A PERDA DO SENTIDO E DO SAGRADO


O início da Maçonaria é um dos assuntos mais polêmicos entre os estudiosos. Bem fazem os que detestam o estudo. Ficam por aí olhando para a gigantesca estrutura da Ordem como gafanhotos num arvoredo seco, aguardando uma presa ou algum tipo de alimento. O ofício de pesquisar é árduo. Há os que julgam os estudiosos como pessoas presas ao passado: anacrônicas e aplaudindo o passado

Dizem que temos de nos preocupar com o presente. E haja paciência e estômago para encarar os fatos que aí estão “abrilhantando” o presente! A publicidade feita por quem não é maçom, e atitudes isoladas de quem não deveria estar entre nós, maculam os princípios da Ordem que, de secreta passou a discreta; e de discreta caiu em mãos indiscretas.

Nunca é demais insistir no fato histórico de que os pedreiros da Idade Média já compunham uma organização de ofício e eram organizados em guildas. Há documentos que enfatizam a antiguidade de seu oficio e sua importância na formação das bases religiosas, morais e sociais.

Quando dizemos pedreiros, estamos nos referindo exatamente aos indivíduos que trabalham em obras de pedra e cal, profissionais de alvenaria ou alvanéis.

Não eram pessoas importantes. Muitos eram analfabetos, não tinham conta bancária nem cartão de crédito. Andavam a pé. Trabalhavam do alvorecer ao anoitecer. Gente simples, homens que podiam viajar de um lugar para outro sem terem que beijar a mão do senhor feudal ou do arcebispo. Mesmo assim, a profissão de pedreiro era vista com respeito e desconfiança.

Aqueles sujeitos tinham segredos e, por outro lado, as pessoas precisavam confiar nos cálculos secretos do arco e da abóbada para viverem sob pedras amontoadas, sem a apreensão de que uma delas, ou todas, lhes caíssem na cabeça.

Viajando por toda parte, livres, tornaram-se conhecidos como pedreiros livres - freemasons em inglês ou franc-maçon, em francês. Estabeleceram relação, técnicas e práticas de trabalho sempre mantidas em segredo. Ou fechavam o bico, ou perdiam as regalias e a liberdade.
Tinham um tipo de cerimônia para marcar a iniciação de novos membros na arte do arco e da abóbada. O servente (aprendiz) jurava não revelar nada do que via ou ouvia em seu aprendizado. Todas as técnicas (operativas) deviam permanecer hermeticamente guardadas para garantirem a sobrevivência da profissão.

Depois, quando os aceitos (filósofos, revolucionários e rosa-cruzes) entraram na história, sofisticaram essas cerimônias e criaram rituais de acordo com o pensamento filosófico da época. Assim, mesmo de má vontade, obtiveram a aquiescência dos nobres e da igreja.

A Maçonaria, tal como é conhecida hoje, surgiu na Escócia. Só posteriormente ela se difundiu pela a Inglaterra. É exatamente neste ponto que se enganam e se enrolam os autonomeados “estudiosos de rituais“.
Os textos originais estão escritos em linguagem arcaica, repletos de termos em desuso e conotações vinculadas aos padrões culturais da época. Haja estudo de História, Filologia e Antropologia para decifrá-los. Quem caminha ao pé da letra acaba enfiando o pé nas letras, eis a verdade. (No Brasil o problema é mais grave, pois todo mundo se julga no direito de alterar rituais, suprimir frases da tradição e incluir procedimentos oriundos das religiões e do sincretismo.) 
A Escócia foi um dos refúgios dos Templários após os acontecimentos de 18 de Março de 1314. Outro refúgio foi Portugal. 

A contribuição daqueles construtores forneceu os ingredientes fundamentais para a criação da Maçonaria moderna. Mesmo assim, o milagre só ocorreu na passagem do século XVI para o XVII, na Escócia. 
Quando os pedreiros ingleses pegaram a carruagem andando, reeditaram, com a ajuda dos ilustres da Royal Academy, os Antigos Deveres. Eram protestantes e deram ênfase à moralidade, incluindo símbolos tirados dos cânones da Geometria e da história bíblica do Templo de Salomão. A introdução dos elementos judaicos foi decisiva.

Em oposição à maçonaria inglesa – azul- nitidamente monarquista e teísta (que admite a existência de um deus pessoal, causa do mundo) se opuseram alguns movimentos na França -  maçonaria vermelha, republicana e deísta. Rejeitavam toda espécie de revelação divina e a autoridade de qualquer igreja aceitando, todavia, a existência de um Ser Superior destituído de atributos antropomórficos e que poderia ou não ter “participado” da criação do Universo.

As tradições do antigo Egito, contudo, foram sempre colocadas de lado. Todos aqueles deuses e deusas com cara de bicho cheiravam a magia e bruxaria para os protestantes ingleses; e estupidez segundo a ótica dos iluministas franceses.

Mas, a raiz do conhecimento secreto, em todas as Ordens iniciáticas, está nos Mistérios Egípcios. É bom nos acostumarmos com essa ideia para convivermos com a transformação que deverão ocorrer nos próximos anos relativamente à recuperação do sentido perdido da Iniciação e do Sagrado.


José Maurício Guimarães

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