QUEM FOI BOAZ E O QUE ELE REPRESENTA PARA A MAÇONARIA


 

Na abertura dos trabalhos maçônicos no grau de aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceito, a Palavra Sagrada que é colhida do Venerável Mestre sussurradamente e silabada ao ouvido do irmão Primeiro Diácono é levada até o irmão Primeiro Vigilante, localizado no Ocidente, que a recebe e, da mesma forma seguindo a sequência, a transmite ao irmão Segundo Vigilante, localizado ao Sul, através do irmão Segundo Diácono.

Ao final desse procedimento ritualístico os Vigilantes informam ao Venerável Mestre que tudo está justo e perfeito em ambas as colunas, a palavra permanece intacta.

A Palavra Sagrada que é transmitida do Oriente para o Norte e o Sul é “Boaz ou Booz”, dependendo do ritual de cada potência maçônica, as quais possuem o mesmo significado. Mas afinal, o que vem a ser Boaz, qual o significado simbólico desta palavra para a Maçonaria e o que de fato ela representa?

No Dicionário Maçônico do nosso saudoso e memorável irmão Rizzardo da Camino Boaz é definido como[1]:

“... nome de um personagem bíblico, sem significado maçônico; contudo, é o nome dado à Coluna de ingresso ao templo que, tecnicamente, deveria ser colocada no Átrio; trata-se da Coluna “B” e a tradução do hebraico significa: “na força”. Também é a palavra de “passe” que é soletrada na forma convencional, obedecendo a um ritual litúrgico, que constitui uma parte sigilosa...”

Como pôde ser observado, de acordo com a definição descrita por Camino, a palavra Boaz possui, a princípio, três significados básicos; todavia, um dos conceitos citados acerca dessa curiosa palavra nos instiga a pensar e refletir: será mesmo Boaz apenas um personagem bíblico sem nenhum significado maçônico?

Teria mesmo o grande rei Salomão, profundo conhecedor da saga histórica de seus antepassados, famoso por sua elevada espiritualidade e genial sabedoria, escolhido aleatoriamente este nome para uma das suntuosas Colunas que guarneciam a entrada do grandioso templo de Jerusalém dedicado ao Deus de Israel?

A história de Boaz encontra-se narrada no livro de Rute que compõe a coletânea dos livros que constitui o Livro da Lei. Após tornar-se viúva e ainda jovem, Rute, uma mulher moabita que fora casada com um judeu, acompanha sua sogra Noemi de volta a Israel e conhece Boaz, primo de seu falecido esposo, que de acordo com as tradições daquela época tinha direito de resgate sobre ela, ou seja, por ser Rute uma mulher viúva de um parente próximo e que não teve filhos, Boaz poderia desposá-la casando-se com ela.

Após uma série de acontecimentos que se seguem narrados no referido livro, Rute e Boaz se casam e geram um filho que recebe o nome de Obed o qual é educado por Noemi, sogra do primeiro casamento de Rute que amavelmente fora acolhida por Boaz e os acompanhou por toda a vida.

Boaz era membro descendente da Tribo de Judá, uma das ramificações das doze tribos de Jacó; ele era filho de Salmon com Raab. Salmon era filho Naasson que era filho de Aminadabe que era filho de Arão que era filho de Esrom que era filho de Perez que era filho de Judá, o quarto filho de Jacó com Lia.

Segundo as Escrituras Sagradas, Rute era uma mulher predestinada a dar continuidade à descendência da tribo de Judá através de seu falecido esposo Maalon, filho de Noemi com Elimeleque; mas devido ao seu infortúnio, o Senhor a fez acompanhar sua sogra Noemi de volta às terras de Israel, cenário onde tudo deveria se passar e conhecer Boaz que, além de ser um parente próximo de Maalon, também era da mesma linhagem, o que possibilitou que se realinhassem os desígnios de Deus e gerassem Obed, aquele viria a ser o pai de Jessé que gerou o rei Davi o qual foi o pai do rei Salomão cuja descendência, após 990 anos, gerou, através de Maria e José, Jesus Cristo, o Messias.

É fácil percebermos, diante de tudo o que foi narrado, que Salomão teve razões suficientes para atribuir à Coluna “B” o nome de seu trisavô Boaz, uma vez que esse realinhou a árvore genealógica de Judá figurando assim como uma coluna que guarnece a passagem para o primeiro passo a se iniciar nos augustos mistérios maçônicos.

Boaz simboliza o consolidador, aquele que estabelece o ressurgimento de algo que parecia estar perdido, mas que foi resgatado para dar continuidade a um propósito previamente traçado.

Sendo assim, não encaremos Boaz como um simples personagem bíblico sem significado maçônico, tenhamo-lo como aquele que trouxe a estabilidade. Os mistérios que envolvem a Maçonaria vão muito além de nossa simples compreensão.

Portanto, sigamos a diante com ânimos fortes e obstinados na investigação constante da verdade que é um dos objetivos máximos que impulsionam a nossa sublime instituição através dos tempos. B-O, A-Z: Boaz!

 

Trabalho maçônico concluído em 27/09/2019 pelo Ir.’. Murilo Américo da Silva, membro da A.’. R.’. L.’. S.’. Onofre de Castro Neves nº 2.555, Or.’. Carangola/MG.

 



[1] Dicionário Maçônico. Ed. Masdras. da Camino, Rizzardo. 2018

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