Nossa Ordem aprendeu, desde cedo,
que “todos os homens são livres e iguais em dignidade”. Esse mandamento foi
lapidado muito antes de qualquer ideologia contemporânea. Ele nasceu da chama
da fraternidade entre Irmãos — e se expressa hoje no desejo de uma sociedade
mais justa.
No Brasil contemporâneo, têm
ganhado força discussões que propõem tornar o sistema tributário menos
desigual. Entre as medidas em debate, estão iniciativas que buscam aliviar a
carga de impostos sobre quem tem rendimentos mais modestos e reequilibrar a contribuição
daqueles que detêm maior riqueza, por meio de alíquotas mínimas sobre lucros e
dividendos elevados. Essas propostas procuram corrigir uma distorção histórica:
o fato de que, proporcionalmente, os mais pobres sempre pagaram muito mais que
os mais ricos.
Importa dizer que não se trata de
estimular divisões ou fomentar uma luta de nós contra eles, pobres contra
ricos. Essa mentalidade de enfrentamento apenas agrava as feridas coletivas e
enfraquece o ideal de unidade. Mas também não podemos fechar os olhos para uma
desigualdade que é antiga, profunda e concreta, e que nega a muitos a dignidade
que afirmamos ser um direito universal.
“A pior de todas as tiranias é a
que oprime o homem por meio da lei.” — Rui Barbosa
Se ontem a lei autorizava a
escravidão, hoje ela muitas vezes se omite diante de desigualdades que
transformam milhões de trabalhadores em mantenedores involuntários de
privilégios. Talvez seja ousado afirmar que existe uma forma de escravidão
moderna, mas é inegável que o peso desigual da carga tributária perpetua um
cativeiro econômico silencioso. A legalidade vigente pode ser usada para
mascarar a opressão, tornando a tirania ainda mais perversa ao se apresentar
como legítima.
Na Arte Real, é o Nível que nos
recorda, sempre, que todos somos iguais diante do Grande Arquiteto e do tempo.
O Esquadro, por sua vez, nos ensina a agir com retidão e a manter o justo
equilíbrio em nossos julgamentos. E se a balança, como símbolo universal da
Justiça, paira sobre todas as sociedades humanas, entre nós ela se harmoniza
com esses instrumentos, lembrando que a igualdade não é concessão — é direito
de todos.
Esse movimento por justiça fiscal
reflete o princípio maçônico da igualdade: não se trata de combater pessoas,
mas de construir um templo social onde ninguém esteja acima dos demais. A
Maçonaria foi, por vocação, aliada da causa igualitária — de abolicionistas a
defensores do voto universal. Nosso templo metafórico, feito de pedra bruta
lapidada pela razão, só faz sentido se seu entorno também se harmonizar.
Portanto, toda proposta que
caminhe no sentido de tornar a tributação mais progressiva — qualquer que seja
o governo ou a época — é expressão de uma solidariedade civil: reconhecer o
fardo injusto que pesa sobre os mais vulneráveis e promover alívio real, em
nome da dignidade.
Claro: há críticas legítimas —
sustentar serviços públicos, evitar evasão fiscal, controlar a inflação. Mas se
nos perguntarmos: qual é o objetivo último da Igualdade? a resposta maçônica é
clara: permitir que todos tenham acesso a oportunidades, liberdade e
fraternidade — dentro e fora do Templo.
Conclamo, então, cada Irmão e
cada cidadão a refletir:
Se afirmamos que somos iguais
diante do Compasso e do Esquadro, por que tolerar um sistema que perpetua
privilégios e nega justiça? Seria essa a Luz Progressista necessária para
iluminar nossos caminhos nas nossas cavernas contemporâneas?
Autor: Cristiano de Lima Aguiar
*Cristiano é Mestre Maçom da
A.R.L.S. Deus Pátria e Família – Oriente de Corinto/MG – GLMMG
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