Em que trabalham os
Aprendizes-maçons?
Em desbastar a Pedra
Bruta, a fim de despojá-la de suas asperezas e aproximá-la cada vez mais da
forma adequada ao seu destino.
E o que é uma Pedra
Bruta?
É o tosco produto da
natureza que o homem deve polir e transformar.
É tudo o que diz o
Ritual a respeito do tema. Não obstante, entendo que ele não diz tudo, porque a
partir de agora devo começar a pensar e procurar desenvolver o traçado para
chegar à compreensão deste valiosíssimo símbolo maçônico.
Porém, para compreender
e conhecê-lo, o que lhe parece se perguntarmos a ele mesmo...
Quem és tu? E assim,
com esta intenção me dirijo ao templo, nele penetro e contemplo essa maça
informe, inerte no chão, ao lado da mesa do irmão 1º Vigilante e com ela
mantenho o seguinte diálogo:
Ora, acho que não devo
preocupar-me com você Pedra Bruta, tão tosca e abandonada, tanto que muito
pouco ou quase nenhuma vez te vi ao passar pela Coluna do Norte.
Pode ser que alguém
diga que eu seja você, uma vez que tu representas os Aprendizes e eu sou um
eterno Aprendiz...
Tu és tão grosseira e
eu, quase perfeito, represento muito e tu não és nada, pensei comigo mesmo.
Mas, como por instinto me arrependi e peço-lhe perdão Pedra Bruta.
E ela respondeu
humildemente: não há de que pequeno Aprendiz-maçom! Surpreso disse-lhe: olhe
como falas pedrinha informe...
Assim é, contestou
ela. Que pensas? Nós os símbolos também falamos e eu sou um deles. Porém,
falamos somente àqueles que querem nos escutar, àqueles que procuram nos
compreender.
Tu és mais um que
passou ao meu lado, muitos sequer me olha e alguns poucos se interessaram por
mim, procurando desbastar-me, porém fracassaram. Poucos me têm transformado e
me carregam consigo...
Como te têm
transformado e te carregam? Não estou te entendendo.
Se és tão pesada e
vejo que ainda permaneces aqui perto, na Coluna da Força? Venha vou lhe
explicar.
Transformaram-me em
uma formosa pedra cúbica, forte e sábia, que pode servir de base para qualquer
construção e, mesmo que se surpreenda não me carregam nos braços ou em bolsos,
senão dentro de cada um, incorporada ao próprio ser, por isso, não me vês...
Refleti um momento e
disse-lhe: perdoa-me Pedra Bruta, porém, continuo a não entender-te...
Vamos, disse-me ela
com paciência. Façamos uma pequena recordação. Dir-te-ei primeiro quem sou.
Represento o mundo dos vícios, os erros, a ignorância, o sofrimento, a
arrogância, a prepotência e o egoísmo.
Esse mundo do qual tu
vens e dele faz parte, um mundo de vaidades e de egolatria, de falta total de
humildade. Os que me levam consigo são aqueles que através de trabalhos árduos
me compreenderam e refletiram suas imperfeições e debilidades em mim.
São aqueles que
reconheceram a sua ignorância e destruíram sua inércia com um tremendo esforço
contra a natureza humana que nos obriga ao mais fácil, ao menor esforço, que
nos faz pequenos, débeis e pobres de espírito...
Sabes tu, por exemplo,
que quando te vi, tinhas os olhos vendados e estavas em pé entre colunas?
Orgulhosa dizia para
mim mesma: mais um, uma nova possibilidade. Porém, tive dúvidas. Tenho também
as minhas fraquezas e por isso, posso duvidar, já que pensei: para onde foram
tantos outros que aqui juraram lealdade e amor à nossa Instituição? Não
souberem compreender-me... Não serás mais um desses?
Dá-me pena assim pensar,
não por mim, mas por ti, pelos que crêem que a Maçonaria não é útil, que é
somente um mercado de vaidades e, ao não encontrarem-na assim, a abandonam sem
ter visto a luz, sem deixar vestígio das suas passagens por aqui.
Certamente muito
outros ficam e progridem. Por isso ainda tenho esperanças. Na pedreira há
sempre um homem disposto ao trabalho, a eliminar as asperezas da pedra,
procurando dar-lhe a forma de um cubo perfeito, que não é mais do que a
decantação do seu próprio ser, o reflexo de suas possibilidades e da
perfectibilidade que aflora graças ao trabalho do seu maço e do seu cinzel,
instrumentos que o Grande Arquiteto do Universo lhe deu.
Venha, não tenhas medo
de sujar o teu Avental, esse avental branco que lhe entregaram no dia da sua
iniciação. O branco dele é lindo, e o é para as noivas virgens como também,
para as almas puras poderás dizer, e assim resplandecerá a Grande Pedra quando
com o teu trabalho, o maço e o cinzel, golpe a golpe, pedaço a pedaço for
desbastando e os seus restos desprezando.
Assim, algum dia algo
acontecerá contigo e começarás a ser um homem que, junto a outros homens que já
tenham feito os seus trabalhos, homens comuns do dia-a-dia, operários,
doutores, professores, comerciantes, todos trabalhadores simples e fraternos,
verás a luz despojado de teus egoísmos, vícios e erros e abrirás tua
compreensão ao amor e à sabedoria.
E a esperança de um
mundo melhor se reafirmará com um novo elo, capaz de chegar à realidade.
Aproxima-te da luz e verás que o teu Avental, ainda que manchado, sujo em
função do teu trabalho, é o mais branco, puro e radiante.
Terás abandonado o
mundo das aparências para ver o das essências, o real, o verdadeiro e o belo, a
ali, atrás de ti, ficarão as escórias e os restos que não mais o molestarão.
Assim, a cada dia, a
cada semana, mês a mês, ano a ano virás a esta Oficina e eu te direi: missão
cumprida! Porém, a missão nunca terminará, pois, o caminho é longo, penoso e
muitas serão as tentações; algumas portas se fecharão, mas muitas outras se abrirão,
com certeza...
Há que se seguir
burilando a pedra, lutando para que não haja um retrocesso. Por isso te digo:
não me abandones, leva-me contigo, não permitas que me deformem e em mim
apareçam novas arestas. Tenha sempre ao teu lado o Maço e o Cinzel, para que
possas usá-los em mim quando eu precisar.
Lembra-te sempre,
ainda que atinjas os maiores degraus e graus da Maçonaria, sempre serás um
Aprendiz, aquele que sempre querendo, sempre estará aprendendo...
Fiz uma pausa e
aproveitei para dizer a ela. Agora sim, entendo-te Pedra Bruta. E ela replicou:
siga prestando sempre a tua atenção em mim, porque o trabalho não termina aqui.
Recém está começando,
entregaste cada dia mais, observe o que acontece em torno de ti, conheça-te a
ti mesmo porque a Pedra Bruta ÉS TU. Sobressaltado com essa afirmação,
pareceu-me estar despertando de um longo sonho, com a sensação do prazer que
enche a alma quando sentimos haver descoberto algo muito importante e assim, o
meu espírito, se alegrou...
Observo hoje a Pedra
Bruta que está ainda ao lado da mesa do 1º Vigilante, ali na Coluna do Norte,
coluna da Força, a coluna onde em seu topo, ficam todos os Aprendizes-maçons de
todo o mundo e olhando-a com carinho digo-lhe: obrigado Pedra Bruta.
Agora, vejo-te mais
formosa e perfeita em teu simbolismo e reconheço que sou eu o homem grosseiro,
o imperfeito e não tu.
Ela olhou-me
sorridente e disse-me: Não há de que pequeno Aprendiz-maçom...
Vejo que estás
começando a aprender esculpindo-me.
Ir\ Adalberto Rigueira
Viana Mambro correspondente da Loja Fraternidade Brazileira -Viçosa - MG