Uma Loja Maçônica simboliza o modo como o Universo era compreendido antigamente (1). Nossos primeiros irmãos tiveram grande inspiração quando perceberam que o mundo é um templo, coberto por uma abóbada estrelada durante a noite, e iluminado pelo Sol em sua jornada durante o dia. Um Universo no qual o Homem segue adiante em seu trabalho, alternando luz e sombra, alegrias e tristezas, sempre buscando reproduzir na Terra a lei e ordem presentes no Oriente, que é a origem de tudo (2).
Embora hoje saibamos que o mundo é fisicamente diferente daquele que era conhecido por nossos ancestrais, ainda assim aquela inspiração inicial de nossos primeiros irmãos continua e continuará verdadeira. Parece-me que a idéia central dessa inspiração é que se o Homem tem o propósito de construir seu próprio Templo Interior, ou se ele está disposto a construir uma sociedade justa e duradoura nessa justiça, então ele deverá estar iniciado nas leis e princípios que regem o Universo no qual ele vive. E para isso, o Homem necessita não apenas de sabedoria, que deve ser desenvolvida, mas também da ajuda de Deus, que é o G:.A:.D:.U:. Bem por isso em nossas Lojas Maçônicas está o Altar – mais antigo que qualquer Templo, e tão antigo quanto a própria vida mesma. Um foco de fé e união. Um símbolo sagrado daquele pensamento inicial que inspirou a nossa Arte Real. Um símbolo sagrado da existência do G:.A:.D:.U:.. Um símbolo sagrado de nosso propósito de erguer Templos à Virtude e cavar masmorras ao vício. Nada há de mais impressivo na face da Terra que o silencio de uma reunião de seres humanos curvados diante de um Altar. O instinto que faz com que Homens se reúnam para orar é a mesma força invisível que move Homens a desbastar pedras para construírem templos que corporificam o mistério de Deus. Até onde conhecemos, o Homem é o único ser em nosso planeta que pára para rezar. E a beleza desse ato nos diz mais sobre nós do que qualquer outro. Por uma profunda necessidade natural, o Homem procura Deus, e em momentos de tristeza ou angústia, ou em momentos de tragédia e terror, ou ainda em momentos de sincera gratidão e felicidade, o Homem deixa de lado suas ferramentas de trabalho e olha para o horizonte. E sem perceber, acaba por fixar seu olhar num ponto mais elevado do relevo que está adiante. Talvez tenha nascido aí o termo Altar, substantivo masculino proveniente do latim altare, que por sua vez derivou do adjetivo latino altus (alto, elevado, levantado).
Pelas consultas realizadas, pude imaginar que a história do Altar na vida da humanidade parece ser uma história mais fascinante que qualquer ficção. Da procura inconsciente deste lugar mais elevado ou alto presente na natureza que o cerca, o Homem evoluiu para construir este Altar perto de si. Inicialmente rudimentares, sua construção dava-se pelo simples amontoar de pedras. A centralidade e importância do Altar tornaram-no mais solene e elaborado, sendo portador de uma série de significados e elemento central dos mais variados rituais (holocaustos, preces, declaração de compromissos, incensações, sacrifícios, etc.). Todas as grandes civilizações e culturas humanas ergueram altares: judeus, cristãos, muçulmanos, hindus, romanos, gregos, egípcios, fenícios, incas, maias e astecas. Indígenas e antigos pagãos de todas as partes tiveram e têm seus altares. Nunca, porém, o Altar perdeu sua significação inicial, que é a de conduzir os pensamentos do Homem ao seu elevado deus, seja ele denominado como for, e ao qual chamamos G:.A:.D:.U:..
A partir de elementos como estes, podemos começar a perceber o significado do Altar dos Juramentos na Maçonaria, e a razão de sua posição na Loja. Na Maçonaria primitiva, não havia o Altar dos Juramentos, já que as Luzes da Loja (L:. da L:., Esq:. e Comp:.) ficavam sobre o Altar do V:.M:., onde também eram tomados os juramentos. Posteriormente, em alguns ritos, criou-se uma mesa auxiliar, considerada como extensão do Altar do V:.M:.. Tal costume deu origem ao Altar dos juramentos, que originalmente, portanto, ficava no Oriente, embora algumas Obediências o tivessem levado para o centro da Loja, em desacordo com suas origens, segundo Castellani (3). Na maioria dos ritos, o Altar dos Juramentos está posicionado no Oriente, defronte ao Altar do V:.M:.,. No Rito de York, porém, o Altar dos Juramentos está posicionado sobre o Pavimento Mosaico, no centro da Loja. No R:.E:.A:.A:., sua posição original é no Oriente. Posteriormente, no ritual editado em 1980 (4), o Altar foi posicionado no centro da Loja. O ritual de 1998 e o atual, de 2001 (5), fizeram o Altar dos Juramentos retornar ao seu posicionamento original, no Oriente, defronte ao Altar do V:.M:. (6).
Rizardo da Camino indica que “o Altar maçônico não tem forma nem medidas definidas ou convencionais; ora é construído no formato de um cubo ora de um triângulo e freqüentemente de um quadrilátero; nada é colocado na parte interna” (7).
Embora paire divergência entre os autores consultados acerca da localização em Loja e do formato que deve ter, fato é que todos concordam que o Altar dos Juramentos não é simplesmente uma peça imprescindível no mobiliário maçônico. Muito mais do que isso, ele identifica a Maçonaria como uma instituição de cunho religioso. A Maçonaria não é uma religião, mas é religiosa em sua fé e seus princípios básicos, em seu espírito e em seus propósitos. A Maçonaria não é uma religião, muito menos uma seita, mas um culto em que todos os homens podem se unir porque ela não pretende explicar, ou dogmaticamente estabelecer, o que ou quem é deus. Maçonaria e religião andaram juntas até esta última ingressar no feudo do sectarismo. A Maçonaria pretende unir homens, e não dividi-los. Assim, o Altar dos Juramentos é um altar de fé – profunda e eterna fé que está na base de todo e qualquer credo religioso. Fé num Criador que é a pedra angular e a chave para compreensão de tudo. Fé sem a qual a vida se torna adivinhação e fraternidade se torna futilidade.
Ao mesmo tempo o Altar dos Juramentos é um Altar de Liberdade – não liberdade pela fé, mas liberdade da própria fé. Seja qual for a sua fé, pode o Maçom se unir aos seus irmãos. A Maçonaria, antes de ser operativa ou especulativa, é co-operativa. E cooperação se faz pela união.
O Altar dos Juramentos exorta sentimentos natos de respeito ao Criador, conduzindo o Maçom a se tornar o operário trabalhador e consciente, cujo labor de aperfeiçoamento moral e espiritual resultará no engrandecimento da Ordem em geral e no bem-estar de toda a Humanidade em particular (8).
E faz-nos lembrar também que o mais sagrado altar da Terra é a nossa própria alma – Templo interior de fé, esperança, pureza, tolerância e amor ao próximo.
Cícero D:., A:.M:. A:.R:.L:.S:. Luz da Acácia – Nº 2586 – Or:. de Jaraguá do Sul (SC), Brasil NOTAS:
(1) Quanto a isso, por exemplo, esclarece-nos a 2ª Instrução do Gr:. de A:.M:., constante do Ritual do R.E.A.A. editado pelo GOB em 2001, p. 157. “VEN:.(o) – Que forma tem o nosso Templo? 2º VIG:. – A de um quadrilongo, sendo as suas medidas: - A largura, do Sul ao Norte; - O comprimento, do Oriente ao Ocidente; - A altura, da Terra ao Céu; - A profundidade, da superfície ao centro da Terra. VEN:. – Ir:. 1º:. Vig:., por que o Templo tem essas medidas? 1º VIG:. – Porque a Maçonaria é Universal, e o Universo é um Templo.”
(2) O Ritual do R:.E:.A:.A:. editado pelo GOB em 2001, p. 158 também nos dá a indicação de que a origem de tudo provém do Oriente, e que a lei e ordem presentes no Oriente devem se estender ao resto do Universo: “VEN:. – Por que o Templo Maçônico está situado do Oriente ao Ocidente? 1º VIG:. – Porque assim estão situados todos os Templos, pois o início da vida aconteceu no Oriente, estendendo-se ao Ocidente, e assim será até o fim dos Tempos.” (sublinhas minhas). (3) CASTELLANI, José. Dicionário Etimológico Maçônico. 1ª ed. Editora Maçônica A Trolha: 1990. n 8, p. 30-31. (4) Classificado como “horrível” por Castellani, conforme se pode verificar em https://seguro002.ifxweb.com.br/lojasmbr/consu3a/respo497.htm (5) Vale notar que o Decreto do GOB n. 467, de 24 de abril de 2001, que “aprova e determina a aplicação do Ritual do 1º Grau – Aprendiz Maçom do Rito Escocês antigo e Aceito, Edição 2001” menciona expressamente em seus considerandos que “o Ritual do 1º Grau, Aprendiz Maçom do Rito Escocês antigo e Aceito sofreu, ao longo do tempo, mudanças e acréscimos que o tornaram distante das suas origens” e que “a edição de 1998 do aludido Ritual, procurou imprimir correções e ajustes, sem alcançar entretanto, a excelência desejada”. (6) Segundo o Ritual do R:.E:.A:.A:. editado pelo GOB em 2001, p. 4, “no centro do Oriente, entre os degraus do Trono e a balaustrada, fica o Altar dos Juramentos, que é uma pequena mesa triangular ou uma pequena coluna de um metro de altura, com caneluras e truncadas, em cima da qual ficam o L:. da L:. (Bíblia), um Esquadro e um Compasso”. (7) CAMINO, Rizzardo da. Dicionário maçônico. Madras: São Paulo, 2006. p. 37. (8) MONDEN, Ilson. O altar dos juramentos. In. A TROLHA, n. 231, janeiro/2006. p. 29. REFERÊNCIAS: - Ritual do R:.E:.A:.A:. editado pelo GOB em 2001 |
ALTAR DOS JURAMENTOS
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