O Significado
Simbólico da Gravata Bordô do Rito Brasileiro
A gravata diferente daquela de cor preta
correntemente usada no GOB, foi adotada no Rito Brasileiro como marca
distintiva. À semelhança da gravata branca adonhiramita, serve para distinguir
os obreiros pelo traje, possuindo importante objetivo complementar: o de
reforçar o espírito de corpo. Espírito de Corpo é
o sentimento manifesto por certo orgulho em pertencer a determinada
instituição; é a comunhão dos membros dessa instituição. Dele virtudes como a
solidariedade, fidelidade, firmeza de propósito, etc.
O bordô,
que parte do fundamento de a cor do Rito ser o violeta -
resultou de razões estéticas, ou seja, a elegância de sua combinação com o
traje preto exigido no GOB, oposta à estranheza provocada pela gravata de cor
violeta em conjunto com o mesmo terno preto. A referência simbólica liga-se ao
significado de nobreza que se empresta à cor púrpura. Assim o manto
púrpura da Magna Reitoria..
EXPOSIÇÃO
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1. Em abril de
1985, quando o irmão NEI INOCÊNCIO assumiu a direção do Supremo
Conclave do Brasil por morte do Grande Primaz CÂNDIDO FERREIRA DE
ALMEIDA, teve início uma fase de remodelação doutrinária. Nesse contexto
inovador, por exemplo, a adoção dos mantos cardinalícios para os membros da
Magna Reitoria (1994) e do manto níveo (branco como a neve) para o Grande
Primaz. Ainda: a ampliação do título atribuído ao Grau 33, não apenas Servidores
da Ordem e da Pátria, mas, agora, Servidores da Ordem, da Pátria e
da Humanidade(1992, na Convenção do Rito aqui no Rio de Janeiro), a
mudança da legenda Homo Homini Frater ("Homem, um
irmão para o homem") para Homo Hominis Frater ("Homem,
irmão do homem") (Constituição de 2000). E tanto mais. Marcas da nossa
geração, assinalada pela gestão do Soberano irmão Nei.
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2. Essa última
década do Século XX foi de grande efervescência ideológica no GOB. Discutia-se
muito sobre muitas coisas. Por exemplo, as cores: a cor do avental do Rito
Escocês Antigo e Aceito. JOSÉ CASTELLANI e XICO TROLHA afirmavam ser o vermelho
e não o azul.
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3. Sem qualquer
ligação (pelo menos consciente) com esse vermelho do REAA,
particularmente, aqui no Supremo Conclave, sentíamos a
necessidade de prover o Rito de um forte espírito de corpo que
pudesse nos estimular no contexto dos outros ritos, principalmente em face de
uma permanente perseguição de alguns setores retrógrados e uma antiga imputação
de irregularidade. Precisávamos reforçar a personalidade do Rito e o orgulho de
seus membros em pertencerem ao Rito Brasileiro (espírito de corpo). Daí
a adoção da gravata de cor diferente. Seu uso, nos primeiros dias, significou
uma espécie de desafio, orgulho por ser do Rito, posto que houvesse, mesmo no
GOB, gente importante que se recusava a aceitar o Rito Brasileiro. O uso da gravata
bordô era uma declaração pública ostensiva de adesão ao Rito. Hoje é
bonito; naquela época era censurável.
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4. Bem, falamos em
bordô, mas, naquela época, transição do século XX para o XXI, qual seria essa
cor? Evidentemente deveria ser a cor do Rito que, como se
sabe, é o violeta. Sim, embora prescrito que, em cada país em que
for adotado sistema maçônico idêntico, no avental de Mestre-Maçom haja, no
canto superior direito, uma roseta de um centímetro de diâmetro com as cores nacionais
(entre nós o verde amarelo) - a
cor do Rito Brasileiro não é a cor nacional brasileira, mas, sim, o violeta.
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5. Violeta é
aquela cor da flor do mesmo nome. Alguns dizem: roxo. Muito
parecida com a cor que recebe o nome de púrpura.
Sobre as cores
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6. A cor é uma
impressão ótica. Um fenômeno luminoso ou da luz. A cor que percebemos em um
objeto resulta dos raios luminosos que nele incidem. Propriedades desse objeto
determinam que alguns desses raios sejam absorvidos, enquanto outros são
refletidos ou transmitidos. A cor que se apresenta a nossos olhos é determinada
justamente pela capacidade de o objeto absorver parte da luz incidente,
refletindo ou de outro modo transferindo os demais raios. Por exemplo: um corpo
sólido opaco branco indica que todos os raios de luz nele incidentes foram
refletidos; se preto, pouca luz de qualquer comprimento de onda terá sido
refletida; se o corpo iluminado for vermelho, os comprimentos de onda que
produzem o estímulo ocular vermelho terão sido os refletidos; assim por diante
com cada cor. As possibilidades de combinação são inumeráveis; outrossim, a
nomenclatura que identifica as cores não tem fim.
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7. Quando um raio
de luz solar atravessa um prisma (sólido triangular de vidro ou de cristal), se
decompõe em raios diversos de cores variadas (7 cores) que os físicos, com
muita exatidão, identificam pelo comprimento de onda ou pela frequência.
São as cores do arco-íris: violeta, anil, azul, verde, amarelo, alaranjado e
vermelho. Fenômeno ondulatório. Ondas eletromagnéticas vibrando com diferentes frequências ou comprimentos
de onda. Quanto menor o comprimento de onda maior a frequência.
E vice versa.
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8. Nos limites
desse espectro de ondas visíveis, situam-se o vermelho e o violeta. Ondas com frequência
maior (comprimento menor) que o da luz violeta (ultravioletas)
ou com frequência menor (comprimento maior) que o raio
vermelho (infravermelhas) não são visíveis. Tal explicação encerra imensa
complexidade quando objetivamente observamos os corpos e identificamos sua cor.
Tudo dependerá tanto da luz incidente como da capacidade de absorção do corpo
observado.
Os nomes
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9. Os físicos, a
indústria de alta tecnologia, possuem padrões para identificar e dar nomes a
cores. A voz corrente do povo, não. Assim, já dissemos, violeta é
a cor das violetas. Mas alguns preferem dizer roxo. E até mesmo
ocorre que, observando diretamente as flores, se vê que algumas violetas são
efetivamente roxas, uniformes, escuras; outras são mais brilhantes,
ou mais desbotadas, quase brancas. Variam.
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10. Outrossim, há a
cor que correntemente recebe o nome de púrpura. Tal nome resulta do
antigo processo de obtenção da substância corante que a produz (pigmento). Algo
como um vermelho que os antigos obtinham de um caramujo (molusco)
de nome múrice ou púrpura. A dificuldade nessa
produção do corante determinava o alto valor (raridade) dos tecidos de púrpura o
que contribuiu para a sua significabilidade: os mantos de púrpura instituíram-se
como vestes reais, assim, no mesmo sentido, as vestes cardinalícias, cardeais,
príncipes da igreja.
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11. Ademais, há a
própria sugestão trazida pelo vermelho - que alguns dirão encarnado,
cor da carne viva, do sangue e daí, símbolo de vida,
energia, heroísmo, martírio. A cor do Manto de Cristo.
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12. O nome vermelho deriva
de vermezinho - do latim "vermiculus"
- também referência ao processo produção. O pigmento vermelho era
obtido de um inseto (verme, em expressão dos antigos) chamado cochonilha.
Variando o tratamento dado ao pigmento assim obtido, o nome da cor seria escarlate -
um vermelho muito vivo (lábios escarlates) ou carmim. A voz do povo
é livre: púrpura e escarlatina, por exemplo,
identificam doenças que deixam manchas vermelhas nos seus pacientes. Em matéria
popular de dar nome aos bois, digo, às cores, há muita confusão.
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13. Pois bem, em
termos de significação simbólica, os significados de nobreza, dignidade e até
mesmo sacralidade, misticismo, atribuídos à cor púrpura certamente
contribuíram para a seleção do violeta como a cor do Rito.
Embora diferentes, violeta, vermelho, púrpura, escarlate são"primos-irmãos".
E há saudade na lembrança de dia feliz que passamos (Nei Inocêncio, Antônio
Carlos Simões, Elias, Mário Name, Castellani, outros, a memória é frágil) no
sítio do saudoso João Roque nos arredores de Campinas (SP), andando lá pelos
jardins, divertidos, identificando os diversos tons de violeta, conforme as
diversas flores que víamos. Já havia a decisão de adotarmos uma gravata
distintiva, como nossos irmãos do Rito Adonhiramita. Estávamos decididos pela cor
do Rito (violeta). Cor cardinalícia. Mas ali estava a dúvida: vermelho,
púrpura, violeta? Ademais: havia violetas para todos os
gostos, desde as bem roxinhas, outras mais avermelhadas do que roxas (púrpuras?),
até umas desbotadas, praticamente brancas. E mais, todos concordavam que o roxo não
combinava muito bem com o terno preto obrigatório. Combina?
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14. De todo modo
havia convicção (há) quanto à cor do Rito (violeta = roxo) o que nos levou
mesmo (durante certo tempo) à adoção de um manto violeta (roxo)
para a Magna Reitoria (ainda tenho o meu em casa). A intenção (como
ainda o é com o manto atual) era de suscitar a lembrança da dignidade
cardinalícia. Até um solidéu se usava, hoje substituído por um barrete.
Mais tarde, também, evoluiu para o vermelho atual, com bastantes ornamentos. E
se distinguiu o Primaz com um Manto Níveo (branco, cor da
neve), emblema de pureza.
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15. Entretanto,
quanto à gravata propriamente dita, questões estéticas vedavam o uso do
violeta, assunto que foi solucionado quando alguém trouxe (e isto era comum,
trazer gravatas roxas, vermelhas, etc., como amostras), alguém trouxe,
reitera-se, uma gravata bordô, no padrão, tom, etc. da
atualmente usada. Agradou sobremaneira. Caiu no gosto. Foi adotada
experimentalmente. E após longo período de experiência, quando se verificou que
o povo do Rito aceitara com entusiasmo a solução, foi
providenciada a alteração do Regulamento Geral da Federação,
tornando legal o uso da gravata na cor adotada pelo Rito (em nosso caso o bordô).
O bordô (conclusão)
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16. Bordô não
é exatamente o violeta ou roxo (cor das violetas), nem o encarnado,
vermelho(cor do sangue ou da carne viva). Bordô é a cor do
vinho tinto produzido nos arredores da cidade de mesmo nome do vinho, bordô,
que nada mais é que um aportuguesamento para a fonética do francês bordeaux (leia-se, bordô).
A cidade (Bordeaux) em português se
diz, Bordéus - não confundir com bordéis, plural de bordel,
do francês bordel, "cabana, casinha", termo
empregado para identificar "casa de prostituição", no pressuposto
de que em tais cabanas isoladas se instalavam as meretrizes.
17. Enfim, bordô é
o vermelho como a cor do Vinho Bordeaux. Não é
exatamente o violeta (roxo, cor das violetas), nem o encarnado (cor
de sangue ou de carne viva), não suscita tão plenamente as ideais
de nobreza, alta dignidade, sacralidade, misticismo, tenacidade, heroísmo,
martírio (como queiram) nessas duas classes de cores indicadas (o violeta e o
vermelho), mas, na família, é a cor que melhor combina para o uso de gravata
com terno preto. Essa a razão.
Fernando de Faria, 33º.