Não sejamos velhos tolos. Sejamos sábios idosos. Para tanto,
temos que ser humildes (M.S. Cortella)
Irremediavelmente chegamos a um momento da vida maçônica em que
a deficiência da força e do vigor da juventude colhe suas consequências.
O nosso trabalho já não é requisitado e as contribuições até
então realizadas deixam de ser reconhecidas. Temos uma leve desconfiança de
que, após anos de entrega, no nosso entorno as coisas começam a ficar
diferentes.
Muitas das vezes, olhamos para os lados e não vemos mais aqueles
diletos irmãos que valorizavam a nossa companhia e conosco se empenharam na
senda maçônica e, hoje, repousam merecidamente no Oriente Eterno.
Novos irmãos, novas energias, disputa por ocupar espaços,
firulas políticas, competições. Os valores, os fundamentos, continuam os
mesmos, mas revestidos de novas roupagens e com leituras mais “atualizadas”,
que nos fazem sentir que nossas habilidades estão caindo em desuso. Quem sabe
não é hora de partirmos para outras atividades?
Nesse admirável mundo novo, não é bom ficarmos onde não há mais
espaço para enfrentar embates, contribuir com sugestões, nem mesmo para ser
ouvido. Ainda tem muita vida lá fora! E vida não digital!
Não resta dúvida de que a idade costuma comprometer capacidades
cognitivas como a memória e a rapidez de aprendizagem, que podem ser compensadas
por outros atributos, hoje as conhecidas como habilidades transversais (soft
skills), como experiência, conhecimento, espírito de liderança, colaboração,
capacidade de gestão, de comunicação (oral refinada e escrita de primeira) e
empatia.
Costumamos ser um pouco mais lentos ao lidar com telas,
dispositivos eletrônicos e as redes sociais tão naturais na geração digital e o
novo normal que ai está. Para nós, estar conectado tem outro sentido. Trabalhar
seguro nas nuvens, também!
Ser controlado por um algoritmo, assustador.
Encenar um olhar fresh sobre os “problemas”, meu Deus!
Linkedin?? Vade-retro!
Não se pode avaliar competências e capacidade pelos aniversários
acumulados. Isso é tendencioso e discriminatório. Sejamos jovens ou velhos, os
critérios de avaliação são outros.
Vivências podem viabilizar soluções e contornar riscos. É
preciso que fique bem claro: idoso é aquele que tem muitos anos e velho aquele
que acha que sabe tudo, que já está pronto. A Maçonaria nos ensina a vencer os
preconceitos, que no caso vertente se consuma na rejeição a estereótipos, cabendo-nos
propugnar por avaliações inteligentes, criteriosas e imparciais.
Nada de dramas, lamúrias ou rabugice, mesmo quando dizem que
somos idosos vaidosos, que é uma rima rica e deixa-nos como aquele emoji da carinha
pensativa do WhatsApp. Será verdade?
Uma coisa é certa, às vezes falamos muito, mas temos convicção
de que tempo de Ordem não põe mesa, a travessia sim, e ainda temos muito a
lapidar.
A nossa régua é individual. O importante é que a vivência nos
permite reconhecer e valorizar nossos acertos, as marcas que deixamos o nosso legado,
e a aprendizagem decorrente dos erros cometidos. O prazer é olhar para trás e
contemplar o caminho seguro que edificamos para a sustentabilidade da Ordem.
E esse amadurecimento nos enseja a vislumbrar que agora é o
momento de colher o que plantamos junto aos nossos familiares e amigos, aqueles
a quem tornamos felizes durante nossa caminhada.
E precisamos ter clareza de propósitos para encarar esse novo
estágio dessa experiência material do espírito. O futuro talvez não seja mesmo
onde pensamos que estamos.
Ah, antes que caia no esquecimento! Quem for curioso que pesquise
no Google “A Fábula do Cachorro Velho”. A narrativa encerra um grande aprendizado:
“não mexa com cachorro velho… idade e habilidade se sobrepõem à juventude e intriga.
Sabedoria só vem com idade e experiência”.
Enfim, continua valendo o ditado: os incomodados que se …….. E,
sendo esta uma reflexão fictícia, qualquer semelhança com a realidade é mera
coincidência.
“Para o ignorante, a velhice é o inverno da vida; para o sábio,
é a época da colheita” (Talmude)
Autor: Márcio dos Santos Gomes
Márcio é Mestre Instalado da ARLS Águia das Alterosas – 197 –
GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, membro da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto
Alves D'Almeida, da Academia Mineira Maçônica de Letras
Fonte: O Ponto Dentro do Círculo