A Maçonaria tem um de seus graus dedicados ao livro de
Eclesiastes e relembra, em especial, o versículo “Lembra-te também do teu
Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os
anos em que dirás: Não tenho prazer neles”.
O nome Eclesiastes deriva do termo grego ekklesia (“assembleia”) e significa
“aqueles que falam a uma assembleia”.
O livro de Eclesiastes trás à tona as grandes questões
filosóficas morais, éticas e existenciais. Questões teológicas, como: a
prosperidade dos ímpios, a morte comum a todos, materialismo, fatalismo,
pessimismo, dúvidas quanto à eternidade, vida no além e até sobre o juízo
final. Seu tema central basicamente é a busca da felicidade no confronto entre
a vida, a morte e a eternidade.
Todo livro sapiencial tem o objetivo de ensinar ou
transmitir a sabedoria, a qual se apresenta como antídoto contra a tolice do
ser humano. O livro de Eclesiastes leva o leitor a encarar a realidade humana
em face da morte.
O Eclesiastes destaca a supremacia de Deus, acima de tudo.
Deus criou o homem (7.29) e deu a ele o tempo (9.11). Nesse tempo se situa a
vida do homem.
O desafio do homem é descobrir o melhor a se fazer de modo
a se aproveitar bem o tempo recebido (2.3), o que traria ao homem maior
satisfação, enfim, a felicidade.
Salomão cita as ocupações humanas, fala de conhecimento,
sabedoria, trabalho, dinheiro, bens, riqueza, comida, bebida, relacionamentos,
alegria, prazer, pecado, sofrimento e religião.
Em um primeiro momento, pensa-se na vida e em seus valores
de forma positiva: construir muito, aproveitar tudo e possuir o máximo. Depois,
Salomão coloca em destaque a morte. Diante dessa realidade, tudo passa a ser
visto como coisa vã. Daí vem a máxima: “Tudo é vaidade.”
Diante desse fato previsível e certo (a morte), todas as
ocupações humanas, bem como suas conquistas, têm de ser reavaliadas. O tolo,
“personagem” muito mencionado em Provérbios e Eclesiastes, vive o presente e
ignora o futuro.
Além do fato futuro da morte, devemos considerar também a
eternidade que nos aguarda. Muitas coisas que pareciam valer a pena perdem seu
valor quando confrontadas com a morte. Outras se desvanecem quando confrontadas
com a eternidade. Salomão toca nesse ponto quando fala do retorno do espírito
para Deus (12.7) e também do futuro juízo divino sobre as obras humanas
(12.14).
Eis então completo o plano de confronto: a vida, a morte e
a eternidade. Para que se tenha então uma perspectiva correta da existência,
deve-se considerar tudo isso. Salomão faz suas conclusões, onde se destaca a
necessidade que o homem tem de se lembrar do Criador e o seu dever de temê-lo e
obedecer aos seus mandamentos.
Eclesiastes tem uma linha de desenvolvimento que vai do
natural ao espiritual.
Sobre o tempo Salomão o divide entre passado, presente e
futuro, ou podemos vê-lo como o tempo da vida, o tempo da morte e a eternidade.
Não se pode pensar apenas na vida como se a morte não existisse. Também não é
prudente o foco na morte a ponto de se perder a motivação pela vida.
Outro extremo é a dedicação exclusiva às questões relativas
à eternidade, tais como práticas espirituais ou religiosas, a tal ponto de se
negligenciar o suprimento das necessidades naturais. Há necessidade de
equilíbrio do foco no tempo. Qual é o ponto de equilíbrio? É uma questão a ser
definida pela sabedoria.
O que acontece na maioria das vezes é que o homem fica
preso no âmbito da vida, desconsidera a morte e a eternidade e poderá ser
apanhado desprevenido pelos últimos tempos, sejam estes universais ou pessoais.
No capítulo 2 de Eclesiastes, está o relato das grandes
conquistas, experiências e realizações de Salomão. Entretanto, ao se confrontar
com a realidade da morte, Salomão, num primeiro momento desvaloriza todas as
coisas e afirma que tudo é vaidade (2.14-18).
Percebe-se então a amargura do confronto com o fim
inevitável da vida terrena. Diante desta constatação vamos jogar fora a vida
por causa da morte? De modo nenhum. Afinal, se temos algo nesta vida, isto é
dom de Deus e deve ser usufruído, mesmo sendo transitório (Ec.2.24; 5.19).
Vamos, sim, valorizar a comida, a bebida, o trabalho, os bens, mas sem os
extremos.
A realidade da morte deverá ser confrontada com nossos
atos, atitudes, tratamentos interpessoais, sentimentos, etc., a fim de se determinar
o que vale a pena e o que não vale.
Considerando a questão da morte, constatamos que algumas
coisas da vida deixam de valer a pena: Acúmulo de riquezas, excesso de
trabalho, excesso de estudo, atitude de orgulho, etc. A morte coloca os seres
humanos em condição de igualdade, anulando todos os privilégios naturais,
diferenças culturais, econômicas, sociais, etc. “Como morre o sábio, morre o
tolo.” (Ec.2.16).
Sendo assim, o orgulho, a soberba, e o tratamento de
desprezo para com o próximo, são atitudes que não se justificam. Perdem
totalmente o sentido quando se pensa na morte e seu significado.
A moderação torna-se palavra de ordem. Contudo, tais
palavras não devem ser usadas como justificativa para a preguiça e a
negligência, pois a atitude passiva de cruzar os braços é própria do tolo
(4.5). O que se busca em tudo isso é o equilíbrio, que será produto exclusivo
da sabedoria. Moderação é prudência; Preguiça é tolice. Nosso desafio é sempre
distinguir entre esses elementos nas mais diversas áreas da nossa vida.
Considerando a eternidade, cuja consciência foi gravada por
Deus no coração humano (3.11), passamos a perceber outras coisas que deixam de
valer a pena na vida: os excessos e o pecado, sendo que ambos estão muitas
vezes relacionados. Por outro lado, Salomão diz o que vale a pena, em função da
eternidade, lembrar-se do Criador, temê-lo e obedecer aos seus mandamentos.
Surge a dúvida de qual seria o limite de nossas ações e até
onde ir às buscas, conquistas e realizações. Em cada instante, em cada caso
específico, só a sabedoria poderá definir com precisão o limite para as ações
humanas, de modo que possa definir em sua própria vida os limites para suas
buscas, conquistas e realizações.
Salomão valoriza a convivência (4.9). Em meio a todos os
problemas do convívio social, Salomão conclui que pior será a situação daquele
que estiver só (4.8-11). É a convivência fraterna que a maçonaria prega.
A questão da aparente injustiça da vida é explorada (8.11).
Novamente se retoma o tema da morte (8.8; 9.5) e das alegrias que podem ser
alcançadas em vida (8.15).
A ética envolve questões morais do comportamento, escolhas
entre o bem e o mal. Salomão faz uma série de advertências em forma de
provérbios (10). Finaliza com incentivo ao gozo da vida, mas lembra da prestação
de contas (11.9). Termina essa parte incentivando o jovem a lembrar-se do
Criador antes que venham à velhice e a morte e o juízo (12.1-7,14).
A maçonaria utiliza os escritos de Salomão em Eclesiastes
mostrando aos seus membros o confronto da vida com suas dificuldades, a morte e
a ressurreição ou eternidade. E encoraja os maçons a agirem com sabedoria na
utilização de todos os dons e bens que o criador lhes ofertou assim preparando
o caminho para a eternidade.
Honório Sampaio Menezes, 33º, REAA, Loja Baden-Powell 185,
GLMERGS, Porto Alegre, RS, Brasil.