Uma pesquisa iniciática através de um dos maiores mistérios
maçônicos Assim diz uma das passagens rituais mais importantes de toda a
Maçonaria: "O templo material foi destruído, tudo está escuro sem nosso
Mestre, a palavra está perdida!
Mas qual é a "palavra"? A palavra, entendida como
abstração simbólica, surge ao lado da ação ou do objeto que representa. É,
portanto, uma unidade convencionalmente universal, ou como disse De Saussure:
“de um significante que leva a um sentido”; presente em toda linguagem humana
formalizada, a palavra é um verdadeiro "átomo comunicativo".
Etimologicamente, deriva do latim medieval "paraula",
por sua vez derivado do termo latino imperial tardio: "parábola".
Como sugere a própria etimologia, originalmente seu sentido arcaico indicava um
ensinamento, um discurso, um raciocínio derivado de um pensamento, exatamente
como os helenos também o entendiam: um Logos de fato.
Com a afirmação do Cristianismo, o único Logos concebido sobre o
qual especular o mero raciocínio aceitável, a única "parábola" a ser
compreendida, passou a ser o do Evangelho. Então, ao atenuar o sentido
primitivo, a "palavra", versão vulgar da Parábola, acabou indicando
um ditado, uma forma simples de dizer, um Lema, substituindo o termo falado do
latim clássico "verbum", e por extensão, para qualquer articular a
voz pretendendo um conceito.
Daí o uso mais comum e dessacralizado da "Palavra".
Mas o que é a Palavra então? Voltando à Lenda Maçônica de Hiram, a princípio
alguém pode pensar que a “Palavra Perdida” é a palavra de passagem que os três
companheiros assassinos pediram insistentemente ao Mestre Púnico a fim de
roubar os segredos do Templo de Salomão.
Mas, ao analisar melhor o contexto histórico, talvez possamos
discernir um significado mais profundo do que um mero pedido de senha. Anzztes
de mais nada, é preciso lembrar que na antiguidade todo ato era sagrado,
portanto, o simples ato de falar e construir também eram sagrados. Isso nos
leva a pensar que Mestre Hiram Abiff não estava ali na simples qualidade de
Mestre Chefe, mas naquele exato momento ele desempenhava um papel hierático.
Deste ponto de vista, o assassinato hiramítico assume um
significado sacrílego maior, uma vez que os três colegas artistas não
simplesmente cometeram um assassinato, mas mancharam um lugar sagrado com
palavrões.
Tendo estabelecido que a "palavra" nos tempos antigos
tinha um significado sagrado e esotérico, perguntamo-nos se a palavra perdida
"desde o início dos tempos" não tinha um significado mais articulado
e extenso para os antigos do que hoje.
E aqui, então, que o estado de desconforto, ausência, falta em
que o Irmão se aflige em busca da Parábola-Logos perdida, pode ser parcialmente
preenchido pela opinião dos Antigos; quem pode nos ajudar neste processo de
pesquisa e compreensão.
Os pré-socráticos nos dizem que a Palavra é o princípio supremo
da realidade, então isso a faz parecer ordenada para nós. Os orientais nos
ensinam que a Criação do Universo seria representada pelo som da vibração de uma
sílaba sagrada: o Om (ou Aum).
Para Platão, o Logos era a racionalidade humana, que se
expressava em sua forma mais elevada de consciência. Para Lo “Stagirita”
(Aristóteles), era o conceito ordenador da realidade obtido por meio da
abstração. Para os neoplatônicos, foi a emanação direta do Primeiro Princípio,
indicando o Intellectus.
No início joanino, encontramos até o Logos associado ao próprio
Deus. Disto podemos deduzir que a montante da Palavra deve haver uma Idéia, um
Projeto, que se manifestará transmitindo-o com a própria Palavra. Esse som
emitido dá origem a uma figura geométrica, um logotipo, que fecunda a
Mãe-Terra, dando origem à Vida.
Este é o processo criativo, é o VERBODEUS que geometriza, dando
novas formas à matéria. De fato, o grande Pitágoras afirmava que: “Deus
geometriza” e que “a geometria das formas é música solidificada”. O som da
palavra-parábola pode, portanto, gerar formas sonoras estruturando a matéria.
Ainda hoje, em seu sentido profano, a parábola também é definida
como um lugar geométrico. Se a Palavra é um discurso criativo e, portanto, um
Logos; levanta-se a suspeita de que o mito de Hiram nada mais é do que um
símbolo, um logotipo, do qual perdemos a interpretação original.
Falar da Palavra, portanto, significa fazer um raciocínio sobre
o Raciocínio. Seguindo a Tradição Hermética podemos deduzir equivalências
simples, a saber: uma palavra é composta de letras, cada letra corresponde a um
som, cada som é equivalente a um número, um número a uma vibração, cada
vibração cria uma figura geométrica, o logotipo geométrico é uma semente que
fertiliza a matéria gerando vida.
Pode-se deduzir de tudo isso que as vibrações do som, através da
Geometria, determinam os Princípios Absolutos de Máthema (Ciência absoluta para
os Helenos, simples matéria de estudo numérico para o vulgar de hoje) e que
tudo no Universo foi criado com o Verbum; logo, com geometria e com número.
Talvez neste ponto possa ser hipotetizado que a "parábola" perdida é
simplesmente a incapacidade dos homens de retornar ao seu estado edênico
original, onde no início o Homem-Deus manifestou sua capacidade criativa através
do som de sua própria Palavra.
Mas, talvez, haja um significado ainda mais profundo, uma
verdade escondida atrás do véu de Ísis: como o silêncio também tem uma
frequência, o silêncio também tem um som; o som do Silêncio, sendo, portanto
também uma “Parábola”, leva-me a refletir que talvez a Palavra nunca se tenha
perdido, simplesmente não é ouvida.
Por Luca Fiore Veneziano
Fonte: www.civico20news.it