Ao longo de sua história, a Maçonaria, não aquela das lendas e
tradições românticas, de tempos imemoriais, das guildas de ofício que
pretendiam manter uma reserva intelectual de mercado, mas sim a Maçonaria como
Instituição, fruto de um momento social iluminista originada ao longo do final
do século 17 e início do 18, sempre enfrentou oposição do chamado “mundo
profano”, principalmente por seu caráter sigiloso, reservado, secreto até.
Nestes quase 300 anos de existência oficial a ser completada em
2017, a Maçonaria se deparou com fortes movimentos que pretenderam controlá-la
e até mesmo suprimi-la, com a eliminação de suas estruturas, a prisão e mesmo a
condenação à morte de seus integrantes.
Desde a emissão da Bula In Eminenti Apostolatus Specula, por
parte do papa Clemente XII, em 28 de abril de 1738, uma das primeiras
tentativas de sua supressão, até os fortes ataques sofridos ao longo do século
20 por nações totalitárias, de caráter fascista, mesmo assim a Maçonaria sempre
representou ao mesmo tempo um farol de conquistas sociais de Liberdade e
Igualdade entre os Homens e uma ameaça àqueles que pretendiam a perpetuação de
um status quo baseado no controle do Estado e da Sociedade por poucos, uma
elite perversa que visava ao controle do conhecimento, aos meios de produção,
às liberdades individuais.
Nestes últimos 300 anos, em suas fileiras, a Maçonaria abrigou
líderes políticos, libertadores, intelectuais, filósofos, cientistas e
artistas: de Saint-Martin e Washington; de Voltaire a Franklin; de Mozart e Puccini
a Montaigne e Fleming.
A Maçonaria sofreu e sobreviveu, sempre permanecendo imune aos
ataques externos e internos à sua estrutura globalizada, em uma época em que o
termo ainda nem sequer havia sido cunhado.
Nestes 300 anos, lutou-se pela Liberdade social, pelo acesso
universal à instrução, pelo direito de acesso aos meios de produção, pela
liberdade política, pela defesa dos Estados laicos e pela comunhão entre os
povos.
Lutou-se pelo fim do Absolutismo; pelo fim da Escravidão; pela
eliminação das oligarquias na sociedade; pela eliminação do totalitarismo de
Hitler, de Mussolini e de Franco, exemplos de Estados onde a Maçonaria foi
perseguida e praticamente eliminada, com a morte de aproximadamente 400.000
maçons em campos de extermínio, conforme os registros oficiais apontam;
lutou-se pelo fim da Ditadura do Proletariado nas quatro décadas após o término
da Segunda Guerra Mundial e tem se lutado ainda pela supressão das injustiças
sociais e econômicas.
Agora nestas primeiras décadas do século 21, a Maçonaria, de uma
maneira geral, enfrenta um inimigo maior que todos aqueles que já a
confrontaram: a indiferença.
A indiferença por parte de seus integrantes de que não há mais
batalhas a serem vencidas; a indiferença e a acomodação por parte de seus
integrantes de que as grandes causas se resumem a encontros sociais e a
discursos vazios desassociados da realidade prática de um mundo em
transformação, um mundo que exige respostas rápidas para questões cada vez mais
complexas; a indiferença por parte de seus integrantes com relação aos
equívocos internos e à luta insana por um poder sem poder algum; a indiferença
diante de grupos que simplesmente se esquecem dos compromissos assumidos no
instante de suas iniciações.
Portanto, o maior inimigo da Maçonaria não está somente no
crescimento de movimentos antimaçônicos, no crescimento de teorias de
conspirações, nos ataques de grupos extremistas que tem se infiltrado dentro da
Ordem, com o intuito de se valer da “proteção” de seus templos para fins
menores e escusos.
O maior inimigo da Maçonaria está na constituição, internamente,
em nossas fileiras, de grupos de interesses particulares, na construção de uma
oligarquia, de um governo de poucos, por si só perverso, com pretensões de se
perpetuar no poder da Instituição, transformando-se numa autocracia ou mesmo
numa plutocracia.
O que se tem visto de uma forma generalizada é que os interesses
maiores, os interesses sociais e culturais de grande parte da sociedade profana
e maçônica, foram deixados de lado, em troca de uma política feita para se
garantir regalias efêmeras e reuniões festivas sem significados maiores.
Mas quais desafios a Maçonaria deve vencer?
Antes de qualquer ação concreta, antes de se voltar à sociedade
profana, a Maçonaria deve se reinventar, não no sentido de se criar um novo
padrão de atuação, mas sim de se retornar aos princípios defendidos e
elaborados por aqueles que “inventaram” a Instituição; uma reformulação da
“ética maçônica” com vias ao reexame dos hábitos dos maçons e do seu caráter em
geral, de modo a se evitar o desmoronamento dos pilares de sustentação da
Instituição; um reexame das reais necessidades da Maçonaria, principalmente com
relação àqueles que pretendem ocupar a liderança e a representação de nossa
Ordem, guindando-se aos seus maiores postos, não só o mais carismático, mas
também aquele que seja mais preparado do ponto de vista ético, intelectual e
moral.
Necessitamos de um novo padrão de comportamento, não o
comportamento vigente, voltado para a autopromoção e a perpetuação de
privilégios, mas sim um novo padrão para se vencer os desafios referentes à
construção de uma sociedade profana baseada nos princípios fundamentais
defendidos pela Ordem, ou seja, a formação de Homens preparados para a
diminuição das diferenças existentes entre as classes, não somente sob a ótica
econômica, mas também do ponto de vista cultural e educacional.
O que devemos ter em mente e plenamente consciente que a
Maçonaria é a Instituição onde o mundo deve se espelhar e não o contrário. Que
os exemplos de valorização do Homem, da História e da Cultura que sempre foram
os grandes pilares da Maçonaria iluminem o mundo de trevas profano a partir de
nossas fileiras e não o oposto, pois não podemos permitir que as trevas desse
mesmo mundo obscurecessem as Colunas de nossa Instituição.
Devemos ser vaidosos não por aquilo que pretendemos ser, mas
sim, orgulhosos por toda ação e comportamento que nos identifiquem e reconheçam
como Homens preparados para transformar o Mundo.
Fábio Cyrino, M.I. 33° REAA
Harmonia e Concórdia 3522
Oriente de São Paulo (SP) – Grande Oriente do Brasil/ GOSP
Harmonia e Concórdia 3522
Oriente de São Paulo (SP) – Grande Oriente do Brasil/ GOSP