A
construção de uma sociedade fundada em valores que fortaleçam a tolerância
mútua exige o estudo das formas de intolerância e das suas manifestações
concretas. Hoje nossos códigos de direito definem e condenam vários tipos de
intolerância, por exemplo: racial, política, religiosa, etc. Trata-se,
portanto, de uma questão social, econômica, política e de classe.
Historicamente vários foram os significados dados à palavra tolerância, que teve seu sentido identificado com a caridade, a igualdade e afirmação da liberdade de crenças e de costumes do outro. O conceito que se afirma como o mais preponderante está relacionado a uma certa predisposição adquirida para acolher o diferente. Este ato implica necessariamente na manifestação por uma simples receptividade e eventual intenção para o diálogo. Vale destacar a especificidade da tolerância como virtude e como ideal da vida em comum.
No dicionário do Aurélio (1983) é definida como "tendência a admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem dos de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos". .
Já o dicionário de Cândido de Figueiredo (1899) registra a versão tradicional de "indulgência" e de "consentir tacitamente", acrescentando inclusive como inovação a palavra "tolerantismo", para significar a tolerância por parte do Estado a todas as manifestações religiosas. E Laudelino Freire, em seu Dicionário da Língua Portuguesa (1939), além do sentido de condescendência e indulgência, também a define como a "boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às suas".
O pensamento moderno introduz o valor tolerância principalmente no âmbito das relações entre católicos e protestantes, por força da Revolução Gloriosa na Inglaterra em 1688, que trouxe em sua bagagem ideológica a defesa da tolerância religiosa e da liberdade de pensamento. Duas grandes obras são referências obrigatórias para o entendimento do sentido moderno de tolerância: a Carta acerca da tolerância de John Locke, em 1689 e Tratado sobre a tolerância publicado por Voltaire em 1763.
O filósofo francês Voltaire define o termo Tolerância da seguinte forma: "É o apanágio da humanidade. Nós somos feitos de fraquezas e erros; a primeira lei da natureza é perdoarmo-nos reciprocamente as nossas loucuras" (p. 289). A tolerância de que fala o filósofo francês visa a supressão da violência, tendo sido instaurada como lei prévia ao contrato, razão pela qual se considera um "atributo da humanidade". Não se trata apenas de uma estratégia em ordem à pacificação; trata-se de um elemento constitutivo da verdadeira natureza humana, a qual se entende agora como uma estrutura de valores universais e trans-históricos cujo cerne reside na liberdade. Negar a alguém o direito de pensar livremente e de agir em conformidade com os seus próprios critérios seria, a partir desta perspectiva, recusar-lhe a autenticidade de sua natureza e a integração no seio da humanidade a que, como pessoa livre, tem direito.
Apesar da origem do sentido de tolerância datar do século XVI, e ter sido discutida pelos grandes filósofos franceses Descartes, Rousseau e Voltaire, a identificação da tolerância com a noção de liberdade religiosa e de pensamento, passou a ser exigida, mas nem sempre respeitada, há bem pouco tempo, se considerarmos os absurdos acontecidos há pouco mais de 100 anos. É quando se tem notícia de fatos de intolerância religiosa punidos pela lei. Antes a censura e a discriminação religiosa e política era o puro desrespeito ao direito de opção.
Ser ou optar pelo diferente, era, simplesmente intolerável. Tanto o governo quanto os religiosos não tinham nenhuma noção de tolerância. Condenando tudo que não fosse exatamente o que desejavam e professavam em suas crenças religiosas.
Temos conhecimento de crimes bárbaros cometidos em nome da intolerância religiosa, que até nossos dias têm assolado os seguidores de doutrinas mais recentes.
Nossa sociedade é carente dessa importante virtude, que possibilita a convivência fraterna entre as diversas tendências religiosas, ensinando que devemos respeitar e aceitar, com suficiente humildade as diferenças e desníveis inerentes ao padrão de individualização, nela, existente. Desta forma faz-se necessário compreender a virtude da tolerância como imperativo essencial ao pleno exercício da atividade religiosa, por ser esse o único caminho possível para suplantar os obstáculos e alcançar a plena solidariedade e o espírito fraterno. A negação a atitudes intolerantes conduz necessariamente ao reconhecimento e à compreensão dos valores espirituais alheios, divergentes e até adversos.
Por sermos humanos, e sendo a natureza humana contraditória e imperfeita, por vezes podemos ser tomados de comportamentos egoístas ou sermos atraídos pela chama da fogueira das vaidades.
É comum ouvir de praticantes religiosos que, aquela que não a sua, é uma seita do demônio e que deve ser execrada pela sua comunidade. Isso nos mostra o quão ignorantes somos e nos sugere aperfeiçoamento espiritual, para abreviar-mos nosso sofrimento ou expiações em vidas futuras. Lembremo-nos que a tolerância é a virtude que se opõe ao fanatismo, ao sectarismo e ao autoritarismo.
Contudo, devemos lembrar que a tolerância não implica em compactuar ou transigir com o erro. Não é permitir a violação do direito ou ruptura da ordem jurídica ou mesmo atitudes de corrupção moral. A tolerância não é uma condescendência, mas sim a compreensão, aceitação e o reconhecimento do direito que têm àqueles que não pensam como nós, de se expressarem de forma diferente ou contrária às nossas crenças.
A tolerância indiscriminada implica em complacência covarde evidenciando uma clara conduta de conivência inaceitável e transgressora dos princípios religiosos estabelecidos. Reconhecer o direito do nosso semelhante ser diferente não nos obriga ser igual à ele.
Mesmo o mais ferrenho defensor da liberdade de expressão pode se ver diante de circunstâncias que a questione. Por exemplo, é possível tolerar a liberdade de expressão quando esta ataca a religião e os bons costumes?
O verdadeiro Cristão combate com firmeza atos ou crenças que possam conduzir a humanidade ao fanatismo religioso, com a única arma admissível: o Evangelho. Esta atitude possibilita sugerir os faltosos ou culpados a redirecionarem seu pensamento ou tendência.
Concluindo entendo que a tolerância constitui uma dádiva preciosa e frágil, que deve ser cultuada para solidificar a noção de fraternidade entre nós.
Ir.·. Nêodo Ambrosio de Castro
neodo@brasilmacom.com.br
A.·. R.·. L.·. S.·. Benso di Cavour nº 028
Or.·. Juiz de Fora MG
Historicamente vários foram os significados dados à palavra tolerância, que teve seu sentido identificado com a caridade, a igualdade e afirmação da liberdade de crenças e de costumes do outro. O conceito que se afirma como o mais preponderante está relacionado a uma certa predisposição adquirida para acolher o diferente. Este ato implica necessariamente na manifestação por uma simples receptividade e eventual intenção para o diálogo. Vale destacar a especificidade da tolerância como virtude e como ideal da vida em comum.
No dicionário do Aurélio (1983) é definida como "tendência a admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem dos de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos". .
Já o dicionário de Cândido de Figueiredo (1899) registra a versão tradicional de "indulgência" e de "consentir tacitamente", acrescentando inclusive como inovação a palavra "tolerantismo", para significar a tolerância por parte do Estado a todas as manifestações religiosas. E Laudelino Freire, em seu Dicionário da Língua Portuguesa (1939), além do sentido de condescendência e indulgência, também a define como a "boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às suas".
O pensamento moderno introduz o valor tolerância principalmente no âmbito das relações entre católicos e protestantes, por força da Revolução Gloriosa na Inglaterra em 1688, que trouxe em sua bagagem ideológica a defesa da tolerância religiosa e da liberdade de pensamento. Duas grandes obras são referências obrigatórias para o entendimento do sentido moderno de tolerância: a Carta acerca da tolerância de John Locke, em 1689 e Tratado sobre a tolerância publicado por Voltaire em 1763.
O filósofo francês Voltaire define o termo Tolerância da seguinte forma: "É o apanágio da humanidade. Nós somos feitos de fraquezas e erros; a primeira lei da natureza é perdoarmo-nos reciprocamente as nossas loucuras" (p. 289). A tolerância de que fala o filósofo francês visa a supressão da violência, tendo sido instaurada como lei prévia ao contrato, razão pela qual se considera um "atributo da humanidade". Não se trata apenas de uma estratégia em ordem à pacificação; trata-se de um elemento constitutivo da verdadeira natureza humana, a qual se entende agora como uma estrutura de valores universais e trans-históricos cujo cerne reside na liberdade. Negar a alguém o direito de pensar livremente e de agir em conformidade com os seus próprios critérios seria, a partir desta perspectiva, recusar-lhe a autenticidade de sua natureza e a integração no seio da humanidade a que, como pessoa livre, tem direito.
Apesar da origem do sentido de tolerância datar do século XVI, e ter sido discutida pelos grandes filósofos franceses Descartes, Rousseau e Voltaire, a identificação da tolerância com a noção de liberdade religiosa e de pensamento, passou a ser exigida, mas nem sempre respeitada, há bem pouco tempo, se considerarmos os absurdos acontecidos há pouco mais de 100 anos. É quando se tem notícia de fatos de intolerância religiosa punidos pela lei. Antes a censura e a discriminação religiosa e política era o puro desrespeito ao direito de opção.
Ser ou optar pelo diferente, era, simplesmente intolerável. Tanto o governo quanto os religiosos não tinham nenhuma noção de tolerância. Condenando tudo que não fosse exatamente o que desejavam e professavam em suas crenças religiosas.
Temos conhecimento de crimes bárbaros cometidos em nome da intolerância religiosa, que até nossos dias têm assolado os seguidores de doutrinas mais recentes.
Nossa sociedade é carente dessa importante virtude, que possibilita a convivência fraterna entre as diversas tendências religiosas, ensinando que devemos respeitar e aceitar, com suficiente humildade as diferenças e desníveis inerentes ao padrão de individualização, nela, existente. Desta forma faz-se necessário compreender a virtude da tolerância como imperativo essencial ao pleno exercício da atividade religiosa, por ser esse o único caminho possível para suplantar os obstáculos e alcançar a plena solidariedade e o espírito fraterno. A negação a atitudes intolerantes conduz necessariamente ao reconhecimento e à compreensão dos valores espirituais alheios, divergentes e até adversos.
Por sermos humanos, e sendo a natureza humana contraditória e imperfeita, por vezes podemos ser tomados de comportamentos egoístas ou sermos atraídos pela chama da fogueira das vaidades.
É comum ouvir de praticantes religiosos que, aquela que não a sua, é uma seita do demônio e que deve ser execrada pela sua comunidade. Isso nos mostra o quão ignorantes somos e nos sugere aperfeiçoamento espiritual, para abreviar-mos nosso sofrimento ou expiações em vidas futuras. Lembremo-nos que a tolerância é a virtude que se opõe ao fanatismo, ao sectarismo e ao autoritarismo.
Contudo, devemos lembrar que a tolerância não implica em compactuar ou transigir com o erro. Não é permitir a violação do direito ou ruptura da ordem jurídica ou mesmo atitudes de corrupção moral. A tolerância não é uma condescendência, mas sim a compreensão, aceitação e o reconhecimento do direito que têm àqueles que não pensam como nós, de se expressarem de forma diferente ou contrária às nossas crenças.
A tolerância indiscriminada implica em complacência covarde evidenciando uma clara conduta de conivência inaceitável e transgressora dos princípios religiosos estabelecidos. Reconhecer o direito do nosso semelhante ser diferente não nos obriga ser igual à ele.
Mesmo o mais ferrenho defensor da liberdade de expressão pode se ver diante de circunstâncias que a questione. Por exemplo, é possível tolerar a liberdade de expressão quando esta ataca a religião e os bons costumes?
O verdadeiro Cristão combate com firmeza atos ou crenças que possam conduzir a humanidade ao fanatismo religioso, com a única arma admissível: o Evangelho. Esta atitude possibilita sugerir os faltosos ou culpados a redirecionarem seu pensamento ou tendência.
Concluindo entendo que a tolerância constitui uma dádiva preciosa e frágil, que deve ser cultuada para solidificar a noção de fraternidade entre nós.
Ir.·. Nêodo Ambrosio de Castro
neodo@brasilmacom.com.br
A.·. R.·. L.·. S.·. Benso di Cavour nº 028
Or.·. Juiz de Fora MG