VENERÁVEL OU VENERADO?



O cargo de Presidente na diretoria de uma loja é ocupado por um irmão que preencha os requisitos formais de ser Mestre Maçom há pelo menos três anos; pertencer ao quadro de obreiros da loja a que pretende liderar no mínimo há três anos; ter no mínimo cinquenta por cento de frequência às sessões regulares da loja no período anual que antecede à candidatura, neste último caso se não for remido; já ter ocupado o cargo de primeiro ou segundo vigilante; estar em dia com suas obrigações financeiras junto à tesouraria da loja e, finalmente, não estar sendo processado pela justiça maçônica em razão da prática de qualquer infração.

Uma vez eleito e instalado, o irmão, agora líder maior da loja, passa a ser intitulado Venerável Mestre. Segundo o dicionário português, venerável é aquele que é digno de veneração, muito respeitável. Teoricamente, e na filosofia maçônica, para que um irmão seja instalado neste ápice, nesta condição de ser “cultuado”, venerado, admirado e receber de todos a mais alta expressão de respeito, ele terá que trazer intrínseco no seu modo de agir maçônico inúmeras outras qualidades, não de ordem formalística, mas natural e expoente. 

Para a Maçonaria, Autoridade e Respeito não são adquiridos por herança ou insígnias trazidas das trevas do mundo profano. São atributos inspirados e transmitidos na medida em que se celebra, com muita naturalidade, no altar da Liberdade, tendo por cálice a Igualdade e por conteúdo sagrado a Fraternidade. 

O Mestre Maçom para ser venerado não pode trazer consigo o brilho do reflexo de suas façanhas alicerçadas nas graduações ou qualificações do mundo profano e muito menos ter como instrumentos os resquícios de sua altivez e bravura, herdados no reconhecimento do trono que ocupa ou que outrora ocupara no império do mundo extra-maçônico.

O Venerável precisa ser alguém que já conseguiu a imunização de todas as práticas nefastas que a sua profissão, o seu cargo ou o seu agir social negativo possam ter lhe contaminado no mundo profano.

O mestre a ser venerado por todos não pode ser embriagado com as honrarias e com as distinções que o cargo ou que eventualmente alguns membros ainda não iluminados possam ofertar-lhe por intenção de outros interesses.

Sua missão exige, com maior expressividade, a tolerância sem abrir mão do combate constante à conivência com tudo que não for propósito da maçonaria. Ele deve ser como a flor que constantemente atrai os pássaros e as abelhas, mas também os insetos, sem perder a cor e o seu objetivo no contexto natural.

Venerável não deve ser insígnia, não pode ser galardão, não pode provocar jactância. A Faina do Venerável deve ser sempre a união dos irmãos, pois este é o Fanal que manterá a existência da loja e, por conseguinte a perpetração da Maçonaria Universal.  

Não pode ser “muito respeitado” (venerado) aquele que vive da maçonaria e não para a maçonaria; não pode ser digno do respeito dos demais irmãos aquele que usa com indisfarçável e extenuante vaidade o cargo onde precisa ser venerado.

É indigno de assumir o cargo de Venerável aquele irmão que pretende assumi-lo, ou por destaque e representação no mundo profano, ou porque usando das insígnias que o mundo profano lhe ofereceu veio desembarcar no seio da família maçônica e agora quer “consertá-la” com seus métodos e vícios nefastos. 

Assim como, para ser maçom, não basta só ter iniciado, pois, não se extraem de imediato pedras angulares e prontas para o acabamento das construções numa pedreira, também não se obtém pessoas pré-fabricadas para o cargo de venerável no mundo profano, independente de sua formação cultural, social, financeira, religiosa e ou filosófica.

Para ser Venerável não bastam 33 graus filosóficos, 33 anos de maçonaria, 33 vezes ocupando todos os cargos da loja; o maçom capaz de ser venerado adquire naturalmente essa posição quando consegue reverter à escuridão que inibe o senso de discernimento entre o que ele pode e dever mudar e aquilo que, mesmo contra sua convicção pessoal, precisa aceitar. O Venerável Mestre deve ser quem motiva o estudo, a prática e a vivência do bem, porque o homem livre, quando estuda, evolui.

O Venerável precisa ter percepção clara da linha tênue que divide a tolerância com as imperfeições naturais dos irmãos e a conivência com atitudes contrárias aos princípios da Maçonaria.

As reuniões regulares ou econômicas se realizam dentro de um Templo porque reservam momentos de compenetração, de estudo, de troca de egrégoras e de fluídos positivos, não podendo ser transformadas em desfechos mercadológicos, em assembleias para resoluções de problemas financeiros, ainda que da própria loja e muito menos para tratar de assuntos mundanos, tais como políticas partidárias, muitas vezes atendendo pedido de irmãos aproveitadores ou de cunhadas impositivas que vêem na maçonaria um local de resolução de todos os problemas do mundo externo e ou reformatório de seus maridos.  

Nem sempre o cargo de Venerável Mestre de uma Oficina está sendo ocupado por alguém que, maçonicamente, deveria ser venerado e isto se deve por um gravíssimo erro que cometemos nas oficinas, até por uma herança ou por costumes nefastos: sempre que um determinado grupo, muitas vezes formado até por quem já ocupado o cargo de venerável, apresenta um irmão como sendo candidato a venerável ouvimos sempre a máxima de que não é bom haver competição em loja, porque isto poderia gerar “divisão” entre os irmãos e aí todos vão ter que “engolir” alguém que será venerável, mas não será venerado.

O mais correto seria, quando da apresentação de um irmão que não oferecesse condições mínimas para ocupar este cargo, que outro ou outros grupos apresentassem quantos outros candidatos necessário fossem, pois é melhor uma “divisão” durante o pleito eleitoral de uma loja, do que a sua divisão ou seu aniquilamento por um mandato inteiro.

Assim como um Cristão não é aquele que carrega na parte externa do peito um Crucifixo e sim aquele que carrega no coração um Cristo fixo, também o verdadeiro Venerável não é aquele que auto se intitula, mas sim aquele que, se não por todos, mas pela maioria consegue ser venerado. 

Autor: Fernando Alves Viali 
Loja Ciência e Trabalho n.º 30, Ituiutaba-MG


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