Determinada Loja Maçônica estava em uma
situação muito difícil, era uma fase realmente crítica. Suas reuniões não
traziam nada de novo e até as tradições estavam se perdendo. Era sempre a mesma
coisa, ou seja, ar pesado e poluído, a energia sempre negativa, os Obreiros
apáticos e desmotivados, bem como a descrença em possíveis soluções imperava e
os balanços financeiros, um horror, não saíam do vermelho.
A bem da verdade, tanto a sua Administração
como as contas retratavam muito bem alguns países do Terceiro Mundo. Era uma
verdadeira calamidade, levando a muitos valorosos Irmãos se afastarem
assustados e, ao mesmo tempo, tristes por não poderem contribuir para a solução
dos problemas existentes, até porque nem sequer eram ouvidos.
Efetivamente, esta situação não podia mais
continuar como estava. Era preciso fazer alguma coisa para reverter o caos ali
instalado. Todavia, nenhum Irmão estava disposto a reagir contra aquele estado
de coisas; não queria assumir sua parcela de culpa, muito menos oferecer
soluções viáveis, mas que poderia melindrar alguns Irmãos que insistiam em não
buscar soluções.
Desta forma, a maioria dos Obreiros apenas
reclamava e dizia que tudo estava ruim, não havendo qualquer perspectiva para
melhorar o astral ou a harmonia da Loja e, consequentemente, o progresso maçônico
dos Irmãos ficava cada vez mais distante de ser alcançado.
Acontece que, para uns poucos e valorosos
Obreiros, nem tudo estava perdido. Todavia, era necessário abrir o coração e
deixar a Luz do Amor Divino entrar e nele fazer sua morada. Acreditavam que a
Administração da Loja, ou mesmo qualquer Irmão do Quadro, que fosse mais
habilidoso e equilibrado, deveria tomar a iniciativa no sentido de reverter
todo processo de Decadência Fraternal, Espiritual e até mesmo Material, que
abateu sobre os Irmãos e, consequentemente, vinha contribuindo para o
afastamento de grande parte dos membros da Loja.
É também verdade que muitos deles, talvez
inconscientemente, estivessem esquecendo os verdadeiros princípios maçônicos,
nos quais se assenta a Maçonaria, tais como: prevalência do espírito sobre a
matéria, a busca do aperfeiçoamento moral e ético, a prática da fraternidade, a
tolerância, a solidariedade e tantos outros importantes à virtude do Maçom.
Contudo, a grande surpresa estava para
chegar e com ela, o desejo de alcançar novos progressos. O fato é que, certo
dia, quando os Obreiros chegaram para o “trabalho”, encontraram na Sala dos
Passos Perdidos, um imenso cartaz, todo colorido e chamativo no qual estava
escrito um comunicado, redigido da seguinte forma:
“Acabou de passar para o Oriente Eterno, o
Irmão que impedia a evolução e o progresso da Loja, bem como o crescimento de
todos os Obreiros. Ele foi atingido por um grande mal, ou seja, pelo seu
próprio veneno, mas nem por isso deixou de ser considerado um Irmão. Agora você
está convidado a prestar a sua última homenagem àquele que na sua ascensão
maçônica não passou da Pedra Bruta; permaneceu nela até a sua passagem para o
Oriente Eterno”.
Todos se mostraram muito tristes por causa
do falecimento de um Irmão Fraternal. Após algum tempo, já refeitos do choque
inicial, os Irmãos ficaram ansiosos e impacientes para descobrirem quem era o
Obreiro que há muito tempo vinha impedindo que o equilíbrio e a harmonia fossem
alcançados na Loja. A especulação também esteve presente e até o mais sereno de
todos os Irmãos perguntaria:
“Quem será o dito cujo?
Era um Irmão antigo ou
novo?”.
A agitação e a curiosidade eram demais no
recinto, gerando até certa confusão, uma vez que todos queriam entrar ao mesmo
tempo para ver o defunto. Foi preciso que alguns Irmãos mais sensatos interviessem
para organizar uma pequena fila à entrada do Átrio, onde estava sendo feito o
velório. Assim, conforme os Irmãos iam se aproximando da Urna Funerária, a
excitação aumentava cada vez mais.
Registra-se que o momento mais
constrangedor do velório ocorreu quando um ilustre Irmão do quadro, muito exaltado,
talvez tomado pela emoção, interrogava de forma contundente: “Quem seria o
Irmão que estava atravancando o meu progresso maçônico? Quem foi esse infeliz?
Ainda bem que a Justiça Divina foi feita e agora vamos poder progredir.”.
Foi nesse clima que, um – a – um, os
Obreiros aproximaram-se da urna, olhavam o “morto” através do visor e em
seguida, geralmente pálido, engoliam em seco e se afastavam. Após essa dura
realidade, os Irmãos ficavam no mais profundo e absoluto silêncio, dando a
impressão de que o mais fundo de suas almas fora atingido e marcado para
sempre.
Meus prezados Irmãos, certamente, depois
dessa trágica narrativa, todos vocês já perceberam que, no Visor da Urna, havia
um espelho a refletir a mais pura e verdadeira imagem daquele que vinha
emperrando, mesmo que inconscientemente, o tão necessário e desejado progresso
maçônico.
Bem, vocês já perceberam também que só
existe uma pessoa capaz de limitar nossa evolução e nosso crescimento, seja
maçônico ou profano, seja interior ou exterior. Essa pessoa, em verdade, é você
mesmo.
Na verdade, a única pessoa que realmente
pode fazer a revolução de sua vida pessoal, material e espiritual ou mesmo
prejudicar a sua própria evolução é você mesmo. Você é a única pessoa que pode
se autoajudar. Até porque é dentro do seu coração ou no mais profundo do seu
subconsciente que você vai encontrar força e energia necessárias para se
transformar no artesão da sua própria vida, seja ela maçônica ou profana.
Além do mais, o Irmão que desejar construir
um verdadeiro Templo deve visitar a si mesmo, no mais profundo do seu ser e, aí
então, executar um trabalho oculto e misterioso.
Tal como a boa semente que deve ser
plantada no seio da Terra para que seja possível colher os melhores grãos ou
frutos. Da mesma forma, quem ouve o chamado da sua consciência ou do
G.:A.:D.:U.:, liga o seu canal e fica sintonizado com Ele e, certamente obterá
a mais sublime transformação, ou seja, poderá encontrar a Pedra Filosofal que
está oculta em seu próprio interior, e que lhe possibilitará fazer do carvão o
diamante mais brilhante, do chumbo o puro ouro, da escuridão a luz mais
reluzente e, por que não dizer, do ódio o amor.
Esta crônica se destina à nossa reflexão e
qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência. Contudo, estamos em um
período de transição administrativa em nossas Lojas, cabendo ressaltar que o
momento é propício ao cultivo de bons hábitos...
AILDO CAROLINO
SECRETÁRIO ESTADUAL DE GABINETE DO GOB-RJ