DO COMPASSO E DO ESQUADRO NO GRAU DE APRENDIZ




  
 MUITOS SEGREDOS são guardados pela nossa Subl.’. Ord.’. Ela não os revela ao vulgo, mas guarda-os para os verdadeiros iniciados que, quando com eles se deparam, reconhecem encerrada toda a Ciência e toda a Sabedoria dos antigos.

Isto é uma realidade. Todos os símbolos maçônicos ligam-se, de alguma forma, ao que os antigos já tinham como segredo em tempos imemoriais.

Hermes, chamado de três vezes grande pelos egípcios, de Mercúrio pelos gregos, e de Enoque pelos hebreus, foi o fundador da grande cadeia mágica e hermética, que com ele iniciou-se, e que terminará junto com o céu e a Terra. Tinha esse grande sábio, como postulado, que «assim como é acima, está embaixo». Essa frase, incompreensível para o profano, risível para o pseudossábio, encerra toda a Verdade, que brilha clara como um puríssimo diamante, para aquele a quem a grande Ísis levantou o véu.

O sábio Salomão, grande rei de Jerusalém, foi iniciado nos mistérios do Egito, onde os sacerdotes de Hermes, no seio da grande pirâmide de Kufu — renomeada de Quéops pelos seguidores de Ptolomeu — procuravam compor o livro da sabedoria da humanidade, prevendo a decadência espiritual e intelectual pela qual esta vem passando.

De sua iniciação, o grande Salomão aprendeu conceitos secretos sobre os mistérios da vida e da morte, da magia natural e da física oculta, o grande arcano, sabedoria imutável e valorosa que ele resolveu encerrar em suas célebres «clavículas». Seu emblema, chamado «Selo de Salomão», compõe-se de dois triângulos equiláteros, perfeitos, sobrepostos um ao outro, um com a ponta para cima, outro com a ponta para baixo, de modo que seus vértices se encontram.

Assim dispostos, correspondem ao grande preceito de Hermes, que expressa à analogia dos contrários, a lei das correspondências, dizendo que o que está em cima, é como o que está embaixo.
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EM MAÇONARIA, os misteriosos emblemas do esquadro e do compasso, cuidadosamente dispostos pelo Orad.’. quando, no início dos ttrab.’. da Loj.’. abre o L.’. L.’., são análogos e correspondentes ao antigo «Selo de Salomão».

Assim utilizados, isto é, desde que consideremos esta analogia, o esquadro e o compasso representarão um triplo símbolo, com três significados: o material, que expressa uma utilidade; o filosófico, que expressa uma ideia; o metafísico, que expressa um conceito esotérico.

No plano material, o esquadro e o compasso são ferramentas de construtor. Com o compasso, ele traça círculos, curvas, que o orientarão no corte de certos materiais. O compasso serve para medir e construir formas. Compasso provém do latim compassare, que significa «medir».

No plano filosófico, o compasso é o símbolo do espírito de ação, do qual deve estar imbuído todo pedreiro-livre, e dos limites do maçom, aos quais ele deve obedecer por estar ligado à fraternidade por um juramento. Apoiado na ponta seca, o compasso pode ser aberto em vários ângulos, formando círculos. Tais círculos serão a delimitação do trabalho maçônico na sociedade, e internamente, construindo o templo.

Eis a interpretação metafísica: a haste na qual o compasso é apoiado para traçar o círculo representa o absoluto e a origem imaterial do homem. Lembra que todas as coisas visíveis são feitas a partir do invisível. Arquiteto significa, em grego, «construtor do primordial». Por isso que, em Maçonaria, Deus é chamado de G.’. A.’..

O «Selo de Salomão» ou «Estrela de David» pode ser formado a partir de um círculo, onde, sobre certos ângulos, um hexágono é traçado. A partir desse hexágono, ligamos as pontas de cima às pontas de baixo, e obtemos o grande emblema que expressa materialmente a frase de Hermes.

No grau de Ap.’., as pontas do compasso estão sob o esquadro. Assim, temos que o neófito não tem consciência plena de todas as suas capacidades. Sua ação intelectual está ainda inibida por uma predominância dos instintos animais, que ele vai trabalhando e equilibrando na medida de sua evolução na senda.

Eis o porquê de a abeta de seu avental branco estar desdobrada. Deste modo, ela tampa o ponto de energia epigástrica, onde os instintos animais estão concentrados, onde depositamos os alimentos que ingerimos, até que a digestão mecânica e química os venha tratar.

Não pretendemos ir muito distante neste modesto trabalho, mas poderíamos lembrar que esse ponto é análogo ao primeiro arcano do tarô, «O Mago» ou «O Bateleiro», cujo símbolo hieroglífico é a letra a (aleph).

 VEJAMOS AGORA os significados do esquadro.
Enquanto o compasso é um símbolo espiritual, imaterial, posto que represente o triângulo com o vértice para cima, o esquadro é a união do céu com a Terra, do espiritual com o material, da consciência subjetiva com a consciência objetiva, do o estado de êxtase com o estado de razão, dos olhos da alma com os olhos da carne.

É prudente o maçom que obra preocupado tanto com o mundo perceptível pelo intelecto, o mundo das formas, quanto com o supra-mundo, perceptível apenas através da alma. É no primeiro que, efetivamente, ele encontrará os instrumentos físicos para sua evolução.

O conhecimento da verdade nos liberta da ilusão. Os fantasmas do medo, do fanatismo, da fé cega, da superstição, são afastados pela sabedoria.

O triângulo apontado para baixo no «Selo de Salomão», representado analogamente pelo esquadro no simbolismo maçônico, exorta-o à busca incessante do conhecimento, do uso inflexível da razão.
O iniciado não se deve deixar levar pelo entusiasmo, mas, ao contrário, deve meditar cuidadosamente acerca das novas ideias.

Se colocado em forma de “L”, fazendo com o solo um ângulo de 90º, o esquadro irá simbolizar, através de sua linha horizontal, a senda reta que o homem iniciado precisa percorrer na Terra, aplicando praticamente, no quotidiano, os conhecimentos secretos que adquiriu; a linha vertical representará sua caminhada rumo ao cosmo, ao infinito, a Deus.

Com o compasso, a luz ganha forma, transforma-se em matéria, torna-se o homem, mas é com o esquadro que ele cresce.

A união de ambos realiza a criação. Na ordem geral das coisas, a união do triângulo superior com o inferior cria as formas, realiza a natureza. No plano microcósmico, ou seja, no homem, a união do compasso com o esquadro dá-lhe a divindade. É como lemos no evangelho de São João, capítulo 5, versículo 26: Porque como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo.

No S.’. de O.’. e na Saud.’., as esquadrias estão presentes de uma forma a lembrar a retidão de caráter que deve orientar os Obr.’. da paz.

O que explicamos acima encontra ecos na Cabala, tradição dos rabinos judeus, de antiguidade insuspeita, da qual a Maçonaria é fiel depositária.
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 O HOMEM NÃO sabe nada, mas é convidado a tudo conhecer. Não é prudente limitar o conhecimento, desde que este seja buscado de forma honesta e aplicado de maneira útil.

Ao encararmos a luz, nossos olhos se ofuscam, mas, com o passar do tempo, nossas retinas habituam-se a contemplá-la, e ficamos livres dos grilhões da ignorância, das marcas da superstição.

Procedendo assim, o homem chega a ter a impressão de, um dia, ter falando ao seus ouvidos a própria serpente do éden, que de uma maneira enigmática, repete-lhe a velha frase: sereis como deuses, conhecedores do bem e o mal. 

P.’. de Arq.’. composta por D.M.O. da Loj.’.“Templo de David II”    

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