isso ela é a Arte Real [1].

Na verdade, a Maçonaria é uma arte muito antiga, cuja prática vem sendo exercida pelos homens desde os primórdios da civilização.

A sua existência fundamenta-se no mais profundo anseio da alma humana, que é o estabelecimento e a manutenção de um estado de ordem, justiça, paz e progresso contínuo, condições que são indispensáveis à felicidade humana. Para isso, em todos os tempos, as pessoas que tendem a assumir maior responsabilidade dentro de uma sociedade costumam desenvolver estratégias de interação e cooperação, visando preservar interesses mútuos e a sobrevivência da sua cultura.

Assim nascem os grupos fechados dentro de uma comunidade, sendo as chamadas Irmandades a forma mais característica de preservação desses núcleos culturais. Desta forma, a noção de corporativismo é outro arquétipo de fundamental importância na estrutura da Maçonaria.

Por isso, ao ser iniciado na Ordem, os candidatos devem responder perguntas que indagam das suas ideias a respeito das suas crenças religiosas (os deveres do homem para com Deus), a sua responsabilidade para com a espécie humana (os seus deveres para com a humanidade), o seu caráter de civilidade, (os seus deveres para com a pátria), a sua noção de responsabilidade social (os seus deveres para com a família), e da sua própria autoestima (os seus deveres para consigo mesmo).

Destarte, a Maçonaria busca na sociedade as pessoas significativas, com as quais possa formar um grupo de escol, capaz de preservar e desenvolver o que de melhor existe nela. Neste sentido ela se assemelha aos chamados Mistérios praticados pelos povos antigos, cujo objetivo era congregar pessoas de reputada importância no meio social, artístico, econômico, político e científico, para com eles formar uma espécie de central de energia psíquica e moral, na qual a sociedade pudesse encontrar os seus líderes quando deles necessitasse.

Pois este era o principal objetivo dos ritos praticados pelos egípcios, persas, babilónios, hindus e gregos, naquelas antigas cerimônias iniciáticas, que a par do sentido religioso que apresentavam, tinham esse caráter corporativo e político-social. Por isto é que Platão, no seu diálogo “Fedro”, comenta: “É evidente que os fundadores dos Mistérios, as chamadas Assembleias Secretas de Iniciados, não eram simples mortais, mas grandes gênios que desde os primitivos tempos procuravam ensinar-nos por meio de enigmas que quem chegar impuro às regiões invisíveis será precipitado nos abismos, enquanto os que já as alcança purificado das manchas deste mundo, e perfeito em virtudes, será recebido na morada dos deuses.” Não se pode pensar num discurso mais maçónico do que este.

A prática da Maçonaria é essencialmente um exercício espiritual que tem por meta moldar o caráter do seu praticante, fazendo dele um verdadeiro obreiro do universo. Por isso se diz que nos templos maçônicos não se pratica uma religião, mas sim uma Arte, cujo propósito é o aperfeiçoamento do ser humano a partir de uma forma de pensar e de um modelo de conduta, no qual se releva o respeito pela pessoa humana e o bem estar da comunidade [2].

É muito frequente um irmão, depois de satisfeita a curiosidade da iniciação e após ter frequentado algumas secções em Loja, se desiludir da Maçonaria e abandoná-la logo nos primeiros graus do noviciado.

É que, premido pelas necessidades do dia a dia, que exigem da sua mente um constante exercício de racionalidade e atitudes práticas, o que se discute e se fala em Loja, muitas vezes acaba tornando-se um tedioso repertório de bizantinas elucubrações, que desperdiça o seu tempo e o leva a se arrepender por estar ali, quando poderia estar fazendo coisa mais útil.

Por isso é que se recomenda, em muitas Lojas, que o irmão, ao ingressar no templo, deixe do lado de fora a sua vestimenta carnal e nele entre só munido do seu espírito. Esta é uma metáfora que significa: vigie a sua mente racional, pois ali dentro você está proibido de julgar; vigie os seus preconceitos, os seus pressupostos e supostas sabedorias, pois ali você poderá ouvir coisas que lhe parecerão, de início, inúteis e absurdas; exercite a sua tolerância, pois é na prática desta virtude que o irmão irá adquirir a flexibilidade de espírito necessária para entender o verdadeiro significado da Maçonaria.

A Maçonaria é muito mais que um grupo de pessoas que se reúne para um objetivo social − que também se insere entre as suas atividades −; ela é, antes, uma comunidade de pensamento, cuja finalidade é formar mentalidades dignas e capazes de conduzir os assuntos da sociedade em que estão inseridas com a eficiência e o zelo que os valores por ela consagrada exigem.

Daí a insistência de que os seus membros nela entrem “limpos e puros” e nela se tornem “justos e perfeitos”, pois é desse exercício de virtude que se moldam os líderes necessários para a condução desse processo. Esta não é, como se vê, uma tarefa fácil de ser planeada, executada e mantida como processo de educação, e como em todos os sistemas do gênero, “muitos são os chamados, e poucos são os escolhidos”; pois como dizia Jesus, é mais fácil para uma criança do que para um adulto entender certas verdades, pois está ainda não tem a chamada “sabedoria” que julga [3].

Por isso, a nossa sabedoria em nada lucrará se ao frequentarmos uma Loja, os nossos pensamentos se mantiverem no território da racionalidade útil e proveitosa, que só valora aquilo que, em princípio, nos pode acrescentar bons dividendos materiais.

Não usaremos os conhecimentos maçônicos para construir uma ponte, um edifício, lucrar na bolsa de valores ou de mercadorias, arrumar um bom emprego, conseguir um empréstimo no banco, etc. (embora todas essas coisas estejam implicitamente relacionadas como objetos dessas relações), pois esse não é o objetivo. Mas ao adquiri-lo, um dia perceberemos que este conhecimento e estas possibilidades sempre estiveram ali, à nossa disposição [4].

João Anatalino Rodrigues

Notas

[1] Veja-se a introdução à nossa obra “Conhecendo a Arte Real”, já citada, onde esse tema é desenvolvido com maior profundidade.

[2] Por isso é a Maçonaria tem sido, amiúde, comparado à prática da alquimia. A alquimia, também chamada de Arte do Amor, tinha como objetivo, mais que a descoberta da pedra filosofal, a transmutação do espírito do operador.

[3] Um famoso ensinamento zen diz que um discípulo procurou o mestre para aprender com ele os fundamentos da doutrina. O mestre pediu que o aluno falasse um pouco de si mesmo e do que já havia aprendido. Enquanto ele falava o mestre enchia a sua xícara com chá. Ao ver que a xícara transbordava e o chá se derramava pelo chão o discípulo exclamou: − Mestre, o senhor não viu que a xícara já está cheia? –Exatamente − respondeu ele. – Como espera aprender o zen se você já está cheio com a sua própria sabedoria?

[4] Aqui está implícito o preceito ensinado por Jesus: “buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo.”

 

 

 

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