O conceito de liberdade
nem sempre é bem interpretado. Ser livre significa, de pronto, ter-se a
faculdade de se poder fazer ou de se deixar de fazer alguma coisa.
Isso parece
estabelecer o direito de cada um poder dispor de sua pessoa como bem entender, sem
se sujeitar a qualquer tipo de imposição ou de coação física ou moral.
Mas, ao mesmo tempo, só é
livre aquele que goza de sua plena dignidade como ser humano, pois ser livre
não significa mudar de senhor, mas, sim deixar de ser escravo.
A vontade é um componente
importante na manutenção de nossa liberdade. É ela que determina se seremos
escravos de uma ideia, de um vício. E é ela que molda nossos atos,
colocando-nos sob a proteção da lei ou sob sua mira punitiva. Enfim, ser livre
é nunca dar a ninguém o direito de ferir nossa integridade moral.
Quando somos iniciados
maçons, nossa Ordem sonda nossa alma, nosso caráter, nosso coração e nossa
inteligência, procurando saber se somos realmente livres.
Livres de
preconceitos, da preguiça de trabalhar ou de procurar a verdade.
A Maçonaria não nos impõe
sua verdade. Ao contrário, concita-nos a investigá-Ia, pois, sabiamente, nossa
Instituição entende que cada um de nós procura a sua verdade pessoal. Nosso
irmão, o grande poeta clássico alemão Goethe, informava-nos de que a verdade
possui particularidades absolutamente individuais.
O Grande Arquiteto do
Universo dotou-nos de livre arbítrio. A partir daí, somos livres para agir, sem
nos esquecermos, é claro, de que a cada ação corresponde uma reação em sentido
contrário e em igual intensidade. Destarte, procuremos nos lembrar sempre de
que não podemos fazer tudo o que queremos, mas sim o que podemos ou devemos.
Imagine-se membro de uma
orquestra. Você tem liberdade de executar seu instrumento, mas tudo dentro de
um tempo e de um compasso estabelecidos anteriormente, além das notas que são
escritas para sua participação.
Você pode desrespeitar
tudo isso e tocar como quiser, mas estará prejudicando a todos, principalmente
a você. Sua atuação correta, por outro lado, será benéfica a todos. A Maçonaria
é uma floração mística da alma. E a mística maçônica é apoiada na razão. Por
isso, sabemos que quem traz ganha; quem vem apenas buscar, perde.
A realidade é que o
trabalho é um hino de amor à vida. Trabalharam-se, merecemos um salário. Não é
por acaso que os maçons são chamados de obreiros. Prestamos um juramento de
modo livre, sem coação, de combatermos a ignorância, os erros, a injustiça e de
glorificarmos o amor, a justiça, o direito e a verdade.
Quando não trabalhamos
por preguiça ou desinteresse, descurando-nos das tarefas que nos são cometidas,
estamos nos esquecendo de parte do juramento que fizemos, qual seja o de
respeitar aos que vierem a ser nossos superiores hierárquicos e agredimos à
nossa própria razão.
E o que é pior: agredimos
aos nossos irmãos, também. Gibran dizia que o culpado é, muitas vezes, a vítima
do ofendido.
É melhor termos para
receber do que para pagar. Afinal, somos livres ou escravos do descumprimento
do dever? O homem livre encontra a paz no cumprimento do dever.
Nunca procuremos nos
justificar por não termos realizado o que era de nossa obrigação fazer e que a
preguiça ou o desinteresse não nos permitiu. Cada um de nós percebe quando os
ouvidos e o coração ficam contentes ou não com o que ouvem da boca.
Nosso amado Mestre
Jesus alertou-nos: conhecereis a verdade e ela vos libertará. E a maior
verdade que precisamos conhecer é sobre nós mesmos.
Quantas faces da verdade sobre nós mesmos já
procuramos conhecer?
Somos livres para amar,
para sermos tolerantes, solidários, fraternos, leais. Nossos atos é que
constituem o melhor ensinamento que poderemos transmitir aos nossos irmãos e
semelhantes.
Bebamos mais um pouco da
sabedoria de Gibran Khalil Gibran, orientando- nos sobre nossas preces a
Deus: Nada Te podemos pedir, pois Tu conheces nossas necessidades antes
mesmo que nasçam em nós.
E continua o grande
pensador libanês: Se penetrardes no templo unicamente para pedir, nada
recebereis. É bastante que entreis no templo invisível. E Gibran
maravilha-nos quando comenta a comunhão da abelha com a flor, falando-nos do
prazer que a abelha sente em sugar o mel da flor. E a flor sente-se feliz por
poder oferecer o mel à abelha, a fim de que esta possa levar lenitivo a quem
sofre de amargura.
Aquele que vive escondido
na sombra acaba tendo medo da luz. O Maçom deve dizer, sem medo de desagradar a
seus ouvidos e a seu coração: Sou livre e honro o Criador, amando a
criatura.
Faço isso livremente
porque desejo viver um dia na luz plena, onde não haverá trevas nem amargura e
onde todos serão verdadeiramente irmãos e bendirei todas as ações que
desenvolvi, contribuindo para que nosso templo fosse sempre um reflexo da ordem
e da beleza que resplandecem no trono do Grande Arquiteto do Universo.
Autor: Pedro Campos de
Miranda