As boas ações dos
maçons ficam quase sempre - como é suposto - no segredo do íntimo de cada um.
Não é próprio de um maçom alardear o bem que espalha em seu redor, ou, como diz
o evangelho segundo Mateus, "não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua
direita". Assim, os bons exemplos daquilo que os maçons fazem nunca chegam
a ser verdadeiros exemplos: desconhecidos de quase todos, é como se não
tivessem sequer ocorrido.
Não falam as bocas do
mundo das boas obras deste ou daquele maçom, e se falam não mencionam o fato de
ser maçom - eventualmente de forma pública. Mas, se por acaso o mencionam, não
se diz nunca que foi "a maçonaria", por intermédio dessa pessoa, que
fez bem; o bem é sempre e quando muito, um ato individual.
Já quando o nome de um
suposto maçom cai na lama da praça pública, logo os clamores se erguem para
estabelecer uma suposta ligação entre um fato e o outro, e logo se toma a parte
pelo todo, atacando-se a totalidade dos maçons por causa de uma acusação feita
a um ou a uns poucos... De fato, a discrição que caracteriza a maçonaria joga
frequentemente em seu desfavor.
Negar as evidências
não é próprio de seres racionais ou de pessoas inteligentes. Por isso começarei
por afirmar: é claro que há maçons que fazem coisas mal feitas; venha o
primeiro dizer que nunca cometeu um erro. O fato de um maçom cometer erros só
prova que cumpre um dos requisitos para ser maçom: pretender aperfeiçoar-se.
Um
maçom que cometa um erro pode contar com o apoio dos seus irmãos, e será tanto
mais apoiado quando manifeste a firme vontade de se corrigir e aperfeiçoar. Por
isto mesmo, uma pessoa perfeita não teria lugar na maçonaria.
Mesmo os melhores
fazem, por vezes, coisas mal feitas. Assim, não me assusta nem me incomoda nada
que se diga que um maçom cometeu um erro. Preocupa-me, sim, saber como reagiu
ele a esse erro: evitou-o? Corrigiu-o? Remediou o mal feito? Ou persistiu no
erro, acomodou-se a ele e voltou a repeti-lo? E quando não são os melhores a
errar? Quando são os piores? Quando não é um ato mal cometido por alguém que
tem uma história consistente de fazer o bem, mas um ato mau de alguém que
costuma fazer o mal?
Deixem que estabeleça
um paralelismo. Tem-me chocado, como creio que a milhões de outros, saber do
escândalo dos abusos sexuais de crianças por padres católicos por esse mundo
fora. Choca-me tanto mais quanto fui criado no seio de uma família católica, e
toda a vida conheceu e privou com muitos padres. Por isso me repugna a ideia de
que um padre possa ser pedófilo. Como é possível que um padre - alguém que eu
tenho, em princípio, na melhor das contas - possa tornar-se algo de tão odioso?
Um dia, de repente,
apercebi-me de que estava a ver ao contrário: não eram os padres que se
tornavam pedófilos, mas os pedófilos que se tornavam padres. Se bem atentarem,
é o disfarce perfeito: não precisa explicar o fato de não viver com ninguém, e
pode estar quase sempre com crianças por perto. Como evitar, então, os padres
pedófilos? A meu ver, evitando-se que os pedófilos se tornem padres. Note-se
que isso não diminui o número de pedófilos, mas pode reduzir para zero, ou
perto disso, o número de padres pedófilos.
Com a maçonaria e os
maus maçons acontece fenômeno semelhante. Infelizmente, dos muitos que tentam
juntar-se aos maçons para obter prestígio, benefícios e privilégios, alguns
conseguem ser admitidos. Quando, por fim, se revela através das suas más ações,
o mal está feito. E, quando as suas más ações são conhecidas, é toda a
maçonaria que fica manchada.
Porque a maçonaria
regular é cumpridora das leis de cada país onde está estabelecida, e porque
pretende, precisamente, manter um distanciamento dessas práticas, caso um maçom
seja condenado pela justiça pelo cometimento de crimes ou ilícitos graves, só
pode aguardar por um veredicto: a expulsão.
Mas melhor do que remediar é
prevenir. Quando os processos de inquirição são adequadamente conduzidos
minimiza-se o risco de se admitir quem não deva sê-lo.
E é assim que deve ser.
Ir:.Paulo M.