RITUAL MAÇÔNICO É UMA INOVAÇÃO?


 

Quando o Venerável Mestre é perguntado, na sua instalação, se ele concorda que um homem ou qualquer corpo de homens, não podem fazer mudanças no corpo da Maçonaria, é importante compreender que isto se refere a preservação da estrutura organizacional da Ordem maçônica e não aos seus rituais cerimoniais.

Mais de um Grão-Mestre tentou aplicar esta advertência para o ritual maçônico em si. No entanto, uma breve análise do desenvolvimento dos rituais e suas muitas formas através do panorama das jurisdições maçônicas, vai mostrar rapidamente que esta pergunta veio das “Old Charges” e não tem nada a ver com os aspectos ritualísticos da nossa fraternidade.

Os nossos fundadores nunca tiveram a intenção de que os rituais cerimoniais permanecessem estáticos. A proibição de renovação não se aplica ao ritual maçônico, enquanto esta é a única base sobre a qual toda a Luz da Maçonaria é transmitida e revelada.

Ainda que a Grande Loja Unida da Inglaterra insista que “a antiga e pura Maçonaria consiste em apenas três graus, incluindo o Santo Real Arco” o que é historicamente impreciso, as Grandes Lojas sempre tiveram o direito de decidir por si mesmos, como os seus rituais serão.

O único “antigo e puro” ritual maçônico no mundo é o ritual que existia em 1717, quando a primeira Grande Loja foi formada. Nós sabemos como foi aquele ritual porque ele foi amplamente publicado nos três primeiros manuscritos maçônicos, na forma de catecismos ainda existentes, em relação ao período de 1696-1715, os quais vieram da Escócia.

O que é surpreendente sobre estas revelações é que elas encontraram o caminho para serem usados e adotados pelas lojas inglesas. Mais importante é que encontramos neles a maior parte do alicerce sobre o qual todos os rituais maçônicos foram erguidos mais tarde – a posição dos pés, a menção do “aprendiz” e “companheiro”, os cinco pontos do companheirismo, a menção do compasso, esquadro e Bíblia no mesmo contexto, o átrio do Templo do Rei Salomão, o sinal penal, existem muitas coisas para reconhecermos ali. É mais do que coincidência encontrarmos estas características em comum em todos estes catecismos antigos.

Um outro ponto é extraordinário em todos estes trabalhos: Graus não são mencionados. Quando a primeira Grande Loja no mundo foi criada, havia apenas a cerimónia de fazer um Maçom “Aceito” e a “Função do Mestre”.

Na verdade, não temos nenhuma evidência de um sistema de três graus, ou de um terceiro grau, antes da famosa exposição de Samuel Pritchard intitulada de “A Maçonaria Dissecada”, publicado em 1730.

Isto faz com que o grau de Mestre Maçom na Maçonaria seja uma inovação!

Historiadores importantes concordam que o terceiro grau foi introduzido na Maçonaria em torno de 1725. Tornou-se popular ao longo das próximas duas décadas, principalmente porque os maçons adoptaram a exposição de Pritchard como uma ajuda ao trabalho de memória. A sua obra não autorizada, tornou-se o primeiro monitor maçônico e seria por décadas, o livro de rituais não oficial dos maçons. É também a primeira menção que temos da lenda de Hiram.

Ninguém sabe de onde esta história veio, mas supõe-se que Desaguiliers pode ter sido o autor, sendo Grão Mestre em 1719 e Vice Grão-Mestre em 1722 e 1726. Este foi o período em que o terceiro grau foi introduzido nas cerimônias da primeira Grande Loja. A lógica sugere que Desaguiliers e seus irmãos maçons da Royal Society, poderiam ter sido os responsáveis.

Certamente, nada poderia ter sido introduzida sem a sua aprovação. Na verdade, o Craft mudou drasticamente, enquanto Desaguiliers estava em cena. A Grande Loja passou de um banquete anual para um órgão administrativo, com atas e orientação política para lojas, incluindo a estrutura dos seus graus.

Se Desaguiliers e os seus amigos de fato foram os autores do terceiro grau, voltaram a Maçonaria para um novo caminho. Em 1730, a cerimônia que conhecemos como Real Arco foi desenvolvida, a que reviveu uma história do grego antigo que data do ano 400.

Em 1735, o Rito de Perfeição, consistindo em 14 graus, foi introduzido, estabelecendo uma cronologia bíblica para a estrutura do ritual maçónico. Tanto o Real Arco quanto o Rito de Perfeição, inovadores como eram, foram declarados pelos membros como “restabelecimento” da maçonaria antiga, porque eles automaticamente transmitiam uma face artificial da idade do grau ou da ordem.

Depois de alguns anos, até os historiadores da Grande Loja estavam escrevendo que estes graus adicionados eram restaurações de um sistema mais antigo. Tornou-se moda acreditar que não havia nada mais inovador do que eles!

Claro que todos os novos graus/ordens foram adotados numa única premissa – a que havia sido perdido no terceiro grau, tinha que ser encontrado. Por esta razão, todos eles apresentam uma semelhança surpreendente na estrutura e todos mostram que os sinais são provenientes da mesma fonte, com a mesma regularidade na sua forma. Mesmo com graus adicionais desenvolvidos, eles mantiveram uma estrutura “tradicional”.

Esta semelhança na estrutura é mais uma prova de que os nossos graus maçônicos, foram na verdade, criados numa onda de moda. Todos eles insinuam que há grandes segredos para serem encontrados pelo Maçom dedicado. E, de fato, existem.

Ao mesmo tempo que os graus e ordens foram crescendo aos trancos e barrancos, tanto no Rito de York quanto no Rito Escocês, ritualistas maçónicos nas lojas do Craft, continuaram a adicionar a linguagem dos três primeiros graus, acrescentando solidez à sua forma.

Durante a segunda metade do século 18, um crescimento intelectual extraordinário foi adicionado ao velho conceito de “pura e antiga”, nos simples catecismos de 1717. Na verdade, o desenvolvimento e expansão do ritual, continuou a estar na moda como um dos meios de educar o Craft até a década de 1820.

Realmente foi criada uma escola de educação que prosperou por quase um século até as Grandes Lojas, principalmente as dos Estados Unidos, que determinaram que deveria haver apenas um ritual, aquele adotado por eles e todo o resto não importava. As Grandes Lojas dos EUA estabeleceram mais uma inovação na Maçonaria, que o ritual fosse imutável. Eles decidiram por si mesmos que a Maçonaria pura e antiga era a sua Maçonaria somente. O ritual maçônico tornou-se uma coisa fixa e estagnada.

Esta inovação do século 19 pode ter marcado o início do declínio na Maçonaria. Foi durante esta época que as Grandes Lojas decidiram coletivamente, que não havia nada mais a ser aprendido no ritual maçônico. As nossas palavras foram congeladas no tempo.

Agora eu quero saber se é hora de criarmos mais uma inovação na Maçonaria, o de educar os maçons de que o uso ritual deve ser um processo dinâmico, assim como a aprendizagem é dinâmica. Claro, nós não precisamos adoptar mais palavras.

Mas leve em consideração como instrutivo seria se a diversidade de rituais fosse introduzida como uma ferramenta adicional para instrução, se rituais alternativos já adoptados em outras jurisdições em todo o mundo, poderiam ser utilizados por vontade da loja e sancionada pela Grande Loja. Imagine como emocionante e revigorante seria se tivéssemos dez ou doze diferentes rituais disponíveis para nós em cada grande jurisdição!

Talvez seja hora de fazer a Maçonaria da moda outra vez, tanto através da variedade da sua forma de ritual e no desenvolvimento da sua forma intelectual, onde palestras, ensaios e diálogos são compartilhados regularmente em loja, todos focados em iluminar a mente.

Talvez os jornais mais instrutivos e informativos, poder-se-iam tornar uma parte dos monitores impressos da Maçonaria, não deve ser memorizado, mas para ser sancionado e publicado para o benefício daqueles que querem ter acesso a mais conhecimento nas formas de maçonaria.

Aqueles que sabem que mais luz na Maçonaria não é a propriedade da Grande Loja, mas sim, do indivíduo e dos seus irmãos na sua busca coletiva de uma vida, a busca por aquilo que foi perdido nas palavras e seus significados.

Em práticas como estas, nós não devemos, mais uma vez exercitar a “pura e antiga” Maçonaria? Poderia ser apenas mais uma inovação digna da nossa antiga Ordem.

Robert G. Davis

Traduzido por Luciano R. Rodrigues

 

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