Em Maçonaria, é essencial o trabalho realizado em Loja: a execução do
ritual de abertura, através do qual todos os presentes se concentram no espaço,
tempo, lugar e trabalho que vão efetuar, desligando-se das vicissitudes do
mundo exterior (o mundo profano), o despachar de toda a parte burocrática e
administrativa inerente ao funcionamento da Loja, a participação na ordem do
dia e o ritual de encerramento, pelo qual os presentes se preparam para a saída
do espaço, tempo, lugar e trabalho comuns e conjuntos e para o regresso ao
mundo exterior (o mundo profano).
Mas mal andará qualquer Loja em que apenas se dê atenção ao trabalho em sessão!
Este não é possível, ou, pelo menos, não é profícuo, nem sustentável, sem o
trabalho que, desejavelmente, todos os maçons efetuam, em si e perante os que
os rodeiam, no mundo e tempo profanos e particularmente sem o trabalho, o
esforço e a dedicação dos Oficiais da Loja entre as sessões desta.
Para que os trabalhos de uma Loja decorram de forma harmoniosa e
profícua, muito tem de ser preparado, estudado, trabalhado e concretizado fora
de Loja. Desde as obrigações legais que a Loja tem de assegurar, ao
enquadramento burocrático, passando pela aquisição, conservação e guarda dos
bens e materiais da Loja, não esquecendo a execução do que se deliberou em
sessão e a preparação dos assuntos a serem postos à discussão e deliberação nas
sessões subsequentes, atendendo à detecção, prevenção e resolução de problemas,
diferentes entendimentos ou divergentes interpretações e conflitos, reais ou
potenciais, tudo tem de ser assegurado e trabalhado pelos Oficiais do Quadro da
Loja entre as sessões desta.
Sem esse trabalho de triagem e preparação, tudo viria a recair na Loja,
transformando as sessões desta numa sucessão de resolução de problemas, sem dar
tempo, espaço e lugar ao mais importante: a criação, fortalecimento e
manutenção da Cadeia de União entre os obreiros da Loja, pela qual e com a qual
cada um recolhe do grupo a energia, o incentivo, a experiência, os conselhos, a
solidariedade e a cooperação que lhe são úteis para o seu próprio trabalho de
aperfeiçoamento e, por sua vez, dá ao grupo e a cada um dos seus integrantes a
sua contribuição.
É por isso que a eleição ou designação para Oficial do Quadro de uma
Loja maçônica deve ser por todos encarada antes do mais como um encargo e só
depois como uma honra ou o reconhecimento de qualidades ou esforço do eleito ou
designado. O Oficial de uma Loja maçônica não é um "graduado" que
exerce autoridade sobre elementos de patente inferior, os soldados ou praças. O
Oficial de uma Loja maçônica é assim designado porque lhe é confiado o
exercício de um ofício, de uma tarefa. O Oficial do Quadro da Loja serve esta e
os seus obreiros, através do cumprimento das obrigações do seu ofício.
Todos os maçons com um mínimo de assiduidade às sessões da sua Loja
sabem quais são os deveres dos Oficiais durante as respectivas sessões - porque
participam nelas e assistem ao respetivo exercício ou efetuam o exercício de um
ofício. Mas o conhecimento das tarefas que os vários Oficiais do Quadro de uma
Loja maçônica devem assegurar no intervalo das sessões não é tão evidente
assim. No entanto, essas tarefas fora de sessão são indispensáveis para a
administração da Loja, a preparação e decurso das sessões desta, o cumprimento
dos objetivos de todos.
É, por isso indispensável que cada um, quando chegar a sua vez de
assumir funções de Oficial do Quadro da sua Loja, tenha bem presente que as
suas obrigações no exercício do seu ofício vão muito para além do desempenho
ritual em Loja, pesam muitíssimo mais do que o colar de função que cada Oficial
coloca no início de cada sessão da Loja.
Basta que um ofício seja mal ou incompletamente exercido, fora de Loja,
para que o equilíbrio de todo o Quadro de Oficiais seja afetado, para que a
sessão da Loja seja menos produtiva ou menos agradável do que poderia e deveria
ser. O desempenho do ofício fora de Loja é tão ou mais importante do que é
executado em sessão. Este é só mais visível...
Rui Bandeira